quarta-feira, dezembro 30, 2009

As cheias do Tejo, na memória da avó Lourdes

Mariana, minha querida neta,
Mariana, minha querida bisneta,

Tenho muita pena de ter estragado o Natal de todos e já perguntei ao tio Fernando Jorge e à tia Fatinha porque é que isto me aconteceu. Eles falam-me logo das bolachas, dos chocolates e de que eu não ando nada, mas eu não tenho comido nada às escondidas!... Não vou acender o farol, mas subo e desço as escadas lá de casa muitas vezes por dia. Eles riem-se…
Aqui no hospital vejo quase todos os telejornais. O tio Fernando Jorge está comigo na hora das notícias e vemos os dois as notícias.
Tenho-me lembrado muito das cheias em minha casa, no meu tempo, em Rio de Moinhos, por causa das cheias que vai haver hoje em Constância e na Barquinha.
Quando vinham as cheias, nós tínhamos de sair pela janela para o barco… às vezes, fazíamos as sementeiras e depois perdíamos tudo, o meu pai, coitado, trabalhava tanto e ficava sem nada… Uma vez a minha mãe, a avó Rosa, foi à janela e começou a gritar, deixou de ver o barco onde nós íamos… ia lá eu, o meu pai - o vosso avô Branco -, e iam também outras pessoas, o barco desapareceu da vista dela porque às vezes o barco tinha de fazer umas voltas e foi o que aconteceu nesse dia em que a minha mãe foi à janela.
O “velho” [o avô Branco] uma vez teve de empenhar a máquina de costura, o cordão de ouro da avó Rosa e a corrente dele, também de ouro… é que vinha o Tejo e levava tudo… Depois não houve dinheiro para ir buscar outra vez o cordão e a corrente “ao prego”. Acabámos por comprar outro cordão para a avó, foi a tia Rosinda que pagou, foi a Hélia, a filha, vossa prima, que ficou depois com ele quando a avó Rosa morreu. Só conseguimos ir buscar outra vez a máquina de costura.
Quando saímos de Rio de Moinhos para Abrantes, a minha mãe costumava dizer que tinha lá deixado os dentes. Ela queria dizer que tinham lá deixado tudo, o Tejo tinha-lhes levado tudo.
Era… tínhamos de saltar pelas janelas para ir às compras… a casa em que a gente morava era grande, chegámos a acolher lá cinco famílias por causa das cheias… a cheia chegava quase à casa da Milú, a vossa prima, que os vossos pais conhecem, já fica lá para a parte de cima de Rio de Moinhos. Havia umas poucas de ribeiras que faziam a junção…
Quando o Tejo começava a subir nós íamos pôr-nos à janela a ver até onde é que ele chegava. Os homens punham pedras a ver o que o Tejo subia… quando chegava à nossa casa, como já vos disse, tínhamos de saltar pela janela para o barco para ir ao pão, cá para cima, ao pé da casa da Milú… as oliveiras ficavam todas tapadas…
Quando o Tejo descia, ficavam umas poças de água e nas poças de água ficava, sabem o quê?, ficava sável, íamos ao sável, o tio David e eu, eu não apanhava, era o tio David que apanhava, eu segurava o cesto… Uma vez, nós tínhamos uma marrã com crias e ele foi salvá-las da água. Nós ficámos todas com muito medo porque ele não sabia nadar, mas ele enquanto não salvou a bicha e as crias não descansou, tivemos mesmo muito medo.
Às vezes o Tejo subia e descia, eles não gostavam quando o Tejo descia muito depressa, era sinal de que ele ia subir outra vez.
A nossa casa ainda lá está, é na rua principal, a chegar ao largo… era uma casa que o avô Branco tinha alugado… agora é cor-de-rosa, mas no nosso tempo era amarela.
Olhem, agora na televisão estão a falar do rei D. Carlos… o meu avô David, pai da minha mãe, ia muitas vezes à caça com o rei D. Carlos, ali numa quinta perto dos Casais, chamada Anadia… o meu avô era uma espécie de couteiro… ele era muito educado, era uma pessoa que sabia muito… (e a avó deixou-se dormir…)

