sexta-feira, abril 19, 2019

O DESAFIO DO "ESCOLA EMBAIXADORA DO PARLAMENTO EUROPEU"

ESPLENDOR E SOMBRA SOBRE A EUROPA, 4/12

O DESAFIO DO "ESCOLA EMBAIXADORA DO PARLAMENTO EUROPEU(1)
agrega, no seu 3.º e último ano de existência, a vontade e o empenho de alunos e professores de mais de 100 escolas portuguesas. Visa vencer as visões restritivas dos nacionalismos, valorizar adequadamente as identidades específicas dos patriotismos; e cultivar a sabedoria da colaboração e inter-ajuda entre as nações, tomadas como irmãs em direitos e deveres.

Há cem anos, cidadãos europeus pensavam inteligentemente, sabiamente; e por isso temiam... Infelizmente, a 1.ª Grande Guerra, e depois a 2.ª, deram-lhes razão. Stefan Zweig escreve assim nas suas memórias autobiográficas, em pleno conflito 1939-1945. São palavras que trazem conselhos, que trazem avisos. Por exemplo, que são as forças de conciliação que precisam da nossa dedicação, não as que atiçam o ódio.

«À primeira vista reconheci nele — e o tempo veio dar-me razão — o homem que viria a ser a consciência da Europa na hora decisiva. Conversámos sobre Jean Christophe. Rolland explicou-me que, com essa obra, tinha tentado cumprir uma tripla obrigação: agradecimento à música, declaração de fé na unidade da Europa e apelo à consciência dos povos. Todos nós deveríamos agora agir, cada um no seu posto, cada um a partir do seu país, cada um na sua língua, pois era altura de estarmos vigilantes, cada vez mais vigilantes. A seu ver, as forças que atiçavam o ódio eram, em consonância com a sua própria natureza inferior, mais veementes e agressivas do que as da conciliação, havendo também por trás delas interesses materiais que eram, eles próprios, menos escrupulosos do que os nossos. O absurdo tinha obviamente metido mãos à obra, e lutar contra ele era até mais importante do que a nossa própria arte. Senti a mágoa pela fragilidade estrutural do nosso mundo refletida de forma duplamente comovente naquele homem que celebrou a eternidade da arte em toda a sua obra. «Ela pode aliviar-nos, a cada um de nós em particular», respondeu-me, «mas nada consegue contra a realidade.»
Isto passou-se no ano de 1913. Foi a primeira conversa que me mostrou ser nossa obrigação não ficarmos desprevenidos e inativos perante uma guerra europeia que era, apesar de tudo, possível; no momento decisivo, nada deu a Rolland uma tão enorme superioridade moral sobre todos os outros como o facto de já ter podido fortalecer com antecedência a sua alma dolorida.»(2)
Anos depois das memórias de Stefan Zweig, Jean Monnet escreveu assim, ao mesmo tempo um aviso e um repto:
«Si je suis convaincu, alors je fais de mon mieux pour convaincre les autres, mais pas à la légère. Je me concentre, et je pense que si je n’étais pas moi-même convaincu, je n’agirais pas.»(3) 
(Se estou convencido, então dou o meu melhor para convencer também os outros, mas não impensadamente. Concentro-me, e penso que, se eu próprio não estivesse convencido, eu nada faria) 

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(1) "O Parlamento Europeu lançou um programa pedagógico intitulado "Escola Embaixadora do Parlamento Europeu", em todos os 28 Estados-membros. 
Esta iniciativa que tem a ambição de investir na consciencialização dos jovens sobre as possibilidades que lhes oferece a sua cidadania europeia, bem como sobre o papel que o Parlamento Europeu desempenha no processo de decisão europeu e por conseguinte nas nossas vidas quotidianas, terá uma duração prevista de três anos letivos: 2016-17, 2017-18 e 2018-19." (seg. Ana Maria Antunes Vieira)
(2) “O Mundo de Ontem, recordações de um europeu”, de Stefan Zweig, publicado pela Assírio & Alvim, reimpressão de 2017, p. 242. 
(3) https://dicocitations.lemonde.fr/citations/citation-60024.php

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