terça-feira, maio 26, 2009
Ir ou não ir ao apoio, eis a questão - 2/2
Foi total a concentração do D. hoje de manhã, na aula extra de Francês, às voltas com o "plus-que-parfait".
Já no fim, mesmo antes de arrumar as coisas, a fazer o planemento do trabalho até à próxima sexta-feira, ele e o R. discutiam sobre o empenho de cada um deles nos testes que se avizinham (Inglês, já no bloco de aulas a seguir a este em que estávamos; Matemática, Francês e Físico-Química).
O D. disse que a Físico-Química não valia a pena fazer nada. Tinha ido falar com a professora e tinha perguntado-lhe se, caso ele tirasse 90% no teste, se ela lhe dava a positiva. A professora (que, por sinal, no Conselho de Turma do dia 13 foi das que contribuiu com apreciações positivas e encorajadoras acerca do D.) disse-lhe que não, que não valia a pena, nem com uma boa nota no trabalho prático que ainda tinham em mãos; justificou-se acrescentando que a avaliação era contínua, ao longo do ano.
Por isso ele pôs a Físico-Química de lado. Se a professora lhe tivesse dado uma esperançazinha, ele, de certeza, que ia aproveitá-la.
E pouco depois aconteceu o encontro, nas escadas, ali mesmo entre a casa-de-banho dos rapazes e o bar: o R., a D.T. e eu próprio.
Quando a professora censurou o rapaz pelas faltas ao apoio de Físico-Química ele justificou-se com o que me tinha dito momentos antes, seguro do que estava a dizer.
"Mas mesmo assim devias ir ao apoio..." insistiu a directora de turma. "Faz-te bem, sempre aprendes alguma coisa..."
E é assim que nós vamos vivendo nas escolas: empenhando-nos francamente, honestamente, a bem dos alunos; mas renovadamente caíndo em desperdícios de vontades, intenções, esforços, recursos e tempo!...
Ora, no mínimo, o esforço da Físico-Química "impossível" não deveria ser aproveitado antes no Francês "possível"?... Pelo menos, nesta altura, o final do ano, em que alunos e professores estão circunstancialmente condicionados por níveis de aproveitamento mínimos que garantam a passagem dos alunos.
E pronto! Fiz a minha escolha!
GRANDE FINAL
“UMA CANÇÃO PARA TI”
31 DE MAIO
(Clicando AQUI, para votar, no site da TVI. Depois lá, clicar em cima do nome ou da fotografia do Zé e votar, seguindo as instruções.)
Liga para o seguinte número:
760 10 40 02 760 10 40 02 760 10 40 02Conto com o teu apoio!
Obrigado!
Ir ou não ir ao apoio, eis a questão - 1/2
Hoje de manhã tive uma aula extra. Uma aula de apoio.
O R. tinha-me pedido ajuda a Física e a Matemática. Está no 8.º ano.
Na reunião do Conselho de Turma do dia 13 de maio (a que assisti excepcionalmente, a pedido da D.T.), alguns professores afinaram pelo mesmo diapasão: o R. está a estudar menos, está completamente desinteressado. Na discussão, empenhada, do seu caso, um de entre os presentes, teve a franqueza de pôr em cima da mesa que algum dos professores lhe disse que ele estaria já chumbado. O R. terá medido as palavras ouvidas, terá medido o tempo que faltava para o final do ano lectivo, terá medido as suas dificuldades em algumas disciplinas e, finalmente, terá medido o esforço que se sentia ainda capaz de fazer para mudar o rumo dos acontecimentos até ao resultado final, antecipadamente anunciado. E o que os professores passaram a ver na sua atitude nas aulas (desinteresse, desatenção e desinvestimento) denuncia a conclusão e a decisão que o R. nessa altura tomou.
Só que, na discussão deste Conselho, constatou-se que, afinal, o R. ainda não estaria chumbado, e que foi pena ele ter deixado de se empenhar. (!... ?... !... ?...)
