As Nações Unidas celebram, oficialmente, o Dia Internacional da Paz no dia 21 de Setembro de cada ano.
(http://www.timeanddate.com/holidays/un/international-peace-day)
A Igreja Católica celebra no dia 1 de Janeiro, de cada ano, também, o Dia Mundial da Paz.
(http://www.agencia.ecclesia.pt/noticias/nacional/2015-comissao-nacional-justica-e-paz-apela-a-luta-contra-a-pobreza-que-se-acentuou-com-a-crise/)
Bem, se pegássemos naquilo a que na Matemática se chama "pôr em evidência os factores comuns", ficaríamos com o "Dia da Paz" - e duas vezes!
Sendo assim, esperemos que tanto empenho celebrativo seja aditivo e não subtractivo ou disjuntivo.
Na verdade, a Paz vale sempre a pena, sempre com o maior número possível de indivíduos empenhados.
Pela minha parte, vou tentar não me esquecer, no dia 21 de Setembro de 2015, criar aqui no blogue outro apontamento sobre a Paz.
Eventualmente, virei a fazer actualizações neste apontamento, acrescentando afirmações, pensamentos, citações, imagens, fotografias, etc., que nos ajudem a ter sempre a Paz na mente e nos corações.
Agora, a começar, vou servir-me de uma afirmação de Mahatma Gandhi, e de outra, de , que a completa ou esclarece: "Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho."
Dois mil anos antes, numa região vizinha à de Gandhi, Lao-Tsé terá afirmado: "Toda a caminhada, por mais longa que seja, começa com um primeiro passo."
Repito, a Paz vale sempre a pena! Primeiro, desejo e, a seguir, vontade. "É a vontade que faz o homem grande ou pequeno.", afirma Friedrich Schiller.
Onde nos levará o caminho da Paz?... Será ao Paraíso?
Será, com certeza, mas reclamando que, mais do que nunca, tenhamos consciência de que, como diz Frederico Garcia Lorca, "A Terra é o provável paraíso perdido."
terça-feira, dezembro 30, 2014
Outra vez a Paz, a Paz vale sempre a pena!
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domingo, novembro 09, 2014
O 25 de Abril, o Muro de Berlim, a Guerra do Vietnam - A Luta, Hoje, pela Paz
Ontem, a descer a avenida da Liberdade, o coronel Sousa e Castro dizia, deixando as palavras saírem do fundo do coração e do fundo da memória, que o Movimento dos Capitães, o que queria, era acabar com a Guerra! Eles, os militares, os capitães e os outros oficiais jovens, foram a África, ao "Ultramar", a Angola, à Guiné e a Moçambique, e lá perceberam o absurdo da Guerra.
Como diz Ben Polis neste poema, também eles gritaram a revolta e a determinação: «Parem a Guerra!»
O Muro de Berlim, cujo derrube hoje se celebra, não acabou com o confronto e a Guerra; pelo contrário, continuou a alimentá-los, por isso foi necessário deitá-lo abaixo.
Por isso, os Capitães de Abril tinham, também ele, derrubado o Estado de Salazar e de Marcelo Caetano. Em 1989, em Berlim, alguma D. Celeste levou aos jovens esperançosos da Europa Central os cravos das espingardas dos soldados da nossa Madrugada da Liberdade. Em 1974, no dia 25 de Abril.
Em 1997, na Austrália, um rapazinho, o terror das escolas por onde passava, escreveu este poema. Teria 15 ou 16 anos.
Mais do que nunca, as televisões, as internetes e os écrãs dos telemóveis pessoais confirmam que as guerras estão para durar. Por isso temos de continuar a denunciá-las e a ajudar a que acabem mesmo!
Fizeste aquilo que Era Certo (Guerra do Vietname)
Dedico este poema ao meu Pai, que, aos vinte e um anos de idade, foi recrutado pelo exército australiano para combater no Vietname.
Estou a fazer o que é certo,
Acho eu.
O Bem contra o Mal.
Sou um soldado da liberdade,
Sou um matador de crianças,
Sou um assassino.
Sou um homem encurralado.
Lanço uma bomba sobre os vietcongues,
Espero que acerte.
Raios, falhei.
No que estava eu a pensar?
Devia estar lixado da cabeça,
Acabei de matar uma família de seis.
Lanço uma e outra bomba,
Até que o bem derrote o mal.
Bomba a bomba,
Napalm a napalm,
Os pesadelos estão cá para durar.
Tudo o que ouço no meu sono
É o grito das bombas
Que fizeram tanta gente chorar.
Muitos homens caíram
Nas matas do inferno.
Os meus camaradas estão em casa,
Mas as cicatrizes estão cá para durar.
O meu companheiro está sentado numa cadeira
Mas as pernas não estão lá.
Um outro anda de andarilho,
Um outro ainda com bengala.
Outro amigo tenho
Que perfura a carne,
Não com uma arma
Mas com uma agulha
Para fugir à dor do Vietnam.
Diziam eles: «Venham, rapazes,
Venham e ajudem o vosso país,
Venham, façam o que é certo.»
Lembrem-se, não tirem os olhos do chão.
Se for uma mina,
As pernas se vão.
O estrilho, o medo
Ecoarão nos ouvidos para sempre.
Mas lembrem-se, rapazes,
Fizeram o que é certo.
Parem a Guerra!
Parem a Guerra,
Não posso mais.
Homens bons a morrer,
Mães sem parar de chorar.
Pais orgulhosos
Mas nada pode impedir a nuvem-cogumelo iminente.
Não há vencedores neste espantoso jogo de morte e desespero.
Onde, onde está o meu companheiro?
A mulher, Beth, não tardará a saber da morte sangrenta do seu amor.
Os políticos sentam-se nas cadeiras e controlam-nos como peões que somos.
Mas são as pernas desses sacanas que eu vejo serem rasgadas ao meio?
Não me parece - esta vida é f#%&*+@!
Alguns destes rapazes são jovens o suficiente para voltarem ao berço.
Parem a guerra, não posso mais. Parem-na agora, porque ninguém vai conseguir parar a bala...
Que traz o vosso nome gravado!
(Ben Polis, O Menino que não queria ser Diferente. Lisboa, Verso da Kapa, p. 87-88)
domingo, outubro 12, 2014
A ESPANTOSA CAPACIDADE DE SER DAS CRIANÇAS. E DE NOS AJUDAREM A SER.
A ESPANTOSA CAPACIDADE DE SER DAS CRIANÇAS. E DE NOS AJUDAREM A SER.
Na sexta-feira passada cheguei à escola um pouquinho mais tarde que o costume. A riscar o estar atrasado! Detesto chegar atrasado às aulas!
Logo que passei o portão de entrada, estuguei ainda mais o passo, para atacar as escadas tão depressa quanto pudesse. Um grito de criança, atrás de mim, obrigou-me a parar, ainda não chegara sequer ao primeiro degrau: "Amigo!..." Voltei-me. A correr para mim, de mão esticada, francamente aberta à procura da minha, um lindo sorriso de criança transportou consigo estas tão aconchegantes palavras: "Que bom começar o dia a cumprimentar um amigo!..."
Eh, lá!... Reconheci as minhas próprias palavras, das outras vezes, das vezes habituais, em que entro na escola em passo bem mais sereno, cumprimento este, pergunto aquilo àquele, desejo um bom dia de trabalho a outro, ou faço nariz torcido aquele outro, o que está logo ali às oito da manhã pendurado num cigarro.
Ali estava eu, parado, preso às minhas próprias palavras. As nossas mãos trocaram-se. Os olhos do petiz, francamente postos nos meus, eram o eco saboroso do sentido das palavras que agora a memória confirmava. Os dentes brancos, alinhados como se deseja, uns a seguir aos outros, mantinham, bem pertinho, o sorriso luminoso que antes, mais longe, me prendeu à beira das escadas. Sim, tomei consciência que estava a testemunhar que alguém um dia escutou as palavras que eu disse; um dia as sentiu; e as guardou; e hoje as trouxe ao sítio e ao momento de que eu agora quase fugia.
Evidentemente, perdi toda a pressa - aquele era um momento de ouro, que apareceu trazido pelo coração notável de uma criança que sabe reconhecer e sabe ser grata. Que pede pouco e que tem noção do que vale muito - pelo menos para si própria. Olho-a no tamanho que o 5.º ano de escolaridade torna possível aos alunos. Mas só uma criança deste tamanho, com o coração e o pensamento que as crianças deste tamanho têm, faz o que esta fez.
Uma criança, ou jovem, mais velho, aluno da escola, ter-me-ia olhado com benevolência e teria desabafado, pelo menos, em pensamento: "Deixa-o ir, já vai atrasado, coitado..."
Acabei por subir as escadas com o vagar do costume, olhando com quem me cruzava. Os meus alunos, quando pouco depois entrasse na sala de aula, seguramente me perdoariam (hummm... não deveria ter escrito "agradeceriam"?) o excepcional atraso.
Na sexta-feira passada cheguei à escola um pouquinho mais tarde que o costume. A riscar o estar atrasado! Detesto chegar atrasado às aulas!
