domingo, março 23, 2008

Falar com sabedoria, respeito, bom-senso e tolerância

Não é preciso concordar, mas faz bem ouvir. Com espírito aberto, confiando que quem fala o faz com honestidade consigo próprio e com respeito pelos outros.

É sobre a actual situação no Ensino Secundário.

O Professor Adriano Moreira, no meu entender, conquistou o estatuto de ancião, velho e sábio. Que todos nós, mais novos, de renovadas e cíclicas responsabilidades sociais e educativas, ganhamos em ouvir.

Sem mais comentários, aqui deixo um pequeno excerto de entrevista. Está publicada noutros sites. Um só professor, educador, ou pai, que descubra esta entrevista neste blogue é razão para dizer que valeu a pena referenciá-la aqui.

Para ver o vídeo, basta clicar aqui ou no título deste apontamento.

terça-feira, março 18, 2008

Protesto!

Recentemente, enviei ao Correio da Manhã, o seguinte texto, que pedi que fosse publicado como carta-resposta ao texto publicado nesse jornal, da autoria de Emídio Rangel, a propósito da Manifestação de Professores, em Lisboa, no dia 8 de Março deste ano:
Senhores,
Concordo com o senhor Emídio Rangel, no artigo que recentemente publicou no vosso jornal sobre a Manifestação de Professores, intitulado "Hooligans" em Lisboa, numa coisa, que passo a citar: "Felizmente ainda há milhares de professores (talvez a maioria) que exercem com dignidade a sua profissão".
É evidente que a Manifestação dos Professores, do passado dia 8, a dimensão que teve, por todos atestada e por ninguém negada, mexeu com a tranquilidade do senhor Emídio Rangel e levou-o a manifestar-se publicamente de forma tão ofensiva e tão infeliz.
Abstenho-me de comentar o fel que expele brutalmente contra, entre outros, o Partido Comunista (a que nunca qualquer compromisso formal ou informal me prendeu). Talvez o gabinete de um psiquiatra ou de um psicólogo o ajude a entender tanto aparente ódio e a vencer qualquer eventual trauma.
Quando puder ver os factos sem que a inteligência seja obnubilada pela irrupção brutal das emoções, verá o que todos puderam ver: que a maioria de professores de que fala esteve educada e ordeiramente presente na Manifestação. Os números, a sua crueza e objectividade, falam por si.
Eu fui um dos professores que esteve na Manifestação. Deixo aos meus colegas de profissão, aos meus alunos e aos encarregados de educação de quase vinte anos de aulas, o veredicto de fazer ou não parte do grupo de professores dignos de que Emídio Rangel fala.
Quanto ao Correio da Manhã e aos seus directores, penso que a dignidade e a honestidade jornalística permite (exige?...) também a expressão pública - no próprio jornal - de opiniões diversas e opostas à do senhor Rangel.

sábado, março 15, 2008

O dia europeu do consumidor - 2/2

A título mais pessoal, sem quaisquer pretenciosismos, apenas como a proposta de qualquer coisa para se ir pensando, deixaria aqui a sugestão de leitura do artigo publicado na edição n.º 144 do Courrier internacional, de Fevereiro de 2008, na página 58, com o título Manual de instruções da simplicidade voluntária. O artigo foi originalmente publicado no jornal Svenska Dagbladet (Estocolmo), em Outubro de 2006, tendo Anna Lagerblad como autora.
Deixo aqui esta sugestão, sobretudo pensando naqueles que não possam ter acesso ao Courrier internacional, um pequeno excerto do artigo, que me parece conter os elementos-chave para se entender a ideia principal contida no artigo.
[...]Na Suécia, Jörgen Larsson, investigador e pai de dois filhos, é uma pessoa que adoptaram esta concepção de vida. Foi no fim dos anos 1990 que ouviu falar de "downshifting", também chamado "simplicidade voluntária". [...] Não se tratava de dizer adeus ao mundo do trabalho, antes de começar por fazer semanas de 30 horas em vez de 40. A perda de rendimentos é compensada por uma vida mais modesta e por uma forma de consumo revista em baixa, outra das ideias-chave do movimento. Comprar uma casa grande com alguns amigos. Utilização comunitária do automóvel. Para festejar um acontecimento, organizar uma refeição em que cada um leva um prato, em vez de ir ao restaurante. São estas as recomendações dos defensores da simplicidade voluntária [...]
É fácil pensar e dizer que é preciso ir muito mais longe, com mais comportamentos e mais criatividade. É verdade. Mas este é já um começo.

