segunda-feira, junho 30, 2025

#TOLERÂNCIA183 - A MEIO DA VIAGEM, É A VEZ DOS DITADOS POPULARES

 #TOLERÂNCIA183 - A MEIO DA VIAGEM, É A VEZ DOS DITADOS POPULARES

183 + 183 = 366. Estou precisamente a meio da viagem-peregrinação no país da Tolerância. Tenho visto muito, tenho conhecido mais do que alguma vez imaginaria; e estou contente por aquele primeiro passo, que dei de impulso.

A diferença entre a primeira parte, que hoje acaba, e a segunda, que amanhã começa, tenho a certeza de que está nos lugares a que chegarei: na segunda parte, serão bem menos os novos lugares e serão bem mais ou lugares a que voltarei. Fui tomando nota de alguns deles, há coisas que quero conhecer melhor, há outras que pedem que escreva coisas que na altura ficam por escrever. Aliás, aqui e ali, eu disse-o logo na altura.

No próximo dia 10 vou fazer a primeira conferência pública forjada nesta viagem. Tem o discreto nome "A Pedagogia da Tolerância".

A rota de hoje leva-nos a um lugar novo, o dos ditados populares.

O "Grande Dicionário dos Provérbios" do notável José Pedro Machado, encontrei nele, numa busca rápida, 2 ditados a falarem da tolerância: "Não tolerar o homem que prefere o prazer ao dever" e "Tolera-se sem contudo aprovar o que detestamos". Já não é mau! Estes dois já animam uns minutos

valentes de conversa e trabalho.

Procurei em "Homem que...", "Mulher que... (também nos plurais de ambos) e não encontrei nada. Também procurei em "Gente que..." e "Quem...", também nada.

Na Net, numa recolha brasileira de 1848, encontrei o segundo dos provérbios que encontrei no livro do Professor José Pedro Machado.

Que fiz então depois?... Isso mesmo, fui aos modernos oráculos da Inteligência Artificial, os 'chatbots', que me deram materiais muito interessantes. Gostei especialmente deste, do 'ChatGPT', que assim falou depois de humildemente assumir que não conseguia ajudar-me com provérbios portugueses em que aparecesse "tolerância", "tolerar", "tolera" e "tolerante". Fez-me a lista depois de me perguntar se eu aceitava que ele procurasse nas línguas e nas culturas de outros países.

Provérbios de outras culturas sobre tolerância (traduzidos e adaptados):

1) "Onde há paciência, há tolerância." (baseado num provérbio persa. Valoriza a paciência como base para aceitar as diferenças.)

2) "Antes tolerar um erro do que perder uma amizade." (inspirado num provérbio chinês. Enfatiza que a compreensão é mais importante do que estar certo.)

3) "A tolerância é a filha da sabedoria." (derivado de uma máxima budista. Expressa que só os sábios sabem ser verdadeiramente tolerantes.)

4) "Não se pode varrer o mundo com a vassoura da intolerância." (baseado numa expressão africana. Indica que tentar impor a própria visão do mundo não é o caminho.)

5) "Tolerar é permitir que o outro seja ponte e não muro." (inspirado em ditados andinos. Reflecte a ideia de aceitar o outro como forma de construir ligações.)

6) "A árvore tolera o vento porque se curva." (provérbio japonês adaptado. Sugere que a flexibilidade, e não a rigidez, é sinal de força.)

7) "Quem sabe tolerar, aprende a viver entre lobos sem se tornar um." (inspirado em provérbio russo. Mostra que a tolerância é uma forma de sobrevivência com dignidade.)

8) "A tolerância é o sal da liberdade." (inspirado na cultura francesa e no Iluminismo. Aponta que sem tolerância, a liberdade perde o seu sabor.)

9) "Tolerância não é fraqueza, é força que se cala." (baseado em ensinamentos sufis. Reforça a ideia de que suportar com serenidade exige coragem.)

10) "Quando a alma é grande, a tolerância é natural." (adaptado de sabedoria indiana. Indica que o espírito elevado não se incomoda com pequenas diferenças.)

Acho que o 'ChatGPT' não se saiu nada mal!

Uma pequena nota desafiante: há pouco surgiram, quase como cogumelos, 'sites' a darem notícia do conceito "dívida cognitiva", situação a que pode levar o uso prolongado da Inteligência Artificial. Talvez um dia a gente fale aqui deste novo e, repito, desafiante conceito.

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domingo, junho 29, 2025

#TOLERÂNCIA182 - (DES)INFORMAÇÃO, ISRAEL E IRÃO

 #TOLERÂNCIA182 - (DES)INFORMAÇÃO, ISRAEL E IRÃO

Estou a preparar uma comunicação para o III Encontro Internacional de Solidariedade Intergeracional - Educação e Saúde Valores de Transmissão Intergeracional, que vai decorrerem 3 locais diferentes: em Odivelas (10 de Julho), Amora (10 e 11 de Julho) e Mação (11 e 12 de Julho).

Vou ocupar alguns minutos a falar da importância da Informação no combate e na desmontagem dos estereótipos e preconceitos negativos; e como tal pode promover a Tolerância entre as pessoas e nos grupos humanos.

Num breve intervalo, passo os olhos por algumas notícias dos jornais. Um deles tem um artigo que calha bem com o que estou a preparar.

O suplemento da edição de hoje do jornal diário "Público" traz um extenso e interessante artigo à volta das relações entre o Irão e Israel. Trago para aqui 2 ou 3 coisas que, do lado da informação, ajudam a combater a desinformação que grassa na Comunicação Social, sendo alguma por ignorância dos autores e muita deliberadamente incentivada por promotores interesseiros (sobretudo vindos do campo dos políticos carregados de ambições pessoais mesquinhas).

O primeiro trecho, sobre os mais novos que pensam que o Irão e Israel sempre se deram mal.

Os mais jovens não podem ter outra ideia que não seja olhar o Estado hebraico e o Irão persa como inimigos eternos. Mas não é verdade. É uma longa história, em parte tragédia e em parte farsa. Persas e judeus têm civilizações que se cruzam há muitos séculos. Basta ler a Bíblia ou pensar na festa judaica do Purim. E nada garante que a actual "mortal inimizade" entre eles não seja uma fase passageira no longo curso da História. Depois da Revolução Islâmica de 1979, que aboliu a ditadura laica do Xá

Reza Pahlavi, o ayatollah Ruhollah Khomeini decretou a ilegitimidade da existência de Israel em terra árabe e anunciou como meta a sua futura destruição. Nessa altura, a América era o "Grande Satā" e Israel o "Pequeno Satā". Antes disso, o Irão do Xá fora o aliado preferencial de Israel. Persas e judeus tinham um adversário comum: o nacionalismo árabe, de que o egípcio Gamal Abdel Nassser foi o grande símbolo. Por isso, Telavive e Teerão continuaram a fazer bons negócios, embora geralmente de forma encoberta.