A colega H., directora de turma, é uma professora afectivamente muito empenhada no bom funcionamento da sua turma e no sucesso escolar dos seus alunos.
Falou com o colega A., de E.M.R.C., que tem uma grande capacidade de escuta e de audiência junto de rapazinhos como o R., e o R. lá foi falar com o colega A.
A situação do R. tem muitos nós. São nós no seu desenvolvimento pessoal, e são nós no bem-estar do seu ambiente familiar. O colega A. não sei se terá pensado no que um dia D. Winnicott disse num convento a uma plateia de frades que se interrogavam sobre os limites e as dimensões da ajuda pessoal e da ajuda profissional, mas o que é certo é que recomendou-me que me ocupasse do R.
No dia a seguir, o R. agradecia-me no Messenger ter-lhe trazido de volta o entusiasmo pela escola e por aprender.
Já não faltam sequer duas semanas para as aulas acabarem, e o R. veio hoje mais cedo de casa para ter uma aula de apoio "não-curricular" comigo, a ver se ainda safa o que ouviu há cerca de um mês dito por alguém que o vai avaliar: que não valia a pena, que não havia mais nada que ele conseguisse safar.
O R., hoje de manhã, na aula extra, deu-se conta que, afinal, era fácil fazer o acerto das equações químicas; e viu-me pular dele para o seu colega D., que estava ali também naquela aula, para o ajudar com o "plus-que-parfait" que vai ser o grande tema do teste de Francês que vai ter na próxima quinta-feira. E não resistiu a perguntar-me: "Mas, afinal, que disciplina é que o 'stôr' dá?..." Pelo modo como a pergunta foi feita, tomei essa interrogação como um elogio. Adiante.
Assim que saímos da sala, uma hora e meia depois de termos começado a trabalhar, cruzei-me com a directora de turma dos dois rapazes. Ela queria contar-me uma coisa: o D. estava a faltar ao apoio a Físico-Química, não podia ser, estava a portar-se mal assim. Nem de propósito, o D. quase esbarrou connosco nesta altura, ali na escada; e não deixei de aproveitar para esclarecer o assunto entre os três: a D.T., o D. e eu próprio. Que boa oportunidade se tinha ali deparado!...
Esse é o assunto do apontamento seguinte deste blogue.
domingo, maio 17, 2009
O José Geadas e a mística do Benfica
Carta aberta ao José Geadas (aberta, porque penso que fará bem a todos os benfiquistas lerem-na):
Hoje voltei a Cernache (Coimbra). Quando cá cheguei, o familiar que vim visitar ainda estava para a missa. Aproveitei e vim para a quinta onde o meu pai passou a sua infância e daqui te escrevo esta carta.
Não há quase dia nenhum em que não pense sobre o que leva as pessoas a aproximarem-se umas das outras; e também sobre o que as leva a afastarem-se. Ou não fosse eu psicólogo e professor. Por exemplo, penso muitas vezes sobre o que se poderá fazer para aproximar mais os professores dos alunos; ou o que se poderá fazer para que os casais não se desunam com a facilidade com que hoje em dia acontece, e assim prejudiquem a consolidação dos laços afectivos dentro das famílias.
Ora a história que te venho contar é precisamente a história de uma ocorrência que me fez aproximar de ti, sem deliberadamente o querer, ou o procurar. E tu aí, longe, no teu Rio de Moinhos, também sem fazeres ideia de nada!
É por isso, por este feliz acaso, que a única coisa que posso agora desejar é que, no fim de leres a história, sintas que gostaste, que é uma história gira.
É por isso, por este feliz acaso, que a única coisa que posso agora desejar é que, no fim de leres a história, sintas que gostaste, que é uma história gira.
Certamente já ouviste dizer que as conversas são como as cerejas, quer dizer, atrás de um assunto vem logo outro.
