Só agora encontrei ocasião de ler este pequeno livro, e parece-me oportuno, agora que se volta a falar em reforma curricular do ensino primário e secundário, destacar duas ou três coisas da comunicação de Mário Cabral, "A 'Cidade de Deus' em Santo Agostinho de Portugal:
- A forte defesa, por vezes ingénua, do "bom selvagem", em contraponto com o mundo contemporâneo ocidental, nunca atinge, porém, o ponto de cegar o autor no que respeita à esperança depositada na revolução tecnológica que, no seu entender, funcionará como uma espécie de redenção da queda em que se encontra a Humanidade, espécie de círculo que se fecha e rosto que se encontra depois de se ter perdido.
- [como nota de rodapé, para explicar o que é o "bom selvagem"] TP II, "Educação em Portugal", 89-151, 92: "Acreditando, pois, que o homem nasce bom, o que significa para mim que nasce irmão do mundo, não seu dono e destruidor [...]".
- "[...] o professor deve sempre aparecer ao seu discípulo como uma pessoa de cultura perfeita; por cultura perfeita entenderemos tudo o que pode contribuir para lhe dar uma base moral inabalável, sem subserviências nem compromissos".
- "É esta a minha noção de cultura: tornar melhor a vida das pessoas. Começar pela alimentação, pelo vestuário, pela saúde, pelo ensino".
- Não se poderá jamais falar de cultura enquanto houver opressores e oprimidos. Agostinho da Silva é deveras sensível à condição infantil, mais até do que à feminina, escandalizando-se com o modo como a escola perverte a natureza do "bom selvagem", orientando-o para aquilo que chama ser civilizado. Cf. TP II, "Educação de Portugal", 89-151, 108.
- TEF II, "Pensamento em Farmácia de Província", 310: "[...] já que matemática é apenas uma parte do pensar e talvez o sonhar lhe seja muito maior".
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