O segundo trecho tem a ver com um testemunho na primeira pessoa, uma israelita especial, que luta pela boa informação e o entendimento:

Orly Noy é uma cidadā israelita, ou melhor, irano-israelita. Nunca se pode perder a nacionalidade iraniana. Mas, neste caso, ela ama a dupla nacionalidade. Emigrou do Irão aos nove anos. Gosta do hebraico, mas o farsi é a sua "língua materna". Acaba de publicar em Israel uma longa antologia de poesia farsi, em edição bilingue. Orly não é só uma irano-israelita. É uma activista, presidente do B'Tselem, Centro Israelita de Informação para os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados. Comunica intensamente com amigos no Irão e na diáspora. É uma mulher zangada. "Partilhamos um espaço de uma das mais antigas e ricas civilizações. Mas não se ouve falar de mais nada a não ser de ayatollahs e programas nucleares. E nós precisamos de aprender a conhecer o Irão. Deprime-me a ignorância da sociedade israelita no que diz respeito à cultura iraniana. Tem uma das mais ricas poesias e um fabuloso cinema internacionalmente reconhecido."

O terceiro trecho é sobre a razão tolerante, os erros de percepção e a desagregação por causa do poder da geopolítica da região.

"O Irão era um enclave no coração do mundo dominado por países próximos dos soviéticos", escreve o semanário Le Point. "O xiismo aparecia então como a forma mais culta do islão político. Para o dizer de
uma forma mais simplista, era a forma mais aberta e tolerante, a mais parecida com a ideia que a Europa e os Estados Unidos faziam de uma religião secularizada. Em suma, o Irão era o ideal." Mas a ocidentalização do Irão encerrava também um "erro de percepção", pois reflectia sobretudo as elites e esquecia que o Irão era também uma sociedade pobre e muito conservadora, o que beneficiou o acesso ao poder de Khomeini e o êxito do seu populismo agressivo. A solidariedade israelita com o novo regime manifesta-se logo em 1980, quando o Iraque de Saddam Hussein invade o Irão, apostando na sua desagregação política. Em resposta, Menahem Begin, primeiro-ministro israelita, líder do Likud e da direita nacionalista, decide um apoio secreto aos ayatollah, pois a prioridade é enfraquecer o mais forte Exército árabe, o de Saddam.

O autor da notícia é Jorge Almeida Fernandes. Ele diz dele próprio: «Não escolhi ser jornalista, o jornalismo recrutou-me. Aos 20 anos, fui director de o Quadrante, da Associação de Estudantes de Direito, logo proibido pela Censura. Fui redactor de O Tempo e O Modo (1964-65 e 1969) e, passageiramente, da Seara Nova. Comecei o jornalismo profissional em 1969, na Vida Mundial, semanário de assuntos internacionais.» Quer dizer, quando rebentou a Revolução Islâmica de 1979, ele tinha já 10 anos de jornalismo profissional de assuntos internacionais. Parece ser fonte credível, e o que escreve não dependerá apenas do que outros jornalistas mais novos dependem absolutamente: as leituras retrospectivas ou retroactivas. (Pois, não sei se isto é verdade, se é legítimo eu pensar assim, se não é apenas o meu desejo de estar a ser bem informado)

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sábado, junho 28, 2025

#TOLERÂNCIA181 - SONO, ESCOLA E EDUCAÇÃO

 #TOLERÂNCIA181 - SONO, ESCOLA E EDUCAÇÃO

Continuo a ler muito sobre o sono, os autores são sempre especialistas médicos, é a estes clínicos que gosto de ir buscar informação. Não sei se eles se lêem uns aos outros (não basta procurar nas bibliografias), mas parece haver um jeito de escrita que lhes é próprio, parece que "escrevem para as pessoas", como um dia um dos filhos pediu ao dr. João dos Santos para assim fazer. Alguns escrevem, inclusivamente, com especial bom humor.

Os horários da organização da vida social (escola e trabalho) continuam, em geral, a não ser amigos da boa higiene de sono dos estudantes, especialmente os adolescentes.

Do livro "Why We Sleep: Unlocking the Power of Sleep and Dreams", de 2017, de Matthew Walker, eu trago para aqui a seguinte passagem:

«SONO E EDUCAÇÃO: Mais de 80 por cento das escolas secundárias públicas nos Estados Unidos começam antes das 8h15min da manhã. Quase 50 por cento dessas escolas começam antes das 7h20min da manhã. Os autocarros escolares para uma hora de início às 7h20min da manhã começam normalmente a recolher as crianças por volta das 5h45min. Como resultado, algumas crianças e adolescentes têm de acordar às 5h30min, às 5h15min, ou ainda mais cedo, e fazem-no cinco dias em

cada sete, durante anos a fio. Isto é uma loucura.

»Conseguiria concentrar-se e aprender alguma coisa depois de ter acordado tão cedo? Não se esqueça que 5h15min da manhã para um adolescente não é o mesmo que 5h15min da manhã para um adulto. Lá mais atrás, dissemos que o ritmo circadiano dos adolescentes avança drasticamente entre uma a três horas. Portanto, a pergunta que eu deveria fazer-lhe, se for um adulto, é a seguinte: conseguiria concentrar-se e aprender qualquer coisa depois de ter sido acordado à força às 3h15min da manhã, tantos dias uns a seguir aos outros? Estaria de bom humor? Seria fácil dar-se bem com os seus colegas de trabalho e comportar-se com graça, tolerância, respeito e um comportamento agradável? Claro que não. Por que razão, então, pedimos isto a milhões de adolescentes e crianças dos países industrializadas? Certamente que esta não é uma boa concepção de educação. Nem tem a ver com qualquer modelo de promoção de boa saúde física e mental nas crianças e nos adolescentes.

»Forçado pelo tão prematuro início das aulas, este estado de privação crónica do sono é especialmente preocupante se tivermos em conta que a adolescência é a fase da vida mais susceptível de desenvolver doenças mentais crónicas, como a depressão, a ansiedade, a esquizofrenia e o suicídio. Levar desnecessariamente à falência o sono de um adolescente pode fazer toda a diferença no precário ponto de viragem entre o bem-estar psicológico e a doença psiquiátrica para toda a vida. Esta é uma afirmação forte, e não a escrevo de forma irreflectida ou sem provas. Nos anos 60, quando as funções do sono eram ainda largamente desconhecidas, os investigadores privaram selectivamente os jovens adultos do sono REM, e, portanto, do sonho, durante uma semana, permitindo-lhes ainda o sono NREM. [...]

»[...] Não foram necessárias as sete noites de privação do sono (e dos sonhos) para que os efeitos sobre a saúde mental começassem a manifestar-se. Ao terceiro dia, os participantes estavam já a expressar sinais de psicose. Tornaram-se ansiosos, mal-humorados e começaram a alucinar. Começaram a ouvir coisas e a ver coisas que não eram reais. Também se tornaram paranóicos. Alguns acreditavam que os investigadores estavam a conspirar contra eles de forma conivente — tentando envenená-los, por exemplo. Outros ficaram convencidos de que os cientistas eram agentes secretos e que a experiência era uma conspiração governamental mal disfarçada de algum tipo perverso. [...]

