Fernando Nobre é certamente uma pessoa, um português, que faz juz ao adágio popular que diz que uma árvore se conhece pelos seus frutos.
Como os navegadores da época que faz a idade de ouro da História de Portugal, ele saiu do descanso do seu jardim à beira-mar plantado e foi ao encontro das intranquilidades e dos desafios do Mundo, os desafios trazidos pela pobreza, pelo atraso no desenvolvimento e pelo sofrimento causado pelas guerras e pelos cataclismos naturais.
A canção diz que o conquistador já foi ao Brasil, Praia e Bissau, Angola, Moçambique, Goa e Macau; foi até Timor. Fernando Nobre também foi a essas paragens e a muitas mais, já foi a mais de cento e sessenta dos espaços geográficos identificados com nomes de países. E não foi como conquistador, nem de terras, nem do ouro, nem de especiarias. No jeito que foi, e sem que fosse o tal conquistador, acabou por conquistar os corações de muita gente, de línguas, culturas e riquezas bem diferentes dos dele próprio.
Muitos, nos Descobrimentos Portugueses, saíram a barra de Lisboa como missionários, a evangelizar, a converter a um credo. Fernando Nobre chegou a todos os credos e ninguém ele quis converter. Se alguém quisesse, em gesto de reconhecimento e gratidão pela ajuda dele recebida, que ele perguntasse qual o mais sábio e justo credo dos homens, ele lhe responderia: “O credo da solidariedade humana, dia-a-dia, hora-a-hora, longe e bem perto de nós”.
Médico de formação e profissão, criou a AMI, Assistência Médica Internacional, em 1984, instituição não governamental que é hoje internacionalmente reconhecida na área da assistência humanitária em situações de catástrofe e de combate ao subdesenvolvimento.
Quando falamos com ele, o olhamos olhos nos olhos e lhe perguntamos: “Tu é isso que fazes, e eu?... que posso eu fazer?...”, Fernando Nobre diz-nos que ele faz como o passarinho de Sariã, a floresta da Índia que um dia foi tomada por um fogo tremendo. Gota a gota, sem descanso, traz no seu bico a água aflita para salvar as árvores e os animais. A seguir diz-nos que a gente sabe o que acontece quando juntamos as coisas, gota a gota, grão a grão; cabe-nos, com essa consciência, decidir o que fazer. A floresta de Sariã continua a arder, mais do que nunca até.
Como homem, Fernando Nobre cumpriu-se na profissão de abraçou, na família que constituiu, nos filhos que gerou. Filhos a quem bondosamente já ameaçou que, se as forças ainda lhe chegassem, lhes desfaria nas costas as bengalas que tem lá em casa se eles o abandonassem na velhice, como vê acontecer com tantos idosos, de tantos lares, que visita.
Receber uma pessoa assim na nossa Escola é um privilégio. Saibamos merecer a visita que nos fez. Vamos com ele salvar a Floresta de Sariã.