#TOLERÂNCIA172 - A VISÃO DA INTOLERÂNCIA
Estou a falar do n.º 1685 da revista Visão, que foi hoje posto à venda. Em 3 dos artigos de opinião, a intolerância e o radicalismo político extremista são temas centrais.
O denominador comum é, parece-me poder conclui-lo, inspirando-me, bem ou mal, em Hanna Harendt, a constatação dum estado de banalização da agressão e da violência interpessoal, tanto verbalmente como fisicamente.
«Em 2019, em resposta a um recurso, os juízes da 9.ª secção do Tribunal da Relação de Lisboa proferiram um acórdão em que afastavam de qualquer castigo penal as injúrias ou ofensas proferidas no chamado “mundo do futebol”. Para os juízes, chamar nomes a alguém ou ao seu familiar, utilizando palavras obscenas ou até ameaças, eram “comportamentos reveladores de baixeza moral”, mas
“tolerados na cena futebolística”.»Na época, o acórdão suscitou alguma polémica, após o então presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, se ter insurgido contra a sentença que considerava “transmitir um exemplo negativo” e que, na sua leitura, contrariava os “esforços de professores, pais e autoridades desportivas para a regulação dos comportamentos em situação competitiva”. Na opinião daquele que era um dos mais ilustres pensadores do desporto em Portugal, o acórdão decretava, na prática, que “um recinto desportivo é uma espécie de ‘offshore’ onde se pode praticar o que é criminalizado no exterior”.
»A polémica, no entanto, depressa foi esquecida. Até porque o acórdão o que fez, na altura, foi apenas dar espessura jurídica a algo que já se observava há vários anos: a normalização do insulto e dos discursos de ódio no “mundo do futebol”, como se o jogo se tivesse transformado numa guerra, e em que os duelos nos relvados chegam a perder importância em relação às trocas de acusações em frente aos microfones das televisões.
»Depois da normalização dos insultos no futebol, estamos agora a ultrapassar, enquanto sociedade, outro patamar na escala da falta de decência: a normalização da intolerância e do apelo à violência no discurso político. Os dois mundos estão a ficar de tal forma parecidos que só falta mesmo que, qualquer dia, um tribunal superior também apareça a justificar os insultos e as difamações permanentes como “toleradas na cena política”.», escreve Rui Tavares Guedes no Editorial.
«Em Portugal, temos como segunda força política um partido com uma narrativa racista, xenófoba, anti-imigração e claramente contra a Constituição e os seus principais valores. Este discurso objetivamente contra a democracia deixou de ser feito à boca pequena ou de estar apenas nas redes sociais, sendo amplificado pelos média tradicionais, tolerado pelo presidente da Assembleia da República e gritado em todo o lado sem o mínimo de pudor.», escreve Pedro Marques Lopes na página do Politicamente Correto.
«Pertencendo à geração que nasceu na época da II Guerra Mundial, ou na sua imediata sequência, após a
vitória do “mundo livre” sobre o nazi-fascismo, confesso nunca ter pensado viver um tempo em que se verificasse tamanha regressão em termos de humanismo, valores, democracia. Em termos de Direitos
Humanos. Ou, por outras palavras, desrespeito pelos direitos e pela dignidade de pessoas e povos, violência e crueldade levadas ao limite, até contra inocentes indefesos, violação grave e constante de princípios básicos de honestidade intelectual, boa-fé, compreensão, tolerância.
«Logo depois daquela vitória, em 1945, a criação da ONU, juntando todos os países do mundo para garantir a paz, tomar medidas sobre as grandes questões universais e ajudar ao desenvolvimento, foi
uma grande conquista e representou uma grande esperança.
»[...] De facto, não é tolerável mais a complacência, a passividade, a inação. As diferenças entre direita e esquerda continuam a existir, embora não as mesmas do passado. Mas na atual situação a primeira clara clivagem, e a primeira linha do combate, em todas as frentes, deve ser, tem de ser, entre os que defendem a democracia e os que querem destruí-la; entre os que advogam a tolerância, o respeito pelos outros, e os semeadores de ódio; entre o humanismo e a lei da selva; entre a decência e a indecência.», escreve, finalmente, José Carlos de Vasconcelos, no Bloco Notas.
Para o cada vez mais difícil trabalho dos agentes da Educação, a tentação de resvalar para o «Não há condições...» ou o «Não vale a pena, a gente faz e eles depois desfazem» pode ser grande, mas não deve ser nunca a opção. A Educação deve sempre, sempre, sempre, procurar alimentar o gosto por conhecer, cultivar o diálogo de uns com os outros, despertar para a riqueza da diversidade humana e cultural; promover a a aprendizagem tolerante da discussão e do confronto, e da capacidade de ceder e negociar.
Não há alternativa: os professores fazem a sua parte, os políticos a deles, os juízes e as autoridades policiais as suas. Temos todos de reaprender as respeitar as instituições democráticas.
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