Avó Lourdes,
Hospital da Horta, 29 de Dezembro de 2009

domingo, dezembro 27, 2009

Cadeia de poemas de Natal - 11, para a Arrábida do Miguel Guerreiro

Deixei o seguinte agradecimento no blogue do Miguel Guerreiro, no dia 19:

Obrigado, Miguel, pelos teus votos!
Também desejo para ti um Natal muito feliz, com muita alegria, muito aconchego da família, uns docinhos e algumas prendinhas.
E enquanto outros discutem se o Natal é do Pai Natal ou do Menino Jesus, deixo-te aqui um lindo poema que Sebastião da Gama, teu conterrâneo, escreveu, em que, no fundo, ele diz que é mais importante aconchegar os meninos do que apenas festejar os meninos:

PRESÉPIO

Nuzinho sobre as palhas,
nuzinho - e em Dezembro!
Que pintores tão cruéis,
Menino, te pintaram!

O calor do seu corpo,
pra que o quer a tua Mãe?
Tão cruéis os pintores!
(Tão injustos contigo,
Senhora!)

Só a vaca e a mula
com o seu bafo te aquecem...

- Quem as pôs na pintura?

sexta-feira, dezembro 25, 2009

2009, o meu conto de Natal

25 de Dezembro. Vêm duas senhoras ao quarto para lavar a minha mãe e arranjarem-lhe a cama. Aproveito para ir tomar um café. Talvez o bar da entrada do hospital esteja aberto. Mas é Natal… talvez não esteja…
Sim, estava aberto. O lugar que parecia naturalmente destinado a mim era ali, naquele espaço de balcão entre dois sujeitos, qualquer um deles mais alto do que eu. O da minha esquerda, nitidamente mais velho. O da minha direita, nitidamente mais novo. Ambos vestiam aparentando ser pessoas “remediadas”, como ainda há bem pouco se costumava dizer.
O homem mais novo, o da minha direita, queria pão, perguntou à senhora do lado de lá do balcão se tinha pão. Sim, tinha, mas não era de hoje. O senhor hesitou, se não era de hoje… Parecia que vinha buscar pão para o almoço do dia de Natal, para a mulher e os filhos, queria uns sete ou dez, mas assim, de ontem…
O homem mais velho, à minha esquerda, disse que o pão de véspera era pão bom. O outro concordou, sim, o pão do dia anterior às vezes até sabia melhor que o do dia. Parecia que queria matar dois coelhos de uma só cajadada: ser simpático para com o outro senhor e convencer-se a si próprio de que o pão da véspera era bom.
Sim, ia levar o pão. Se a senhora tivesse, olhe, ele até levava doze. Ai tinha?... Então eram mesmo doze.
Enquanto a senhora foi lá dentro ensacar o pão e eu bebia o meu café, o sujeito da minha esquerda, como que para ocupar o vazio de silêncio que parecia querer cair ali no meio de nós os três, lembrou que no tempo dele – e eu imaginei-o nesta altura a pensar nos seus netos – o pão era de mais dias, era mesmo de muitos mais dias, até o pão com bolor se comia todo.
Aquecia-se água, deixava-se ferver um pouco o pão nessa água e o bolor “ia-se todo naquela água”. Depois arrefecia e comia-se. Por isso achava engraçado que hoje em dia as pessoas achassem que o pão da véspera já não prestava.
O sujeito à minha direita quedou-se a pensar. E eu quedei-me a vê-lo pensar. Voltei-me para o “meu avô” e ele agora olhava para lá da parede em frente dele, perdido no longínquo mar das memórias... Até que desabafou: “Dizem que é ó tempo volta p’ra trás, não é?... Ainda bem que não…”
O “meu pai” pegou no saco com as doze carcaças, perguntou quanto devia e pagou.
Eu tinha decidido demorar o meu café para não perder bocadinho que fosse daquele diálogo. Pela minha visão periférica, apercebia-me dos movimentos de cabeça de um e de outro, ora a olharem-se um ao outro, ora a olharem em frente, só com a parede do fundo à frente deles.
Mas agora que o sujeito do pão se ia embora olhei-o directamente. Por cima do meu olhar, sem que do meu olhar se apercebesse, ele olhou o “avô” seu interlocutor, fez-lhe um aceno e desejou-lhe boas-festas. O outro esboçou vagamente um sorriso e voltou a envolver-se com as suas memórias, as memórias do que foram duros natais, natais de tantos dias, dos tais tantos dias do ano que, assim, com o pão bolorento, nos demonstram que, afinal, o natal não é sempre que um homem quiser.