»[...] Os nossos filhos nem sempre foram para a escola a esta hora biologicamente pouco razoável. Há um século atrás, as escolas nos EUA começavam às nove da manhã. Como resultado, 95 por cento de todas as crianças acordavam sem despertador. Agora, o inverso é verdadeiro, causado pelo recuo incessante das horas de início das aulas — que estão em conflito directo com a necessidade evolutivamente pré-programada das crianças de estarem a dormir durante estas preciosas horas da manhã, ricas em sono REM.»(1)

Ora bem, se a tudo isto juntarmos a praga dos telemóveis, 'tablets' e companhia que grassam na vida da rapaziada nova, veja-se bem de que maneira se está a trazer danos para a saúde mental das gerações mais novas.

Podemos dizer que o sistema escolar, os melhor, os sistemas escolares são perigosamente intolerantes para com a saúde mental das crianças e dos jovens? A minha resposta é «Sim!».

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(1) Traduzi com a ajuda do Deepl.com

sexta-feira, junho 27, 2025

#TOLERÂNCIA180 - DE VOLTA À TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO

 #TOLERÂNCIA180 - DE VOLTA À TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO

Passei os olhos pela edição de hoje do New York Times, sim, coisa rara, no zapear pelas notícias, não é (nunca é) prioridade, só lá chego quando tenho um pouco mais se tempo. Uma notícia à volta de um daqueles temas cuja simples menção hoje em dia faz logo disparar sensibilidades, ansiedades, desconfianças e reclamação de direitos legítimos (todos e mais alguns...) faz-me pensar outra vez na cada vez mais diminuída resistência à frustração, seja qual seja o grupo social, seja qual seja a faixa etária.

O desafio para a Educação, em temas ou questões assim, é o de ser capaz de escapar às armadilhas do Verbo, quer dizer, contornar as imagens, as falas e as atitudes estereotipadas, e pôr foco no manejo da frustração. De uma maneira, muitas vezes, como sói dizer-se, «como quem não quer a coisa...»

Os 'chatbots' das charadas gostaram das tarefas que lhes dei, gostaram da competição uns com os outros e pediram-me mais tarefas do mesmo género. Fizeram-me lembrar a "Rainiers Family" do Instagram e os pequenos jogos que mostram de competição uns com os outros, todos eles, não apenas os dois irmãos.

Pois assim que há pouco lhes pedi que me fizessem pequenos jogos, de curta duração, para pequenos grupos (eu tinha na cabeça uma turma normal, na tradicional aula de 50 minutos), de treino e aprendizagem da resistência à frustração.

Guardei 12 deles, que irei usando quando for oportuno, até porque todos eles precisam de pequenas afinações e adaptações. Mas, é verdade, fiquei com um pequeno conjunto muito interessante de jogos pedagógicos sobre a Resistência à frustração.

Trago para aqui um exemplo, sem grandes preocupações de ser de ser fácil, médio ou difícil.

JOGO: A Torre da Paciência"

OBJECTIVO: construir algo em conjunto, mesmo quando as peças não se encaixam como o esperado.

MATERIAIS: blocos de construção (tipo Jenga, LEGO, ou blocos de madeira) em quantidade suficiente para cada equipa; cronómetro; um dado normal de seis faces (o dado também pode ter símbolos ou cores em vez de números.

COMO JOGAR: 1) divida o grupo em equipas de 4 a 6 pessoas. 2) cada equipa recebe um conjunto de blocos e tem como objectivo construir a estrutura mais alta possível em 15 minutos. 3) a cada dois minutos, o facilitador lança o dado. Cada número (ou símbolo ou cor) no dado corresponde a uma regra que a equipa tem de seguir para os dois minutos seguintes: n.º 1, apenas uma pessoa pode tocar nos blocos; n.º 2, a equipa tem de construir todos com uma mão atrás das costas; n.º 3, a equipa tem de trabalhar em silêncio, nenhum elemento do grupo pode dizer seja o que seja; n.º 4, todos os elementos da equipa só podem usar uma das mãos, a mão dominante (a que não costumam usar); n.º 5, a equipa tem de trocar de membro que está a construir a cada 30 segundos; n.º 6, um membro da equipa tem de vendar os olhos e trabalhar apenas sendo guiado pelos outros membros do grupo.

REGRA MÃE(1): se a estrutura cair em qualquer momento, a equipa tem de parar, recomeçar do zero e continuar a construir. O tempo continua a contar.

VENCEDOR: A equipa que tiver a estrutura mais alta no final dos 15 minutos.

REFLEXÃO PÓS-JOGO: como se sentiram quando a estrutura caiu e tiveram de recomeçar?; qual foi a regra que vos causou mais frustração? Porquê?; de que forma a equipa se adaptou e comunicou sob pressão?; o que aprenderam sobre a importância de aceitar os erros e seguir em frente?

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    (1) O 'chatbot' aqui não designava a regra desta maneira. Alterei-a já precisamente porque uma das coisas que é preciso incutir em toda a gente, tanto nos mais jovens como nos mais velhos, é a consciência de que a mãe frustra, a mãe tem de ser capaz de frustrar e os filhos têm de aprender a lidar com as frustrações produzidas pela mãe.

    quinta-feira, junho 26, 2025

    #TOLERÂNCIA179 - UMA ESPÉCIE DE EFEMÉRIDE: HÁ 7 ANOS, NUMA GRUTA DA TAILÂNDIA

     #TOLERÂNCIA179 - UMA ESPÉCIE DE EFEMÉRIDE: HÁ 7 ANOS, NUMA GRUTA DA TAILÂNDIA

    O mundo assistiu, em Junho e Julho de 2018, a uma das mais impressionantes operações de resgate de um grupo de pessoas presas debaixo ou no fundo de qualquer coisa. 12 rapazes e o seu jovem treinador de futebol ficaram presos na gruta de Tham Luang, na província de Chiang Rai, na Tailândia. A

    repentina e nem ao de leve esperada subida das águas dentro da gruta (mesmo não sendo uma raridade naquela época do ano, não se antecipava para aquele dia em concreto) encurralou-os numa pequena galeria. O drama prolongou-se por 18 dias. Foi entre o dia 23 de Junho e o dia 10 de Julho. À medida que os dias foram passando, o mundo foi-se apercebendo, por um lado, do grande perigo de que o grupo era vítima, por outro lado, da maneira como um impressionante movimento mundial de solidariedade se foi consolidando. Um acontecimento internacional sem precedentes.

