domingo, abril 22, 2012

Um dia na Terra

One Day on Earth
Fui hoje à estreia no Diário de Notícias.
Tem muito que se lhe diga, mas vale a pena ver. Recomendo.
Atendendo aos objetivos, a extensão do filme não ajuda os ritmos qoe, por exemplo, as escolas impõem. Mas a gente nas escolas se desenrascará!
Vá, vamos a ver!

sábado, abril 07, 2012

No Sábado de Aleluia, a Páscoa de Agostinho da Silva


Quando fui, há uma semana atrás, à Biblioteca Municipal da Horta requisitar o “In Memoriam” de Antero de Quental, a solícita funcionária porfiou a procurá-lo mas não o encontrou. Desejosa de me ajudar, trouxe-me o “In Memoriam” de Agostinho da Silva. “Obrigado, não é este que eu quero, mas tenho muito interesse em levá-lo.” Que engraçado! Logo quando tinha acabado de pôr a atenção nas atas do Encontro em São Jorge sobre Agostinho da Silva! E trouxe mesmo o livro para casa!
Hoje, finalmente, dei-lhe um pouco de séria atenção. Li as contribuições de Pedro Agostinho da Silva, Maria Gabriela Agostinho da Silva Rodrigues, seus filhos; do meu querido colega e amigo Inácio Fiadeiro; de António José Saraiva, autor que leio com olhos de filho-coruja, tudo o que ele escreve é, para mim, antecipadamente notável; e calhou – pura coincidência, abrir na página do testemunho de José Hermano Saraiva, irmão do meu “pai-corujado”, ou “mãe-corujada”.
Por atravessarmos a época cultural-religiosa que atravessamos – a celebração da Páscoa – chamou-me a atenção que o filho Pedro fizesse questão de associar a “partida” (como ele se refere ao falecimento de seu pai) de Agostinho da Silva ao Domingo de Páscoa, em 3 de abril de 1994. “(…) do Restelo de onde os Navegadores partiram, detendo-se no dia seguinte, brevemente, na Igreja de Santa Maria de Belém, Mosteiro dos Jerónimos.”
Confesso que não sei se as coisas se passaram assim por vontade expressa de Agostinho da Silva, ou se porque os vivos lhe quiseram dedicar, em presença, um derradeiro simbolismo.
Fico com curiosidade em saber um pouco melhor porque aconteceram assim as coisas na partida de Agostinho da Silva – aliás, preciso de saber muito mais de muitas mais coisas de Agostinho da Silva – já que, noutra contribuição do In Memoriam, a do jornalista António de Sousa, é feita aparentemente (o texto está escrito entre aspas) a seguinte citação do Professor Agostinho da Silva, que nos mostra uma certa maneira de estar do autor acerca dos Descobrimentos Portugueses (quer dizer, não são de franca ou orgulhosa glorificação): [o feito extraordinário das Descobertas] “Sim, prejudicaram Portugal porque passou a ser fácil enriquecer: Bastava ir pilhar. Toda a gente que não queria fazer nenhum esforço de trabalho, resolveu mudar de vida e lançar-se a essa aventura dos descobrimentos, essa empresa estatal dos descobrimentos, e isso levou aqueles que ficam em Portugal a viver daquilo que colhíamos lá fora, portanto a não tomar aqui nenhuma iniciativa”.
Quando calhei no depoimento de José Hermano Saraiva, lá estava a Páscoa outra vez! Num texto de 3 linhas, hiper-sóbrio, denunciando, no meu entender, o simples esforço de “cumprir um dever”, o mais conhecido divulgador da História de Portugal, anos a fio, na televisão portuguesa, insinua um mistério, um simbolismo religioso que, creio, Agostinho da Silva nunca encomendaria: “Se Agostinho da Silva pudesse comentar a sua morte, diria que esta ocorreu num Domingo de Páscoa, o dia da Ressurreição. Quando um pensador morre, a morte passa a ser ilusória. Ficam as sementes do pensamento.” Pergunto-me se noutro dia qualquer do ano não ficariam, do pensador, as sementes do pensamento. O misticismo – o dia da Ressurreição - que José Hermano Saraiva associa à morte do homenageado é o misticismo que o Professor Agostinho da Silva professava?...  Será que alguma vez Agostinho da Silva se tomou como um “eleito”, predestinado a alguma especial missão de condução dos homens, ressuscitando ao terceiro dia, como o Cristo celebrado há tantos séculos? E como “cola” este misticismo com o que cheguei a ver em alguns dos programas do Professor José Hermano Saraiva, em que me parecia ver uma pedagogia paciente para quebrar mitos e “ledos enganos” que distorcem a perceção, ou melhor, que alimentam uma certa perceção de nós próprios, os Portugueses, e da nossa História?a 

sexta-feira, abril 06, 2012

Eça sobre Antero: "Um Génio que era um Santo"

