sexta-feira, julho 13, 2018

Olhar/Ser atraente, Tese 1: Porque me morrem os manjericos?

Quase tenho medo de olhar os manjericos que trago para casa... É melhor olhá-los durante menos de 5 segundos. É que não consigo dar-lhes a água na medida certa, mas que falta de jeito eu tenho com eles! Acabo sempre por afogá-los em demasiada água. Um dia tratei para casa uma dezena ou dúzia de manjericos e regá-los-ei respeitando os mais sistemáticos procedimentos metodológicos; e concluirei - finalmente!, bem ufano - da medida certa de água, em bem quantificados centilitros.
"[...] à força de sermos confrontados com enorme quantidades de dados e de medidas, já  não sabemos aquilo que estes medem, nem que unidades de medida utilizam. A tabela Excel tornou-se omnipresente, mas já não sabemos o que contêm as suas células e aquilo que nos permitem calcular. As pretensas 'provas' assentes em números, tão indispensáveis para qualquer argumentação, revelam-se assim de uma fragilidade surpreendente, estando afinal ao serviço dos preconceitos subjectivos. [...] Neste tempo em que vivemos, as novas tecnologias do digital proporcionam um verdadeiro dilúvio de informação. Mas permanecemos muito ignorantes quanto ao modo como ela é produzida, seleccionada e hierarquizada, isto é, há um défice de informação, o que leva a uma aceitação acrítica e a um recuo do pensamento e da reflexão." (1)
Quer dizer, fazem às nossas mentes o mesmo que eu faço aos manjericos: afogamo-las em sucessivas e permanentes torrentes de (des)informação. E nós somos incapazes de ter mão no fluxo da informação que nos chega. Ou então como as mães apressadas fazem às crianças que as exasperam com a proverbial - natural! - lentidão a comer: enfiam-lhes, boca adentro, garfadas e garfadas de comida, que as crianças se vêm condenadas a engolir em pressa equivalente à da mãe, ou a vomitar, sob pena de soçobrarem num engasgamento mais dramático que o mais intenso ataque de pânico.

Grau Zero da discussão: Olhar é proibido, ser atraente é... desaconselhado.
Tese 2: (Des)tapar o Sol com a peneira.
Tese 3: Espelho meu, há alguém mais bonito do que eu?
Tese 4: Querem lá ver que o idiota... sou eu.
Tese 5: Quem não precisa de favores de ninguém rega mesmo quando chove.
Tese 6: É a Política, estúpido, mas não só!
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(1) Yves Michaud, "Quando a inteligência nos torna estúpidos". In Electra, Fundação EDP, 2, Junho 2018.

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