    Em 2022, assim que foram disponibilizados publicamente, foi quase com ânsia que vi a série da Netflix "O Resgate nas Grutas Tailandesas" e o documentário (com os próprios protagonistas) "13 Sobreviventes: o Salvamento na Gruta Tailandesa". Durante alguns meses, vi tudo o que pude, li tudo o que apanhei sobre este grande acontecimento.

    Entristeci-me profundamente com o mergulhador que perdeu a vida nas operações de salvamento; depois com a morte do actor que fez o papel do jovem treinador (muito pouco tempo depois da gravação da série, ao ponto de a série lhe prestar imediatamente homenagem); e bem mais triste fiquei com a morte de um dos rapazes, que se suicidou precisamente quando estava em Inglaterra a tentar realizar o sonho que alimentava desde que desejou ser jogador de futebol (em Fevereiro de 2023).

    Vi e revi; li e reli... Procurei pormenores, olhei com outros olhos, reflecti a partir doutras perspectivas. Até que olhei os acontecimentos com os olhos da Tolerância, e também foi na perspectiva da Tolerância que reflecti sobre tanta coisa que naqueles dias ali, na gruta, aconteceu.

    Para além da coragem, da persistência e da perícia envolvidas, consegue-se ver a Tolerância — esse valor silencioso que se revelou essencial ao sucesso da missão. Tolerância entre culturas, línguas, crenças e modos diferentes de abordar a difícil situação.

    Mais de mil pessoas (houve jornalistas que falaram em 10000 pessoas), oriundas de cerca de vinte países, trabalharam em conjunto, lado a lado, sem deixar que as diferenças se sobrepusessem ao objectivo comum: salvar vidas. Mergulhadores britânicos, especialistas australianos, forças navais tailandesas, engenheiros norte-americanos, médicos, voluntários locais e tradutores improvisados formaram uma rede de cooperação onde o respeito mútuo foi o cimento que uniu todos.

    Numa situação em que a pressão humana — a pressão da Vida Humana! — era extrema e o tempo escasso, a Tolerância manifestou-se na capacidade de escutar, adaptar, confiar e agir em conjunto. O comando da missão, ainda que centrado nas autoridades tailandesas, soube integrar contributos diversos, aceitar conselhos externos e colocar o bem dos jovens acima de qualquer vaidade ou rivalidade (política, militar, técnica, médica, fosse qual fosse).

    Escutar. Sim, posso dizer que, desde a primeira hora, foi uma das atitudes e comportamento humanos que mais me impressionaram, sobretudo do lado que quem, fora da gruta, queria ajudar.

    Da parte do grupo encurralado no interior da gruta, foi a confiança: a confiança dos miúdos no seu (muito jovem) treinador; e a confiança do treinador nos ensinamentos budistas, de meditação, que em pequeno tinha recebido dos monges que o tinham educado depois das ocorrências familiares trágicas, primeiro com a mãe e depois com o pai.

    É verdade, os rapazes e o seu treinador, presos na mais densa escuridão, deram uma lição ao mundo. Mantiveram-se unidos, calmos, solidários entre si. O treinador, que partilhava a sua ração de comida e ensinava meditação para manter a serenidade, foi símbolo dessa tolerância activa — compreensão perante o medo, paciência perante o sofrimento.

    A operação de salvamento custou a vida a dois voluntários — o mergulhador Saman Kunan (o único que morreu durante a operação) e o médico-mergulhador Beirut Pakbara (que morreu cerca de 1 ano e 5 meses depois, por causa duma infecção contraída na gruta, que nunca mais conseguiu vencer) —, que deram tudo pelos outros. O seu sacrifício foi o configurou supremamente o espírito de entrega de centenas e centenas de pessoas, a Tolerância alcandorava-se a um muito nobre princípio de humanidade.

    O salvamento da gruta de Tham Luang não foi apenas um feito técnico ou logístico. Foi uma demonstração poderosa de que, quando se cultiva a Tolerância — entre pessoas, povos e ideias — somos capazes de alcançar o impossível. Somos capazes de esquecer que somos diferentes e que as diferenças nos afastam para campos que se opõem e confrontam. E somos — nós, os seres humanos — capazes de resgatar, juntos, muito mais do que vidas: resgatar a própria Esperança na espécie humana, em nós mesmos.

    Se o confinamento mundial por causa da Covid-19 mostrou a capacidade, e a prontidão!, de a Natureza recuperar dos comportamentos hiper-predatórios do ser humano, o confinamento do jovens tailandeses na gruta mostrou que os afectos bons dos seres humanos estão também em latência, prontos a orientarem os comportamentos de todos, assim os líderes das sociedades humanas o o desejem e neles se empenhem.

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    quarta-feira, junho 25, 2025

    #TOLERÂNCIA178 - CHARADAS DA ÁREA VOCABULAR DA TOLERÂNCIA

     #TOLERÂNCIA178 - CHARADAS DA ÁREA VOCABULAR DA TOLERÂNCIA

    Voltei aos 'chatbots', a pedir-lhes ajuda na produção de material didáctico para uso em dinâmicas de grupo à volta do conceito de Tolerância.

    Que conceitos escolhi daquilo a que chamei a área vocabular da Tolerância? Foram os seguintes, nesta primeira recolha: tolerância (pois claro!), aceitação, compreensão, empatia, inclusão, escuta, confiança.

    A seguir, vou escrever 7 charadas, uma para cada um destes conceitos. Não vou dizer as respostas; e seguramente não vou pôr pela ordem com que os enumerei no parágrafo anterior. Desafio os meus leitores a responderem, a tentarem encontrar as respostas. Depois, se quiserem, escrevam as respostas nos comentários, mensagem privada ou mandem-mas por email. Eu direi a cada um quais as respostas certas e as... que serão acertadas à segunda ou terceira tentativa.

    1.ª charada - O que sou eu?

    Não é caridade nem mera gentileza,
    mas sim justiça e inteligência com certeza.
    Quem me vive não faz separação,
    pois sabe que a sociedade é uma só construção.

    2.ª charada - O que sou eu?

    Sou invisível, mas mudo o coração,
    não sou magia, mas faço a transformação.
    Quem me tem não fica indiferente,
    pois vive o mundo como se fosse outra gente.

    3.ª charada - O que sou eu?

    Sou a ponte que une, a paz que convida.
    Permito o diferente, sem causar ferida.
    Não sou fraqueza, sou força e união.
    O que sou eu, em qualquer nação?

    4.ª charada - O que sou eu?

    Quanto mais dou, mais recebo,
    não sou ruído, mas sim acolhimento.
    Sou o espaço entre as palavras
    onde nasce o verdadeiro entendimento.

    5.ª charada - O que sou eu?

    Sou frágil como vidro, forte como aço,
    construo-me lentamente, quebra-se num abraço.
    Quem me perde, perde um tesouro,
    quem me guarda, tem todo o ouro
    .

    6.ª charada - O que sou eu?

    Quanto mais me dás, mais cresce a união,
    quanto mais me guardas, nasce a divisão.
    Sou o oposto da indiferença,
    e trago clareza mesmo na ausência.