Atrás de mim, a minha mãe agora dorme. Já há algum tempo, no ecrã que mostra a informação que os fios que caem sobre ela recolhem, os números que se actualizam constantemente mantêm-se na cor verde e não apitam mais no amarelo, nem no vermelho. As apitadelas dos números vermelhos punham enfermeiros e enfermeiras a entrarem no quarto correndo. Os gráficos sinusoidais são menos claros para mim, mas parecem-me agora, sem dúvida, mais harmoniosos entre si.
Não sei se alguma vez ela comeu pão com bolor fervido, ainda um dia lho perguntarei. Mas lembro-me, por exemplo, das histórias da sardinha - uma só - repartida com um dos irmãos. E outras histórias.
Como escreve David Mourão-Ferreira, um dia haverá um primeiro Natal que será feito para sempre sem ela.
Consola-me a inquebrantável certeza que, se a lei natural da saúde e das gerações o permitir, até que esse venha, nenhum ela passará sem a presença aconchegadora de um dos filhos. Se calhar, colhe o que semeou. O que pôde semear.
Fernando Pinto, Horta (Faial) 25 de Dezembro de 2009

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Cadeia de poemas de Natal - 10, para o Alentejo do Zé Geadas

Escrevi assim no blogue do Zé, em resposta aos seus votos natalícios:

Obrigado, Zé, pelos teus votos.
Aqui te deixo, como se de um abraço grande se tratasse, para ti, teus pais, mano e avós, um poema de Natal, que colhi ontem na linda Biblioteca Municipal da Horta, para onde corri a proteger-me da valente chuva.
Diz que o Natal é de todos, em todo o lado. É em Dezembro, mas pode ser em todo o ano. O que é verdade.

Natal, e não Dezembro
..........................
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa , em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
..........................
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos despojados , mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira (Cancioneiro de Natal.1960-1987)

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Cadeia de poemas de Natal - 9, dos Açores ao Brasil

Cheguei ao Faial, já estou mesmo na Horta.
Assim que cheguei a casa, larguei a bagagem, abracei a minha mãe e tentei ir direitinho ao cemitério, junto à campa do meu pai. Só que chovia bastante.
Abriguei-me na Biblioteca Municipal, e fui passar os olhos pelas estantes. Lá descobri as "101 Noites de Natal, uma antologia literária".
À página 34 fui buscar o "Soneto de Natal", de Machado de Assis, que aqui reproduzo, dedicando-o a todos os brasileiros que conheço, e a todos os brasileiros que de vez em quando visitam este blogue.

Um homem, — era aquela noite amiga,

Noite cristã, berço do Nazareno, —

Ao relembrar os dias de pequeno,

E a viva dança, e a lépida cantiga,


Quis transportar ao verso doce e ameno

As sensações da sua idade antiga,

Naquela mesma velha noite amiga,

Noite cristã, berço do Nazareno.


Escolheu o soneto . . . A folha branca

Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,

A pena não acode ao gesto seu.


E, em vão lutando contra o metro adverso

Só lhe saiu este pequeno verso:

"Mudaria o Natal ou mudei eu?"



