RESPEITAR EUSÉBIO E A SUA MEMÓRIA
É TORNAR NOSSO O TESTEMUNHO DE JOÃO VIEIRA PINTO
É a minha opinião, nada mais do que isso. Vou muito intencionalmente tomar para mim o testemunho do João Vieira Pinto.É TORNAR NOSSO O TESTEMUNHO DE JOÃO VIEIRA PINTO
De tudo o que me esforcei por ver, ler e ouvir na semana que decorreu desde que Eusébio morreu, este testemunho é o que, no meu entender, melhor sintetiza o exemplo e o legado de Eusébio, o que vale a pena tomarmos em linha de conta do exemplo de Eusébio no futuro das nossas vidas. Eu leio as palavras de JVP, transporto-as para a minha vida, para a minha condição de cidadão e para o meu magistério de professor, e tudo mantém pleno sentido!
- BEM RECEBER. Quando cheguei ao Benfica, em 1992, vindo do Boavista, já o conhecia, da seleção, e estabelecemos logo uma boa relação. Senti-me sempre protegido por ele. Ele gostava muito de mim como jogador e acolheu-me muito bem, como aliás fazia com toda a gente que chegava ao Benfica.
- MELHORAR. Depois dos jogos, costumávamos falar sobre o que tinha acontecido, analisávamos os lances e as movimentações que tinham corrido menos bem, para que no domingo seguinte isso já saísse perfeito - ou pelo menos melhor.
- ELOGIAR. Quando um jogo me corria bem, ele era o primeiro a vir ter comigo a dizer "estavas endiabrado", "partisre aquilo tudo", "estás em grande forma".
- LUTAR. Ele dizia sempre que nunca podíamos desistir de um lance, tínhamos de lutar, dar tudo em campo. Ele contava histórias das lesões e realçava que queria jogar sempre.
- JOGAR AO ATAQUE. O Eusébio era muito objetivo, tinha uma enorme velocidade e potência de remate. E por isso dizia que a finta era apenas um recurso, que o jogo se fazia a avançar no terreno.
- REMATAR SEMPRE. O Eusébio, até na bancada, a ver os jogos, quando via um avançado perto da área gritava: "Chuta." Esse também era um dos conselhos recorrentes dele. Perto da área, não valia a pena estar com rodriguinhos, era arranjar espaço e chutar, porque se não se chutasse não se marcavam golos de certeza.
- APURAR A TÉCNICA. Falava muito comigo sobre a forma de rematar, de colocar o pé na bola, de inclinar o corpo. Nos livres, treinava comigo a melhor maneira de colocar a bola em arco no lado contrário. Costumava marcar cantos do lado de fora da linha de campo, já atrás da baliza, e a bola descrevia um arco e entrava. No fim dos treinos ele desafiava-me, a mim e aos outros, a fazer melhor do que ele. Eu às vezes conseguia, mas ele ganhava quase sempre esses concursos de cantos diretos. Era isso ou ver quem é que acertava mais vezes na barra. Ou quem colocava a bola no meio das pernas de um jogador num passe de 30 metros. Fazíamos exercícios de grande precisão e de grande execução técnica.
- AMIZADE. Tornei-me amigo dele. Íamos muitas vezes almoçar ou jantar e falar dos seus grandes tempos de jogador. Tinha uma ótima relação com ele. Muitas vezes, quando o Benfica jogava no estrangeiro, no regresso o autocarro levava-nos até ao Estádio da Luz e depois eu é que o ia levar a casa.
Muito interessante também:
ResponderEliminar5 lições que aprendemos com Eusébio
(...)(ACTIVA.PT, 06JAN14)
Eusébio da S. F. morreu na madrugada de 5 de janeiro, vítima de paragem cardiorespiratória. Enquanto um país comovido lhe presta a sua homenagem, lembramos alguns exemplos inspiradores e eternos que o Pantera Negra nos deixou.
. Nunca devemos desistir de um grande sonho: Quando era miúdo, a mãe, D. Elisa, não achava muita graça a que Eusébio passasse o seu tempo livre a jogar futebol: "Apertava comigo para que eu me importasse com a escola e me deixasse de pontapés na bola, mas eu não sei explicar, havia qualquer coisa que me puxava, um frenesim no corpo que só se satisfazia com bola e mais bola", recordou o craque numa entrevista ao jornal A Bola. D. Elisa protestava e, de vez em quando, chegava a dar-lhe "umas sovas que não eram brincadeira nenhuma", mas Eusébio estava decidido e provou-lhe que o futuro podia estar mesmo naquilo que mais prazer lhe dava: o futebol. E não desistiu, mesmo quando o seu primeiro clube de sonho, o Desportivo de Lourenço Marques, não o aceitou por ser pequeno e franzino. Mas o Sporting de Lourenço Marques viu nele as qualidades que outros teimavam recusar... e daí para o mundo foi um pulinho. Lição: às vezes sabemos mesmo, desde pequeninos, para onde nos puxa o talento e a garra. E com determinação e confiança naquilo de que somos capazes, chegamos lá.
. A humildade é a marca dos grandes: Foi sete vezes o melhor goleador do campenonato nacional e duas vezes o melhor marcador europeu (nas temporadas de 67/68 e 72/73), 11 vezes campeão nacional pelo Benfica e uma vez campeão europeu. O palmarés de Eusébio é impressionante. Mas se há característica que a maior parte das pessoas que com ele privaram lhe reconhece, é a humildade. Não era, contudo, um homem de falsas modéstias – era humilde mas sabia bem o que valia. Quando chegou a Lisboa, em outubro de 1961, com apenas 18 anos e vindo de Lourenço Marques (atual Maputo), terá dito sobre o Benfica: "Não me interessa que eles sejam campeões europeus; vou entrar nessa equipa."
. Lutar sempre, mesmo quando tudo parece perdido: O famoso jogo contra a Coreia do Norte, no Mundial de Inglaterra em 1966, ainda hoje é mostrado em escolas de futebol de todo o mundo. Aos 25 minutos de jogo já perdíamos por 3-0 e parecia que íamos ficar pelo caminho. O resto já faz parte da História do Futebol. Ao intervalo ainda perdíamos mas Eusébio acabaria por ser o herói do jogo. Recusou-se a dar-se por vencido e marcou quatro dos cinco golos que nos garantiram a vitória (o outro seria de José Augusto).
. Não nos devemos deixar intimidar por ninguém: Eusébio tinha força física mas, sobretudo, psicológica para não se deixar intimidar nem pelos adversários mais temíveis, mesmo quando era mal tratado em campo. Paddy Crerand, ex-jogador do Manchester United, defrontou-o na final da Taça da Europa, em 1968, no estádio de Wembley. "Tive pena do Eusébio porque o Nobby Stiles estava a marcá-lo e não da maneira como é suposto marcar-se um jogador. Ele levou pontapés violentos e nem se importou, continuou a jogar. Que jogador!"
. Os bons rivais também se aplaudem: O Pantera Negra era conhecido por colegas de profissão de todo o mundo por respeitar o desportivismo, acima de tudo. Não eram raros os gestos de fair play como aquele com que Eusébio presenteou Alex Stepney, guarda-redes do Manchester United, em 1967 e que este último recorda, num artigo de homenagem publicado ontem pelo jornal Guardian. Eusébio rematara à baliza de Stepney e este defendeu. "Depois de fazer a defesa não percebi bem o que se passou. Mas vi na televisão depois e Eusébio tinha parado a aplaudi-la. Esse era o tipo de homem que ele era: o respeito que me prestou e ao futebol era tremendo. Jogar contra ele foi uma honra!"