25 de Agosto de 2007, sábado (7.º dia)
Programa proposto:
Day 7: The
moor lands soon come to an end and the rocky path leads amongst outcrops to the
Lava tower (this is optional if one not taking western breach) where there are
good campsites (4600m, 5 hours) then continue to Barranco hut (3900m, 2hours).
Dados da expedição para este dia:
·
Ponto de partida:
Shira Camp 2 (3850 m)
·
Ponto de chegada:
Barranco Camp (3950 m)
·
Progressão em
altitude: 100 m
·
Distância percorrida:
6 km
·
Tempo de
caminhada previsto: 8 horas (real: 08h32)
Condições do dia:
·
Nascer-do-sol: às
07h10, já com o céu muito claro, vimos o sol aparecer pelo lado esquerdo do Kilimanjaro, a partir do ponto mais baixo visível, que sobe
suavemente até ao topo
·
Temperatura: na
tenda, não medida; no exterior: 0º C
·
Condições de
tempo: céu limpo; algumas nuvens, muito finas, espalhadas, longe umas das
outras; não há vento
A alvorada hoje
foi às 06h30, o chá às 07h00, e o pequeno-almoço às 07h30. Saímos do
acampamento às 08h22. A temperatura, entretanto, subiu para os 10º C.
Confirmam-se os
indícios de planeamento e regulamentação das actividades com os grupos de
turistas e montanheiros. Os guias e os carregadores, gente simples, pobre –
sim, gente pobre; muito pobre -, são muito zelosos e cumpridores. Não lhes
podemos chamar profissionais. Não o são, nem de perto, nem de longe. Só os
guias possuem uma certificação oficial. Nas atitudes dos guias e das equipas de
carregadores notamos que a sua relação com os turistas é regulada por
princípios e normativos profissionais que visam proteger as pessoas dos
turistas e proteger também as condições ambientais. Sentirmos isso faz-nos
sentir em segurança, faz-nos ter respeito por eles; faz-nos pensar que o
Kilimanjaro, no que deles depender, terá vigor e saúde por muito tempo.
O respeito que
os guias e carregadores têm pelos turistas não é reverencial, nem subserviente.
E isso torna-os muito dignos aos nossos olhos. Na verdade, não aturam
complacentemente tudo aos montanheiros, são educadamente e discretamente firmes.
Todos os visitantes da Montanha deverão cumprir regras de boa utilização
daquele ambiente magnífico (por exemplo, quanto aos lixos e à satisfação das
bem humanas necessidades fisiológicas para eliminar do interior do corpo as
substâncias líquidas e sólidas residuais do metabolismo de assimilação de
alimentos… Uf! Que eufemismos!... Será do respeito pela Montanha que nos penetra
cada vez mais até aos ossos?). É verdade, não é qualquer moita ou chaparro que
serve para o que costumamos fazer no campo. E – atenção! – eles, os guias e os
carregadores, são os primeiros a dar o exemplo.
Também as
estruturas que sinalizam os caminhos de ascensão ao topo do Kili revelam o planeamento e a organização. O mais
engraçado de todos – pelo menos, na rota que fizemos – é capaz de ser o que
mostramos na seguinte fotografia. Dispensa palavras, naquele ermo longínquo e
de acesso muito difícil.
A progressão em
altitude prevista para este dia é enganadora. Na verdade, o percurso prevê a
ascensão até aos 4600 m, só depois descendo à altitude de Barranco Camp. A
acentuar as dificuldades do dia, o valor da altitude a que efectivamente já nos
encontramos, ou seja, ronda já os 4000 m. O percurso será difícil com subidas
prolongadas, sempre em grande altitude, fazendo-nos tomar contactom mesmo que
de mansinho, com os sintomas para que estamos bem avisados: dificuldades
respiratórias e dores de cabeça. A vegetação é rasteira e a progressão será
feita em passo lento.
Nem a beleza da paisagem conseguia fazer esquecer os efeitos
da altitude, especialmente sentidos pela companheira Cristina.
Só para se ter
uma ideia das diferenças no ritmo de progressão durante o dia de hoje, veja-se
o seguinte: às 09h27, uma hora depois de termos iniciado a ascensão de hoje,
atingimos os 4000 m. Quer dizer, subimos 150 metros; mantínhamos uma cadência
de passada de 57 passos por cada minuto. À tarde, por volta das 13h15, ainda a
subir para Lava Tower, a cadência mantinha-se nos 58 passos por minuto. Às
16h00, depois de escalarem a Lava Tower, os rapazes desceram para Barranco Camp
com uma cadência de 110 passos por minuto!