Bom, pode-se dizer que a conversa que deu em história - esta história - começou por causa do David Gomes, outro dos teus companheiros do concurso da TVI.
Bom, pode-se dizer que a conversa que deu em história - esta história - começou por causa do David Gomes, outro dos teus companheiros do concurso da TVI.
Mas a marca que faz desta história uma coisa única, absolutamente original; que faz desta história uma narração inimitável, é inteiramente tua. Tem a tua presença, tem a tua vivacidade. Sem saberes, deste-me a oportunidade de vivê-la na primeira pessoa, de ser eu o descobridor do tesouro guardado na memória do meu querido tio Francisco José que - como vais ver - decidiu tornar-se benfiquista sensivelmente com a idade que tu agora tens (cá está outra coisa que apareceu por acaso, e teve o condão de facilitar a tal aproximação pessoal).
Vamos à história. Quase me apetece começar a dizer “Era uma vez...”
A minha irmã vive nos Açores. No dia 19 de Abril estava por cá, por razões profissionais. Aproveitámos e viemos a Coimbra visitar o tio Francisco José, o decano da família.
Antes de lhe batermos à porta, passámos por um grande supermercado para pegar numa caixita de bombons para oferecer à tia Hermínia. Já lhe levávamos o chá tradicional dos Açores e quisemos juntar uma guloseima. (E foi precisamente nesta altura que se passou o que, logo nesse dia, relatei no apontamento deste blogue, no dia 19 de Abril, a propósito do David.)
Ainda agora não conseguimos falar com o tio Francisco José (o mais velho dos quatro irmãos, todos rapazes) sem falar do nosso pai, que morreu há pouco tempo. A certa altura eu disse que a última grande paixão que eu vi esmorecer na alma do meu pai foi a que tinha pelo seu Sporting. Nunca eu desejei tanto que o Sporting tivesse vitórias gloriosas, até contra o nosso Benfica, Zé, como no ano triste de 2007! Mas a vida já tinha tomado um certo caminho e não voltou atrás.
A seguir ao assunto do Sporting do nosso pai, veio o assunto das revistas que eu comprei sobre o David Gomes. Depois, o do momento televisivo delicioso que aconteceu quando te levantaste do teu lugar, foste para junto do Nuno da Câmara Pereira, falaste do Benfica e cantaste o Cavalo Ruço.
De repente, guiado por nada, num impulso, perguntei ao tio Francisco José como é que ele se tinha tornado adepto do Benfica, já que o pai deles, o nosso avô Pinto - ele, sim, um grande poeta popular! - nunca tinha mostrado qualquer interesse pelo futebol. Afinal, quem é que o tinha influenciado?... “Ninguém...” respondeu-me ele prontamente, muito convictamente. Ninguém o tinha influenciado, tinha sido uma opção pessoal. Mais, ele lembrava-se perfeitamente desse momento, teria esse sensivelmente a idade que tu tens agora, como já te disse, onze ou doze anos.
Passaram mais de 70 anos, é certo, mas, repetiu-nos ele, a memória é ainda muito clara:
Corria-se a Volta a Portugal em bicicleta, talvez a de 1933, ou 34. Naquele dia, a etapa ia terminar em Coimbra. Como pode, o tio Francisco José fintou as suas obrigações de trabalho (é verdade, como acontecia com muitos dos rapazes pobres daquela altura, ele trabalhava todo o dia para ajudar os pais) para ir ver a chegada dos ciclistas. E conseguiu-o.
Quando foi o sprint da chegada, ele reparou que havia um ciclista que sangrava abundantemente, mas não deixava de pedalar com muito vigor. “Naquele tempo, não havia nada do apoio médico que os atletas têm hoje”, frisou bem o tio Francisco José. Ele fixou a atenção nesse ciclista: reparou no sangue quente que nele escorria; reparou na ferida aberta na perna, que certamente ardia muito; reparou no suor sujo que lhe caía intensamente pela cara abaixo e testemunhava a queda brutal da bicicleta.