O dia europeu do consumidor - 1/2

Sinto quase como uma obrigação a necessidade de dizer, enquanto professor e cidadão, qualquer coisa sobre o dia que a União Europeia assinala hoje, designando-o como O Dia Europeu do Consumidor. Oficialmente, o site que a União Europeia dedica ao consumidor europeu pode ser encontrado em http://www.dolceta.eu/portugal/index.php, a versão portuguesa.

"Oficialmente" assinalo, portanto, este dia, deixando aqui a imagem do cartaz vencedor da edição deste ano do prémio europeu para a melhor campanha de defesa dos direitos do consumidor.

"Conheça os seus direitos, exerça os seus direitos" é a mensagem da nova campanha de cartazes para o Dia Europeu do Consumidor.

domingo, março 09, 2008

O despotismo esclarecido

Se um dia um aluno me perguntasse o que é o despotismo esclarecido, eu dir-lhe-ia qualquer coisa assim:
Bem... despotismo esclarecido é, se calhar, aquilo que a nossa Ministra da Educação pensa que é ou que está a fazer. É pensar que é boa pessoa, que sabe o que é bom para os outros; e pensar que mais ninguém sabe, só ela é que sabe, por isso tem de decidir tudo sozinha. E pensa que não há problema nenhum porque ela acredita piamente que sabe - sabe tudo! - e que é boa pessoa. Os outros é que não sabem. Já viste as vezes que a Senhora Ministra da Educação já disse "Os professores não sabem do que estão a falar"?...
E se depois o aluno me perguntasse se, como a pessoa é boa (ou, pelo menos, pensa que é boa), o despotismo esclarecido é uma coisa boa, eu talvez lhe respondesse desta maneira:
Não sei se a questão é o despotismo esclarecido ser uma coisa boa, ou não. A questão é saber se qualquer forma de despotismo esclarecido é legítima nos regimes políticos democráticos actuais. Será que o despotismo esclarecido é capaz de estimular o desenvolvimento dos comportamentos políticos amadurecidos dos cidadãos?...