    7.ª charada - O que sou eu?

    Quanto mais me dás, mais leve fica o peso,
    quanto mais me negas, mais difícil fica o caso.
    Sou o antídoto da rejeição,
    e trago paz ao coração.


    Ora bem, numa sessão de dinâmica de grupo com estes recursos simpáticos, desafiantes e estimulantes, em que, aos poucos se discriminam e clarificam conceitos que tantas vezes se confundem, deve haver, preparado previamente, pois claro, um guião de exploração da sessão, guião esse que preveja várias hipóteses de desenvolvimento da sessão; e rematando, eventualmente, com uma reflexão escrita individual ou de grupo.

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    terça-feira, junho 24, 2025

    #TOLERÂNCIA177 - A PRÁTICA DEMOCRÁTICA DE ESCUTAR

     #TOLERÂNCIA177 - A PRÁTICA DEMOCRÁTICA DE ESCUTAR

    Continuo a caminhar com Paulo Freire. No seu livro "Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa" (São Paulo: Paz e Terra, 1996. – (Coleção Leitura)), ele escreve assim (mantenho a grafia original do livro):

    «Escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar, no  sentido aqui discutido, significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para  a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro. Isto não quer dizer,  evidentemente, que escutar exija de quem realmente escuta sua redução ao outro que fala. Isto  não seria escuta, mas auto-anulação.

    »A verdadeira escuta não diminui em mim, em nada, a capacidade de exercer o direito de  discordar, de me opor, de me posicionar. Pelo contrário, é escutando bem que me preparo para  melhor me colocar ou melhor me situar do ponto de vista das idéias. Como sujeito que se dá ao  discurso do outro, sem preconceitos, o bom escutador fala e diz de sua posição com desenvoltura.  Precisamente porque escuta, sua fala discordante, em sendo afirmativa, porque escuta, jamais é autoritária.

    »Não é difícil perceber como há umas tantas qualidades que a escuta legítima demanda do seu  sujeito.

    »Qualidades que vão sendo constituídas na prática democrática de escutar.

    »Deve fazer parte de nossa formação discutir quais são estas qualidades indispensáveis, mesmo  sabendo que elas precisam de ser criadas por nós, em nossa prática, se nossa opção político pedagógica é democrática ou progressista e se somos coerentes com ela. É preciso que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como amorosidade, respeito aos outros, tolerância, humildade, gosto pela alegria, gosto pela vida, abertura ao novo, dispobilidade à mudança, persistência na luta, recusa aos fatalismos, identificação com a esperança, abertura à justiça, não é possível a prática pedagógico-progressista, que não se faz apenas com ciência e técnica.

    »Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem o que a escuta não se pode dar. Se  discrimino o menino ou menina pobre, a menina ou o menino negro, o menino índio, a menina  rica; se discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não posso evidentemente escutá-las e se  não as escuto, não posso falar com eles, mas a eles, de cima para baixo. Sobretudo, me proíbo  entendê-los. Se me sinto superior ao diferente, não importa quem seja, recuso-me escutá-lo ou escutá-la. O diferente não é o outro a merecer respeito é um isto ou aquilo, destratável ou desprezível.»

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    segunda-feira, junho 23, 2025

    #TOLERÂNCIA176 - A TOLERÂNCIA EM PAULO FREIRE

     #TOLERÂNCIA176 - A TOLERÂNCIA EM PAULO FREIRE

    Tirei este trecho do livro "Por uma Pedagogia da Pergunta" (Por uma Pedagogia da Pergunta / Paulo Freire, Antonio Faundez. – Rio e Janeiro: Paz e Terra, 1985. (Coleção Educação e Comunicação: v. 15)). Paulo Freire (brasileiro) e Antonio Faundez (chileno) conversam (Mantenho integralmente a escrita no português do Brasil desta edição).

    Tenho amigos e colegas (colegas "psi's" e colegas professores que reagem repulsivamente, por instinto, à palavra tolerância). Espero que leiam este trecho:

    «Se não tentamos, Antonio, uma compreensão crítica do diferente, corremos o risco de, na necessária comparação que fazemos entre as expressões culturais, as de nosso contexto e as do de empréstimo, aplicar rangidos juízos de valor sempre negativos à cultura que nos é estranha.

    »Para mim, esta é sempre uma posição falsa e perigosa. Respeitar a cultura diferente, respeitando a nossa também, não significa, porém, negar a nossa preferência por este ou aquele traço de nosso contexto de origem ou por este ou aquele traço do contexto de empréstimo. Uma tal atitude revela, inclusive, um certo grau de amadurecimento indispensável que alcançamos e às vezes não, ao nos expor criticamente às diferenças culturais.

    »De uma coisa temos sempre de estar advertidos, no aprendizado destas lições das diferenças - a cultura não pode, com ligeireza, estar sendo ajuizada desta forma: isso é pior, isso é melhor. Não quero, contudo, afirmar que não haja negatividades nas culturas, negatividades que precisam ser superadas.

    »Um exercício anterior a que me havia entregue há alguns anos no Brasil, o de me expor, como educador, às diferenças culturais do ponto de vista das classes sociais, sem que imaginasse, me preparava, em certo sentido, para a necessidade que tive no exílio de entender as diferenças culturais. Diferenças de classe e também de região. Questões 'de gosto, não apenas das cores das roupas, do arranjo da casa simples, do uso, para mim abusivo, de retratinhos nas paredes, mas também do gosto das comidas, dos temperos. A preferência, nos bailes, pelo volume exagerado no som das músicas. Diferenças marcantes na linguagem, no nível da sintaxe e da semântica. Minha longa convivência com estas diferenças me ensinou que manter preconceitos de classe diante delas seria contra-dizer funestamente a minha opção política. Me ensinou também que a própria superação das suas negatividades, exigindo uma transformação nas bases materiais da sociedade, coloca o papel de sujeito que as classes trabalhadoras devem assumir no esforço da reinvenção de suas expressões culturais.

    »Mas isto já é outra conversa…

    »No fundo, tudo isso me ensinou e tem me ensinado muito. Me ensinou a viver, a encarnar uma posição ou uma virtude que considero fundamental não só do ponto de vista político, mas também existencial: a tolerância.

    »A tolerância não significa de maneira nenhuma a abdicação do que te parece justo, do que te parece bom e do que te parece certo. Não, não, o tolerante não abdica do seu sonho pelo qual luta intransigentemente, mas respeita o que tem sonho diferente do dele.

    »Para mim, a nível político, a tolerância é a sabedoria ou a virtude de conviver com o diferente para poder brigar com o antagônico. Neste sentido, ela é uma virtude revolucionária e não liberal-conservadora.