Os olhos do nosso tio fixaram-se finalmente no rosto do ciclista e na expressão de dor que ele mostrava. Mas não foi só isso que ele viu no rosto que o hipnotizava. Ele viu nele também a determinação, a garra bem vincada de quem queria acabar o que tinha de ser acabado, custasse o que custasse. E quando ele viu aquele ciclista cortar a meta, e só depois deixar-se cair e sofrer, o tio Francisco José viu-se tomado por uma sensação de profundo respeito e admiração por esse atleta. E logo ali decidiu que o emblema desse homem assombroso seria também, para sempre, o seu emblema.
O atleta, o ciclista lutador e determinado era o mítico José Maria Nicolau; e o emblema que brilhava no seu peito era o do Benfica.
E foi assim que o nosso tio se tornou adepto do Glorioso!
Não achas bonita esta história, Zé?...
E, se não fosses tu, quem sabe?, talvez nunca alguém chegasse a conhecer esta memória única e irrepetível deste benfiquista cheio de anos, que por acaso é meu tio; e que há muito tempo viveu a magia do crescimento que agora a ti cabe viver.
terça-feira, maio 12, 2009
O menino grande foi ao encontro do grande menino
No domingo passado fui à Orada. O Zeca Barroso tinha-me desafiado, e à nossa amiga Maria João, para outra vez irmos à feira das ervas aromáticas.
Eu tenho a mania de que sou um menino grande.
Peguei na moderna caneta e deixei um bilhetinho na caixa de correio do amigo Norberto, mais ou menos assim: "Diga ao Zé que vou tentar passar por casa dele amanhã, domingo."
No caminho do Redondo para a Orada falei com o Zeca sobre a minha intenção. "Isso arranja-se...", disse-me ele. E assim foi. À tardinha, chegámos a São Tiago de Rio de Moinhos.
O batedor Miguel prontamente nos conduziu, rua acima, com rijas pedaladas à frente do mercedes do Zeca, à casa da família Geadas.
A mãe do Zé reconheceu-me imediatamente e convidou-nos a entrar. Boamente, a senhora foi buscar o filho, e o senhor Geadas ficou ali, na entrada da casa, a acolher-nos.
O Zé, qual pardalito titubiante, destacou-se finalmente da penumbra da porta, que os pais insistiam que passássemos adiante, para dentro da casa.
O corpo e a consciência do Zé pediam o descanso que os olhos, a muito custo, contrariavam.
Ainda assim, o Zé arranjou concentração para o autógrafo; arranjou sorriso para a fotografia; e arranjou palavra para o compromisso de um dia irmos vibrar com o Benfica, na Luz.
Ao final do dia, quando cheguei a casa, em Lisboa, fui escrever ao Zé num bilhete apressado: "Desculpa a maldade que te fiz hoje." Assim que o carteiro electrónico confirmou que o bilhete tinha sido bem enviado, fui abrir o correio do dia. Logo à frente, sendo a mais recente mensagem que me tinha chegado, encontrei, escrito pelo Zé: "Será sempre benvindo à minha casa." Sorri e apaziguei.
Zé Geadas, eu não sou poeta, tal como o Manuel Correia, que contigo cantou; e a tua beleza interior merece que me justifique com as palavras, igualmente belas, de quem as sabe juntar. Aqui ficam. São do poeta Sebastião da Gama:
Vida!
não me venhas roubar o meu tesoiro:
não te importes que eu ria,
que eu salte como dantes.
E se riscar os muros
ou quebrar algum vidro
ralha, ralha comigo, mas de manso...
O MENINO GRANDE
Também eu, também eu,
joguei às escondidas, fiz baloiços,
tive bolas, berlindes, papagaios,
automóveis de corda, cavalinhos...
joguei às escondidas, fiz baloiços,
tive bolas, berlindes, papagaios,
automóveis de corda, cavalinhos...
