segunda-feira, junho 21, 2021

PODE SER TÃO FÁCIL EDUCAR UMA CRIANÇA... N.º 2

 PODE SER TÃO FÁCIL EDUCAR UMA CRIANÇA... N.º 2

Estou na esquina duma rua de passeio largo, bem largo. Espero por uma colega e amiga que me vai apanhar para um almoço em casa duma amiga comum. A esquina cruza uma avenida de intenso movimento automóvel com uma rua em que, nos cerca de 30 minutos que ali estive, o fluxo de veículos automóveis é o mais contrário possível ao da grande avenida: é praticamente nulo.

A certa altura, do lado da avenida grande, no passeio largo, bem largo, vejo vir na minha direcção uma
criança e a mãe. A mãe vem com um saco grande em cada mão, parecem pesados pela postura corporal da senhora. A criança traz um brinquedo na mão.

Quando passam por mim, a mãe vem à frente. Faz já a curva para a rua sem movimento automóvel quando a criança também passa atrás de mim. Precisamente nesta altura, a criança grita: «Ai o meu chapéu! Mãe!!!»

Volto-me para trás. A criança, uns 6 anos de idade, está parada, parece ter os pés colados ao chão. Em pose de estátua, olha a mãe. A mãe, quase reflexamente, diz para a criança: «Eu vou buscar.» Só depois olho na direcção em que a mãe, mesmo carregada, seguiu que nem bala.

Aparentemente, uma pequena rajada de vento tirara para fora da cabeça da criança um chapéu que já devia estar bem à beirinha de dali cair. O chapéu está ali perto da criança.

Olho em volta: o passeio é mesmo largo. Até aos carros há ainda uma bem recente faixa de bicicletas, bem sinalizada e bem delimitada. Não está mais ninguém por perto. Concluo que a situação não traz nenhum risco ou perigo para a criança.

Mas a mãe, pressurosa, já está a baixar-se para o chapéu, que jaz ali bem quietinho à espera de ser apanhado. Segura-o com dificuldade numa das mãos, que, repito, está já ocupada com um grande peso. A criança continua sem se mexer, segue o movimento da mãe com o olhar. Apercebe-se que a mãe se dirige a ela, estende a mão direita (que a esquerda guardava o brinquedo), mas não dá o mais leve passo em direcção à mãe.

«Toma lá — disse a mãe, quase sem olhar a criança, é que os sacos estariam mesmo a levar-lhe as forças todas  —, anda p’ó carro.» E a criança lá foi, andando muito lentamente, atrás da mãe.

Oportunidade perdida, pensei eu. Naquele contexto, teria sido fácil a mãe reagir assim ao grito de aflição da criança: «Vai apanhá-lo, ele não sai dali, não há perigo dos carros, não tenhas medo… Já está?... Boa! Assim é que é! Valente!»

É, valentes são as meninas e os meninos se os pais lhes dão oportunidade de porem em acção a sua valentia. Desta vez, a mãe não deu essa oportunidade; e o comportamento da criança mostrou-me que não foi a primeira vez que não recebeu da mãe a palavra e o estímulo de confiança que ela, criança, precisava — e gosta de receber.


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