Logo que passei o portão de entrada, estuguei ainda mais o passo, para atacar as escadas tão depressa quanto pudesse. Um grito de criança, atrás de mim, obrigou-me a parar, ainda não chegara sequer ao primeiro degrau: "Amigo!..." Voltei-me. A correr para mim, de mão esticada, francamente aberta à procura da minha, um lindo sorriso de criança transportou consigo estas tão aconchegantes palavras: "Que bom começar o dia a cumprimentar um amigo!..."
Eh, lá!... Reconheci as minhas próprias palavras, das outras vezes, das vezes habituais, em que entro na escola em passo bem mais sereno, cumprimento este, pergunto aquilo àquele, desejo um bom dia de trabalho a outro, ou faço nariz torcido aquele outro, o que está logo ali às oito da manhã pendurado num cigarro.
Ali estava eu, parado, preso às minhas próprias palavras. As nossas mãos trocaram-se. Os olhos do petiz, francamente postos nos meus, eram o eco saboroso do sentido das palavras que agora a memória confirmava. Os dentes brancos, alinhados como se deseja, uns a seguir aos outros, mantinham, bem pertinho, o sorriso luminoso que antes, mais longe, me prendeu à beira das escadas. Sim, tomei consciência que estava a testemunhar que alguém um dia escutou as palavras que eu disse; um dia as sentiu; e as guardou; e hoje as trouxe ao sítio e ao momento de que eu agora quase fugia.
Evidentemente, perdi toda a pressa - aquele era um momento de ouro, que apareceu trazido pelo coração notável de uma criança que sabe reconhecer e sabe ser grata. Que pede pouco e que tem noção do que vale muito - pelo menos para si própria. Olho-a no tamanho que o 5.º ano de escolaridade torna possível aos alunos. Mas só uma criança deste tamanho, com o coração e o pensamento que as crianças deste tamanho têm, faz o que esta fez.
Uma criança, ou jovem, mais velho, aluno da escola, ter-me-ia olhado com benevolência e teria desabafado, pelo menos, em pensamento: "Deixa-o ir, já vai atrasado, coitado..."
Acabei por subir as escadas com o vagar do costume, olhando com quem me cruzava. Os meus alunos, quando pouco depois entrasse na sala de aula, seguramente me perdoariam (hummm... não deveria ter escrito "agradeceriam"?) o excepcional atraso.
segunda-feira, agosto 25, 2014
Os drones, à entrada do novo ano escolar
Está prestes a começar outro ano escolar.
Oficialmente, deliberadamente, por imperativos políticos, económicos e financeiros, a condição do professor apouca-se, degrada-se; em proporcionalidade inversa às exigências que o Ministério da tutela impõe e que largos grupos da Sociedade, carentes cada vez mais de cada vez mais coisas, aceitam - umas vezes passivamente, mas acomodadamente; e outras vezes, mesmo agressivamente.
Entretanto, ao lado desta triste e lamentável situação sócio-profissional, as crianças e os jovens continuarão a ir para a escola dispondo-se, desejando, confiando; quiçá mesmo, ansiando - sempre legitimamente! -, que os professores os ajudem a aprender e a entender um pouco melhor o Mundo - o que os rodeia, na casa e na escola; e o que sem parar, intensivamente, agressivamente, lhes entra pelos sentidos e pelos poros, nas televisões, na Internet, por todo o lado! 24 horas por dia.
Nova Iorque é a cidade que não dorme, acaba de mo confirmar, por testemunho pessoal, o meu amigo Luís Moniz. O Mundo transformou-se, ele, também, numa gigantesca Nova Iorque, e hoje em dia podemos estar em nossas casas a assistir o que acontece, seja onde seja, seja a que horas seja. O Mundo é uma Nova Iorque também cheio de bairro periféricos, pobres, degradados, anónimos, impessoais; o Mundo é a cidade de Nova Iorque que tanto desconforto deu a Eça de Queiroz, e que, provavelmente, ele nunca compreendeu, nem assimilou totalmente, fosse nas marcas da Civilização que lá encontrou, fosse nas marcas da negação da Civilização que também lá encontrou abundantemente, e que tão longe estava da Civilização que ele tinha como ideal; muito lucidamente, Eça percebeu que Nova Iorque não era modelo para ninguém, que o Progresso e o Bem-Estar teriam - se algum modelo de Progresso e Bem-Estar fosse desejável - de ser procurados noutro lado.
Num interessante e curto artigo publicado hoje no jornal Público, Francisco Louça fala de "este progresso são drones a bombardear aldeias, são consolas a comandar guerras, são algoritmos financeiros a arrasar o mundo."
Precisamente, é Nova Iorque uma das grandes capitais mundiais destes drones, destas consolas e destes algoritmos financeiros. Nunca fui a Nova Iorque, nem tenho vontade de lá ir. De Nova Iorque, a única coisa que verdadeiramente gosto é a interpretação deste miúdo, que nem o próprio autor da canção conseguiu alguma vez interpretar com tanta alma, com tanto dar de si mesmo, simbolicamente visível nas traições que a mudança de voz exibe em desafinações aqui e ali, e, sobretudo, naquele vaso sanguíneo do pescoço que a todo o instante parece que vai rebentar; e que no final, perante os aplausos, diz "Obrigada!"
A generalidade das crianças e dos jovens que os professores apanham nas escolas são assim, ou estão dispostos a sê-lo: entusiastas, ávidos por desenvolverem as capacidades pessoais; prontos para nisso serem ajudados por quem tem competência para os educar e confiando, de boa fé; e nenhum professor se pode negar a corresponder a estas expectativas! Sejam quais sejam os obstáculos e as dificuldades que governantes, inspecções, encarregados de educação e outros lhes plantem no caminho.
Na nossa sociedade, não é mais possível viver sem drones, consolas e algoritmos financeiros. Quem sabe falar deles?... Quem os entende?... Quem os domina?... Quem não se sente incomodado por eles?... Quem não foi já, de alguma forma, atingido e prejudicado por estas coisas que os poderosos políticos e financeiros do Mundo, da capital Nova Iorque, a verdadeira e as simbólicas, sem dormirem, criam e infiltram perversamente nas nossas vidas?...
Mas é aos professores que cabe sempre a tarefa de enfrentar, com lucidez, e mesmo que com medo, estas interrogações, estas realidades, ao pé dos seus alunos. Se ninguém entende, a nós, professores, cabe o desafio de ir um pouco mais além; além do que os pais também, cheios de angústia, não sabem explicar aos filhos. Não recusemos nunca este combate!
Os professores é que estão sempre na linha da frente, num frente a frente institucional e formal, que parece cada vez mais uma trincheira de guerra. Aos professores cabe a desafiante e irrecusável tarefa de fazer da trincheira, em que a sala de aula e a escola quase se tornaram, o espaço de encontro que notavelmente, há 100 anos, os soldados alemães e russos tomaram a iniciativa de fazer no Natal de 1914, aproximando-os dos franceses e seus aliados, num exemplo real, vivo, que deve ser para nós, em todos os encontros das nossas vidas , modelo de diálogo, tolerância e convívio humano; sobretudo por nos terem mostrado, em bem concreto risco de vida ou morte, a profunda humanidade que está antes e depois dos mais vis absurdos da guerra dos poderosos do Mundo.
Oficialmente, deliberadamente, por imperativos políticos, económicos e financeiros, a condição do professor apouca-se, degrada-se; em proporcionalidade inversa às exigências que o Ministério da tutela impõe e que largos grupos da Sociedade, carentes cada vez mais de cada vez mais coisas, aceitam - umas vezes passivamente, mas acomodadamente; e outras vezes, mesmo agressivamente.
http://www.alexchiodi.com.br/vereador- retoma-discussao-sobre-o-ciclo-educacional/ |
Nova Iorque é a cidade que não dorme, acaba de mo confirmar, por testemunho pessoal, o meu amigo Luís Moniz. O Mundo transformou-se, ele, também, numa gigantesca Nova Iorque, e hoje em dia podemos estar em nossas casas a assistir o que acontece, seja onde seja, seja a que horas seja. O Mundo é uma Nova Iorque também cheio de bairro periféricos, pobres, degradados, anónimos, impessoais; o Mundo é a cidade de Nova Iorque que tanto desconforto deu a Eça de Queiroz, e que, provavelmente, ele nunca compreendeu, nem assimilou totalmente, fosse nas marcas da Civilização que lá encontrou, fosse nas marcas da negação da Civilização que também lá encontrou abundantemente, e que tão longe estava da Civilização que ele tinha como ideal; muito lucidamente, Eça percebeu que Nova Iorque não era modelo para ninguém, que o Progresso e o Bem-Estar teriam - se algum modelo de Progresso e Bem-Estar fosse desejável - de ser procurados noutro lado.
Num interessante e curto artigo publicado hoje no jornal Público, Francisco Louça fala de "este progresso são drones a bombardear aldeias, são consolas a comandar guerras, são algoritmos financeiros a arrasar o mundo."