Depois cresci,
tornei-me do tamanho que hoje tenho.
Os brinquedos perdi-os, os meus bibes
deixaram de servir-me.
Mas nem tudo se foi:
ficou-me,
dos tempos de menino,
esta alegria ingénua
perante as coisas novas
e esta vontade de brincar.
tornei-me do tamanho que hoje tenho.
Os brinquedos perdi-os, os meus bibes
deixaram de servir-me.
Mas nem tudo se foi:
ficou-me,
dos tempos de menino,
esta alegria ingénua
perante as coisas novas
e esta vontade de brincar.
Vida!
não me venhas roubar o meu tesoiro:
não te importes que eu ria,
que eu salte como dantes.
E se riscar os muros
ou quebrar algum vidro
ralha, ralha comigo, mas de manso...
(Eu tinha um bibe azul...
Tinha berlindes,
tinha bolas, cavalos, papagaios...
Tinha berlindes,
tinha bolas, cavalos, papagaios...
A minha Mãe ralhava assim como quem beija...
E quantas vezes eu, só pra ouvi-la
ralhar, parti os vidros da janela
e desenhei bonecos na parede...)
E quantas vezes eu, só pra ouvi-la
ralhar, parti os vidros da janela
e desenhei bonecos na parede...)
Vida!, ralha também,
ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,
como se fosse ainda a minha Mãe...
ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,
como se fosse ainda a minha Mãe...
segunda-feira, maio 11, 2009
- Como te chamas?, pergunta a Sissy
A Sissy é uma menina grega, filha de um colega professor de uma escola em Kalamata que tenho encontrado, para grande alegria e enriquecimento pessoal, nas reuniões de um projecto escolar internacional comum, o PLURALIA.
Dear Sissy, congratulations for your work!
I'd like to present you with a Portuguese poem and I was lucky! I found one, well translated in English, I think its meaning touch the sense I found in your work: every child must have a name. Only when we know a child by his name, the child is the same I am, the same we are, no matter how really different he can be of me, of us. Your work pushes us to ask the children their names. Good! Thats the way. The only valuable way!
A Sissy acompanhou o pai já mais do que uma vez a estas reuniões. São encontros de entusiasmos e reciprocidades sobre o prazer de se estar junto a pessoas diferentes, e de nos sentirmos bem todos juntos uns dos outros.
Na sua experiência pessoal destas reuniões, na sua forma única de sentir, ela arrancou a inspiração para uma pequena peça visual e melódica muito bonita, que me convidou a ver; e a que juntei um comentário e um poema.
Dear Sissy, congratulations for your work!
I'd like to present you with a Portuguese poem and I was lucky! I found one, well translated in English, I think its meaning touch the sense I found in your work: every child must have a name. Only when we know a child by his name, the child is the same I am, the same we are, no matter how really different he can be of me, of us. Your work pushes us to ask the children their names. Good! Thats the way. The only valuable way!
Querida Sissy, parabéns pelo teu trabalho!
Gostaria de te presentear com um poema português e tive sorte! Encontrei um, bem traduzido para inglês, cujo significado penso que tem a ver com o sentido que encontrei no teu trabalho: cada criança tem um nome. Só quando conhecemos uma criança pelo seu nome, a criança é como eu sou, é como nós somos, não importa quão diferente seja de mim, ou de nós. O teu trabalho põe-nos a perguntar às crianças pelos seus nomes. Boa! É esse o caminho! É esse o único caminho que deve ser percorrido!
(a letra da canção pode ser encontrada aqui)
· TEU NOME
Paula Margarida Pinho
Existimos num mundo de metáforas.
Não são pedras estas pedras;
são certezas, segurança.
Não é luz a luz do sol;
é um aceno, é carícia
de um aconchego querido.
E as águas destas fontes?
São as mágoas,
são as lágrimas dos montes.
Estes prédios são prisões;
são muralhas as paredes;
mares em fúria as multidões;
punhais os olhares em riste;
solidão o rosto triste.
