segunda-feira, julho 16, 2018

Olhar/Ser atraente, Tese 3: Espelho meu, há alguém mais bonito do que eu?

Há experiência cultural humana, até onde chega o conhecimento actual da história do Homem, em que não haja, ou tivesse havido expressão do Belo? Tomarmo-nos a nós mesmos como expressão do Belo chama-se narcisismo; cultivarmos exageradamente ou doentiamente chama-se vaidade.
“O desejo de obter a estima e a admiração de outras pessoas, quando se dá por meio de qualidades e talentos que são objectos naturais e apropriados da estima e da admiração, é o amor real da verdadeira glória; uma paixão que, se não é a melhor da natureza humana, está certamente entre as melhores. A vaidade é com frequência nada mais que a tentativa de usurpar prematuramente essa glória antes que seja devida. Embora seu filho, antes dos vinte e cinco anos, não passe de um pretensioso, não desespere, por isso, de que ele se torne, antes de chegar aos quarenta, um homem sábio e valoroso, com real aptidão para todos os talentos e virtudes em relação aos quais não passa, no presente, de um vazio e exibido dissimulador. O grande segredo da educação reside em direccionar a vaidade para os objectos apropriados.” Adam Smith, Teoria dos Sentimentos Morais, 1759
A última frase da citação é destacada por minha inteira responsabilidade. A tal educação que deve estar no âmago dos filtros falados na tese 2. A presença do Belo na essência do ser humano foi profundamente pensada e discutida, por exemplo, pelo clássico Platão e pelo contemporâneo W. Bion, um dos mais famosos psicanalistas ingleses.
"Para um homem verdadeiramente sábio, a aprovação judiciosa e ponderada de um único sábio proporciona mais satisfação sincera do que todos os ruidosos aplausos de dez mil admiradores ignorantes, ainda que entusiásticos." Adam Smith, Teoria dos Sentimentos Morais, 1759
Nos tempos actuais, os políticos têm directores de imagem e são cientificamente levados enquanto conceitos - como conceito é um restaurante, um interprete musical, um produto de supermercado. Para parecerem belos, para influenciarem mais eleitores e votantes que os adversários, os políticos e os outros líderes, fazem inquéritos, realizam sondagens e disputam percentagens. Palmo a palmo  disputam décimas e centésimas de percentagem. Tentam evitar desencadear oposição e contestação, procuram estar bem com todos. Cedem nas palavras, nas ideias, nas decisões - é preciso é não perder adeptos; há sempre que tentar ganhar mais alguns. Cedem a uma coisa que se designa por "opinião pública", evitam as ondas de 'deslikes' nas redes sociais; reduzem-se ao politicamente correcto - que é, o mais das vezes o efeito duma onda de pressão social mais ou menos duradoura, agora deste grupo, depois doutro. Quantos votos eleitorais vale a firmeza?, e quantos vale a cedência?
«Para aqueles que se habituaram à posse de admiração pública, ou mesmo à esperança de conquistá-la, todos os demais prazeres empalidecem e definham.» Adam Smith, Teoria dos Sentimentos Morais, 1759
- «Espelho meu, espelho meu, algum deles recebe mais votos do que eu?» é uma espécie de Belo travestido. «Ai, sim? Não sou eu? Ó diabo!, que tenho eu de fazer para voltar lá para cima? O quê, desdizer hoje o que ontem disse? Seja, sem problema!»

Grau Zero da discussão: Olhar é proibido, ser atraente é... desaconselhado.
Tese 1: Porque me morrem os manjericos?
Tese 2: (Des)tapar o Sol com a peneira.
Tese 4: Querem lá ver que o idiota... sou eu.

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