09h55. Atingimos os 4100 m. A temperatura é de 14º C. Fizemos uma pausa
de descanso, praticamente à mesma altitude, às 10h30.
O almoço
decorreu já depois da intersecção com a Machame Route, um outro percurso
alternativo de aproximação ao Kilimanjaro. Aqui, a Cristina, sentindo-se bastante
afectada pela altitude com dores de cabeça, mau-estar e náuseas, resolveu tomar
um comprimido de Diamox que é
referido em vários sites como redutor dos sintomas negativos da altitude. Verificou-se
que, pelo contrário, não só os sintomas se agravaram ao longo da tarde como ficou
num estado febril.
Intersecção da Lemosho Route com a Machame Route. |
13h13. O céu
continua limpo e a temperatura está nos 16º C. Retomámos o caminho para Lava
Tower. O grupo iria separar-se. As meninas, com o guia Augusto, seguiriam directamente para
o acampamento de Barranco Camp; e os rapazes, com o guia António, seguiriam para escalar a
“Lava Tour”, a 4600 m de altitude. A escalada era difícil, mas presenteou os
corajosos “alpinistas” com uma vista soberba sobre o Barranco Valey. Chegaram
ao topo da Lava Tower às 14h10.
Desceram daquela
bem vertical irrupção rochosa e voltaram a pegar nas mochilas que tinham largado
praticamente na base da Torre, para o assalto final ao topo da mesma, à força
de pernas e mãos.
Outra vez na
base, aproveitando um tempo de descanso, o Fernando foi fotografar os primeiros, ainda bem
fraquitos, pedaços de neve velha. O Man’el e o Luís entretiveram-se a “espremer” o António com a tradução para swahili de palavras e
expressões verbais para a canção que temos todos andar a congeminar.
Lava Tower. Lá em cima chegamos aos 4600 m. Desde a base, são à volta de 100 m que se erguem abruptamente |
As mochilas ficaram lá atrás. Agora, sobe-se "à felino", "a quatro patas". |
Com o esforço do António, a nossa canção vai tomando forma em swahili. |
Barranco Camp, como o vamos ver na manhã do dia 26. Ao fundo, o Monte Meru (cerca de 4600 m). De permeio, um mar de nuvens que apetece pisar para lhes sentir a suavidade. |
A Isabel está aparentemente bem e com mais coragem. A
Cristina, pelo contrário, está adoentada e, para cúmulo,
partiu um dente a comer pipocas (a exigir indemnização ou reposição do trabalho
clínico fracassado ainda em Lisboa). Após a lavagem habitual das mãos, jantou-se
sopa, guisado de legumes, panquecas, ananás e chá, no final.
Constituir este pequeno episódio
como tema de jornada justifica-se fundamentalmente como alerta para outros que
tenham oportunidade de uma aventura igual à nossa. Já se perceberá porquê.
Como já dissemos no apontamento que
deixámos sobre a nossa alimentação durante a ascensão ao Kilimanjaro, as refeições eram
condicionadas pelas necessidades específicas da actividade; pelas condições de
transporte e conservação adequada de produtos perecíveis; e pela conveniente
“ocidentalização”, de maneira a que fosse fácil a nossa adaptação à alimentação
que nos era oferecida.
Ora, hoje, depois do jantar, saímos
da tenda e, quando alguns de nós davam um pequeno passeio, demos de caras com
toda a equipa de apoio tomando o seu jantar. Reparámos que o que comiam era
muito diferente daquilo que punham na nossa mesa. Estavam a comer minúsculos
peixes secos, que faziam lembrar os nossos “jaquinzinhos”, que misturavam com o
tradicional puré branco antes de levarem à boca. Tivemos curiosidade de provar
e não nos fizemos rogados quando os nossos guias nos puseram a jeito de
experimentar. Sabia bem! E lamentámos que não tivéssemos contacto com mais
pitéuzinhos deste género…
Portanto, depois desta pequena
ocorrência, deixamos aqui a sugestão de, se possível, se tal não mexer com a
organização do projecto de subida ao Kilimanjaro, não deixem de coscuvilhar de
que é feita a alimentação da equipa de apoio, talvez seja possível provar
alguma coisa tradicional e saborosa.
Por conselho do
guia Augusto, a Cristina foi para a caminha com 2 Ben-urons e ficámos a
aguardamos as suas rápidas melhoras.
A deita foi às
20h30, em ambiência de nevoeiro.