ao José Geadas e ao João Lotra, do concurso "Uma Canção para Ti" da TVI,
quer dizer, é dedicado às crianças que eu imagino que eles são,
e dedicado também a todas as crianças que são
- repito - como imagino que eles os dois são.
Quando estava a preparar uma aula sobre a expressão das emoções e a pedagogia das emoções
nas crianças pequenas,
encontrei um poema de Fernando Pessoa, que me imaginei logo a usar
num hipotético nível avançado de formação para professores,
precisamente sobre a pedagogia das emoções.
O poema de Fernando Pessoa não tem título,
ao contrário da maioria dos poemas que estão publicados nos "Poemas Ingleses".
Tentei dar-lhe um título,
mas todos me pareceram insuficientes e insatisfatórios.
Lembrei-me, então, de reescrever o início de um (pretencioso) poema,
que escrevi há anos,
e usar esses versos como título.
Aqui vão, então, em grata e cordial saudação ao José Geadas e ao João Lotra:
Para que as palavras falem de ti,
A todos digam o que senti,
É preciso escrevê-las
Alegres e travessas,
Às direitas e às avessas,
E brincar depois com elas.
Então, agora, depois deste "título", o poema de Fernando Pessoa:
Se eu pudesse em madeira meus versos fazer,
Os meninos os podiam então entender,
Tão rente ao sentido que tudo em Deus tem
Estão meus poemas e as crianças também.
Que um menino sabe que senso e razão
Só encobrem nada e o nada são,
E a criança possui, divina, a clareza
De que tudo é brinquedo e tudo é beleza.
Que um dedal, uma pedra, carrinho de linhas,
São coisas que podem sentir-se divinas,
E que, se destas coisas os homens moldados,
Homens são de certo, não imaginados.
Por isso eu queria meus versos tirar
De simples ideias e as representar
Em gravuras, formas, desenhos p'ra ver,
Coisas que meus versos pudessem parecer.
Poeta das crianças então viria a ser.
Embora talvez não o chegasse a saber
Com o senso exterior que faz triste a vida,
Em rostos inocentes alegre sentida
Deus daria à alma o senso perdido
Do saber de outrora, de prémio merecido -
O sentir das crianças, mais ainda, ao ver
Representar meus versos de livre querer,
De pernas cruzadas, brinquedos brincando,
No mundo visível levemente errando.
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