quarta-feira, junho 16, 2021

AS AULAS DE PSICOLOGIA, A EDUCAÇÃO, OS NETOS E OS AVÓS

 AS AULAS DE PSICOLOGIA, A EDUCAÇÃO, OS NETOS E OS AVÓS

A acabar as aulas, impressionante este testemunho de um muito querido aluno. É o último capítulo do seu trabalho monográfico de Psicologia.

Um precioso alerta para todos nós, para as relações humanas que cultivamos uns com os outros.

"Durante este trabalho, consegui aprender imensas coisas novas sobre o meu sujeito monográfico, sobre mim, e sobre as pessoas com quem vivi a minha vida toda. E essa foi a parte mais impressionante do trabalho todo. Por um lado, pode ser fascinante, mas, por outro, preocupante, no sentido em que precisei de compor um trabalho na escola para ficar a conhecer e a interessar-me pelas pessoas com quem me dou todos os dias.

Eu gosto de pensar que sou uma pessoa muito positiva e que não se preocupa com quase nada, porque eu não gosto de ficar horas a fio a pensar numa coisa estúpida que fiz há mais de 10 anos atrás.

E foi com esta mentalidade que comecei este trabalho monográfico, ia perguntando algumas histórias, mas não estava muito interessado em acabá-lo porque sabia que tinha um ano inteiro para o acabar. Foi durante uma história de quando o meu sujeito era pequeno e se tinha magoado muito a subir a uma árvore que me lembrei da minha avó materna. Por muito que a minha avó materna não interesse muito na história de vida do meu avô, influenciou-me muito enquanto autor e na maneira como acabei por realizar o trabalho.

A minha avó materna, desde que me lembro, sempre foi muito infantil e brincalhona e adorava-me porque eu era [uma pessoa] igualzinha a ela. Ela adorava os meus abraços. Todos os domingos tínhamos de ir a casa dela, que fica a uns 200 metros de nossa casa, para tratar da sua medicina e sempre achei uma seca. Afinal de contas, sempre tomei a minha avó como garantida, no sentido em que sempre estaria ali para brincar e rir-se das minhas piadas.

Quando começou a história da covid-19 e do confinamento, a minha avó continuava a mesma de sempre, sem perceber a situação em que estávamos. Pedia-me os meus abraços de sempre, mas eu, como tinha medo de a infetar, dizia para ela esperar até esta maluquice acalmar. Havia imensas coisas que, por muito más que fossem, me irritavam, como a relação difícil que tinha com a filha, a minha mãe, e da maneira como fazia infantilidades que não lembravam a ninguém.

Ela teve de ser operada ao estômago, antes da Covid, porque estava com problemas de saúde, e como a operação não correu muito bem então tiveram de agendar mais uma para outra vez. Infelizmente como os hospitais estavam muito ocupados com a Covid, porque estava na pior fase, estavam sempre a adiar quaisquer cirurgias ou problemas não relacionadas com a Covid.

Num dia como todos os outros, enquanto estava em casa do meu pai a jogar videojogos, recebo uma chamado do meu pai a avisar-me que a minha avó tinha falecido. Não me abalou muito ao início porque pensei que a morte era uma coisa inevitável.

Porém, depois quando a minha mãe me avisou que ela tinha morrido sozinha no seu apartamento, as memórias do quanto eu me podia ter dado melhor com ela, e que devia ter-lhe dado aqueles abraços, vieram. Decidi que não quereria cometer de novo este erro e que me iria esforçar mais para conhecer os meus avós paternos.

Foi uma parte muito importante enquanto trabalhava porque me lembrava que fazia o trabalho não só pela nota, mas também por mim.

Obrigado a todos os que participaram neste trabalho de alguma forma."

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