quinta-feira, abril 23, 2009

Fernando Pessoa, as emoções e as representações das crianças

Este apontamento é dedicado
ao José Geadas e ao João Lotra, do concurso "Uma Canção para Ti" da TVI,
quer dizer, é dedicado às crianças que eu imagino que eles são,
e dedicado também a todas as crianças que são
- repito - como imagino que eles os dois são.

Quando estava a preparar uma aula sobre a expressão das emoções e a pedagogia das emoções
nas crianças pequenas,
encontrei um poema de Fernando Pessoa, que me imaginei logo a usar
num hipotético nível avançado de formação para professores,
precisamente sobre a pedagogia das emoções.

O poema de Fernando Pessoa não tem título,
ao contrário da maioria dos poemas que estão publicados nos "Poemas Ingleses".
Tentei dar-lhe um título, 
mas todos me pareceram insuficientes e insatisfatórios.
Lembrei-me, então, de reescrever o início de um (pretencioso) poema,
que escrevi há anos,
e usar esses versos como título.

Aqui vão, então, em grata e cordial saudação ao José Geadas e ao João Lotra:
Para que as palavras falem de ti,
A todos digam o que senti,
É preciso escrevê-las
Alegres e travessas,
Às direitas e às avessas,
E brincar depois com elas.

Então, agora, depois deste "título", o poema de Fernando Pessoa:

Se eu pudesse em madeira meus versos fazer,
Os meninos os podiam então entender,

Tão rente ao sentido que tudo em Deus tem
Estão meus poemas e as crianças também.

Que um menino sabe que senso e razão
Só encobrem nada e o nada são,

E a criança possui, divina, a clareza
De que tudo é brinquedo e tudo é beleza.

Que um dedal, uma pedra, carrinho de linhas,
São coisas que podem sentir-se divinas,

E que, se destas coisas os homens moldados,
Homens são de certo, não imaginados.

Por isso eu queria meus versos tirar
De simples ideias e as representar

Em gravuras, formas, desenhos p'ra ver,
Coisas que meus versos pudessem parecer.

Poeta das crianças então viria a ser.
Embora talvez não o chegasse a saber

Com o senso exterior que faz triste a vida,
Em rostos inocentes alegre sentida

Deus daria à alma o senso perdido
Do saber de outrora, de prémio merecido -

O sentir das crianças, mais ainda, ao ver
Representar meus versos de livre querer,

De pernas cruzadas, brinquedos brincando,
No mundo visível levemente errando.

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