Cadeia de poemas de Natal - 8, na Língua Espanhola

A Olga, minha querida colega e amiga do PLURALIA, é argentina. Vive há muitos anos em Madrid. Mandou-me estes versos do poeta chileno Pablo Neruda:

Pero incansablemente crece el árbol
y muere el árbol y a la vida acude
otro germen y todo continúa.
Y no es la adversidad lo que separa
los seres, sino
el crecimiento,
nunca ha muerto una flor: sigue naciendo.
Pablo Neruda
Com os mejores deseos y cariño do Alberto, da Olga e da Cande

Olá Miguel! Um grande abraço!

Voltei ao café do aeroporto onde conheci, por acaso, o Miguel Guerreiro.
Na fila estavam três pessoas à minha frente. Olhei para trás, o Miguel e a mãe não estavam ali. Aliás, não estava ninguém atrás de mim.
Voltei-me outra vez para a frente. A moça que estava a receber os pré-pagamentos, três vezes eu a vi receber dinheiro e entregar trocos e talões; duas vezes a vi saudar os clientes com brevíssimos bons-dias. Nunca a vi olhar qualquer um dos passageiros.
Eu estava bem-disposto. Vinham-me à memória as lembranças daquele dia com o Miguel, os seus pais e o João Marrana. E da manhã seguinte, inesperadamente outra vez ao pé deles, no hotel na Terceira.
Quando chegou a minha vez de fazer o pedido, já de porta-moedas na mão disse para a menina: "Bom dia e bom Natal". A menina interrompeu o gesto automático que iniciava com o indicador da mão direita apontado ao teclado da máquina registadora, olhou para mim, fixou-me, sorriu, devolveu-me os bons-dias e retribuiu-me os votos.
Depois de me dar o café que pedi, tal como pedi no dia do Miguel, voltou a olhar-me, voltou a sorrir-me e desejou-me boa viagem.
- Vês, Miguel, como é fácil fazer bem às pessoas? Um grande abraço! Falamos um dia destes.

domingo, dezembro 20, 2009

Cadeia de poemas de Natal - 7, KALANDA, da Grécia

Dos meus queridos amigos George Detras, Sissi e Giannos, de Kalamata (Grécia), companheiros do PLURALIA, recebi, num e-mail, informações preciosas sobre a celebração tradicional do Natal na Grécia, que transcrevo para aqui, agora:
"No dia 24 de Dezembro, a véspera de Natal, as crianças gregas cantam canções de Natal chamadas “Kalanda”. Este termo provém do termo latino Calendae [donde resulta o “calendário”], que designa os primeiros dias do mês de Janeiro, os quais eram celebrados no tempo do império bizantino com grande pompa. Assim, as crianças gregas vão de casa em casa e os habitantes oferecem-lhe guloseimas, frutos secos ou bolos secos que, hoje em dia, são substituídos quase sempre por dinheiro. As crianças acompanham os seus cantos com um triângulo metálico [trigone, termo latino], que percutem com a ajuda de uma vareta, também ela metálica." São, afinal, os nossos tradicionais ferrinhos.
KALANTA = Chant de Noël
Καλήν εσπέραν άρχοντες - Good afternoon lords
κι αν είναι ορισμός σας - and if it's your command
Χριστού την θείαν γέννησιν - the holy birth of Christ
να πω στ' αρχοντικό σας - may I say in your house
Χριστός γεννάται σήμερον - Christ is born today
εν Βηθλεέμ τη πόλει - in the city of Bethlehem
οι ουρανοί αγάλλονται - the skies get serene
χαίρει η κτίσις όλη - the entire firmament rejoices

Εν τω σπηλαίω τίκτεται - in the cave is born
εν φάτνη των αλόγων - in the stable of the horses
ο βασιλεύς των ουρανών - the king of the skies
και ποιητής των όλων - and creator of everything

GREGO

Kalîn espéran árchontes,
an eínai orismós sas,
Christoú tîn theían Génnîsin
na pô st' archontikó sas.
Christós yennátai sîmeron
en Bîthleém tî pólei.
Oi ouranoí agállontai
chaírei î ktîsis ólî.

