Começam hoje, oficialmente, os Jogos Olímpicos de Londres.
São coisas destas que o mundo, absurdo, da formalidade, da política, da organização dos grandes dinheiros e grandes lucros; e, finalmente, das conveniências televisivas vai fazendo: hoje começa, hoje inaugura-se, em jeito de cerimónia de abertura oficial, o que já começou, o que já está a acontecer há dois dias. Pensando bem, se calhar, já há muito tempo que é assim, a gente é que andará mais atentos a estas coisas e dá-lhes outra importância. Quem sabe, há mais tempo que deveríamos ligar a estas coisas...
Enfim, como desabafa tolerantemente o povo, que seja pelo bem das almas. Que seja pelo bem do espírito olímpico, que entrelaça simbolicamente, numa bandeira, cinco arcos coloridos, representando cada um deles uma parte do mundo:
Citius, Altius, Fortius
Folheei há pouco um pequeno livro que, em 1999, pretendeu juntar alguma sabedoria do milénio. Reconheci um ou outro que já lá tinha lido noutra qualquer altura. Encontrei um provérbio chinês (pelo menos - o seu a seu dono -, a autoria da sabedoria condensada no pequenino texto é no livrinho atribuída ao povo chinês) que, desta vez, me prendeu mais a atenção. Ruminei... Passei à Net. Encontrei outro provérbio chinês que li também com muita atenção.
Ao lê-lo, saltou-me ao pensamento uma uma analogia que aproxima o atleta do Jogos Olímpicos de Londres do espetador que, bem sentadinho, em qualquer parte do mundo o veja na televisão.
Diz assim o provérbio:
If you want happiness for an hour -- take a nap. If you want happiness for a day --go fishing. If you want happiness for a month -- get married. If you want happinessfor a year -- inherit a fortune. If you want happiness for a lifetime -- help someone else.
(Se queres ser feliz por uma hora, dorme uma sesta. Se queres ser feliz por um dia, vai à pesca. Se queres ser feliz por um mês, casa-te. Se queres ser feliz por um ano, herda uma fortuna. Se queres ser feliz a vida inteira, ajuda alguém.)
Ora, a tragédia do atleta olímpico comporta estes momentos todos de felicidade: numa hora, num instante, joga a sorte daquele dia, a preparação de todo um mês, as circunstâncias de vida durante um ano; a interrogação da vida que um dia o poeta plasmou: "Valeu a pena?..."
É... talvez o que valha mesmo mais a pena na festa tremenda que hoje começa... oficialmente... seja o espírito olímpico que aproxima, em competição saudável e amiga, os atletas e os povos.
No tempo da Velha Grécia, suspendiam-se as guerras durante a realização dos Jogos, não era?
Londres está coberta de sofisticados equipamentos anti-mísseis.
Há uns anos, David Matsumoto, da Universidade Estadual de São Francisco, e colegas, tinham analisado uma série de atletas olímpicos e chegado à conclusão de que as suas reacções emocionais imediatas a uma vitória ou a um fracasso – que para os cientistas revelavam, respectivamente, sentimentos de orgulho e de vergonha – eram independentes da cultura do desportista e estavam “programadas” nos circuitos cerebrais de todos os seres humanos.
Mas agora, Matsumoto quis saber se algumas das expressões que na altura tinham sido classificadas como sendo de orgulho não seriam indicadoras de uma outra emoção, bem diferente. Mais precisamente: seria a pose de vitória o reflexo, não do orgulho pessoal sentido pelo atleta no momento da vitória, mas uma emoção ainda mais imediata?
Num estudo que deverá ser publicado na edição de Setembro da revista Evolution and Human Behavior, a sua equipa sugere agora que, efectivamente, a pose de vitória – tão característica, universal e inata – é, afinal, uma expressão de triunfo. A confirmar-se este resultado, o triunfo passaria a ter o estatuto de emoção de pleno direito e não o de componente de outra emoção humana mais complexa.
