Nesse momento tomei consciência de que a festa grande desta época do ano acabava de voltar.
- O que é o Natal?... é a pergunta que vai e volta, todos os anos, mais ou menos por esta altura. E todas as vezes a gente tenta dar uma resposta nova, diferente.
- O Natal é sentirmo-nos em casa, à volta de memórias, do convívio e de sonhos, pensei eu.
Nos mais pequenos há mais sonhos do que memórias, nos mais velhos há mais memórias do que sonhos. O convívio de todos é o convívio possível, em que se fazem votos para que o possível seja igual ao desejo. O desejo é sempre cheio de paixão e de amor.
Tantas vezes que os sonhos dos mais pequenos são a alegria dos mais velhos e as memórias dos mais velhos fazem as delícias dos mais pequenos!...
Não sou nada original a dizer que escrevi esta (pretensiosa) mensagem de Natal “aos ombros de dois gigantes”: Fernando Pessoa e Eugénio de Andrade.
Fernando Pessoa escreveu “A minha pátria é a minha língua”.
Eugénio de Andrade, por seu lado, escreveu o poema que a seguir transcrevo:
O sal da língua
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
Nas palavras cabem os sonhos, cabem as memórias e cabe o convívio. Cabem o entendimento e a tolerância.E os votos de Feliz Natal!
Até p’ró ano!
Um xi-coração grande, grande, grande, do
Fernando Pinto
Sem comentários:
Enviar um comentário