O interesse dos alunos

"[...] Já antes, em entrevista ao Expresso, Maria de Lurdes Rodrigues tinha garantido "continuar sempre disponível para conversar, ouvir e resolver problemas, incluindo com os sindicatos", embora reconheça que entre o ministério e as forças sindicais existam normalmente pontos de partida muito diferentes. Mais, a ministra da Educação admite mesmo que se lhe perguntarem "se tenho esperança de que os sindicatos possam definir uma política educativa em que prevaleçam os interesses dos alunos, não tenho"."MÁRCIO CANDOSO e PEDRO VILELA MARQUES
Acaba assim uma notícia da edição on line do Diário de Notícias, publicada hoje certamente na sequência directa da Manifestação dos Professores de ontem, em Lisboa, e da entrevista que, à noite, a Senhora Ministra da Educação deu à SIC.
Sendo correcta e justa a citação destacada pelos jornalistas, pessoalmente considero que as palavras da Senhora Ministra sobre a posição dos sindicatos e "os interesses dos alunos" são pura demagogia, são imorais e resultantes de intenções desonestas e eticamente reprováveis. A Senhora Ministra recorre a um argumento, a uma imagem de forte impacto social que, mais uma vez, tem implícita uma ideia que, no meu entender, constitui o pecado original da Ministra da Educação: que os professores são essencialmente maus, egoístas, apenas preocupados com interesses pessoais acomodados, que tratam os alunos de forma despersonalizada, movidos apenas por razões mercantis.
É a chantagem, é o agitar do papão do "superior interesse das crianças", "os homens e mulheres de amanhã", "indefesos nas mãos de quem tem a faca e o queijo na mão para os avaliar", "coitadas das crianças!..."
A Senhora Ministra sabe claramente que, pela própria natureza dos diplomas ministeriais presentemente em discussão, não são "os interesses dos alunos" que estão em causa. A Senhora Ministra sabe, porque o tem afirmado constantemente, que o que está em causa é pedir aos professores "muitos sacrifícios", tal como para a generalidade do povo português. Aceito, é legítimo, não está em discussão. Não irei agora por aí.
A Senhora Ministra da Educação sabe que defender os interesses dos alunos implica, antes de mais, garantir, entre outras coisas, que os professores se encontrem tranquilos, disponíveis para o ensino e a relação pedagógica com os seus alunos; disponham de tempo para os professores troquem impressões e experiências para melhorar as aulas, os procedimentos pedagógicos, as dinâmicas de sala de aula, a resolução de problemas de indisciplina e a gestão de conflitos; que os professores mais novos possam beneficiar da experiência dos professores mais velhos. A Senhora Ministra sabe que a generalidade dos professores, que cuidam dos alunos com o respeito e o cuidado com que cuidam os seus próprios filhos, estão sempre prontos e disponíveis para "fazerem das tripas coração", sem que quem quer que seja mande que assim façam. Basta que reconheçam a sua necessidade. É tão fácil que isso aconteça com o professor português, que tem o coração sempre muito perto da boca e do pensamento.
Por isso, mais uma vez, no meu entender, com o que insinua desonestamente acerca da atitude dos sindicatos (que, quer queira quer não queira, são representantes legítimos dos professores; e são uma das manifestações sociais mais representativas dos regimes democráticos. E eu não sou professor sindicalizado; e sou muito crítico em relação às actuações da generalidade dos sindicatos que representam a minha classe profissional), a Senhora Ministra toca maldosamente no pouco que resta (porque muito, entretanto, já tirou) da dignidade de professor.
Sejam os professores - sejamos nós, todos os professores - capazes, mais uma vez, de fazer das tripas coração e lidar com mais esta adversidade. A bem da nossa dignidade pessoal, a bem do valor social da nossa profissão, que exige respeito humano e prazer de ensinar e aprender, hora a hora, nas aulas.
Quanto aos interesses dos alunos, seja: a cada um (a Assembleia da República, o Ministério da Educação, os Pais, Outros e os Professores; os próprios Alunos) o que lhe cabe. Com discrição, honestamente, sem bandeiras moralmente e eticamente chantagistas, reprováveis.

sexta-feira, março 07, 2008

Se amanhã o repórter me perguntasse... 3

Se amanhã, numa eventual cobertura jornalística da Manifestação dos Professores, o repórter de um canal de televisão ou de um jornal diário me perguntasse o que é que eu penso sobre as tomadas de posição que algumas associações de pais têm manifestado a propósito das actuais divergências entre professores e equipa responsável do Ministério da Educação, e da reforma educativa em curso, eu diria assim ao repórter:
Sabe, o esforço e o empenho dos pais na vida escolar é muito importante. Os pais são os primeiros responsáveis pela educação dos seus filhos e não devem aceitar nunca que seja de maneira diferente. E, independentemente do que tenham para ensinar às crianças e jovens, os professores não devem esquecer isso nunca, também.
Daí que seja muito importante a existência de estruturas de congregação de esforços de alguns pais mais mobilizados, estruturas essas que distribuam muita ajuda e apoio àqueles pais que, quaisquer que sejam as razões, os professores nas escolas nunca chegam a conhecer, anos a fio. Se há coisa que entristece muitos directores de turma é a sala vazia de pais na hora das reuniões de encarregados de educação.
Portanto, para nós, professores, é um estímulo muito grande ver pais empenhados em mobilizar outros pais para a actividade escolar dos filhos.
No fundo, é sempre um pequeno grupo de pais esclarecidos que sabem que não deve ser pedido aos professores que dêem aos seus [dos pais] filhos a educação que cabe por direito e obrigação aos pais.
Só quem não é professor é que não tem ideia do estímulo que é para os professores a constatação de que têm junto a si alguns pais a ajudar os educadores dos seus filhos a trazer os outros pais à escola!...