    »Olha, Antonio, o exílio, a minha experiência na cotidianeidade diferente, me ensinou a tolerância de maneira extraordinária. Este aprendizado de viver no cotidiano diferente, como já disse, começou no Chile, se estendeu aos Estados Unidos, no meu ano em Cambridge, e me acompanhou nos dez de vida em Genebra. E é impressionante como consegui, o que não foi fácil, vir propriamente me integrando ao diferente, à cotidianeidade distinta, a certos valores que marcam, por exemplo, o dia-a-dia de uma cidade como Genebra, fazendo parte de uma cultura, como a Suíça, multicultural.

    »É formidável como fui aprendendo as regras do jogo, conscientemente, sem renunciar àquilo que me parecia fundamental, sem recusar o mais básico de mim mesmo e, por isso, sem me adaptar ao cotidiano de empréstimo. Assim, aprendi a lidar com o diferente que às vezes incomodava.»

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    domingo, junho 22, 2025

    #TOLERÂNCIA175 - UMA TIA-AVÓ... INTOLERÁVEL?

     #TOLERÂNCIA175 - UMA TIA-AVÓ... INTOLERÁVEL?

    São as pequeninas intolerâncias do dia-dia, em família. Que acabam em discussões passageiras, ou se suportam... tolerantemente.

    Termina hoje a Feira do Livro de Lisboa. Habituei-me, ao longo dos anos, a ir escrevendo, ao longo do ano, no bloquinho de apontamentos, os livros que fico a querer comprar na Hora H da Feira do ano seguinte. Este ano, assim fiz mais uma vez.

    A Feira ainda não acabou e de entre os que comprei nesta edição, na Hora H, em dois dias li a autobiografia de Nikola Tesla, o "Nós, refugiados" de Hanna Harendt (e o texto complementar de Giorgio Agamben) e certamente acabarei ainda hoje de ler o "Sobre a Leitura" de Marcel Proust. São livros pequeninos, lêem-sebem, nem precisam de ser lidos como quem devora.

    É deste último que extraio este pedacinho de memória reconstruída do autor, o qual, pelos vistos, em pequeno se deliciava com as leituras, e em grande se deliciava com as memórias de ser em pequeno.

    «O meu avô tinha tanto amor-próprio que teria querido que todos os pratos fossem um sucesso, e sabia demasiado pouco sobre cozinha para poder alguma vez dar-se conta de que tivessem saído mal.

    Admitia sem dúvida que por vezes fosse esse o caso, muito raramente de resto, mas somente por simples efeito do acaso. As críticas sempre motivadas da minha tia-avó, implicando pelo contrário que a cozinheira não soubera fazer certo prato, não podiam deixar de parecer particularmente intoleráveis ao meu avô. Muitas vezes, para evitar discussões com ele, a minha tia-avó, depois de levar ao de leve aos lábios e provar o primeiro bocado, não dava a sua opinião, o que, de resto, nos fazia reconhecer imediatamente ser desfavorável aquela. Calava-se, mas nós líamos nos seus olhos doces uma reprovação inabalável e reflectida que tinha o dom de pôr o meu avô furioso. Rogava-lhe ironicamente que desse a sua opinião, impacientava-se com o seu silêncio, assediava-a com perguntas, exaltava-se, mas sentia-se que ele mais fácil conduzi-la ao martírio do que fazê-la confessar a crença do meu avô: que a sobremesa não tinha açúcar a mais.»

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    sábado, junho 21, 2025

    #TOLERÂNCIA174 - UM ESTADO DO VATICANO NA ALBÂNIA

     #TOLERÂNCIA174 - UM ESTADO DO VATICANO NA ALBÂNIA

    Sob o signo da Tolerância. Uma notícia de 26 de Fevereiro de 2025, que me foi encaminhada por um jovem amigo.

    «Tirana (AFP) - Na capital da Albânia, Baba Mondi imagina um Estado semelhante ao Vaticano para a sua fé Bektashi, num pequeno pedaço de terra que serviria de modelo de amor e tolerância. No ano passado, o primeiro-ministro albanês, Edi Rama, anunciou o projecto de criação de um micro-Estado muçulmano soberano dentro das fronteiras do país, dirigido por esta seita sufi com cerca de 100.000 membros.

    »“O nosso Estado será um Estado espiritual e administrativo muito pequeno… mas com um grande

    coração”, disse o líder Bektashi à AFP em Tirana, vestido com uma túnica branca e um casaco e boné verdes, com o rosto emoldurado por uma barba branca esvoaçante. “O mundo inteiro vai poder ver a luz dos Bektashis”.

    »A criação de um Estado religioso na Albânia teria sido inimaginável durante as 4 décadas da ditadura comunista de Enver Hoxha, que proibiu totalmente a religião e perseguiu clérigos e sacerdotes. Centenas de clérigos de todas as religiões foram executados, presos ou enviados para o exílio, enquanto os locais de culto eram demolidos. Mas desde a queda do comunismo, no início da década de 1990, tem havido uma explosão de expressão religiosa em muitos cantos da Albânia.

    »Os Bektashi estão classificados como a quarta maior comunidade religiosa da Albânia, a seguir aos muçulmanos sunitas, aos cristãos ortodoxos e aos católicos. E embora os pormenores burocráticos do Estado ainda estejam a ser resolvidos, bem como a data oficial do seu lançamento, Baba Mondi tem planos ambiciosos para a sua futura nação.

    »“Este estado não terá nem polícia, nem exército, nem impostos; será espiritual”, disse o líder. “O seu objetivo será a organização e defesa dos Bektashis em todo o mundo.” O Estado Bektashi também defenderá os membros perseguidos que vivem em países onde não têm o direito de praticar a sua religião, “como na Turquia ou no Irão”, segundo o seu líder.

    »O futuro Estado ficaria situado num terreno onde já existe um templo Bektashi em Tirana e ocuparia apenas 0,11 de um quilómetro quadrado (0,04 milhas quadradas), o que o tornaria o país mais pequeno do mundo. Actualmente, o Vaticano detém o título com apenas 0,44 quilómetros quadrados de território.

    »Paz e amor. A ordem Bektashi foi fundada no século XIII no Império Otomano e é considerada um ramo tolerante e místico do Islão, aberto a outras religiões e filosofias. Alguns dos seus principais líderes mudaram-se para a Albânia depois de terem sido proibidos na Turquia pelo pai fundador do Estado moderno, Mustafa Kemal Ataturk, no início do século XX. Ao contrário de outras denominações mais conservadoras do Islão, os fiéis Bektashi - homens e mulheres - rezam juntos e o consumo de álcool é permitido, se não mesmo encorajado.

    »“O raki, tal como o leite materno, tem benefícios porque vai diretamente para o cérebro, sem passar pelo estômago”, disse Baba Mondi, referindo-se ao popular brandy de fruta que é amplamente consumido nos Balcãs.

    »Segundo Baba Mondi, esta prática faz parte de uma visão global de tolerância e de promoção da harmonia que é central no pensamento Bektashi.

