segunda-feira, junho 01, 2009

O Zé Geadas subiu à montanha.

Hoje de manhã, na escola, alguns alunos, cada um de sua vez, vieram ter comigo e disseram-me todos, mais ou menos assim: “Stôr, o Zé Geadas não ganhou. Votei nele, stôr, mas mas ele não ganhou, foi pena!...”

A todos, na pressa habitual dos intervalos das aulas, tentei dar uma palavrinha de conforto e de solidariedade; e até de agradecimento, vá lá saber-se porquê…
A dois ou três tive tempo de olhá-los bem nos olhos, pôr-lhes a mão sobre o ombro e dizer-lhes, de cara animada: “Foi bom, o Zé esteve muito bem… O Zé subiu à montanha!...”

Todos a quem disse isto franziram a testa, denunciando que se interrogavam sobre a minha resposta, que os deixava perante um mistério, ou qualquer outra coisa carregada de simbolismo. “Deixa, não te preocupes com isso – dizia-lhes eu -, vou falar disto logo no meu blogue, nessa altura vais perceber”.

Eu sou dos muitos da minha geração que viram, vezes sem conta, o “Música no Coração”.
O filme tem mantido sempre um efeito tal sobre mim, que - repito-o constantemente - quando puder partilhar com os meus colegas professores o que realmente gosto de fazer na formação dos professores, nessa altura darei um curso sobre pedagogia usando apenas as letras das canções do filme.
Mas, curiosamente, só agora traduzi uma das letras. E por causa de quem?... Adivinhem lá…

Como já disse noutro lado, na primeira semana de Maio recebi um grupo razoavelmente grande de professores e alunos de vários países da União Europeia, num encontro sobre educação intercultural. A minha mensagem de despedida aos jovens que participaram no encontro foi simplesmente a apresentação de um pequeno vídeo com uma única fotografia, que tirei nos Açores (tirei como gosto muitas vezes de fazer, esperando que o sol nasça lá ao fundo, no horizonte; desta vez, é o Pico que se vê, majestoso, como sempre!...), e sobre a qual escrevi o poema de um dos temas musicais do filme “Música no Coração”, tema que, entretanto, se ouvia em fundo durante a apresentação da mensagem de despedida.
Bem, o sucesso foi de tal forma grande que uma semana depois tinha esse poema traduzido nas seis línguas do projecto (espanhol, francês, grego, italiano, romeno e português; a língua original é o inglês), traduções mandadas logo na semana a seguir, de todos os países participantes! Nunca, em três anos do projecto se tinha conseguido fazer igual!

O que agora quero confessar é que a inspiração para esta forma de despedida veio-me da lembrança do Zé Geadas, das suas actuações no “Uma canção para ti”, dos apontamentos e dos comentários trocados nos blogues, e nas mensagens pessoais que surgiram entre nós. Dos sonhos que ele vai ter durante toda a sua vida.
Aqui deixo agora a fotografia, o poema, e a canção, tal como aparece numa das versões (versão original) do YouTube.
Sem mais palavras, que não sejam um grande abraço ao Zé, aos seus pais e ao seu mano.

Vai, sobe às montanhas, procura no topo e em baixo
Aproveita os atalhos, todos os caminhos que conheces
Sobe às montanhas, pula rio, ribeiro ou riacho
Até ao arco-íris, e lá os teus sonhos realizes.

Sonhos teus que vão precisar
de todo o amor que consigas dar
Toda a vida que levares,
Tantos os dias que viveres.

Sobe às montanhas, pula rio, ribeiro ou riacho
Até ao arco-íris, e lá os teus sonhos realizes.



5 comentários:

  1. Caro professor,

    é, de facto uma pena que o Zé Geadas não tenha ganho...mas com esforço e dedicação, todas as etrelas estão à distância de um abraço.

    Quando fala do meus textos, é, de facto com orgulho que recebo as suas respotas. No entanto, sinto-me mais previlegiado agora, que tive a oportunidade de ler os seus.

