21 de Agosto de 2007, terça-feira (3.º dia)
Programa proposto:
Day 3:
Ngorongoro Crater Tour
(Ngorongoro–Arusha - 190km about
3:30hrs)
Depart with
packed breakfast drive to Ngorongoro Crater for a
half day Crater Tour.
Drive back
to Kiboko Tented Camp for late lunch, after lunch drive back to Arusha for dinner and
overnight at SINKA COURT HOTEL
Acordamos às
05h30, ainda era escuro e, claro!, o gerador eléctrico não funcionava. Tivemos
de usar os frontais dentro da “tenda” para conseguir alguma orientação no
escuro de breu. A Isabel, corajosa, conseguiu sozinha
e no escuro chegar primeiro que todos ao pequeno-almoço. Só depois começou a
alvorecer.
Às 07h35
partimos para a visita à Cratera do Ngorongoro. A manhã apresentava-se cinzenta,
o céu ameaçava chuva, e à medida que íamos subindo para a boca da cratera o
nevoeiro cerrava e não nos deixava ver a beleza da paisagem.
[Contar
episódio do Luís, na recepção do Parque, em que perdeu a carteira]
[Contar
episódio do miúdo americano que foi muito solícito para tirar uma fotografia ao
grupo; mas que não deixou que o fotografássemos]
Logo depois,
às 07h48, passámos o Ngorongoro Gate.
[Contar
episódio em que o Fernando tentou mijar atrás de um arbusto e foi logo avisado
pelo Eliezer]
O Eliezer explica-nos que “ngorongoro” é o nome do
badalo das vacas dos Maasai. Quando começámos a descida
para a cratera o tempo abriu e possibilitou-nos termos a noção da enormidade do
espectáculo. No interior, a imensidão de uma planície gigantesca, a perder da
vista, rica de animais, os mais variados, tal como ontem. Já se tem considerado
que este local encerra a maior concentração de vida selvagem do mundo: inúmeras
espécies de aves, predadores (como os leões, e as hienas), animais de grande
porte (elefantes, rinocerontes, hipopótamos, búfalo africano), necrófagos
(exemplo: abutres), manadas de herbívoros (gnus, zebras…), delicadas e ágeis
gazelas, pitorescas famílias de javalis; e os impagáveis diversos grupos de
macacos: ora dolentes, ora determinados, quase sempre divertidos.
Não é fácil,
na circunstância destes safaris feitos à medida de pequenos grupos de turistas,
observarem-se as imagens dos documentários especializados da National Geographic, que nos mostram a
violência da predação e das relações bióticas entre as diferentes espécies
animais. Eventualmente o acaso da
sorte traz um desses momentos de espectáculo, mesmo que sem grande dramatismo. Mas
às vezes com o dramatismo todo! Foi o caso, por exemplo, do que, algures, também
em África, um pequeno grupo semelhante ao nosso pode testemunhar, que envolveu
na luta pela água e pela
sobrevivência, uma cria de búfalo, um grupo de leoas (que avançavam para a cria
em caça organizada), um crocodilo (que irrompeu da água num ataque invisível e
explosivo à mesma cria de búfalo); e ainda a manada de búfalos a que a cria
pertencia, na hora em que os animais se aproximam dos charcos para matar a
sede.
A cria, apanhada
por uma das leoas, reagiu, esperneou, lutou pela vida; e a certa altura
conseguiu mesmo escapar-se dos caninos da leoa que a prendia. Mas, ali à borda
da água, cai logo presa nas mandíbulas ainda mais mortíferas do crocodilo.