En tô spîlaíô tíktetai
en phátnî tôn alógôn
o Vasileús tôn ouranôn
kai Poiîtîs tôn ólôn.




FRANCÊS

Bonne soirée maîtres
et si ce sont vos ordres
que j’annonce la naissance
de Jésus à votre château.

Jésus est né aujourd’hui
dans la ville de Bethléem.
Le ciel exulte
et toute la nature se réjouit

Dans la grotte, il vient à la vie.
Dans l’écurie des chevaux,
le roi des cieux
et le poètes de tous

ESPANHOL

Buenas tardes, noble gente,
Si quieren
El santo nacimiento de Cristo
Podré cantar en su casa.
Cristo ha nacido hoy
En el pueblo de Belén,
Los cielos se regocijan,
Toda la naturaleza es feliz.

En una cueva nació
En un pesebre para caballos,
El Rey de todo el universo,
El Creador de cada cosa.


sábado, dezembro 19, 2009

Cadeia de poemas de Natal - 6, PETIT PAPA NOËL

Este apontamento é dedicado aos meus alunos do 10.º AS, na sequência da aula com que fechámos as aulas do primeiros período, para agora irmos celebrar o Natal com os nossos familiares e os nossos amigos.
Foi uma aula muito espontânea, muito bonita, em que visitámos o Natal de vários países, até de alguns que estranhámos que festejassem o Natal ("Com aquela Língua?...", "As senhoras estão lindas, mas... vestidas com sari?... Não sabia que cantavam o Natal!...")
A meio da aula, o meu mano Acúrcio entrou pela sala dentro e brindou-nos com o lindo poema de Natal que faz parte da nossa cadeia de poemas de Natal (o de David Mourão-Ferreira). Que foi lido em voz alta para todos.
Junto agora os versos da linda canção de Natal francesa, cantada na língua oficial do projecto em que a nossa Escola participou durante três anos, o PLURALIA, e cujo espírito de trabalho, confraternização e amizade continua bem vivo (clicando no título do apontamento, vai-se ao Youtube ouvir a canção, numa interpretação ligeira, muito bonita; e que tem a ver com as nossas aulas, os meus alunos perceberão porquê).

Petit papa Noël

C'est la belle nuit de Noël,

La neige étend son manteau blanc,

Et les yeux levés vers le ciel,

à genoux, les petits enfants,

Avant de fermer les paupières,

Font une dernière prière.

Petit papa Noël

Quand tu descendras du ciel,

Avec des jouets par milliers,

N'oublie pas mon petit soulier.

Mais avant de partir,

Il faudra bien te couvrir,

Dehors tu vas avoir si froid,

C'est un peu à cause de moi.

Il me tarde tant que le jour se lève

Pour voir si tu m'as apporté,

Tous les beaux joujoux que je vois en rêve

Et que je t'ai commandés.

Petit papa Noël

Quand tu descendras du ciel,

Avec des jouets par milliers,

N'oublie pas mon petit soulier.

Le marchand de sable est passé

Les enfants vont faire dodo

Et tu vas pouvoir commencer

Avec ta hotte sur le dos

Au son des cloches des églises

Ta distribution de surprises

Petit papa Noël

Quand tu descendras du ciel,

Avec des jouets par milliers,

N'oublie pas mon petit soulier.

Si tu dois t'arrêter

Sur les toits du monde entier

Tout ça avant demain matin,

Mets-toi vite, vite en chemin.

Et quand tu seras sur ton beau nuage,

Viens d'abord sur notre maison

Je n'ai pas été tous les jours bien sage,

Mais j'en demande pardon.

Petit papa Noël

Quand tu descendras du ciel,

Avec des jouets par milliers,

N'oublie pas mon petit soulier,

Petit papa Noël.

paroles : Raymond Vinci

musique : Henri Martinet

Cadeia de poemas de Natal - 5, este tem letra dos Açores

Outro elo da cadeia, outro elo da Manuela


NATAL CHIQUE

Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.

