quarta-feira, junho 23, 2021

OS VALORES DA EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO DOS VALORES, N.º 2

OS VALORES DA EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO DOS VALORES, N.º 2

Os tipos de amor: benevolente, por dever e sufocante.

Falando com uma colega ao telefone, soube que há poucos dias, num conselho de turma, uma professora propôs que fosse indicado para o Quadro de Valor da escola um aluno que, no seu entender, mostrava mérito para tal.

O Quadro de Valor, nas escolas do ensino público, reconhece os alunos que, individualmente, revelaram atitudes de superação de dificuldades, tomaram iniciativas ou realizaram acções exemplares na escola ou na comunidade, ou se destacaram como representantes dos alunos pelo seu sentido de dever, responsabilidade, justiça e equidade… e por aí adiante, revelando comportamentos/desempenhos exemplares unanimemente reconhecidos por todos."

Dizia a minha colega que, ao longo dos 2 anos em que tinha sido professora de Cidadania e Desenvolvimento, pudera observar as permanentes iniciativas de um dos seus alunos no sentido de ajudar, não apenas um colega com diagnóstico de perturbação psicológica, mas também outros colegas, em quaisquer circunstância das aulas ou do convívio informal na escola, sobretudo se estava em causa a expressão de intranquilidade pessoal, insegurança ou alguma ansiedade disruptiva. O rapazinho sempre agia com muita paciência, tolerância, cordialidade e carinho. O seu sorriso e a calma na voz tinham efeito apaziguador imediato, disse-me a minha colega. Nunca, em caso algum, o rapazinho agiu com força física ou voz autoritária.

Ora, a generalidade dos colegas (um ou outro, não) comentou no sentido do que a tradicional ambiência judaico-cristã ou católica-apostólica-romana nos põe a dizer: o aluno não fez mais do que a sua obrigação.

Penso que este é um bom exemplo do amor por dever, segundo as categorias de June Bingham. É, diz-me a minha percepção profissional, o tipo de amor ainda dominante nos professores.

Quanto aos pais, penso que se se repartem mais igualitariamente pelas 3 categorias, e tenho a percepção de que nos casais jovens cresce — ainda bem! — o número de pais de amor benevolente (muitas vezes em reacção ao amor por eles mesmos recebido enquanto filhos).

Mas também parece crescer o número de pais que não entram nestas 3 categorias, simplesmente porque, de todo, não amam: é o desamor, é a rejeição, é a indiferença.(1)

Imaginamos escolas para o século XXI, deleitamo-nos com as maravilhas dos recursos digitais e fabricamos maravilhosos projectos de aprendizagem mista (presencial e à distância); e estamos cada vez mais distantes das atitudes, dos comportamentos e das estratégias pedagógicas que alimentam a boa pessoa da criança e do jovem.

Noutros textos que tenho escrito tenho procurado dar exemplos de como pode ser tão fácil educar uma criança.

Muitos professores são lestos a marcarem faltas de castigo, a mandarem os alunos para fora da sala de aula e a levantarem processos disciplinares aos alunos; mas até os caracóis são mais rápidos que os professores a levantarem processos de louvor aos alunos.

O bem puxa o bem, o bom leva ao bom — é preciso que pais e professores não se esqueçam desta tão óbvia evidência. É sempre assim, claro que não é! Mas experimentemos todos a prodigalizar a palavra de louvor e o gesto de apreço aos nossos filhos e alunos que vamos todos ver se a estatística dá ou não dá razão e esta minha asserção.

Se a Escola e a Família marcam passo, o Desporto vai um pouco mais adiante: já há alguns anos, o Instituto Português do Desporto e da Juventude lançou a iniciativa do Cartão Branco, "um recurso pedagógico que visa enaltecer condutas eticamente corretas, praticadas por atletas, treinadores, dirigentes, público e outros agentes desportivos." Tem sido muito usado - sim, muito - sobretudo nas camadas mais jovens dos praticantes do desporto, seja individual ou colectivo; seja de entretenimento ou de competição.

Um forte abraço ao @João Capela!

(Espero vir a falar, sem que passe muito tempo, em amor e educação; amor benevolente; amor por dever; amor sufocante)
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(1) Como alguns de nós, psicólogos e educadores, temos dito, o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença, a indiferença afectiva.

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