segunda-feira, abril 27, 2009

9 de Maio é o Dia da Europa

Em 9 de Maio de 1950, Robert Schuman, ministro francês dos Negócios Estrangeiros,  apresentou, no Salon de l'Horloge do Quai d'Orsay, em Paris, pelas 16h00, uma proposta que ficou conhecida como a...
DECLARAÇÃO SCHUMAN

... de que destaco agora as seguintes passagens:

"L'Europe ne se fera pas d'un coup, ni dans une construction d'ensemble"... 

"A paz mundial só poderá ser salvaguardada com esforços criativos à medida dos perigos que a ameaçam. (...)
A Europa não se construirá de uma só vez, nem pela concretização de um projecto global predeterminado: resultará, sim, de realizações concretas - criando em primeiro lugar solidariedades de facto.  (...)
A criação desta poderosa unidade de produção, aberta a todos os países que nela queiram participar, lançará os fundamentos reais da sua unificação económica, fornecendo, em condições de igualdade, os elementos fundamentais da produção industrial a todos os países que dela vierem a fazer parte. Esta produção estará ao dispor do mundo inteiro, sem distinções nem exclusões, contribuindo para a melhoria do nível de vida e para o progresso pacífico. A Europa poderá, com meios acrescidos, continuar a realização de uma das suas tarefas essenciais: o desenvolvimento do continente africano. (...)"

Praticamente 60 anos depois desta declaração (desta utopia?), eu pergunto-me:
  • que decisões políticas foram tomadas [ou pode-se perguntar de outra maneira: que resultados  as decisões políticas dos países em matéria de educação obtiveram nas seguintes áreas...] para que, ao longo destes 60 anos, se educassem as crianças e os jovens ...
    ... na identificação dos perigos?
    ... na valorização do esforço pessoal?
    ... na promoção da criatividade?
    ... na vivência da solidariedade?
    ... na concepção da 'distinção' como enriquecimento e não ameaça à integridade pessoal?
    ... na inclusão dos outros, diferentes de si?
    ... no respeito, de igual para igual, dos africanos e das suas culturas?
Repare-se, Schuman diz que, em primeiro lugar, é preciso criar solidariedades de facto.
Quantos, até hoje, nas escolas de toda a Europa, pensaram a sério na pedagogia; e na vivência concreta, no dia-a-dia, da solidariedade?

domingo, abril 26, 2009

sexta-feira, abril 24, 2009

Escrevi assim hoje noutro blogue, o Pato Bravo (http://www.patobravo.com/), como comentário a um apontamento lá escrito sobre o José Geadas:

Há coisas muito engraçadas na participação deste miúdo!…
Parece trazer nele a experiência que lhe vem do chão, que sente a certeza do seu valor, mas tem sobre ele o obstáculo de que a sua condição natal o põe logo derrotado perante outros (não interessa se mais, igual ou menos capazes) certamente mais poderosos… São gerações e gerações de vidas duras e muito exploradas…
A espontaneidade do sotaque e da resposta rápida e oportuna a assumir e a defender o seu - o nosso!… - Benfica, a denunciar a integridade pessoal e o pensamento vivo…
O brilho dos olhos, olhando olhos nos olhos; e a expressão tristemente feita de empatia e carinho, com que agradeceu, não aos de Rio de Moinhos, concelho de Borba, mas sim aos de Rio de Moinhos e aos do concelho de Borba… Era o olhar, a firmeza e o afecto de quem sabia o que estava a dizer…
A explosão e a expressividade do salto e do abraço ao colega de concurso, assim que ouviu o Luís Goucha dizer o seu nome… muito claros da alegria sincera e saudável do feito que tinha conseguido alcançar…
Não quero ser tomado pelo virus da “concursite”, a ver quem fica em primeiro, mas o rapaz parece-me um daqueles atletas que os comentadores desportivos gostam de dizer que “correm de trás para a frente”. E assim, quem sabe?, se pelos seus próprios méritos ele não chegará onde ele próprio já considerou impossível chegar.
Hoje, na escola, quis brindar os meus alunos com um poema que celebrasse o 25 de Abril…
Entretanto, enquanto procurava esse poema, encontrei este outro, que achei à medida do Zé Geadas, que me faz lembrar o homem-criança que sonha na “Pedra Filosofal”. Gosto mesmo muito de ouvir o Zé cantar.
O poema. É de Fernando Pessoa (Ricardo Reis), escrito para ele:

Ode
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Zé, força!…
Viva o Benfica!… (Desculpem os outros o facciosismo…)
Viva o 25 de Abril! 25 de Abril, sempre!