Precisamente, é Nova Iorque uma das grandes capitais mundiais destes drones, destas consolas e destes algoritmos financeiros. Nunca fui a Nova Iorque, nem tenho vontade de lá ir. De Nova Iorque, a única coisa que verdadeiramente gosto é a interpretação deste miúdo, que nem o próprio autor da canção conseguiu alguma vez interpretar com tanta alma, com tanto dar de si mesmo, simbolicamente visível nas traições que a mudança de voz exibe em desafinações aqui e ali, e, sobretudo, naquele vaso sanguíneo do pescoço que a todo o instante parece que vai rebentar; e que no final, perante os aplausos, diz "Obrigada!"
A generalidade das crianças e dos jovens que os professores apanham nas escolas são assim, ou estão dispostos a sê-lo: entusiastas, ávidos por desenvolverem as capacidades pessoais; prontos para nisso serem ajudados por quem tem competência para os educar e confiando, de boa fé; e nenhum professor se pode negar a corresponder a estas expectativas! Sejam quais sejam os obstáculos e as dificuldades que governantes, inspecções, encarregados de educação e outros lhes plantem no caminho.
Na nossa sociedade, não é mais possível viver sem drones, consolas e algoritmos financeiros. Quem sabe falar deles?... Quem os entende?... Quem os domina?... Quem não se sente incomodado por eles?... Quem não foi já, de alguma forma, atingido e prejudicado por estas coisas que os poderosos políticos e financeiros do Mundo, da capital Nova Iorque, a verdadeira e as simbólicas, sem dormirem, criam e infiltram perversamente nas nossas vidas?...
Mas é aos professores que cabe sempre a tarefa de enfrentar, com lucidez, e mesmo que com medo, estas interrogações, estas realidades, ao pé dos seus alunos. Se ninguém entende, a nós, professores, cabe o desafio de ir um pouco mais além; além do que os pais também, cheios de angústia, não sabem explicar aos filhos. Não recusemos nunca este combate!
Os professores é que estão sempre na linha da frente, num frente a frente institucional e formal, que parece cada vez mais uma trincheira de guerra. Aos professores cabe a desafiante e irrecusável tarefa de fazer da trincheira, em que a sala de aula e a escola quase se tornaram, o espaço de encontro que notavelmente, há 100 anos, os soldados alemães e russos tomaram a iniciativa de fazer no Natal de 1914, aproximando-os dos franceses e seus aliados, num exemplo real, vivo, que deve ser para nós, em todos os encontros das nossas vidas , modelo de diálogo, tolerância e convívio humano; sobretudo por nos terem mostrado, em bem concreto risco de vida ou morte, a profunda humanidade que está antes e depois dos mais vis absurdos da guerra dos poderosos do Mundo.
quinta-feira, agosto 14, 2014
We don't need no education
OUTSIDE MAGAZINE, SEPTEMBER 2014
TUESDAY, AUGUST 12, 2014
We Don't Need No Education
At least not of the traditional, compulsory, watch-the-clock-until-the-bell-rings kind. As a growing movement of unschoolers believe, a steady diet of standardized testing and indoor inactivity is choking the creativity right out of our kids. The alternative: set 'em free.
By: BEN HEWITT
TUESDAY, AUGUST 12, 2014
We Don't Need No Education
At least not of the traditional, compulsory, watch-the-clock-until-the-bell-rings kind. As a growing movement of unschoolers believe, a steady diet of standardized testing and indoor inactivity is choking the creativity right out of our kids. The alternative: set 'em free.
By: BEN HEWITT
domingo, agosto 10, 2014
EDUCAÇÃO, "IMPERATIVOS BÁSICOS DE ADAPTAÇÃO" - 01
EDUCAÇÃO, "IMPERATIVOS BÁSICOS DE ADAPTAÇÃO"
São exigência biológicas de qualquer espécie, até - e uso a preposição para ironizar - a espécie humana.
São exigência biológicas de qualquer espécie, até - e uso a preposição para ironizar - a espécie humana.
WadeDavis21-e1407429271867.jpg |
"Qualquer biólogo da vida animal sabe que os animais dos jardins zoológicos não se desenvolverão normalmente se o ambiente em que estiverem não for compatível com as necessidades sociais próprias das suas espécies Mas nós esquecemo-nos disto a propósito da nossa própria espécie. Alterámos radicalmente o curso natural do comportamento da nossa espécie segregando artificialmente as crianças em grupos organizados por idades, pelas mesmas idades, em vez de grupos organizados em comunidades compostas por diferentes idades; e forçámo-las a actividades sedentárias nos espaços fechados das escolas, na maior parte do dia, e pedimos-lhes que aprendam com base em materiais escritos, que são artificiais, em vez de actividades contextualizadas no mundo real, e estabelecendo horários arbitrários para aprenderem, em vez cuidarmos seguir o curso natural das aptidões que o desenvolvimento infantil comporta." (Annie Murphy Paul)(Any wildlife biologist knows that an animal in a zoo will not develop normally if the environment is incompatible with the evolved social needs of its species. But we no longer know this about ourselves. We have radically altered our own evolved species behavior by segregating children artificially in same-age peer groups instead of mixed-age communities, by compelling them to be indoors and sedentary for most of the day, by asking them to learn from text-based artificial materials instead of contextualized real-world activities, by dictating arbitrary timetables for learning rather than following the unfolding of a child’s developmental readiness.)
domingo, julho 13, 2014
"Chateia-me a molécula, chateia..."
"Chateia-me a molécula, chateia..."Ouvida dita pelo meu pai, esta expressão era como o cartão amarelo que os árbitros mostram aos jogadores de futebol. Era um aviso, normalmente, um aviso sério...
Hoje dei-me conta que há muito tempo que não oiço referências à molécula; nem eu próprio a tenho usado. Dei-me conta porque reencontrei-a, de manhã, na leitura de uma carta de Eça de Queirós. O meu pai nasceu em 1927 e Eça de Queirós morreu em 1900.
Em 8 de Agosto de 1897, a fazer tratamento na região dos Vosges, o notável escritor, instalado nos Grands Hotels (Plombières), escreve assim à sua esposa Emília:
"[...] Ainda assim, só por me ter demorado, depois da ardente jornada, alguns minutos naquele antro semigelado, apanhei um destes maus estados mórbidos em que a molécula fica a hesitar se terá febre ou se não terá febre. Hoje estou murcho e a molécula tende para a febre. Por isso não comecei como devia, o tratamento, e estou em regime do quinino. [...]" (1)
http://www.vosgescpa.fr/Plombieres-les-Bains/slides/ Plombi%C3%A8res-les-Bains%20-%20Grands%20H%C3% B4tels%20et%20Nouveaux%20Thermes.JPG |
Tenho andado especialmente empenhado, nestes últimos dias, na recuperação de fotografias, cartas, informações - tudo o que possa! -sobre o meu pai. O Patrono da minha escola ajudou-me a recuperar também um pouquinho da cultura que fazia a pessoa do meu pai.
Já agora, outra consciência que ganhei foi a propósito do vocábulo "secante". Tão presente nas falas bem sincréticas da malta nova dos tempos que vivemos!... Pensava eu que era mesmo uma criação desta juventude... Qual quê! Eça de Queirós também a usava abundantemente, e, ao que parece, o significado mantém-se. E esta, hein?...
________________________
(1) "Eça de Queirós entre os seus, apresentado por sua filha - CARTAS ÍNTIMAS, Lello @ Irmão - Editores, Porto, 1974. Pp 312-3.
sexta-feira, junho 27, 2014
POR FAVOR! Não se peça mais escola para as crianças!
The Decline of Play and Rise of Mental Disorders: Peter Gray at TEDxNave...
- Menos brincadeiras, mais perturbações mentais.
- Menos brincadeiras, menos crianças autónomas.
- Menos brincadeiras, crianças menos auto-controladas e menos resistentes às frustrações.
quarta-feira, junho 25, 2014
Castigat Ridendo Mores
Hoje fui à Livraria Sá da Costa, no Chiado.
Livros e livros velhos; mapas, postais e aguarelas.
Tive tempo, olhei as estantes, de maneira muito disciplinada, uma a uma - tantas!... cheias de tantos livros velhos!... - e fui guardando na memória a posição de alguns que me interessavam. Quando achei que tinha visto o que vi fui às memórias guardadas e peguei nos livros.
Entre eles, um livrinho muito pequeno, pequeno livro de bolso; muito sofrido, muito frágil. Uma edição da Federação Brasileira dos Escoteiros do Mar, publicado em 1928; isso, a caminhar para os 100 anos de vida. A fazer fé na dedicatória, o livro foi oferecido em 1992 a um grupo de escoteiros português por um chefe escoteiro.
O livro é uma obra notável! Tem como título "Jogos Escoteiros". Dos livros que conheço do género é, sem dúvida, um dos melhores de todos, muito poucos dos sofisticados actuais faz meças com ele. Nem sei se diga que é mesmo o melhor de todos... Como aparece aqui um livro destes, como foi ele largado por um grupo escoteiro?...