Vitorino Nemésio

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Cadeia de poemas de Natal - 4

Hoje trago para aqui um poema de Natal de Miguel Torga.
Por três razões:
  • porque é um poema de Natal
  • porque adoro os escritos de Miguel Torga
  • porque acho delicioso (sem ironia, acreditem!) o comentário que encontrei no blogue de onde tirei o poema. Andava "preguiçosamente" à procura de uma versão já escrita (para não ter de escrevê-la eu por inteiro), encontrei-a num outro blogue, mas mal publicada, e depois apareceu-me bem escrita neste blogue. Sinceramente, acho o comentário delicioso, pela ingenuidade (verdadeiramente natalícia) e pela atenção e estímulo afectuosos da autora Teresa para com o seu escritor ( penso que ela pensa que é o João Carvalho Fernandes)!

HISTÓRIA ANTIGA - MIGUEL TORGA

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga

(no blogue http://fumacas.weblog.com.pt/arquivo/380002.html)

O comentário é o seguinte, que depois, a seguir, reproduzo com a pontuação correcta:

"nao sei o que dizer desta historia mas acho um bocado esagerada de mais veja se a melhora boa sorte"

"Não sei o que dizer desta história, mas acho um bocado exagerada demais. Veja se a melhora. Boa sorte!"


quarta-feira, dezembro 16, 2009

A cadeia fez-se: o Natal da Eduarda

Foto: mdlr o4o4 - ramagem de abeto (Abies spp.)

NATAL À BEIRA DO RIO
É o braço do abeto a bater na vidraça!
É o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
a trazer-me da água a infância ressurrecta.

Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
que ficava, no cais, à noite iluminado...
.
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
mais da terra fazia o norte de quem erra.
.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia!
.
David Mourão-Ferreira, Cancioneiro de Natal (1971)

terça-feira, dezembro 15, 2009

NATAL DE QUEM? pergunta a Manuela

A minha colega e amiga Manuela mandou-me o seguinte poema, dizendo, no fim do seu e-mail:

"O meu mais belo poema de Natal.

Vamos transmitir aos mais novos o que celebra o Natal, ainda estamos a tempo!!!"

Obrigado, Manuela! Vamos a isso!

NATAL DE QUEM?

Mulheres atarefadas

Tratam do bacalhau,

Do peru, das rabanadas.

- Não esqueças o colorau,

O azeite e o bolo-rei!

- Está bem, eu sei!

- E as garrafas de vinho?

- Já vão a caminho!

- Oh mãe, estou pr'a ver

Que prendas vou ter.

Que prendas terei?

- Não sei, não sei...

Num qualquer lado,

Esquecido, abandonado,

O Deus-Menino

Murmura baixinho:

- Então e Eu,

Toda a gente Me esqueceu?

Senta-se a família

À volta da mesa.

Não há sinal da cruz,

Nem oração ou reza.

Tilintam copos e talheres.

Crianças, homens e mulheres

Em eufórico ambiente.

Lá fora tão frio,

Cá dentro tão quente!

Algures esquecido,

Ouve-se Jesus dorido:

- Então e Eu,

Toda a gente Me esqueceu?

Rasgam-se embrulhos,

Admiram-se as prendas,

Aumentam os barulhos

Com mais oferendas.

Amontoam-se sacos e papeis

Sem regras nem leis.

E Cristo Menino

A fazer beicinho:

- Então e Eu,

Toda a gente Me esqueceu?

O sono está a chegar.

Tantos restos por mesa e chão!

Cada um vai transportar

Bem-estar no coração.

A noite vai terminar

E o Menino, quase a chorar:

- Então e Eu,

Toda a gente Me esqueceu?

Foi a festa do Meu Natal

E, do princípio ao fim,

Quem se lembrou de Mim?

Não tive tecto nem afecto!

Em tudo, tudo, eu medito

E pergunto no fechar da luz:

- Foi este o Natal de Jesus?!!!