Estou no Faial. Tempo invernoso no mar. Em terra, olhos habituados procuram baleias... Nada, nem uma mesmo! Volto do Peter para casa - "Fico de prevenção, se aparecer baleia e forem ao mar, liguem-me, ponho-me logo aqui." Oportunidade criada, oportunidade aproveitada: sentei-me à mesa para ler o extraordinário texto de Eça de Queirós sobre o seu amigo Antero de Quental, açoriano de São Miguel. É verdade, que texto!...
Luís de Magalhães foi o pólo centralizador da contribuição de muitos amigos para o "In Memoriam" que tantos quiseram dedicar a Antero. Magalhães quase desespera com a demora de Eça na entrega do texto. Mas, quando o lemos, percebemos claramente as razões, a espera dos mentores e editores da obra valeu bem a pena!
Com o título "Um Génio que era um Santo", Eça realça em Antero a arte de saber escutar; e afirma em período de uma só oração, para lhe dar melhor destaque: "A grande obra de Anthero, na verdade, foi a sua conversação." Explicita que a arte de Antero não é "só d'escutar, mas de ajudar o pensamento dos outros a surgir dos embaraços da expressão pêrra, a lançar o seu pequenino brilho: - e assim muitos affirmavam que, conversando com Anthero, se sentiam inesperadamente mais inventivos, mais intelligentes... A intelligencia era a d'elle, que, como o generoso sol, feito d'oiro candente, tudo doira em redor."

terça-feira, abril 03, 2012

"Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar." lê-se na Casa Manuel de Arriaga, na Horta

Guardamos, enquanto povo(s), na(s) nossa(s) memória(s) coletiva(s), imagens e afirmações sobre nós próprios a que nos acomodamos narcisicamente ou com que nos flagelamos masoquisticamente. São balas que disparamos enquanto se ouvem os ecos de verdades acontecidas ou "verdades" inventadas, tantas vezes tornadas mitos; e tanto as verdades como as "verdades" moldam - porque a traduzem fielmente ou porque parecem aconchegá-la na perfeição - a nossa personalidade coletiva, se é que esta "entidade", porventura existe (pela minha parte, acredito que existe; acredito na existência dessa coisa a que, por exemplo, Talcott Parsons chamou personalidade de base).
Hoje, quando procurava absorver tudo o que a espantosa exposição que a Casa Manuel de Arriaga, na Horta, tem para mostrar aos seus visitantes, reencontrei, entre as coisas que a exposição revela, duas dessas tiradas, que guardei como testemunham as fotografias que aqui junto.
A primeira é, hoje em dia, como que um dos arquétipos que formam a identidade, a individualidade e a idiossincrasia dos portugueses enquanto povo. É um quase-arquétipo quer quer fazer-nos crer que estas coisas têm a ver com os genes, certamente, mas também com o chão que pisamos e que nos alimenta; e também com o Sol que nos ilumina e aquece; finalmente, tem ainda a ver com com os horizontes geográficos -  dum lado, a secura de Castela e, do outro, a lonjura do mar.
"Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar." afirmou (terá afirmado) Júlio César.
Se o tema dos arquétipos me atraiu por formação académica, a segunda afirmação atraiu-me a atenção pela minha própria identificação ao nome do seu autor e à escola a que me dedico na minha profissão de todos os dias: a escola Eça de Queirós. Diz ele na citação que alguém quis destacar na projeção de slides que, num dos cantos da Casa-Museu,  homenageia e consagra Manuel de Arriaga:
"Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura."

Entretanto, para quem tiver curiosidade, aconselho uma olhadela à morada virtual da casa-museu:


Agostinho da Silva, a cultura, a educação e... a matemática

Na edição do ano passado da Semana do Mar da Horta, na ilha do Faial, comprei um pequeno livrinho, editado pelo FaiAlentejo, em 2006. Trata-se da publicação das atas do III.º CICLO AGOSTINIANO AÇORES, dedicado ao tema da Cidadania e Ambiente no Pensamento de Agostinho da Silva.
Só agora encontrei ocasião de ler este pequeno livro, e parece-me oportuno, agora que se volta a falar em reforma curricular do ensino primário e secundário, destacar duas ou três coisas da comunicação de Mário Cabral, "A 'Cidade de Deus' em Santo Agostinho de Portugal:

  1. A forte defesa, por vezes ingénua, do "bom selvagem", em contraponto com o mundo contemporâneo ocidental, nunca atinge, porém, o ponto de cegar o autor no que respeita à esperança depositada na revolução tecnológica que, no seu entender, funcionará como uma espécie de redenção da queda em que se encontra a Humanidade, espécie de círculo que se fecha e rosto que se encontra depois de se ter perdido.
  2. [como nota de rodapé, para explicar o que é o "bom selvagem"] TP II, "Educação em Portugal", 89-151, 92: "Acreditando, pois, que o homem nasce bom, o que significa para mim que nasce irmão do mundo, não seu dono e destruidor [...]".
  3. "[...] o professor deve sempre aparecer ao seu discípulo como uma pessoa de cultura perfeita; por cultura perfeita entenderemos tudo o que pode contribuir para lhe dar uma base moral inabalável, sem subserviências nem compromissos".
  4. "É esta a minha noção de cultura: tornar melhor a vida das pessoas. Começar pela alimentação, pelo vestuário, pela saúde, pelo ensino".
  5. Não se poderá jamais falar de cultura enquanto houver opressores e oprimidos. Agostinho da Silva é deveras sensível à condição infantil, mais até do que à feminina, escandalizando-se com o modo como a escola perverte a natureza do "bom selvagem", orientando-o para aquilo que chama ser civilizado. Cf. TP II, "Educação de Portugal", 89-151, 108.
  6. TEF II, "Pensamento em Farmácia de Província", 310: "[...] já que matemática é apenas uma parte do pensar e talvez o sonhar lhe seja muito maior".
(aversão integral do texto pode ser encontrada aqui:  http://www.jornaldepoesia.jor.br/A%20CIDADE%20DE%20DEUS.pdf)