Na carta de apresentação que segue imediatamente o prefácio, escrita no Rio de Janeiro em outubro de 1928, e dirigida ao "Snr. Dr. Presidente da UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL", Gabriel Skinner, escreve o seguinte:
São 200 jogos, arrumados por categorias claras, lógicas, cheias de bom-senso. Em outro dos livros que trouxe comigo (- Que compra!... Pela obra em si e pelo preço, de uva mijona.), William James, a veneranda referência da Psicologia Americana (que o próprio António Damásio continua a referir-se, mesmo nos seus mais actuais trabalhos) aflige-se com o risco de invasão sobranceira da Psicologia na Pedagogia, numa obra traduzida para francês em 1906, Causeries Pédagogiques. O que aconteceu sobretudo a partir da segunda metade do século XX veio mostrar que William James tinha razão para estar preocupado. Mas o livrinho de jogos dos Escoteiros do Brasil escapou a tempo da Psicologia! São jogos de 100 anos de vida - é tradição, é cultura, é sabedoria; é um conjunto de oportunidades riquíssimas de desenvolvimento físico, moral, intelectual; e social.
____________________
(1) A expressão latina «ridendo castigat mores» — que também ocorre como «castigat ridendo mores» — não foi empregada por Gil Vicente, mas costuma ser citada em estudos sobre este autor, porque define a sua intenção de crítica moral de tipos e grupos sociais quando recorre ao cómico. Segundo o Dicionário de Português Michaelis, a frase significa «corrige os costumes sorrindo» e corresponde ao «[p]rincípio em que se fundamenta a comédia, criado por Jean de Santeuil» (1630-1697), poeta francês que escreveu em latim. (in Ciberdúvidas)
Livros e livros velhos; mapas, postais e aguarelas.
Tive tempo, olhei as estantes, de maneira muito disciplinada, uma a uma - tantas!... cheias de tantos livros velhos!... - e fui guardando na memória a posição de alguns que me interessavam. Quando achei que tinha visto o que vi fui às memórias guardadas e peguei nos livros.
Entre eles, um livrinho muito pequeno, pequeno livro de bolso; muito sofrido, muito frágil. Uma edição da Federação Brasileira dos Escoteiros do Mar, publicado em 1928; isso, a caminhar para os 100 anos de vida. A fazer fé na dedicatória, o livro foi oferecido em 1992 a um grupo de escoteiros português por um chefe escoteiro.
O livro é uma obra notável! Tem como título "Jogos Escoteiros". Dos livros que conheço do género é, sem dúvida, um dos melhores de todos, muito poucos dos sofisticados actuais faz meças com ele. Nem sei se diga que é mesmo o melhor de todos... Como aparece aqui um livro destes, como foi ele largado por um grupo escoteiro?...
Na carta de apresentação que segue imediatamente o prefácio, escrita no Rio de Janeiro em outubro de 1928, e dirigida ao "Snr. Dr. Presidente da UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL", Gabriel Skinner, escreve o seguinte:
"(...) O jogo, segundo Claparède, é um exercício de preparação para a vida séria. (...) e o ideal do jogo consiste n'um divertimento que associe ao mesmo tempo a actividade physica, intellectual e moral da criança. É o - "Castigat ridendo mores" (1). Pelo jogo se expande a alma do menino; e é ahi então que o educador põe em prática os seus conhecimentos psycho-pedagogicos, actuando seguramente em sua alma ductil e plasmavel, elevando-a e educando-a, dentro dos sãos princípios da integridade physica, moral e intellectual. (...)"Sim, concordo inteiramente!
São 200 jogos, arrumados por categorias claras, lógicas, cheias de bom-senso. Em outro dos livros que trouxe comigo (- Que compra!... Pela obra em si e pelo preço, de uva mijona.), William James, a veneranda referência da Psicologia Americana (que o próprio António Damásio continua a referir-se, mesmo nos seus mais actuais trabalhos) aflige-se com o risco de invasão sobranceira da Psicologia na Pedagogia, numa obra traduzida para francês em 1906, Causeries Pédagogiques. O que aconteceu sobretudo a partir da segunda metade do século XX veio mostrar que William James tinha razão para estar preocupado. Mas o livrinho de jogos dos Escoteiros do Brasil escapou a tempo da Psicologia! São jogos de 100 anos de vida - é tradição, é cultura, é sabedoria; é um conjunto de oportunidades riquíssimas de desenvolvimento físico, moral, intelectual; e social.
____________________
(1) A expressão latina «ridendo castigat mores» — que também ocorre como «castigat ridendo mores» — não foi empregada por Gil Vicente, mas costuma ser citada em estudos sobre este autor, porque define a sua intenção de crítica moral de tipos e grupos sociais quando recorre ao cómico. Segundo o Dicionário de Português Michaelis, a frase significa «corrige os costumes sorrindo» e corresponde ao «[p]rincípio em que se fundamenta a comédia, criado por Jean de Santeuil» (1630-1697), poeta francês que escreveu em latim. (in Ciberdúvidas)
segunda-feira, junho 23, 2014
Cristiano Ronaldo, el-rei D. Sebastião e a espada de D. Afonso Henriques
Cristiano Ronaldo, o “CR7” da“Estou com esperança que este ano vai ser
o ano da selecção de Portugal”[1].
Em frente aos ávidos jornalistas da protocolar conferência de imprensa da
véspera do jogo oficial, o Cristiano Ronaldo respirava serenidade, lucidez e
confiança que apaziguava quem pressurosamente escrevia ou gravava, por todos os
meios possíveis, o que ele dizia. Na verdade, os jornalistas desportivos e os repórteres
das imensas cadeias de televisão vinham gemendo, já nas semanas anteriores, com
intensidade quase catártica, ansiedades e angústias acerca do joelho do “melhor
jogador do Mundo”; e contagiavam leitores e espectadores com ansiedades e angústias
iguais. A preocupação dos profissionais da Comunicação Social adquiriu níveis
de legitimidade jornalística quando, no dia 24 de Maio, CR7 reconheceu,
finalmente, após ganhar a Liga dos Campeões Europeus, que alguma coisa não ia
bem com o seu joelho e que, sim senhor, no jogo que acabara de disputar minutos
antes, tinha forçado o joelho.
O jeito seguro,
convicto, de CR7, na esperançosa conferência de imprensa, já tinha sido especialmente
marcante no jogo do “play off” de
Portugal com a Suécia, que lhe deu a oportunidade tripla – tantas quantos os golos
que ele marcou nesse jogo -, de trazer os dedos indicadores à frente do peito,
apontá-los com determinação poderosa e absoluta ao chão que os seus pés pisavam
e até o mais surdo dos adeptos ouviu e o mais cego dos fanáticos pode ver o que
imperialmente ele dizia: “Eu estou
aqui!...”. E se ele estava ali, como poderia alguém duvidar da vitória da
equipa portuguesa? Se foi assim coma Suécia, por maioria de razão seria agora
no Mundial.
Quantas
vezes os portugueses – não apenas o Cristiano Ronaldo – se viram já nesta
vertigem que nos leva do sonho à decepção, do céu ao inferno, da glória à
derrota, da euforia à depressão?...
Até os
grandes filósofos portugueses (quero puxar da ironia insinuante, mas não sei se
ponha as aspas nos “grandes” ou nos “filósofos”) pensam e ensaiam sobre esta
proverbial característica do homem português: é fado?... é destino?... é
temperamento genético?... é do mar?... é do sol?... é do jardim à beira mar
plantado?...
Não me quero meter por aqui… Eu
não sou grande, nem filósofo. O que sei é que depois da prova real dos factos e
dos acontecimentos, quer queiramos ou não, ficamos – que remédio! - de pés no
chão e reconhecemos que tudo não passou de uma ilusão; que sim, que estávamos a
sonhar demasiadamente alto. Não digo que estávamos a construir castelos na
areia porque eles desfazem-se habitualmente com muita suavidade; usar a imagem
do sonho é pôr-nos a cair que nem Ícaros, brutalmente, a levarmos um grande
safanão! E é isso que nos acontece sempre.
Casualmente,
calhou que – como tantas vezes a gente diz, “nem de propósito!” - cruzasse hoje
o CR7 com o nosso rei D. Sebastião e a espada do mais mítico de todos os nossos
reis, o primeiro, D. Afonso Henriques.
Estou a ler
o volumoso trabalho de José Mattoso sobre D. Afonso Henriques. Hoje cheguei à
página 169. É dessa página que retiro o seguinte excerto:
“(…) O marquês de
Abrantes referia-se ainda ao facto de o pavês de Afonso Henriques ter sido
guardado sobre o seu túmulo em Santa Cruz de Coimbra, juntamente com a sua
espada, pelo menos até ao século XVI. Quando D. Sebastião partiu para
Alcácer-Quibir, pediu aos cónegos regrantes para levar consigo a espada como
penhor da vitória que esperava alcançar. (…)”[2]
Ora cá está ela! A tal proverbial
ilusão: aquilo lá contra os Mouros eram favas contadas! Alguém duvidava que a
os portugueses lá chegariam e venceriam os infiéis? Dizem os miúdos de hoje “depois viraste-te para o lado, caíste da
cama e acordaste, nessa altura é que percebeste que estavas a sonhar, não
foi?...” Pois, D. Sebastião não caiu da cama, caiu do cavalo; e a malta que
estava à volta dele caiu toda também. E lá ficámos nós sem a espada do D.