(João Coelho dos Santos

in Lágrima do Mar - 1996)


quarta-feira, dezembro 09, 2009

Mensagem de Natal 2009

Há pouco fui chamado a resolver um problema delicado. A pessoa com quem falei estava tensa, grave, muito preocupada. Quando a conversa acabou, estava já tranquila. Olhou-me, estendeu-me a mão, sorriu-me e desejou-me um bom Natal.
Nesse momento tomei consciência de que a festa grande desta época do ano acabava de voltar.
- O que é o Natal?... é a pergunta que vai e volta, todos os anos, mais ou menos por esta altura. E todas as vezes a gente tenta dar uma resposta nova, diferente.
- O Natal é sentirmo-nos em casa, à volta de memórias, do convívio e de sonhos, pensei eu.
Nos mais pequenos há mais sonhos do que memórias, nos mais velhos há mais memórias do que sonhos. O convívio de todos é o convívio possível, em que se fazem votos para que o possível seja igual ao desejo. O desejo é sempre cheio de paixão e de amor.
Tantas vezes que os sonhos dos mais pequenos são a alegria dos mais velhos e as memórias dos mais velhos fazem as delícias dos mais pequenos!...
Não sou nada original a dizer que escrevi esta (pretensiosa) mensagem de Natal “aos ombros de dois gigantes”: Fernando Pessoa e Eugénio de Andrade.
Fernando Pessoa escreveu “A minha pátria é a minha língua”.
Eugénio de Andrade, por seu lado, escreveu o poema que a seguir transcrevo:
O sal da língua
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
Nas palavras cabem os sonhos, cabem as memórias e cabe o convívio. Cabem o entendimento e a tolerância.
E os votos de Feliz Natal!
Até p’ró ano!
Um xi-coração grande, grande, grande, do
Fernando Pinto

terça-feira, dezembro 08, 2009

Pais, filhos e a Educação Sexual: falam pouco, falam tarde

Parents' Sex Talk with Kids: Too Little, Too Late

Fui buscar este artigo à revista TIME.
Para já, transcrevo-o para aqui (tradução Google, a que darei ainda "uns toques" brevemente), tal qual ele aparece na revista.
Vale a pena ler. É claro e informativo.
Em tempos de aplicação nas escolas portuguesas do programa de Educação Sexual do governo português, parece-me que ajuda a discussão.