    »“Onde quer que estejam, os Bektashis sempre expressaram amor, generosidade e respeito pelos seres humanos como as criaturas mais perfeitas deste mundo”, acrescentou. “Somos contra os conflitos desencadeados por extremistas, somos pela paz e pelo amor.”

    »Para o primeiro-ministro albanês, dar aos Bektashi o seu próprio governo é, em parte, proteger esse espírito de tolerância. “Temos de cuidar deste tesouro que é a tolerância religiosa, para a podermos preservar e promover”, afirmou Rama durante um discurso em Janeiro, assinalando o 95.º aniversário da transferência da sede sagrada dos Bektashi da Turquia para a Albânia.

    »Ainda não revelou o calendário para a criação do Estado. Mas para Baba Mondi e os seus seguidores sufis, o futuro está cheio de possibilidades.

    »“O Bektashismo tem sido e continuará a ser uma ponte entre o Oriente e o Ocidente”, disse Baba Mondi à AFP. “Sempre fomos um meio-termo neste mundo para mostrar que podemos viver com amor, paz e bondade”.(1) (2)

    © 2025 AFP

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    (1) https://www.france24.com/en/live-news/20250226-sufi-leader-plans-for-vatican-like-state-in-albania

    (2) Traduzido com a ajuda da versão gratuita do tradutor - DeepL.com

    sexta-feira, junho 20, 2025

    #TOLERÂNCIA173 - TIPOS SOCIAIS DE TOLERÂNCIA

     #TOLERÂNCIA173 - TIPOS SOCIAIS DE TOLERÂNCIA

    Ciclicamente, volto aos trabalhos de investigação sistemática acerca da tolerância. Hoje encontrei 4, publicados a partir de 2021. Passei uma vista de olhos por cada um deles, irei lê-los com boa atenção.

    Para já, destaco o seguinte dum deles(1), e convido já quem ler este apontamento e deixar ecoar na sua mente a frase com que os autores rematam a conclusão do trabalho de investigação. É das coisas para as sessões de estudo e aprofundamento da Tolerância.

    As definições conceptuais básicas da investigação referem-se às formas de tolerância social:

    Breve introdução: «A tolerância implica a noção de que os outros dissidentes, e as minorias em particular, devem poder viver a vida que desejam. Em geral, as pessoas podem ter razões mais baseadas em princípios ou mais pragmáticas para tolerar aquilo de que não gostam ou a que se

    opõem.»

    «A "tolerância por respeito" baseia-se na crença de princípio de que todos os cidadãos são indivíduos autónomos que têm direitos iguais. Embora existam por vezes diferenças culturais “profundas” nos modos de vida, os membros das minorias são tolerados porque são respeitados como cidadãos iguais e autónomos com a mesma dignidade, direitos e liberdades civis.»

    «A "tolerância por coexistência" implica uma aceitação mais pragmática dos modos de vida dos grupos minoritários, a fim de evitar conflitos e de encontrar e manter uma coabitação pacífica. Neste caso, a tónica não está tanto nos direitos dos grupos minoritários, mas antes na convivência. A tolerância à coexistência é considerada fundamental para a consecução do valor de manter a harmonia social e a paz, e as coisas que vão contra isso não devem ser toleradas.»

    A conclusão:

    «Para concluir, tentámos fazer avançar o estudo da tolerância social, clarificando duas formas principais e demonstrando que estas podem ser avaliadas de forma fiável e válida. Descobrimos que, em relação a vários grupos, as pessoas fazem uma distinção consistente entre respeito e tolerância de coexistência. Além disso, estas duas formas são relativamente independentes do preconceito baseado no grupo e têm relações diferentes com a aceitação de práticas minoritárias concretas. Em termos gerais, verificou-se que a tolerância por respeito está relacionada com atitudes mais positivas em relação aos grupos minoritários e às suas práticas, ao passo que a tolerância por coexistência não teve resultados benéficos claros e independentes para os grupos minoritários. Embora a tolerância para evitar conflitos possa, nalgumas situações, ser a melhor opção possível, continua a ser uma solução pragmática e não uma solução baseada em princípios. Estimular a tolerância por respeito — por exemplo, salientando a igualdade de direitos de todos os cidadãos nos programas educativos — pode ser particularmente útil para melhorar as relações intergrupais em sociedades culturalmente diversas. Além disso, pode constituir um trampolim para o reconhecimento total, ou como Goethe disse: “A tolerância deve ser apenas uma atitude temporária: deve conduzir ao reconhecimento”.»(2)

    (1) https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC8572818/

    (2) Traduzido com a ajuda da versão gratuita do tradutor - DeepL.com

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    quinta-feira, junho 19, 2025

    #TOLERÂNCIA172 - A VISÃO DA INTOLERÂNCIA

     #TOLERÂNCIA172 - A VISÃO DA INTOLERÂNCIA

    Estou a falar do n.º 1685 da revista Visão, que foi hoje posto à venda. Em 3 dos artigos de opinião, a intolerância e o radicalismo político extremista são temas centrais.

    O denominador comum é, parece-me poder conclui-lo, inspirando-me, bem ou mal, em Hanna Harendt, a constatação dum estado de banalização da agressão e da violência interpessoal, tanto verbalmente como fisicamente.

    «Em 2019, em resposta a um recurso, os juízes da 9.ª secção do Tribunal da Relação de Lisboa proferiram um acórdão em que afastavam de qualquer castigo penal as injúrias ou ofensas proferidas no chamado “mundo do futebol”. Para os juízes, chamar nomes a alguém ou ao seu familiar, utilizando palavras obscenas ou até ameaças, eram “comportamentos reveladores de baixeza moral”, mas

    “tolerados na cena futebolística”.

    »Na época, o acórdão suscitou alguma polémica, após o então presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, se ter insurgido contra a sentença que considerava “transmitir um exemplo negativo” e que, na sua leitura, contrariava os “esforços de professores, pais e autoridades desportivas para a regulação dos comportamentos em situação competitiva”. Na opinião daquele que era um dos mais ilustres pensadores do desporto em Portugal, o acórdão decretava, na prática, que “um recinto desportivo é uma espécie de ‘offshore’ onde se pode praticar o que é criminalizado no exterior”.

    »A polémica, no entanto, depressa foi esquecida. Até porque o acórdão o que fez, na altura, foi apenas dar espessura jurídica a algo que já se observava há vários anos: a normalização do insulto e dos discursos de ódio no “mundo do futebol”, como se o jogo se tivesse transformado numa guerra, e em que os duelos nos relvados chegam a perder importância em relação às trocas de acusações em frente aos microfones das televisões.

    »Depois da normalização dos insultos no futebol, estamos agora a ultrapassar, enquanto sociedade, outro patamar na escala da falta de decência: a normalização da intolerância e do apelo à violência no discurso político. Os dois mundos estão a ficar de tal forma parecidos que só falta mesmo que, qualquer dia, um tribunal superior também apareça a justificar os insultos e as difamações permanentes como “toleradas na cena política”.», escreve Rui Tavares Guedes no Editorial.