Existimos num mundo de metáforas.
Perdemo-nos nelas e nem sabemos que o são.
Só o teu nome é o teu nome.
Ainda e sempre.
O teu nome.
Simplesmente.
sábado, maio 02, 2009
Chimpanzé inteligente, chimpanzé castrado
As notícias que os meios de comunicação nos põem todos os dias à disposição são sempre em número tremendamente superior à capacidade humana individual até de simplesmente as seleccionar. Quer dizer, todos nós vamos apenas lendo, vendo ou ouvindo umas coisas!...
Foi assim que só hoje, ao ler mais um bocadinho da edição portuguesa de Maio do "Courrier internacional", que recebi na semana passada, por correio mesmo, dei atenção a uma notícia publicada na secção dos "insólitos" (capítulo "Destaques"), na página 110.
Na hiperligação que fiz no título deste apontamento remeto para a notícia que o Público (na altura em que a notícia foi divulgada pela comunicação social, em geral; ou seja, por volta do dia 10 de Março) deixou na sua edição on line. Mas podem ser pesquisadas na NET outras, até mais pormenorizadas.
O que está em causa é de nos deixar a pensar... pensar seriamente!...
Voltarei a este assunto, mas não quis deixar de dizer já qualquer coisa.
Basicamente, o que está em causa é o seguinte: um chimpanzé (animal que na cadeia evolutiva está meis perto do espécie humana) mostrou-se inteligente, como antes nunca tinha sido observado (Atenção! Altamente inteligente, altamente antecipatório, altamente sofisticado). Foi estudado, e tiraram-se logo conclusões sobre a sua inteligência, e sobre a inteligência de TODOS os chimpanzés. Objectivamente, do ponto de vista do visitante humano (não enjaulado, não o esqueçamos; e não motivo de visita ao Zoo) o seu comportamento era perigoso: atirava pedras aos visitantes.
A notícia no Courrier internacional acaba de maneira semelhante à grande parte das notícias que foram publicadas, em todo o mundo, no dia 10 de Março, citando Mathias Osvath, o investigador que estudou Santino, o chimpanzé:
"Castraram o pobre coitado. Esperam que o nível hormonal baixe e que, assim, se sinta menos tentado a lançar pedras. Já ganhou peso e está muito mais brincalhão do que antes. Mostrar-se agitado não lhe estava a dar bons resultados".
"Mais brincalhão"?... Será que querem dizer que passou a fazer mais daquelas macaquices que os responsáveis dos Jardins Zoológicos e dos circos pensam que é (apenas) o que os visitantes gostam de ver?...
"Mostrar-se agitado"?... Será que querem dizer que tentava preservar - como nós, os humanos, bem gostamos de fazer - um pouco de "privacidade pessoal", e livrar-se de tantos mirones que o querem ver todos os dias - durante todo o dia! - a fazer "macaquices"?...
"Não (lhe) estava a dar bons resultados"?... Não estava a dar bons resultados... a quem, mesmo: ao chimpanzé?... aos tratadores?... aos visitantes?... aos responsáveis do Zoo?...
E, reparem: nem uma palavra mais sobre a sua inteligência, sobre o seu comportamento inteligente! Então não valeria a pena continuar a observar e a estudar este comportamento inteligente do chimpanzé?... Não ganharíamos nós, os humanos, com isso?...
Não consigo deixar que o "Voando sobre um ninho de cucos" me venha ao pensamento.
Não vou dizer mais nada sobre este "insólito", nem sobre o que penso que se poderia ter feito em alternativa; nem sobre o imperialismo ditatorial do Homem sobre as outras espécies e o ambiente.
Convido os meus alunos, e todas as outras pessoas mais que o queiram, a pensarem sobre esta notícia e a deixarem aqui a sua opinião.
Pela minha parte, um dia destes, quando tiver mais vagar, voltarei a este assunto.
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