Um pequeno exempo, retirado de um canal de televisão generalista, no noticiário da hora do almoço, hoje:
A jornalista pergunta claramente à professora (eventualmente, com responsabilidades directivas na escola) o que acontece aos alunos que estão à espera de professores que ainda não foram colocados. Se ficam sem aulas.
A colega pensa, guarda para si uma pequena pausa e, diplomaticamente, cuidadosamente (eu digo: tristemente, ridiculamente), responde: "São encaminhados para o pátio."
Como se foge de palavras comprometedoras!... Como se dizer "Sim, ficam sem aulas... Pois, não têm aulas..." ou outra coisa qualquer fosse uma acusação contra quem superior determina e avalia desempenhos!... Ou então o reconhecimento de uma culpa que estaria nas mãos do professor ter-se evitado!...
Percebo a colega e, tanto quanto possa fazer sentido que o diga, estou solidário com ela.
Repare-se: um não-acontecimento, uma série de não-acontecimentos [a(s) aula(s) que deveria(m) ter sido dada(s), mas que não foi(foram)], por presumida, adivinhada, responsabilidade de o (ou a) inomonável [não vá ele (ou ela) "cair-nos" em cima, e lá se vai a avaliação, ou lá vem o processo disciplinar!...], em resultado dos caminhos tortuosos dos pensamentos e das falas de mentes aflitas, transforma(m)-se numa acção activa, "responsável" e criativa dos professores que devem estar sempre prontos - como determinam os regulamentos - para cuidarem dos alunos... Assim, em vez de as aulas não acontecerem, em vez de não lhes darem aulas, os professores... encaminham os alunos para o pátio!
Que mais se pode dizer, senhores?... O melhor é calarmo-nos, não é?... Se calhar, já falámos demais...
... ... ...
Há mesmo que dar a volta a este ambiente constrangedor, confrangedor e que nega o fim último de qualquer processo educativo: a formação de cidadãos sabedores, esclarecidos, responsáveis e capazes de iniciativas pessoais socialmente úteis.
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