sábado, abril 13, 2019

NÃO, EU NUNCA ABANDONAREI OS MEUS AMIGOS.

ESPLENDOR E SOMBRA SOBRE A EUROPA, 1/12
Romain Rolland

«NÃO, EU NUNCA ABANDONAREI OS MEUS AMIGOS.»

Sou um defensor “descarado” da participação activa dos cidadãos nas próximas eleições europeias, no final do próximo mês de Maio.

Não sendo possível trazer para aqui todo o “O Mundo de Ontem, recordações de um europeu”, de Stefan Zweig, vou trazer algumas das suas memórias-reflexões que considero especialmente emblemáticas. E porquê? Porque está em jogo, em estado muito crítico, o futuro da Europa (a Europa solidária, cooperativa, agregadora de esforços e recursos; e a todos beneficiando) - e o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos.

Terá a ver com a afirmação de que a História (não) se repete? Sim, tem a ver.
Terá a ver com a afirmação que diz que as sociedades têm memória curta das coisas? Sim, tem a ver.

Há cerca de 100 anos - estava-se em 1914-1915 -, ainda se pensava que a Guerra iria acabar depressa, Stefan Zweig(1), andando pelos 32 anos, escreveu um artigo, “An die Freunde im Fremdland”(2) (Aos Meus Amigos do Estrangeiro), que foi publicado no “jornal alemão mais lido”, o Berliner Tageblatt, que “não hesitou em publicá-lo na íntegra." Em 19 de Setembro de 1914.
Nesse artigo, ele, que, assim que a guerra começou, passou a ver os autores e os artistas, em geral, a abandonarem os amigos e conhecidos de outros países; e, consequentemente, a fecharem-se em círculos absolutamente nacionalistas, moldados pelos “valores” da guerra - ele, que tanta gente notável conhecera em tantas cidades europeias e tantos amigos fora fazendo, foi contra essa corrente e defendeu, no livro, a preservação da amizade além fronteiras.
“Oh, como sentíamos, nessa altura, que, graças ao amor e à confiança, a diferença entre os homens pudesse enriquecer o espírito e dar-nos um profundo sentimento de plenitude!”(3)
Stefan Zweig ficou espantado com a publicação do seu texto, já que não tinha esperança que fosse aceite fosse por que jornal fosse. No Berliner Tageblatt uma única frase foi vítima de censura - «seja para onde que a vitória se incline» - "porque na época não era permitido ter a mínima dúvida de que a Alemanha seria a natural vencedora dessa guerra mundial." Ignorado, desprezado, ostracizado, repudiado na pátria da língua alemã (Áustria e Alemanha), pelo que escreveu, Stefan Zweig acaba por receber, “quinze dias mais tarde”, de um autor francês que ele muito admirava, e de quem era muito amigo - Romain Rolland -, a seguinte e muito significativa saudação, n' "uma carta com selo suíço e ornamentada com o carimbo da censura": «Non, je ne quitterai jamais mes amis.»"(4)
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(1) austríaco, de origem judia.
(2) https://www.asymptotejournal.com/nonfiction/stefan-zweig-to-friends-in-foreign-land/german/ ; tradução inglesa: https://www.asymptotejournal.com/nonfiction/stefan-zweig-to-friends-in-foreign-land/
(3) "Oh, wie spürten wir damals dass Fremdheit der Art durch Liebe und Vertrauen unendliche Befruchtung des Geistes werden kann und ein Gefühl der Geistesfülle!" ( http://docnum.univ-lorraine.fr/public/UPV-M/Theses/1999/Zarini.Marie_Emmanuelle.LMZ9911.pdf , p. 275)
(4) As citações de que me sirvo foram retiradas de “O Mundo de Ontem, recordações de um europeu”, de Stefan Zweig, publicado pela Assírio & Alvim, reimpressão de 2017.
Nota: a fotografia é de Romain Rolland.

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