Afonso Henriques![3] O “Agora é que é!...” dos portugueses tem
remédio?... Não sei… Tanto quanto a gente sabe – e por mais embrulhados que
andem factos, mitos , mentiras e fantasias -, sem essa ilusão a designada “empresa”
dos Descobrimentos também não teria acontecido…
Ora bem, cá
p’ra mim, o que faltou neste Mundial à equipa portuguesa foi trabalho,
concentração e foco; e há sempre interesses parasitas. Mas é melhor calar-me,
disto não sei nada…
[1]
Ver, por exemplo: http://vmais.rr.sapo.pt/default.aspx?fil=701518
[2]
Mattoso, J. (2007). D. Afonso Henriques. Temas e Debates, p. 169.
[3] Lá teve João Pedro Rodrigues – que certamente bem
gostava de ter podido contar com a original espada – que se desenrascar com uma
réplica para a vencedora, em terras brasileiras, curta-metragem “O Corpo de
Afonso”. “O Corpo de Afonso é uma muito interessante ficção que o jovem
cineasta português realizou precisamente sobre a pessoa de carne e osso que teria
sido o primeiro rei de Portugal, com a personalidade e das façanhas que [julgamos
que] conhecemos… São mesmo conhecimentos cheios de dúvidas, mitos, polémicas;
na linguagem que conhecemos a propósito de D. Sebastião, são nevoeiros… muitos
e intensos.
terça-feira, junho 17, 2014
Papa Francisco: - Sabe a diferença que existe entre Terrorismo e Protocolo?
Quando (entrevista em 11 de junho) o jornalista Henrique Cymerman questionou o Papa Francisco sobre a sua relação difícil com o "protocolo", o Papa deu-lhe uma resposta magistral! Assim:
Papa Francisco: - Sabe a diferença que existe entre Terrorismo e Protocolo?
Cymerman: - Não...
Papa Francisco: - É que com o Terrorismo pode-se negociar...
Ui!... Que aviso!... Como costumamos dizer, que chapada de luva branca!... As escolas estão cheias de protocolos; a política está cheia de protocolos; as relações institucionais, em geral, estão cheias de protocolos... É evidente que alguns são necessários. Em certa medida, os rituais sociais e culturais são protocolos. Como dizia Konrad Lorenz, servem o objectivo de controlar a agressividade. Mas há rituais, há protocolos; e há muitos exageros de protocolos.
Veja-se hoje como um homem que, como ele próprio um dia disse, "não foi tocado pelo dom da fé - estou a falar de Mário Soares - fala hoje do Papa Francisco num artigo que faz publicar no Diário de Notícias.
Papa Francisco: - Sabe a diferença que existe entre Terrorismo e Protocolo?
Cymerman: - Não...
Papa Francisco: - É que com o Terrorismo pode-se negociar...
Ui!... Que aviso!... Como costumamos dizer, que chapada de luva branca!... As escolas estão cheias de protocolos; a política está cheia de protocolos; as relações institucionais, em geral, estão cheias de protocolos... É evidente que alguns são necessários. Em certa medida, os rituais sociais e culturais são protocolos. Como dizia Konrad Lorenz, servem o objectivo de controlar a agressividade. Mas há rituais, há protocolos; e há muitos exageros de protocolos.
Veja-se hoje como um homem que, como ele próprio um dia disse, "não foi tocado pelo dom da fé - estou a falar de Mário Soares - fala hoje do Papa Francisco num artigo que faz publicar no Diário de Notícias.
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quinta-feira, junho 05, 2014
Lhéngua Mirandesa - MANIFESTO an modo de hino
LHÉNGUA MIRANDESA - MANIFESTO AN MODO DE HINO
Momento de especial intensidade emocional, ontem, dia 4 de junho,
na Escola Secundária Eça de Queirós, em Lisboa.
terça-feira, maio 20, 2014
PSICOLOGIA - TRABALHOS MONOGRÁFICOS, EDIÇÃO 2013/14 - 02
Iniciámos ontem a apresentação dos trabalhos monográficos dos estudantes de Psicologia lá da escola.
Hoje seguimos viagem do Reino Unido para a Coreia do Sul: fomos conhecer um caso notável de ir ao chão e levantar-se outra vez; e, inesperadamente, de vitória da vida sobre o espetro da morte.
O segundo registo:
O sujeito do trabalho: Yoon-Sung Young
O autor: Nuno Rema
Hoje seguimos viagem do Reino Unido para a Coreia do Sul: fomos conhecer um caso notável de ir ao chão e levantar-se outra vez; e, inesperadamente, de vitória da vida sobre o espetro da morte.
O segundo registo:
O sujeito do trabalho: Yoon-Sung Young
O autor: Nuno Rema
sábado, maio 17, 2014
PSICOLOGIA - TRABALHOS MONOGRÁFICOS, EDIÇÃO 2013/14
Iniciámos ontem a apresentação dos trabalhos monográficos dos estudantes de Psicologia lá da escola.
São, em geral, tesouros cheios de muita humanidade, de muita dedicação e enriquecimento pessoal. Partilhados com muito entusiasmo, carinho, companheirismo e solidariedade.
O primeiro registo:
O sujeito do trabalho: Tom Daley
O autor: André Pires
P.S. - A data da fotografia está errada, não é 15, é 16 de maio de 2014.
São, em geral, tesouros cheios de muita humanidade, de muita dedicação e enriquecimento pessoal. Partilhados com muito entusiasmo, carinho, companheirismo e solidariedade.
O primeiro registo:
O sujeito do trabalho: Tom Daley
O autor: André Pires
P.S. - A data da fotografia está errada, não é 15, é 16 de maio de 2014.
domingo, maio 11, 2014
Saving the Children HD - Nicholas Winton
Se 15 dias de férias - solitariamente, com risco de vida -, podem garantir a vida a 669 crianças, multiplicando as possibilidades de vida a mais de 15 mil nas gerações seguintes, o que não conseguiremos alcançar solidariamente, com muitos mais dias do ano?
Ah! Os "extraordinários" governantes americanos - os sempre presunçosos defensores da Liberdade - recusaram-se a receber as crianças! "The United States Government is unable..." Afirma Sir Nicholas Winton que se os EUA tivessem aceitado as crianças, muitas mais crianças teriam sido salvas.
Ah! Os "extraordinários" governantes americanos - os sempre presunçosos defensores da Liberdade - recusaram-se a receber as crianças! "The United States Government is unable..." Afirma Sir Nicholas Winton que se os EUA tivessem aceitado as crianças, muitas mais crianças teriam sido salvas.
terça-feira, abril 15, 2014
A ansiedade do tempo: Há quanto tempo o homem ocidental se afasta da contemplação?
Há quanto tempo o homem ocidental se afasta da contemplação?
Há quanto tempo o germe da compulsão a estar a fazer qualquer coisa domina as vontades?
Quem sabe, este modo de estar no mundo associado ao valor da apropriação material trouxeram-nos a este estado de capitalismo frenético, individualista, egoísta e depredador.
"É mister limitar a correria sem rumo praticada pela maior parte dos homens, zunindo em direção às casas, teatros e mercados. Metem-se nos negócios alheios e aparentam sempre estarem ocupados. [...] Movem-se desnecessariamente e sem plano algum, como formigas trepando arbustos, indo até ao topo e de volta ao chão, sem nada alcançar. Muitos homens despendem a vida precisamente assim, naquilo que se poderia chamar de frenética indolência. Sentiria pena de alguns deles se os visse correndo apressados, como se as suas casas estivessem a arder." Séneca (século I)
Há quanto tempo o germe da compulsão a estar a fazer qualquer coisa domina as vontades?
Quem sabe, este modo de estar no mundo associado ao valor da apropriação material trouxeram-nos a este estado de capitalismo frenético, individualista, egoísta e depredador.
"É mister limitar a correria sem rumo praticada pela maior parte dos homens, zunindo em direção às casas, teatros e mercados. Metem-se nos negócios alheios e aparentam sempre estarem ocupados. [...] Movem-se desnecessariamente e sem plano algum, como formigas trepando arbustos, indo até ao topo e de volta ao chão, sem nada alcançar. Muitos homens despendem a vida precisamente assim, naquilo que se poderia chamar de frenética indolência. Sentiria pena de alguns deles se os visse correndo apressados, como se as suas casas estivessem a arder." Séneca (século I)
domingo, março 30, 2014
A educação sexual não deve ser ativa
"A educação sexual não deve ser activa. Deve o adulto explicar à criança aquilo que ela quer saber e isso dizia-o Claparède e deve falar-se sempre seriamente nos assuntos. O adulto pode brincar com a criança, brincar com as palavras, fazer trocadilhos e toda a espécie de jogos verbais que entender. Mas quando trata de assuntos sérios deve-os tratar seriamente. Se o adulto for capaz de falar seriamente dos problemas sexuais e dos problemas que se deparam à criança, então, realmente ele está em condições de fazer a educação sexual. A educação sexual não é educação para ser feita a crianças, mas para ser feita a adultos, os pais é que devem ser educados sob o ponto de vista sexual para terem um comportamento capaz de inspirar uma atitude normal na criança." (João dos Santos, texto recolhido da gravação de uma conferência proferida no Porto, na Ordem dos Médicos, em 14 de março de 1957; texto não revisto pelo autor)Não é por acaso que trago para aqui este pensamento do dr. João dos Santos no mesmo dia em que levei para o blogue "Mais Pessoa Pouco a Pouco" um pequeno apontamento sobre os três princípios da Educação tradicional romana, segundo Cícero - http://maispessoapoucoapouco.blogspot.pt/2014/03/os-tres-imortais-principios-da-educacao.html
domingo, março 23, 2014
"Controlamos ou somos controlados pelo Facebook?"
