sábado, junho 05, 2021

À VOLTA DOS AFECTOS: MULHERES E CADELINHAS; LIVROS E AMIZADES

 À VOLTA DOS AFECTOS: MULHERES E CADELINHAS; LIVROS E AMIZADES


Decido, por impulso, fazer um 'raid' aos alfarrabistas de livros da Baixa.

À hora do café da meia-manhã, entro num pequenino estabelecimento. À minha esquerda, apoiando-se no balcão, um cliente saboreia a imperial atravessada, não sei se seria a primeira.

À porta eu desviara-me dum pequeno cão, peludo de preto e branco. Recebo o café e, enquanto lhe dou as mexidelas automáticas com a colher (não ponho açúcar no café), o cãozinho, de rabito a abanar, aproxima-se de mim, cheira-me o sapato, eu faço-lhe uma festa. O pequeno peludo abana mais a cauda, está a gostar das festas.

Olho o circunstancial parceiro de café, ele sorri-me e diz-me: «Ela é assim dada, gosta de festas.» Pronto, afinal, ele é ela. Ainda bem que não disse nada, não fosse ofender a feminina sensibilidade de quem tão alegremente se sacudira aos meus afagos.

A cadelita, ao ouvir a familiar voz, chega-se à perna do dono, que então se baixa para também lhe fazer festas. Fala com ela, diz coisas que eu não consigo apanhar: «Tu, logo... amanhã vais... na segunda ficas...» Bem, fiquei com a ideia de que iria mandar cortar o pêlo à cadela e pô-la com ar fresco e bonito, o Verão está a chegar.

Levanta-se e encosta-se de novo ao balcão, fala para o empregado, que é-lhe seguramente pessoa familiar. Ri-se e parece dizer um segredo ou fazer uma revelação: «Não tenho nada contra as mulheres, mas esta bate-as todas...» Ninguém comenta, numa espécie de diplomático "Quem cala consente"; e o dono da cadelita fica contente.

Por momentos tomo consciência do complexo mundo dos afectos: os afectos dos seres humanos entre si e os afectos dos seres humanos com os animais.

Já estou quase a entrar no primeiro alfarrabista, ali a começar a Calçada do Duque. Nem um minuto passara lá dentro e o livro que eu mais desejava encontrar, neste ou noutro alfarrabista, quase se escancara à minha frente: revisão de 1976 da tradução francesa de 1947 do original alemão de 1921 - é isso, exactamente de há 100 anos. 5 euros, só!

Saio para outras capelinhas, faço um círculo. Na última, saciada a fome de livros, chega-me a outra. O simpático alfarrabista aconselha-me as bifanas ali mesmo ao virar da esquina, na Rua do Duque. Acabo por preferir o prato do dia, os chocos à Lagareiro. Que boa opção fiz!

Confortado de ambas as fomes, já a descer as escadinhas ao pé da tasca da Ginginha, cruzo-me com a minha querida amiga Tânia. Não estivemos de modas: 3 valentes abraços, entre conversas de matar saudades e anunciar projectos. Sim, 3 abraços, três, os das contas que Deus fez; e a gente não sabe quando daremos o próximo, por isso, há que aproveitar.

Tânia, já tomei nota do dia de te desejar muita merda: 16 de Julho, certo? Beijinho grande! 

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