#TOLERÂNCIA100 - O MAU EXEMPLO DOS DIRIGENTES DO FUTEBOL
Já noutras alturas quis falar da minha insatisfação e desacordo a propósito dos telejornais (sobretudo da televisão pública) abrirem com a notícia do Benfica que ganhou, do Porto que ganhou, do Sporting que ganhou (escrevi os nomes por ordem alfabética...). Nunca quis falar disto quando a notícia fosse uma derrota do Benfica (o meu clube de coração), para não ser acusado de só mostrar insatisfação quando o Benfica perdesse.
O Benfica ganhou ao Porto no domingo, ontem os telejornais da manhã (RTP3) abriram todos com a notícia; ontem o Sporting empatou com o Braga, hoje os mesmos telejornais abriram com essa notícia.
Ontem, numa notícia associada ao jogo Porto-Benfica no Estádio do Dragão, mostravam-se os presidentes do Porto (André Villas-Boas) e o presidente do Benfica (Rui Costa), em bancadas separadas, ambos de ar sério, e sem se encontrarem um com o outro. Quanto ao presidente do Sporting (Frederico Varandas), está suspenso disciplinarmente por 51 dias pela Federação Portuguesa de Futebol.
Não é a primeira vez que o presidente dum clube de futebol é suspenso, o mesmo já aconteceu a outros clubes, nomeadamente no Benfica. Quer dizer, os comportamentos de indisciplina desportiva e as zangas entre os dirigentes dos clubes de futebol tornaram-se banalidades, parece que tem de ser assim: os presidentes dos clubes de futebol não devem ser cordiais entre si, devem andar zangados; e devem andar sempre a zangar-se, fazer acusações, denunciar, protestar, reclamar por injustiças.
Que modelo é este de civilidade pessoal, de convivialidade desportiva, que os líderes dos clubes de futebol (não apenas, como se costuma dizer em Portugal, «os três grandes») oferecem aos adeptos dos seus clubes? Parece que é o de "ser benfiquista/portista/sportinguista é estar em oposição, é estar de relações cortadas (no mínimo, frias e distantes) com os ser dos outros clubes.
Que raio de modelo, social e desportivo, tão intolerante!
Não deveriam eles, os presidentes, estar na primeira linha de todos, mas mesmo todos, os esforços para tentarem, sempre, resolver tudo, como se diz no Desporto, com desportivismo e 'fair play'?
Todos os clubes, todos os grandes clubes, têm exemplos de atletas e adeptos que se dedicaram (ou dedicam) toda a vida, de corpo e alma, ao seu clube de coração. Por outro lado, fanáticos e trapaceiros há também em todos os clubes. Na minha opinião, os presidentes têm de estar do lado dos dedicados e não do dos fanáticos e trapaceiros.
Há dias, numa turma em que predominam os alunos que praticam desporto federado (futebol, rugby, voleibol), pus-lhes um dilema, chamei-lhe "O Dilema do Rugby e da Amizade Impossível"
DILEMA: Um dos meus melhores amigos, o Júlio, vai jogar rugby, no domingo, pela equipa de Direito.
Ele vai jogar contra o Sousa, da equipa do Técnico. O Sousa é tão meu amigo quanto o Júlio. Eu sei que a equipa que eu apoiar vai ganhar. Tanto o Júlio como o Sousa me pediram para os apoiar. Que equipa devo eu apoiar, a do meu amigo Júlio ou a do meu amigo Sousa?Pus o dilema aos vários chatbots, as soluções apresentadas por eles — mostrando que o dilema estava bem feito, o que me deixou muito satisfeito — revelam-se, pois claro, inconclusivas.
Entretanto, um deles propôs uma saída airosa, em que parece estar a fugir com o rabinho à seringa: «Deves apoiar o árbitro, para que ele tenha uma condução justa do jogo e ganhe a equipa que desportivamente mais mereça.»
Esta resposta, parecendo ser uma resposta ao lado, é bem capaz de ser a melhor de todas, já que mostra que o que deve orientar a competição desportiva são mesmo, e apenas, os valores da sã disputa desportiva. Dá mesmo muito que pensar esta resposta!
Acho que fazia muito bem aos presidentes dos clubes (e a todos os dirigentes desportivos, em geral) dedicarem algum tempo a este dilema e a outros do mesmo tipo. Entre outras coisas, para que conseguissem tomar consciência da influência educativa junto das crianças, dos jovens e dos adultos, no fundo, dos adeptos clubistas que querem que os seu presidentes sejam os melhores de todos.
P.S.: o número 100 é um número redondo, é um marco. Depois destes 100 textos, o desafio é virem mais 100, depois mais 100, e depois ainda mais 65. O número 100 justifica um balanço, só que não quis deixar de escrever isto hoje, para não perder oportunidade. Talvez escreva uma espécie de balanço retrospectivo e prospectivo amanhã.
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