O Facebook e o Twitter beneficiam ou prejudicam a nossa felicidade?
Dalai Lama: - "Depende do modo como os usamos. Se a pessoa tem uma certa força interior, uma certa confiança, não há problema. Mas se a mente de uma pessoa é fraca, então existe mais confusão. A culpa não é da tecnologia. Depende do utilizador da tecnologia."
(Em Portugal, ver revista Visão, n.º 1098, 20 a 26 de março de 2014, p. 106)
O Dalai Lama tem sido um muito ativo animador de encontros entre gentes de todo o mundo, de muitas especialidades científicas, para reflexão sobre o cérebro, a força das emoções e o poder da inteligência e a mente; na senda da promoção do bem-estar. Tem sido mesmo um esforço notável, por exemplo, no âmbito do Mind Life Institute.
Do Facebook and Twitter help or hurt our happiness?
It depends on how you use them. If the person, himself or herself, has a certain inner strength, a certain confidence, then it is no problem. But if an individual’s mind is weak, then there is more confusion. You can’t blame technology. It depends on the user of the technology.
http://stewards.snre.umich.edu/sites/alumni.snre.umich.edu/ files/styles/large/public/articles/lama-spring08.jpg?itok=iiTSYrhQ |
(Em Portugal, ver revista Visão, n.º 1098, 20 a 26 de março de 2014, p. 106)
O Dalai Lama tem sido um muito ativo animador de encontros entre gentes de todo o mundo, de muitas especialidades científicas, para reflexão sobre o cérebro, a força das emoções e o poder da inteligência e a mente; na senda da promoção do bem-estar. Tem sido mesmo um esforço notável, por exemplo, no âmbito do Mind Life Institute.
Do Facebook and Twitter help or hurt our happiness?
It depends on how you use them. If the person, himself or herself, has a certain inner strength, a certain confidence, then it is no problem. But if an individual’s mind is weak, then there is more confusion. You can’t blame technology. It depends on the user of the technology.
sexta-feira, fevereiro 14, 2014
Mudar o Mundo - será que está mesmo ao nosso alcance?
Ou é da minha vista, ou não há, hoje em dia, nonagenário, ou mesmo octogenário, de consensual respeitabilidade pública e reconhecida sabedoria humana, que escape à pergunta a que sujeitaram também Noam Chomsky. A pergunta aparece no livro que a Bertrand pôs hoje à venda:
- Tem netos. Que tipo de mundo prevê que herdem?
Parece-me que a resposta de Chomsky não traz o apaziguamento à angústia acerca do futuro que o jornalista e, por via dele, os leitores gostariam de receber:
- Uma projeção realista não seria muito atrativa. Mas muito depende da vontade humana, como sempre.
(A realistic projection would not be very attractive. But a lot depends on human will, as always. You cannot predict the course of social movements, of the efforts to change things. We can never do that.)
E pronto! Azar outra vez!... A sabedoria, a lucidez e os longos anos de vida deste homem muito especial não traz o tão desejado apaziguamento.
Antes, David Barsamian tinha questionado o tão politicamente incómodo cientista americano sobre que ação humana faz sentido nos tempos que correm:
- Marx disse que a tarefa não é compreender o mundo mas mudá-lo. O professor devotou grande parte da sua vida a isso.
Outra vez a prudência (e a dúvida?) aconselhou a resposta de Chomsky:
- Valha isso o que valer - caberá a outros decidi-lo. Mas, claro, julgo que é isso que todos deveríamos tentar fazer: mudar o mundo a curto prazo, superar problemas imediatos - alguns deles letais, como desastres ambientais e a guerra nuclear. Por isso, a curto prazo, pode-se trabalhar para isso a que se chama reformas. Outros tentam chegar ao cerne das formas de autoridade ilegítima, desmantelá-las e avançar em direção a uma maior liberdade e independência.
(For whatever it’s worth—that’s for others to decide. But sure, I think that’s what we should all be trying to do: change the world in the short term, overcoming immediate problems—some of them, like environmental disaster and nuclear war, lethal problems. Not small problems. The fate of the species depends on them. So, in the short term, you can work for what are called reforms. Others try to get at the heart of the forms of illegitimate authority, dismantle them, and move toward greater freedom and independence.)
(Noam Chomsky, "Mudar o Mundo", 2014. Bertrand Editora, p. 176)
Empenho pessoal, cidadania ativa, reunião de esforços - o conjunto dos grandes meios e estratégias para o grande remédio do (mau) estado do Mundo. Os governantes, os poderosos, os grandes decisores nunca deverão ter neles depositada a nossa confiança absoluta e boa fé. Dúvida metódica, vigilância constante, controlo efetivo. Estas terão de de ser sempre componentes da nossa "vontade humana".
- Tem netos. Que tipo de mundo prevê que herdem?
Parece-me que a resposta de Chomsky não traz o apaziguamento à angústia acerca do futuro que o jornalista e, por via dele, os leitores gostariam de receber:
- Uma projeção realista não seria muito atrativa. Mas muito depende da vontade humana, como sempre.
(A realistic projection would not be very attractive. But a lot depends on human will, as always. You cannot predict the course of social movements, of the efforts to change things. We can never do that.)
E pronto! Azar outra vez!... A sabedoria, a lucidez e os longos anos de vida deste homem muito especial não traz o tão desejado apaziguamento.
Antes, David Barsamian tinha questionado o tão politicamente incómodo cientista americano sobre que ação humana faz sentido nos tempos que correm:
- Marx disse que a tarefa não é compreender o mundo mas mudá-lo. O professor devotou grande parte da sua vida a isso.
Outra vez a prudência (e a dúvida?) aconselhou a resposta de Chomsky:
- Valha isso o que valer - caberá a outros decidi-lo. Mas, claro, julgo que é isso que todos deveríamos tentar fazer: mudar o mundo a curto prazo, superar problemas imediatos - alguns deles letais, como desastres ambientais e a guerra nuclear. Por isso, a curto prazo, pode-se trabalhar para isso a que se chama reformas. Outros tentam chegar ao cerne das formas de autoridade ilegítima, desmantelá-las e avançar em direção a uma maior liberdade e independência.
(For whatever it’s worth—that’s for others to decide. But sure, I think that’s what we should all be trying to do: change the world in the short term, overcoming immediate problems—some of them, like environmental disaster and nuclear war, lethal problems. Not small problems. The fate of the species depends on them. So, in the short term, you can work for what are called reforms. Others try to get at the heart of the forms of illegitimate authority, dismantle them, and move toward greater freedom and independence.)
(Noam Chomsky, "Mudar o Mundo", 2014. Bertrand Editora, p. 176)
Empenho pessoal, cidadania ativa, reunião de esforços - o conjunto dos grandes meios e estratégias para o grande remédio do (mau) estado do Mundo. Os governantes, os poderosos, os grandes decisores nunca deverão ter neles depositada a nossa confiança absoluta e boa fé. Dúvida metódica, vigilância constante, controlo efetivo. Estas terão de de ser sempre componentes da nossa "vontade humana".
sábado, janeiro 25, 2014
Um hino à bondade genuína que a educação natural cultiva
O texto é de Mia Couto.
"Texto ligeiro", como diz o autor, recolhido no Pensageiro Frequente, publicado pela Caminho. Em rigor, é uma parte do texto "As águas da terra" (p. 99), originalmente publicado na revista de bordo das Linhas Aéreas Moçambicanas, em abril de 2005.
Para mim, a ocorrência relatada, mesmo que literariamente, por Mia Couto, é um hino ao que as crianças, em geral (quer dizer, todos nós), são capazes de fazer a partir da sua natureza social ingénua, espontânea, discretamente apoiada ou reforçada por educação pessoal, familiar, simples, que valorize a comunhão e a partilha, mais que a competição, a apropriação individual e a maximização perfecionistas das ações.
Este "subtexto" chama-se MAPUTO.
"Texto ligeiro", como diz o autor, recolhido no Pensageiro Frequente, publicado pela Caminho. Em rigor, é uma parte do texto "As águas da terra" (p. 99), originalmente publicado na revista de bordo das Linhas Aéreas Moçambicanas, em abril de 2005.
Para mim, a ocorrência relatada, mesmo que literariamente, por Mia Couto, é um hino ao que as crianças, em geral (quer dizer, todos nós), são capazes de fazer a partir da sua natureza social ingénua, espontânea, discretamente apoiada ou reforçada por educação pessoal, familiar, simples, que valorize a comunhão e a partilha, mais que a competição, a apropriação individual e a maximização perfecionistas das ações.