A conversa do sexo nunca é fácil. Não é confortável para todos os envolvidos - os pais têm medo de que, as crianças são mortificada por ela - que é provavelmente porque a falar tantas vezes vem depois do fato. No mais recente estudo sobre o pai-filho fala sobre sexo e sexualidade, os investigadores encontraram que mais de 40% dos adolescentes tinham tido relações sexuais antes de falar com seus pais sobre sexo seguro, controle de natalidade ou doenças sexualmente transmissíveis.
Essa tendência é preocupante, dizem os especialistas, uma vez que os adolescentes que falar com seus pais sobre sexo são mais propensos a atrasar a sua primeira experiência sexual e para a prática de sexo seguro quando elas se tornem sexualmente ativas. E, ironicamente, apesar de sua aparente medo, as crianças realmente querem aprender sobre sexo de seus pais, de acordo com o estudo após estudo sobre o tema.
(Veja fotos de adolescentes na América Latina.)
"Os resultados não me surpreendem", diz o Dr. Mark Schuster, um dos autores do novo estudo, publicado na revista Pediatrics, eo chefe da pediatria geral do Hospital Infantil de Boston. "Mas há algo sobre ter dados reais que serve como um alerta aos pais que não estão falando com seus filhos sobre questões muito importantes até mais tarde do que nós pensamos que seria melhor."
O estudo envolveu 141 famílias cadastradas no pais conversando, programa Teens Saudável, organizado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles / Rand Centro de Saúde do Adolescente Promoção e supervisionado por Schuster. Pais e filhos, com idades entre 13 a 17, respondeu a 24 perguntas sobre questões relativas ao sexo e sexualidade, incluindo a forma como as mulheres engravidam mudanças, o corpo que ocorrem durante a puberdade, como usar preservativos e controle de natalidade, assim como as questões em torno da homossexualidade.
(Veja as 10 principais ídolos teen.)
Os pesquisadores perguntaram aos pais e seus filhos, em separado, quando eles tinham discutido pela primeira vez a cada tema, e compararam essas informações para auto adolescentes de relatórios sobre seu envolvimento em três categorias específicas de comportamento sexual - de mãos dadas ou beijar, tocar ou sexo oral genital ; sexual e. As famílias foram entrevistados quatro vezes, uma no início do estudo, em seguida, novamente em três, seis e 12 meses.
Ao final do estudo, mais da metade dos pais relataram que não havia discutido 14 do sexo 24 tópicos relacionados a seu tempo os adolescentes tinham começado tocando genitais ou sexo oral com parceiros. Quarenta e dois por cento das meninas relataram que não havia discutido a eficácia do controle de natalidade e 40% admitiram que não tinha falado com os pais sobre como recusar o sexo antes de se envolver no toque genital. Quase 70% dos meninos disseram que não havia discutido como usar um preservativo ou o nascimento de outros métodos de controle com os pais antes de ter relações sexuais. No entanto, apenas metade dos pais dos meninos, ao contrário, disseram que não havia discutido o uso do preservativo ou de controle de natalidade com seus filhos.
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Essa diferença evidencia um problema principal no diálogo entre pais e filhos sobre sexo."Muitos pais pensam que eles tiveram uma conversa, e as crianças não se lembra em tudo", diz a Dra. Karen Soren, diretor da medicina do adolescente de Nova York Presbyterian Morgan Stanley Children's Hospital. "Os pais às vezes dizem coisas mais vagamente, porque eles se sentem e pensam que já abordados alguma coisa, mas as crianças não ouvem o tema em tudo."
É incrivelmente difícil de abordar o tema do sexo, admite Soren, que tem três filhos dela própria. "Seus filhos olham para você como você é louco, e você sente como você deseja executar", diz ela. "Mas é importante porque nós sabemos que boa mãe-criança dá às crianças uma melhor resiliência mais tarde na vida."
Como mostra o estudo mais recente, fala dos pais sobre sexo e sexualidade precisam ocorrer muito mais cedo do que eles fazem, mas isso não significa necessariamente que os pais têm apenas uma chance de acertar. Para facilitar as coisas, e tomar alguma da pressão fora da situação, dizem os especialistas, os pais devem pensar fala o sexo como um diálogo permanente, em vez de uma discussão incômoda que eles devem cruzar fora de sua lista. E eles devem ter em mente que eles provavelmente já internalizou o mesmo desconforto e evitar que seus próprios pais exibido em falar sobre sexo - mas fala de sexo não precisa ser tão preocupante. Especialistas dizem também que os pais devem discutir certos assuntos com seus filhos em idade momentos adequados, e que o debate deve evoluir como filhos maduros."A 12-year-old vai olhar para o sexo de forma muito diferente do que um 15 - ou um 18-year-old", disse Soren. "Para as crianças entre 10 e 13, a idéia do sexo agrega-los. Então, você provavelmente não vai dizer a um 13-year-old necessariamente tudo sobre os diferentes métodos de controle de natalidade".
Em vez disso, as conversações devem se concentrar no que a criança é capaz de absorver, e que a criança pergunta sobre. Os pais também devem aproveitar cada desculpa para abordar o assunto difícil - uma menção a sexo ou sexualidade em um programa de TV, uma gravidez na família, as aulas de educação sexual na escola ou uma visita ao médico na época da puberdade. "Se você acabar com a dificuldade de partida, em seguida, uma vez que a conversa começa indo, você encontrará muitas vezes é mais fácil do que o esperado", diz Schuster."Portanto, use qualquer desculpa que quiser, mas apenas superar o obstáculo inicial e começar a conversar com seus filhos, porque é realmente importante."

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