ESPLENDOR E SOMBRA SOBRE A EUROPA, 3/12
«SE FOSSE PARA REFAZER, COMEÇAVA PELA CULTURA»,disse um dia Jean Monnet, um dos pais fundadores do ideal da União Europeia; e também da sua realização concreta.(1)
É, num certo sentido, o primado da Cultura que marca a diferença entre os sentimentos da 1.ª Grande Guerra e os da 2.ª. De 1945 até agora, será que soubemos recuperar a Moral e a Cultura? Penso que, infelizmente, muito tristemente, não... Vamos cruzar os braços? Eu não vou!...
«Para marcar bem a diferença entre a atmosfera espiritual da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, é sempre obrigatório sublinhar que, naquela época, os países, os dirigentes, os imperadores, os reis, criados numa tradição de humanidade, ainda tinham no seu subconsciente vergonha da guerra. Um após outro, qualquer país repudiava, como vil calúnia, a acusação de ser ou de ter sido «militarista e rivalizava com os outros para mostrar, para demonstrar, para esclarecer, para pôr em evidência que era uma «nação civilizada». Em 1914 tentava-se insistentemente mostrar a um mundo, que punha a cultura acima da força e que teria abominado como imorais as palavras de ordem de «sacro egoísmo» e de «espaço vital», que se reconhecia o valor universal das obras de espírito.»(2)
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(1) Muito recentemente (14ABR19), no semanal texto de opinião, no Diário de Notícias, o Professor Adriano Moreira, escreve assim:
«As alterações da soberania que na própria metade ocidental não têm deixado de encontrar dificuldades, e até humilhações, conduziram no leste a uma atitude também inspiradora dos populismos que ameaçam as próximas eleições, as quais, nas palavras de Marci Shore, consideram paternalismo ocidental o emaranhado de normativos, de centros de decisão que muitas vezes impuseram a autoridade técnica e científica como suficientemente legitimadora. A meio do trajeto, Jean Monnet - que seguira com atenção e intervenção a discussão sobre a marcha para a unidade da Europa, em que pairava a proposta de Aristide Briand, dos anos 1920, da criação dos Estados Unidos da Europa - concluiria nas Memórias que, quanto à sua participação, deveria ter começado pela cultura e não pela economia, para orientar os europeus na compreensão da necessidade da ação coletiva, sendo certo que já nesse tempo o Reino Unido se opunha a qualquer abandono da soberania.» https://www.dn.pt/edicao-do-dia/14-abr-2019/interior/as-fraturas-europeias-10789446.html?fbclid=IwAR0zsTkNhW9j2nFYA05-9e1hJDGqN5szFfo_wN95lcRuOeuiBebssw40s8Q(2) “O Mundo de Ontem, recordações de um europeu”, de Stefan Zweig, publicado pela Assírio & Alvim, reimpressão de 2017, p. 301.
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