Este "subtexto" chama-se MAPUTO.
Maputo tem uma dívida permanente com o rio Umbeluzi. A cidade bebe das suas águas. Subo de canoa, contra a corrente, e vou parando nas margens lodosas. Ali, em pleno estuário, o Umbeluzi é rio ou é mar? As águas são salobras, as marés comandam, a vegetação nas margens são típicos mangais. Estamos mais em ambiente marinho que fluvial.
Vejo, então, o pequeno pastor trazendo os bois que se apressam para a margem. Parecem conhecer o provérbio local que diz: “O boi que chega primeiro é o que bebe água mais limpa.” O menino senta-se sob uma sombra mais pequena que ele. De uma sacola encardida retira uma xigovia. Sopra na pequena cabaça e faz soar a improvisada flauta. A melodia, confesso, era monocórdica.
Para mim, naquele momento, soava como uma sinfonia. E acenei, da canoa. Não me respondeu. Não me percebeu o gesto. Entendeu, sim, que eu lhe pedia a cabaça. Ainda hesitou, por um momento. Mas, de súbito, fez lançar pelo ar a xigovia. Com algum esforço, juntei ambas as mãos e apanhei o fruto da nsala. Ainda hoje guardo a xigovia desse menino que não terá nome mas que, para mim, tem a história de um encontro.
domingo, janeiro 19, 2014
Brincar num campo de refugiados | euronews, for children in war
A nossa escola, e outras escolas.
Que nos dizem os olhos magníficos destas crianças?
Brincar num campo de refugiados | euronews, for children in war
Que nos dizem os olhos magníficos destas crianças?
Brincar num campo de refugiados | euronews, for children in war
sábado, janeiro 18, 2014
De volta ao TEMPO, com Mia Couto, Eusébio, Mário Soares e o régulo Evaristo Faife
Gungunhana (1891), provavelmente o régulo mais famoso da História de Portugal |
Quando Mia Couto tinha olhos de menino, os olhos que agigantam o mundo, um dos
seus manos costumava chantagear os pais e os irmãos para dar satisfação às suas birras: dizia-lhes que fugiria para Inhaminga.
“Inhaminga situava-se numa inatingível bruma, era o lugar mais longínquo que nós, nascidos e vividos na Beira podíamos imaginar. (…) Quarenta anos depois regresso a esse percurso de encantamento. A primeira impressão quando fazemos essas incursões no passado é sempre de que o mundo ficou mais pequeno. Aquilo que eu retinha como grandes estradas de areia sempre foram, afinal, estreitas picadas. (…) À noite, conto ao régulo a história do meu irmão, usando Inhaminga como chantagem emocional. O homem ri-se. Depois, uma certa melancolia invade o seu rosto magro. Então, Evaristo Faife diz:
- Seu irmão tinha razão: isto aqui é mais longe que o estrangeiro.
- Não é verdade. Então não estamos aqui, juntos?
- Sim, mas quanto tempo demorou para que o senhor voltasse aqui?”
(Mia Couto, 2010. Pensageiro Frequente, pp. 85-88. Editorial Caminho)
Mia Couto calou-se ao ouvir isto. Eu também me calei ao ler
estas palavras. Confesso que não consegui evitar que me viesse ao pensamento,
outra vez, o Eusébio (moçambicano de um bairro periférico de Lourenço Marques) e a “homenagem” que Mário Soares lhe fez quando evocou, no dia da morte do fantástico jogador de futebol, a
sua “sem cultura”. É que me perguntei se a cultura de Mário Soares (muito mais parecida com a minha do que a de Eusébio) nos propicia
a oportunidade e as condições para pensarmos desta maneira. Que questionamento
notável, o do réculo! Quando o homem consagrado pela Cultura, Mia Couto –
felizmente, humilde pessoa, amante do contacto pessoal -, tentava simbolizar a
proximidade dos afetos por oposição à distância geográfica. O pensamento do
extraordinário régulo apanhou, desprevenido, o escritor, no seu próprio
terreno, jogando em casa…
domingo, janeiro 12, 2014
As 8 coisas que aprendi com Eusébio
RESPEITAR EUSÉBIO E A SUA MEMÓRIA
É TORNAR NOSSO O TESTEMUNHO DE JOÃO VIEIRA PINTO
É a minha opinião, nada mais do que isso. Vou muito intencionalmente tomar para mim o testemunho do João Vieira Pinto.É TORNAR NOSSO O TESTEMUNHO DE JOÃO VIEIRA PINTO
De tudo o que me esforcei por ver, ler e ouvir na semana que decorreu desde que Eusébio morreu, este testemunho é o que, no meu entender, melhor sintetiza o exemplo e o legado de Eusébio, o que vale a pena tomarmos em linha de conta do exemplo de Eusébio no futuro das nossas vidas. Eu leio as palavras de JVP, transporto-as para a minha vida, para a minha condição de cidadão e para o meu magistério de professor, e tudo mantém pleno sentido!
- BEM RECEBER. Quando cheguei ao Benfica, em 1992, vindo do Boavista, já o conhecia, da seleção, e estabelecemos logo uma boa relação. Senti-me sempre protegido por ele. Ele gostava muito de mim como jogador e acolheu-me muito bem, como aliás fazia com toda a gente que chegava ao Benfica.
- MELHORAR. Depois dos jogos, costumávamos falar sobre o que tinha acontecido, analisávamos os lances e as movimentações que tinham corrido menos bem, para que no domingo seguinte isso já saísse perfeito - ou pelo menos melhor.
- ELOGIAR. Quando um jogo me corria bem, ele era o primeiro a vir ter comigo a dizer "estavas endiabrado", "partisre aquilo tudo", "estás em grande forma".
- LUTAR. Ele dizia sempre que nunca podíamos desistir de um lance, tínhamos de lutar, dar tudo em campo. Ele contava histórias das lesões e realçava que queria jogar sempre.
- JOGAR AO ATAQUE. O Eusébio era muito objetivo, tinha uma enorme velocidade e potência de remate. E por isso dizia que a finta era apenas um recurso, que o jogo se fazia a avançar no terreno.
- REMATAR SEMPRE. O Eusébio, até na bancada, a ver os jogos, quando via um avançado perto da área gritava: "Chuta." Esse também era um dos conselhos recorrentes dele. Perto da área, não valia a pena estar com rodriguinhos, era arranjar espaço e chutar, porque se não se chutasse não se marcavam golos de certeza.
- APURAR A TÉCNICA. Falava muito comigo sobre a forma de rematar, de colocar o pé na bola, de inclinar o corpo. Nos livres, treinava comigo a melhor maneira de colocar a bola em arco no lado contrário. Costumava marcar cantos do lado de fora da linha de campo, já atrás da baliza, e a bola descrevia um arco e entrava. No fim dos treinos ele desafiava-me, a mim e aos outros, a fazer melhor do que ele. Eu às vezes conseguia, mas ele ganhava quase sempre esses concursos de cantos diretos. Era isso ou ver quem é que acertava mais vezes na barra. Ou quem colocava a bola no meio das pernas de um jogador num passe de 30 metros. Fazíamos exercícios de grande precisão e de grande execução técnica.
- AMIZADE. Tornei-me amigo dele. Íamos muitas vezes almoçar ou jantar e falar dos seus grandes tempos de jogador. Tinha uma ótima relação com ele. Muitas vezes, quando o Benfica jogava no estrangeiro, no regresso o autocarro levava-nos até ao Estádio da Luz e depois eu é que o ia levar a casa.
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quinta-feira, janeiro 09, 2014
JOSÉ TRAVASSOS E EUSÉBIO. AOS MEUS ALUNOS DO SPORTING.
Meus queridos alunos,
pelo menos alguns de vós não conhecereis estas palavras de Eusébio, escritas no hospital, em dezembro de 1960, e recolhidas no livro O que as almas são por dentro - 99 Testemunhos, da autoria do cónego António de Azevedo Pires, publicado em 1967 pela Editorial Pórtico. Antes de reproduzir na íntegra a carta, deixai-me destacar uma parte que tanto tem a ver com o que temos falado nas últimas aulas. E desta vez não quero dar relevo à humildade de Eusébio; isso sim, à nobreza de alma e à sabedoria humana do grande sportinguista José Travassos. As palavras são claras, não precisam de ser comentadas ou interpretadas por mim. O Eusébio dirige-se ao senhor padre autor do livro. Eu não conheço ainda o livro, admito que o senhor padre, boamente, tenha vertido para o livro uma versão especialmente bem compostinha das palavras originais de Eusébio. Na verdade, eu sei "do que é que a casa gasta..." Tenho experiência de muitos alunos da idade com que Eusébio escreveu esta carta (18 anos), sei qual é o rigor de expressão escrita, formal, de que, em geral, são capazes.
pelo menos alguns de vós não conhecereis estas palavras de Eusébio, escritas no hospital, em dezembro de 1960, e recolhidas no livro O que as almas são por dentro - 99 Testemunhos, da autoria do cónego António de Azevedo Pires, publicado em 1967 pela Editorial Pórtico. Antes de reproduzir na íntegra a carta, deixai-me destacar uma parte que tanto tem a ver com o que temos falado nas últimas aulas. E desta vez não quero dar relevo à humildade de Eusébio; isso sim, à nobreza de alma e à sabedoria humana do grande sportinguista José Travassos. As palavras são claras, não precisam de ser comentadas ou interpretadas por mim. O Eusébio dirige-se ao senhor padre autor do livro. Eu não conheço ainda o livro, admito que o senhor padre, boamente, tenha vertido para o livro uma versão especialmente bem compostinha das palavras originais de Eusébio. Na verdade, eu sei "do que é que a casa gasta..." Tenho experiência de muitos alunos da idade com que Eusébio escreveu esta carta (18 anos), sei qual é o rigor de expressão escrita, formal, de que, em geral, são capazes.