Continua a lutar, o pobre animal. Entretanto, os búfalos, que tinham começado
por pôr-se em fuga ao primeiro ataque das leoas, eis que voltam! A leoa e o
crocodilo disputam o infeliz, mas esforçado, pedaço de carne juvenil, à beira
de esgotar as forças. Os búfalos voltam numa imagem impressionante. Estão todos
cerrados uns contra os outros. Formam uma massa larga de patas poderosas e
cornos ameaçadores. Resfolegam e reclamam o pequeno ser que lhes pertence. Quando
seguramente já resistia com as derradeiras energias, a pequena cria – Oh,
milagre! - consegue soltar-se das mandíbulas que procuravam impor a lei do mais
forte. E eis que escapa!... no instante, no único pedacinho de tempo viável,
suficiente para que naqueles corpos enormes colados uns contra os outros, que
desenhavam uma impressionante força colectiva em movimento uníssono, não se
sabe como, se abrir um buraco, por onde a cria, esgotada de tanto esforço
merecedor de vitória – Sim, aquela cria ali ganhou o direito de viver!... –,
entrou e se perdeu (ou melhor, se ganhou), no meio de tantos corpos iguais ao
seu, solidários com ela, como todos gostaríamos de sentir muitas vezes da parte
dos da nossa própria espécie.
Esta
ocorrência está já há vários meses no site
do nosso projecto, que tivemos a felicidade de conhecer por indicação
oportuna da nossa amiga João Cordeiro, que segue, nos Estados Unidos, o
projecto do Kilimanjaro desde a primeira hora.
Almoçámos, por volta das 13h00, uma
pequena refeição volante, que nos tinha sido fornecida no Lodge. Parámos o jeep
junto a um pequeno lago repleto de hipopótamos. Foi o momento e o local em que
nos confrontámos com a maior concentração de pessoas, turistas, na sua maior
parte; e um grupo de estudantes e professores, certamente em visita de estudo.
Ou seja, aquele local era como se fosse a estação de serviço em que o motorista
de longo curso estaciona para a pausa de descanso, a meio da grande viagem.
Sem qualquer
esforço, quase que por atracção natural, instintiva, o nosso grupo encontrou-se
junto do grupo escolar; pouco depois, o Fernando falava já com os professores, completamente
rodeado de alunos, que observavam tudo em grande silêncio, provavelmente sem
perceber qualquer palavra trocada entre os seus professores e os professores
que eles não sabiam que o eram também. A certa altura, trocavam-se moradas, e prometiam-se
contactos futuros.
Não quisemos
perder a oportunidade de contactar directamente com os alunos que, fardados,
todos por igual, com a farda que o anfitrião, que na véspera cantou para nós,
não pode comprar para os seus irmãos, por isso se vendo obrigado a tirá-los da
escola[1],
continuavam a olhar-nos em silêncio, não ousando qualquer gesto ou passo que
pudesse ser alvo de censura de algum dos professores. Avançámos, então, nós
para eles.
O Fernando levava, pendurado ao pescoço, o seu pequeno
par de binóculos e apercebeu-se da curiosidade que os rapazes, que fixavam os
olhos nesse pequeno equipamento pessoal. Tirou os binóculos do pescoço e
estendeu-o para as mãos dos rapazes que estavam mais próximo. Eles esperaram
ainda por um sinal dos professores que lhes permitisse aceitar o convite que o
Fernando lhes estendia. Pouco depois, como nos habituámos a dizer na gíria da
formação dos professores, “quebrou-se o gelo”. Os professores também queriam espreitar
pelos binóculos. Disponibilizámos-lhes outros binóculos e, pouco depois, ouvia-se
já a voz de muitos dos alunos; o Man’el e a Cristina assumiram a sua condição de professores e
distribuíam, como podiam, indicações para o uso adequado dos binóculos. Estávamos
encantados com o encanto das crianças por aquele bocadinho tão cheio com tão
pouco!
O tempo não dava
para mais. Tiraram-se fotografias, renovaram-se promessas de contactos futuros,
desejaram-se felicidades no futuro e fizeram-se despedidas[2].
Depois de
almoço, afinal, sempre fomos presenteados - fomos deliciosamente
surpreendidos!... - com a tal cena “à la National Geografic ”.
Inclusivamente, tivemos a felicidade de a registar num pequeno documento vídeo[3]!
Não houve, até agora, dia que esse espírito mágico do Kilimanjaro não nos presenteasse com alguma coisa que nos
fizesse sentir ali como desejados e bem-vindos! Outro momento a trazer-nos a
pitada que acentua o sabor da vida selvagem, na sua pureza e na sua
espontaneidade.