    «Em Portugal, temos como segunda força política um partido com uma narrativa racista, xenófoba, anti-imigração e claramente contra a Constituição e os seus principais valores. Este discurso objetivamente contra a democracia deixou de ser feito à boca pequena ou de estar apenas nas redes sociais, sendo amplificado pelos média tradicionais, tolerado pelo presidente da Assembleia da República e gritado em todo o lado sem o mínimo de pudor.», escreve Pedro Marques Lopes na página do Politicamente Correto.

    «Pertencendo à geração que nasceu na época da II Guerra Mundial, ou na sua imediata sequência, após a
    vitória do “mundo livre” sobre o nazi-fascismo, confesso nunca ter pensado viver um tempo em que se verificasse tamanha regressão em termos de humanismo, valores, democracia. Em termos de Direitos
    Humanos. Ou, por outras palavras, desrespeito pelos direitos e pela dignidade de pessoas e povos, violência e crueldade levadas ao limite, até contra inocentes indefesos, violação grave e constante de princípios básicos de honestidade intelectual, boa-fé, compreensão, tolerância.

    «Logo depois daquela vitória, em 1945, a criação da ONU, juntando todos os países do mundo para garantir a paz, tomar medidas sobre as grandes questões universais e ajudar ao desenvolvimento, foi
    uma grande conquista e representou uma grande esperança.

    »[...] De facto, não é tolerável mais a complacência, a passividade, a inação. As diferenças entre direita e esquerda continuam a existir, embora não as mesmas do passado. Mas na atual situação a primeira clara clivagem, e a primeira linha do combate, em todas as frentes, deve ser, tem de ser, entre os que defendem a democracia e os que querem destruí-la; entre os que advogam a tolerância, o respeito pelos outros, e os semeadores de ódio; entre o humanismo e a lei da selva; entre a decência e a indecência.», escreve, finalmente, José Carlos de Vasconcelos, no Bloco Notas.

    Para o cada vez mais difícil trabalho dos agentes da Educação, a tentação de resvalar para o «Não há condições...» ou o «Não vale a pena, a gente faz e eles depois desfazem» pode ser grande, mas não deve ser nunca a opção. A Educação deve sempre, sempre, sempre, procurar alimentar o gosto por conhecer, cultivar o diálogo de uns com os outros, despertar para a riqueza da diversidade humana e cultural; promover a a aprendizagem tolerante da discussão e do confronto, e da capacidade de ceder e negociar.

    Não há alternativa: os professores fazem a sua parte, os políticos a deles, os juízes e as autoridades policiais as suas. Temos todos de reaprender as respeitar as instituições democráticas.

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    quarta-feira, junho 18, 2025

    #TOLERÂNCIA171 - AS PALAVRAS ESTÃO GASTAS?

     #TOLERÂNCIA171 - AS PALAVRAS ESTÃO GASTAS?

    O verso é de Eugénio de Andrade. O verso desafia-nos. É, no nosso caso, o desafio de passar das palavras às acções.

    Existe uma Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI). É o «órgão de monitorização composto por 47 peritos independentes, especializado no combate ao racismo, discriminação racial, xenofobia, antissemitismo e intolerância. Desenvolve atividades de observação destes fenómenos e de cooperação com Estados e outras entidades, elaborando relatórios e recomendações.

    »A sua criação foi decidida na primeira Cimeira de Chefes de Estado e de Governo do CoE (Viena, 1993) e o estatuto aprovado pela resolução Res(2002)8 do Comité de Ministros, de 13 de junho de 2002.»(1)

    E no entanto a intolerância cresce.

    Vamos ao conhecimento da ECRI:

    1) O texto de apresentação oficial da ECRI tem 6 páginas. A palavra "intolerância" aparece 17 vezes, e a palavra "tolerância" não aparece vez nenhuma.

    2) Dessas 17 vezes, a palavra "intolerância" aparece 15 vezes ligada à palavra "racismo" («racismo e intolerância») e duas vezes à palavra "discriminação" («racismo, discriminação e intolerância»).

    3) No relatório da ECRI referente a Portugal (escrito em inglês), adoptado em 18 de Março de 2025, e publicado precisamente hoje (18JUN25), com a extensão de 42 páginas(2) a palavra "tolerância" aparece 2 vezes (na expressão "tolerância zero").

    4) Neste relatório de Portugal, a palavra "intolerância" aparece 32 vezes, das quais 21, mais uma vez ligada ao racismo («racismo e intolerância»).

    Procuro alguma precisão conceptual ou clarificação operativa (Haverá quem me pergunte: mas o racismo e a intolerância necessitam de precisão ou clarificação operativa? Imediatamente eu respondo que sim, mas não quero fazer agora atalhar por este desvio), não encontro nada. São exortações, as tais recomendações a que se propõe a ECRI.

    Vem-me à cabeça o clássico diálogo do Hamlet de Shakespeare:
    Lorde Polónio: «O que ledes, meu senhor?»
    Hamlet: «Palavras, palavras, palavras.»
    Lorde Polónio: «O que é que se passa, meu senhor?»
    Hamlet: «Entre quem?»
    Senhor Polónio: «Quero dizer, o assunto que lestes, meu senhor.»

    É frustrante ler as palavras tantas vezes repetidas, tantas vezes exortadas. Para passar da intenção à acção é preciso ir bem mais além.

    O testemunho do Sheik David Munir, há 2 ou 3 dias, num canal televisivo(3) obriga-nos a pensar. Disse ele que tem necessidade de recomendar a imigrantes muçulmanos que, se estão em Portugal, devem fazer o Sermão nas mesquitas, nas orações de sexta-feira, em português porque tais imigrantes são renitentes em fazê-lo. Também disse que há imigrantes muçulmanos que não se querem integrar, não querem aprender a língua [portuguesa]; e que não concorda que um muçulmano que vem doutro país queira impor no país que o acolhe as práticas culturais do seu país de origem.

    Estão a ver porque é preciso ir mais além do que a simples exortação ou recomendação da luta contra o racismo e a intolerância; e também da tolerância zero? Há um lado e há o outro lado. Ambos pedem acção pedagógica. As exortações serão as mesmas, mas quanto às estratégias de acção, são também as mesmas? Não temos aqui um desafio que pede para ser olhado de frente, tentando vencer estereótipos e preconceitos sociais, perspectivas maniqueístas e ideários políticos simplistas e grosseiros?

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    (1) Página oficial da ECRI: https://www.coe.int/en/web/european-commission-against-racism-and-intolerance/
    (2) https://rm.coe.int/sixth-report-on-portugal/1680b6668d
    (3) https://cnnportugal.iol.pt/videos/ha-imigrantes-que-nao-querem-aprender-a-lingua-costumo-dizer-nas-mesquitas-estamos-em-portugal-o-sermao-tem-de-ser-em-portugues/684f3fd50cf20ac1d5f3309c