No novo estudo, os cientistas mostraram a um grupo de voluntários de duas culturas bastante diferentes – norte-americana e sul-coreana – fotografias de judocas de 17 países que tinham acabado de ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos de 2004. E pediram-lhes para definir a emoção retratada, escolhendo-a numa lista de possibilidades que lhes fora fornecida (e da qual constavam, obviamente, “triunfo” e “orgulho”).
Após uma série de testes deste tipo, constataram que a pose da vitória tinha sido classificada como sendo uma expressão de triunfo. Pelo contrário, nas que foram classificadas como expressões de orgulho, a atitude do atleta era diferente: braços afastados do corpo, mãos abertas, um ligeiro sorriso.
“Uma das maiores diferenças entre o triunfo e o orgulho é visível na cara”, diz Matsumoto (ex-treinador olímpico de judo premiado) em comunicado. “Quando alguém se sente triunfante após um concurso ou um desafio, a cara pode apresentar uma expressão bastante agressiva. Como o Michael Phelps quando ganhou os JO [de natação] de 2008. É muito diferente do pequeno sorriso que vemos quando alguém se sente orgulhoso de si próprio.”
Uma análise mais aprofundada das fotografias apresentadas aos participantes mostrou ainda que a expressão de triunfo surgia, em média, quatro segundos depois da vitória do judoca, ao passo que as expressões de orgulho surgiam, em média, 16 segundos depois do desfecho do encontro. Para Matsumoto, o facto de a expressão de triunfo anteceder a de orgulho tem uma explicação simples: as expressões de triunfo são declarações de sucesso, enquanto as de orgulho ocorrem quando a pessoa se sente satisfeita de si própria – o que exige alguns instantes de auto-avaliação.
Mas agora, Matsumoto quis saber se algumas das expressões que na altura tinham sido classificadas como sendo de orgulho não seriam indicadoras de uma outra emoção, bem diferente. Mais precisamente: seria a pose de vitória o reflexo, não do orgulho pessoal sentido pelo atleta no momento da vitória, mas uma emoção ainda mais imediata?
Num estudo que deverá ser publicado na edição de Setembro da revista Evolution and Human Behavior, a sua equipa sugere agora que, efectivamente, a pose de vitória – tão característica, universal e inata – é, afinal, uma expressão de triunfo. A confirmar-se este resultado, o triunfo passaria a ter o estatuto de emoção de pleno direito e não o de componente de outra emoção humana mais complexa.
No novo estudo, os cientistas mostraram a um grupo de voluntários de duas culturas bastante diferentes – norte-americana e sul-coreana – fotografias de judocas de 17 países que tinham acabado de ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos de 2004. E pediram-lhes para definir a emoção retratada, escolhendo-a numa lista de possibilidades que lhes fora fornecida (e da qual constavam, obviamente, “triunfo” e “orgulho”).
Após uma série de testes deste tipo, constataram que a pose da vitória tinha sido classificada como sendo uma expressão de triunfo. Pelo contrário, nas que foram classificadas como expressões de orgulho, a atitude do atleta era diferente: braços afastados do corpo, mãos abertas, um ligeiro sorriso.
“Uma das maiores diferenças entre o triunfo e o orgulho é visível na cara”, diz Matsumoto (ex-treinador olímpico de judo premiado) em comunicado. “Quando alguém se sente triunfante após um concurso ou um desafio, a cara pode apresentar uma expressão bastante agressiva. Como o Michael Phelps quando ganhou os JO [de natação] de 2008. É muito diferente do pequeno sorriso que vemos quando alguém se sente orgulhoso de si próprio.”
Uma análise mais aprofundada das fotografias apresentadas aos participantes mostrou ainda que a expressão de triunfo surgia, em média, quatro segundos depois da vitória do judoca, ao passo que as expressões de orgulho surgiam, em média, 16 segundos depois do desfecho do encontro. Para Matsumoto, o facto de a expressão de triunfo anteceder a de orgulho tem uma explicação simples: as expressões de triunfo são declarações de sucesso, enquanto as de orgulho ocorrem quando a pessoa se sente satisfeita de si própria – o que exige alguns instantes de auto-avaliação.