Quando estávamos
parados, fosse por que razão fosse, olhando, de pé, à volta, apareceu, no meio
do capim, um pequeno felino, que deduzimos tratar-se de uma fêmea porque trazia
pendurada na boca uma ainda mais pequena cria. As passadas eram firmes, mas o
animal parecia deslocar-se em movimentos ziguezagueantes, como se não soubesse
bem para onde quisesse ir.
Não
identificámos o animal logo ao princípio. Só pouco de pois o Luís pôs o grupo a pensar no animal,
identificando-o claramente: tratava-se de uma fêmea cerval. Hipotetizámos que a mãe
procurava um lugar para pousar a cria em segurança. Pouco tempo depois de o
animal atravessar o caminho mesmo à nossa frente, continuando, do outro lado,
com o mesmo tipo de comportamento, vimos uma hiena aproximando-se de nós pelo mesmo caminho do
cerval. Vinha devagar, de focinho empinado, farejando o ar. E acabou por
atravessar o caminho bem perto do sítio onde, momentos antes, a mãe passou o
filhote, à procura de esconderijo.
O relógio
marcava 15h26 quando saímos do parque. Nesta altura, o dia estava lindo, cheio
de sol.
De regresso a Arusha, constatámos que dispúnhamos
de tempo.
Primeiramente,
tempo para procurar numa casa de comércio à beira da estrada, souvenirs Maasai, de origem de
confiança, segundo as palavras do guia e motorista Eliezer. A seguir, tempo para outra
paragem para “negociar” a compra de mais do verdadeiro artesanato Maasai,
Depois,
quisemos tomar contacto mais de perto com as gentes locais, mesmo que isso não
estivesse previsto na programação de actividades contratada com a agência.
Insistimos com o Eliezer para parar numa das aldeias por onde
passássemos. Diga-se, em abono da verdade, que não foi preciso insistir muito.
Ele era uma pessoa delicada e dócil; e nós éramos um grupo cordato, de trato
fácil e amigável. Ele só queria encontrar um local que fosse absolutamente
seguro para os seus passageiros e para o próprio veículo. Pouco depois
estávamos numa “esplanada” a beber uma cerveja.
A conversa fez-nos saborear o tempo. A certa altura, “coscuvilhávamos” o que à
nossa volta as pessoas bebiam e comiam. Não deixámos de ser premiados no nosso
esforço: acabámos por tomar contacto – o primeiro - com uma das especialidades gastronómicas
locais em gastronomia – o ungali –,
que um grupo de homens, certamente habitantes locais, comia numa mesa ao lado.
Tratava-se de uma farinha branca que eles enrolavam com molho e pedaços de
carne e comiam com visível prazer. Ficámos curiosos e desejosos de
experimentar. Por isso, quando chegamos ao hotel – o mesmo do primeiro dia –
resolvemos experimentar a especialidade já nessa mesma noite. Provámos ungali
com carne de porco, de galinha, com bife, com peixe, etc. Foi uma novidade;
agradável para uns, sensaborona ou decepcionante para outros.
De qualquer
maneira, o dia ficou ainda marcado por duas outras ocorrências merecedoras de
relato.
A primeira,
aconteceu por volta das 17h40. Já em estrada asfaltada, num longo pedaço de
recta que subia lentamente, uma, depois outra; e finalmente uma terceira
girafa, atravessaram, no seu passo característico, a estrada, lá quase no topo
da lomba. Em contra-luz, os corpos esguios em passada lenta e cadenciada,
desenhavam figuras negras que se moviam contra o alaranjado cada vez mais forte
que vinha dos lados do monte Meru, deixando-nos presos do fascínio daquele
quadro belo e inesperado.
A segunda
ocorrência fez-nos registar no caderninho de apontamentos: 18h15. E conta-se em
duas palavras: lá ao longe, a caminho de Arusha, surgia aos nossos olhos,
magnífico, na silhueta que desenhava quase no horizonte pinceladas enérgicas de
branco brilhante, o Kilimanjaro. Parecia que aparecia para
nos perguntar: Então, que tal?...
Gostaram das coisitas que vos preparei?... Sei onde vão amanhã. Força!... Vou
ficar muito contente em ter-vos bem perto. Boa sorte! Que tudo vos corra
bem!...
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