quinta-feira, abril 01, 2010

A Páscoa, a partir da Horta, na ilha do Faial

O que de mais concreto tenho encontrado de sinais da Páscoa dos Açores, aqui na Horta, é... a notícia dos ensaios do meu querido amigo L.C., jovem quase guardador de rebanhos em tempo de férias escolares, que se prepara para participar numa representação pascal na sua terra. E não é cá! É noutra ilha, tão perto daqui e tão difícil de lá chegar!
E é o anúncio de um concerto de música clássica na igreja de S. Francisco, praticamente aqui à porta, onde, afinal, nunca entrei em quase 20 anos de constantes viagens aos Açores - só me falta pisar a ilha de Santa Maria, se tudo correr bem, será no próximo verão. O concerto é no sábado, de tarde, vou tentar ir. A entrada é livre.
De manhã, antes de entrar na padaria, fui à Biblioteca da cidade e pus-me à procura... Percorri lombadas, folheei algumas obras. Encontrei coisas, aqui e ali, sobre a Quaresma e a Pascoela; e assim que me parecia que ia encontrar uma descrição ou um estudo da Páscoa nos Açores, as descrições das celebrações do Espírito Santo sobrepunham-se e abafavam tudo o mais.
Apanhei um pequenino texto - muito engraçado!, vou relê-lo -, do séc. XVII, sobre os "impérios" no Faial, relatando acções muito empenhadas de irmãs religiosas. Os ''impérios'' parecem ser uma festividade de origem continental, talvez do Alto Alentejo.
Encontrei também um curiosíssimo texto, quase etnográfico, sobre uma Procissão dos Cornos (sim, leram bem, c-o-r-n-o-s), no Faial, em 25 de Abril de 1900, em que o autor quase pede desculpa de tão ímpia celebração. Mas, diz ele, ele não podia faltar à verdade.
Na padaria, onde fui depois, mais uma vez não encontrei nenhum bolo da época, o folar que lá se vende é igual ao de tantos outros no continente. Perguntei à senhora que me atendeu, que me confirmou que, não senhor, não há mais nada da Páscoa.
Na pressa da consulta na Biblioteca - em que nem os funcionários tinham ideia de qualquer obra sobre a época da Páscoa - apenas encontrei a versão açoriana de uma velha adivinha continental, em forma de quadra:

Nós somos sete irmãs.
Cinco justas e uma santa,
E a outra é tão pequenina,
Porque o riso a ataranta.

O que é?...

Claro!... As Semanas da Quaresma.
Já agora, alguém quer saber - ou quer explicar - porque é que uma delas "é tão pequenina porque o riso a ataranta"?

Páscoa feliz, saborosa de amêndoas e folares!

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