Assim que cheguei a casa, larguei a bagagem, abracei a minha mãe e tentei ir direitinho ao cemitério, junto à campa do meu pai. Só que chovia bastante.
Abriguei-me na Biblioteca Municipal, e fui passar os olhos pelas estantes. Lá descobri as "101 Noites de Natal, uma antologia literária".
À página 34 fui buscar o "Soneto de Natal", de Machado de Assis, que aqui reproduzo, dedicando-o a todos os brasileiros que conheço, e a todos os brasileiros que de vez em quando visitam este blogue.
Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto . . . A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"
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