Se amanhã o repórter me perguntasse... 2

Se amanhã o repórter me perguntasse o que é que eu penso do que o dr. José Miguel Júdice disse muito recentemente, ainda esta semana, num dos canais da televisão portuguesa, num debate com o dr. António Barreto, a propósito das manifestações de professores, que têm acontecido por estes dias um pouco por todo o País [Lembro que o que ele disse foi isto mais ou menos assim: (...) Que Deus livre os meus netos de cairem nas mãos de alguns desses professores, que eu vi nessas manifestações (...)], eu responder-lhe-ia assim:
Tem toda a razão, dr. Júdice! Que Deus livre os seus netos e também os filhos e os netos de todos nós desses professores!...
E digo mais: tenho a certeza que o dr. Júdice concordaria comigo se eu continuasse assim: Que Deus livre também os seus netos, os filhos e netos de todos nós, e os nossos pais, e os nossos irmãos, e os nossos amigos, e os nossos vizinhos de alguns advogados, psicólogos, políticos e outros profissionais que aparecem também nas televisões e nos jornais!... Às tantas, teremos também de ver o que pode passar com os nossos telhados de vidro...

Se amanhã o repórter me perguntasse... 1

Se amanhã, durante a Manifestação dos Professores, um repórter da televisão ou dos jornais me perguntasse o que é que eu estava ali a fazer, porque é que eu protestava ali com os meus outros colegas todos, eu responderia qualquer coisa do género:
Sabe, senhor jornalista, vamos até pensar que a Senhora Ministra, a dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues está de boa fé, assim como toda a sua equipa de trabalho. Vamos pensar que todos eles acreditam sinceramente que os professores são profissionais também de boa fé, fundamentalmente competentes, briosos e motivados. E ainda que os documentos, as leis e as decisões que a equipa ministerial tem produzido são todos produções notáveis, de grande rigor científico e pedagógico.
Pois bem, senhor jornalista, mesmo considerando tudo isto assim desta maneira, vem-me à cabeça a imagem de alguém que, quaisquer que fossem as razões, se encontrasse num estado de saúde debilitada, necessitando de um alimentação reequilibradora e fortificadora. Assim, alguém que dessa pessoa cuidasse, esforçar-se-ia por lhe preparar um energético pequeno-almoço, um almoço rico e variado, um lanche adequado e finalizasse com um jantar tranquilizador.
Só que, na ânsia, de rapidamente recuperar a pessoa fragilizada, o cuidador ansioso, apressava os tempos de digestão e avançava com o almoço logo a seguir ao pequeno-almoço; de enfiada, o lanche, logo a seguir ao almoço; e, ainda antes do arroto dos bebés que tanto consola as mães, enfiava o jantar pela boca do ser inicialmente tão fragilizado... só que agora tão empanturrado com os cuidados solícitos assim tão atropelados.
Não será que verdadeiramente possam entender que, independentemente da justeza das suas intenções [as da equipa ministerial], quiçá seja assim que hoje em dia se vive nas escolas, com a catadupa de leis e regulamentos sobre o estatuto do aluno, o diploma das carreiras dos professores, o modelo de gestão das escolas, etc.?