    E são belos. Sinto que correspondem ao que procuro: textos que não se baseiem em palavras bonitas, mas em sentimentos. E cada palavra do seu texto expressa um carinho enorme por esse jovem.

    Sinto-me também previlegiado por frequentar a Eça de Queirós, que brilha sob o céu azul todos os dias do ano, graças a professores como você.

    Abraços,
    João

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  2. Querido João,
    Está tão bonito o que escreveste!...
    Tomo as tuas palavras como uma dádiva que recebo com muita alegria e com muita ternura.
    Até os erros de escrita eu te agradeço, pois são o grande comprovativo de que eram bem genuínas as emoções que vivias quando escreveste coisas tão bonitas!
    Vou mostrar as tuas palavras ao Zé Geadas, sei que ele vai gostar muito de as ler.
    E, olha, vou aproveitar para fazer a segunda confissão deste apontamento: não foi por acaso que te perguntei hoje, na escola, se ias à festa dos finalistas no próximo dia 5. Como te disse, eu não vou poder estar presente; mas já ontem entreguei ao professor Acúrcio uma mensagem pessoal de saudação, para ser lida durante o jantar. Se, na cerimónia de encerramento do encontro inter-escolas, o José Geadas foi a fonte de inspiração da minha saudação, vais, no dia 5, poder facilmente verificar que a fonte de inspiração da minha saudação dessa altura és tu próprio. Espero que gostes.
    Mas ainda vou pedir ao professor Acúrcio que me devolva o meu escrito. Quero lá acrescentar um pequenino parágrafo em que calha muito bem citar uma afirmação que tu fazes agora neste comentário.
    Um grande abraço, João, abraço que me dá a alegria imensa de, em ti, estar a abraçar uma estrela maravilhosa!

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  3. Professor,

    o meu baile de finalistas vai ser no sábado, e não na sexta... Sexta vai ser o do 12º ano, no sábado é que é o do 9º.

    De qualquer forma, quero deixar bem claro que a culpa dos erros não é minha. O "s" do meu computador não está a funcionar bem...

    Sinto-me lisonjeado por ser referido em tal discurso. Se possivel, gostaria que falasse com o professor Acurcio para o repetir no sábado, para ter opurtunidade de o ouvir.

    Obrigado por tudo.

    Abraços,
    João

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  4. Caro João,
    Penso que nesta altura já terás conhecimento do que fiz com as tuas palavras, e espero que não consideres que eu as tenha deslustrado.
    As coisas nunca valem só por si, valem também pela ocasião em que acontecem.
    Por exemplo, ninguém tem dúvidas nenhumas que um bom naco de carne grelhada, acompanhado de um cuidado arrozinho branco e uma saladinha de cores e tempêros bem vivos é uma excelente refeição. Mas é diferente tomá-la à hora do almoço, ou à meia-noite, precisamente antes de ir para a cama; ou pô-la à frente de um jovem de 15 anos, ou à frente de um bebé de 6 meses de idade.
    Para já, o que te posso dizer, é que as tuas palavras, as belas palavras que deixaste neste blogue e nos e-mails que me mandaste, tiveram o condão de acertar com o momento ideal de serem comunicadas.
    E que posso eu fazer senão renovar-te o agradecimento e renovar a satisfação de as reler?...
    Força nos exames, João!
    Que a seguir bem mereces umas férias bem gozadas!
    Um grande abraço!

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  5. Caro professor,

    Quando fala das minhas palavras, sinto que elas ganham um novo brilho! Jamais seriam deslustradas por si, segundo penso.

    Percebo agora, que para além de um excelente escritor, deve tamém ser um excelente cozinheiro! Mas percebi o que quis dizer, e nesse aspecto, estamos de acordo.

    Estou confiante para os exames, e tenho a certeza de que me vou sair bem. Estou a tentar incentivar o Pedro e o Tomas a estudarem, mas não é tarefa fácil.

    De qualquer forma, devo repetir-me mais uma vez, e dizer que o seu texto estava lindo.

    Obrigado por tudo,
    João

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