"Lembra-se da conversa que tivemos aqui, há pouco, neste quarto do Hospital, com o sr. José Travassos que veio também visitar-me? Estávamos só os três. Conversámos muito. O sr. Travassos, que foi grande jogador, foi muito largo nos elogios que me dirigiu. Ouviu aquilo que ele me disse e que eu não esperava?: «O Eusébio, se trabalhar e se tiver sempre juízo, pode ir longe no futebol. Já o vi jogar, e digo-lhe que tem qualidades para vir a ser o melhor jogador português de todos os tempos. Aproveite-as, trabalhe e nunca seja vaidoso.»CARTA DE EUSÉBIO - VERSÃO INTEGRAL
Hospital da C. U. F.
Dezembro de 1960.
Dezembro de 1960.
Aqui estou neste Hospital depois da operação que há dias me fizeram. Espero que hei-de ficar bom depressa. Deus há-de-me ajudar.
Desde que vim de Moçambique lembro-me muito de minha Mãe. Escrevo-lhe muitas vezes a dar notícias minhas, porque sei que ela gosta muito de as receber. Eu gosto de lhe dar alegria. No futuro, se as coisas me correrem bem, ela nunca será esquecida, Se eu triunfar no futebol e os jornais vierem a falar de mim e se eu ganhar dinheiro grande, não quero isso para vaidade minha. Quero para dar alegria à minha Mãe. Não gosto de ser vaidoso, mas quero que os meus triunfos vão dar gosto à minha Mãe. Ela merece. Fez muito pelos filhos, por mim e pelos meus irmãos. Não esqueço a formação que me deu, para ser um homem bom e honrado.
A formação cristã que minha Mãe me deu e a que recebi também dos padres missionários que estavam lá perto da minha terra hão-de ajudar-me muito na vida.
A minha Mãe Elisa é extraordinária, Também quero ajudá-la com o dinheiro que eu ganhar.
Lembra-se da conversa que tivemos aqui, há pouco, neste quarto do Hospital, com o sr. José Travassos que veio também visitar-me? Estávamos só os três. Conversámos muito. O sr. Travassos, que foi grande jogador, foi muito largo nos elogios que me dirigiu. Ouviu aquilo que ele me disse e que eu não esperava?:
«O Eusébio, se trabalhar e se tiver sempre juízo, pode ir longe no futebol. Já o vi jogar, e digo-lhe que tem qualidades para vir a ser o melhor jogador português de todos os tempos. Aproveite-as, trabalhe e nunca seja vaidoso.»
Isto foi o que disse o sr. José Travassos ao querer ser amável comigo, lembra-se? Como sou muito novo e estou a começar a minha carreira, naturalmente ele disse aquelas coisas só para me estimular. Mas vou aproveitar o estímulo e vou trabalhar a sério, para vir a ser alguém. Não quero vaidades. Quero ser um homem, e quero dar muitas alegrias à minha Mãe Elisa.
Eusébio da Silva Ferreira
"Homenagem a Eusébio" - Luís Filipe Borges - 5 Para a Meia Noite
Aos poucos, irei aqui enumerando as razões porque considero que este pequeno discurso tem uma miríade de potencialidades pedagógicas, que podem ser tranquilamente exploradas na educação, também tranquila, das crianças e dos jovens.
terça-feira, janeiro 07, 2014
Gandhi deixou 2 dólares de bens materiais quando morreu
Menos de dois dólares
Um texto notável de José Tolentino Mendonça
A "pegada ecológica" diz muito acerca de nós: quantos recursos (e que recursos) hipotecamos para construir o que é o nosso estilo de vida, quais as necessidades que consideramos vitais e como as priorizamos, que tráfico de bens e serviços temos de colocar em funcionamento para realizar o nosso sonho (ou a nossa ilusão) de bem-estar. Os indicadores coincidem no seguinte: as sociedades avançadas geram uma inflação permanente de necessidades, indiferentes aos desequilíbrios que causam, e que são, em grande medida, não só de sustentabilidade ambiental mas de sustentabilidade espiritual. [o destaque é meu]
A verdade é que cada um de nós traz vazios por preencher, carências e interrogações submersas, desejos calcados que procura compensar da forma mais imediata. Não é propriamente de coisas que precisamos, mas, à falta de melhor, condescendemos. À falta desse amor que nem sempre conseguimos, desse caminho mais aberto e solitário que evitamos percorrer, à falta dessa reconciliação connosco mesmo e com os outros que continuamente adiamos... O consumo desenfreado não é outra coisa que uma bolsa de compensações. As coisas que se adquirem são, obviamente, mais do que coisas: são promessas que nos acenam, são protestos impotentes por uma existência que não nos satisfaz, são ficções do nosso teatro interno. Os centros comerciais apresentam-se como pequenos paraísos, indolores e instantâneos. Infelizmente, de curtíssima duração também.
Li há dias, e impressionou-me muito, que, quando Gandhi morreu, os bens materiais que deixou valiam menos de dois dólares. Voltei a ler para verificar se me tinha enganado: menos de dois dólares. Os bens espirituais e civis que legou ao futuro tinham, porém, uma dimensão incalculável. O que nos enfraquece não é, de facto, a escassez, mas a sobreabundância; não é a indagação, mas o ruído de mil respostas fáceis que conflituam; não é a frugalidade, mas sim o desperdício. O que nos enfraquece é não termos escutado até ao fim o que está por detrás da fome e da sede, da nossa urgência e da nossa fadiga, do atordoamento, dos medos ou da abstenção.
Há aquela cena do filme de Steven Spielberg "A Lista de Schindler". O ator Liam Neeson representa o papel do industrial alemão que salvou a vida a mais de mil judeus. Na cena final, os resgatados oferecem-lhe, expressando a sua gratidão, uma aliança com uma frase do Talrnude. «Aquele que salva uma vida, salva o mundo inteiro». E a resposta de Oskar Schindler é inesquecível: «Podia ter feito mais. Não sei, eu... Podia ter salvo mais. Desperdicei tanto dinheiro com futilidades. Não fazes ideia. Se soubesses... Não fiz o suficiente. Este carro... Porque fiquei eu com ele? Alguém o teria comprado. Teria salvo dez pessoas, mais dez pessoas. Este alfinete! Duas pessoas! É de ouro. Podia ter salvo mais duas pessoas. Por isto... eu poderia ter salvo mais pessoas... e não o fiz». Estamos condenados a uma dor assim?
Mas há finais felizes. Lembro-me dos meses que antecederam a partida do poeta Eugénio de Andrade. Ele ficou internado longo tempo no Hospital de Santo António, no Porto. Nessa altura, passei por lá algumas vezes a visitá-lo e só me recordo de ouvi-lo pedir uma coisa: que lhe trouxessem duas maçãs. Não para comer, obviamente, mas para ficar a olhá-las da cama, para sentir a cor, a textura, o perfume, para distinguir a sua forma no silêncio, para amá-las como se ama uma pintura de Cézanne. Acho que duas maçãs custam menos de dois dólares, não é verdade? (José Tolentino Mendonça, In Expresso, 4.1.2014)
domingo, janeiro 05, 2014
Ser bom professor com Ricardo Araújo Pereira
E, de repente, aparece Ricardo Araújo Pereira a trazer-me à consciência a pergunta:
http://problemasteoremas.wordpress.com/2008/07/22/ dois-comboios-e-duas-cidades/ |
- Será, na verdade, possível ser-se bom professor se não se entender isto e se não se lidar com prudência e sabedoria com estas diferenças?...
Vem na Visão, na edição de 2 de janeiro de 2014:
"O escritor brasileiro Luís Fernando Veríssimo percebeu que se interessava mais por letras do que por números quando, em criança, o professor de matemática lhe colocou aqueles problemas do costume. "Um comboio parte do ponto A às 8h00 e viaja a uma velocidade média de 100 km/h. Outro comboio parte do ponto B duas horas mais tarde e depois segue a 80 km/h. Determine a que horas vão os comboios encontrar-se no ponto C, sabendo que, etc." Em vez de calcular a resposta, Veríssimo punha-se a imaginar quem seriam os passageiros dos comboios, por que razão iriam do ponto C àquela hora da manhã, ou quem os esperaria lá."
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