O 25 de Abril comemorado na Escola

A Eulália Andrade, a Paula Faia e a Cristina Kirkby - colegas de História - promoveram hoje na Escola uma sessão aberta à comunidade escolar sobre o 25 de Abril, centrada no testemunho pessoal, transmitido ao vivo, por colegas que viveram o 25 de Abril; e na entrevista a outros colegas, feitas por alunos do 12.º H1, trabalho esse que foi visionado a partir do computador.
No final da sessão, eu não quis deixar de dizer aos jovens - e professores jovens - presentes no CRE (centro de recursos educativos) que eles também terão pela sua frente lutas de intensidade igual - mesmo, maior! - às que nós tivemos no nosso 25 de Abril. Ganhámos em liberdade cívica, em democracia (mesmo que apenas formal), mas o estado do mundo é, nos dias de hoje, de perspectivas muito sombrias, basta pensar-se no tema do aquecimento global e da delapidação vertiginosa dos recursos do Planeta, ou no tamanho da nossa pegada ecológica. Disse-lhes ainda que muitas das tiranias e dos poderes exploradores se mantêm, ou retornaram, sob vestes bem mais sofisticadas e a coberto de princípios democráticos indiscutíveis.
É verdade, mesmo que por outras razões, o mundo das próximas gerações parece que vai ser bem mais difícil que o meu e dos meus colegas "cotas".
Por isso, em jeito de despedida (despedida até ao 25 de Abril do próximo ano; despedida de esperança e de alento, apesar de tudo), deixei-lhes o seguinte poema de Miguel Torga:

Perenidade

Nada no mundo se repete.
Nenhuma hora é igual à que passou.
Cada fruto que vem cria e promete
Uma doçura que ninguém provou.

Mas a vida deseja
Em cada recomeço o mesmo fim.
E a borboleta, mal desperta, adeja
Pelas ruas floridas do jardim.

Homem novo que vens, olha a beleza!
Olha a graça que o teu instinto pede.
Tira da natureza
O luxo eterno que ela te concede.
(Miguel Torga, Libertação, 4.ª edição, 1978)

quinta-feira, abril 23, 2009

If "I could carve my poems in wood", Fernando Pessoa

Este é o poema de Fernando Pessoa, apresentado no apontamento imediatamente anterior deste blogue. O poema foi originalmente escrito em inglês, numa colectânea chamada "The Mad Fiddler" (O Rabequista Mágico).
Retirei-o do volume I da "Poesia Inglesa", da Assírio & Alvim, de Março de 2000.

If I could carve poems in wood,
By children they would be understood, 

So near to the sense things have in God
Are both my poems and children’s thought. 

For a child knows that logic and meaning
Are only nothing nothing screening, 

And a child is only divinely aware
That all things are toys and all things are fair. 

That a thimble, a stone and a cotton-reel
Are things we can quite divinely feel, 

And that, if we make men out of those things,
They are really men, not imaginings. 

I would therefore I could take my verse
Out of mere ideas and better it worse 

To visible carving or drawing or what
My verses could be resembling that. 

Then would I be the children’s poet.
And, though perhaps I might never know it 

With the outer sense that makes life sadder,
In every innocent face made gladder 

God would be giving my soul the sense,
Lost back of knowledge, of recompense – 

The sense of children more children still
When, acting my poems at their glad will, 

They, playing with toys, with legs incurled,
Lightly err the visible world.

Fernando Pessoa, as emoções e as representações das crianças

Este apontamento é dedicado
ao José Geadas e ao João Lotra, do concurso "Uma Canção para Ti" da TVI,
quer dizer, é dedicado às crianças que eu imagino que eles são,
e dedicado também a todas as crianças que são
- repito - como imagino que eles os dois são.

Quando estava a preparar uma aula sobre a expressão das emoções e a pedagogia das emoções
nas crianças pequenas,
encontrei um poema de Fernando Pessoa, que me imaginei logo a usar
num hipotético nível avançado de formação para professores,
precisamente sobre a pedagogia das emoções.

O poema de Fernando Pessoa não tem título,
ao contrário da maioria dos poemas que estão publicados nos "Poemas Ingleses".
Tentei dar-lhe um título, 
mas todos me pareceram insuficientes e insatisfatórios.
Lembrei-me, então, de reescrever o início de um (pretencioso) poema,
que escrevi há anos,
e usar esses versos como título.

Aqui vão, então, em grata e cordial saudação ao José Geadas e ao João Lotra:
Para que as palavras falem de ti,
A todos digam o que senti,
É preciso escrevê-las
Alegres e travessas,
Às direitas e às avessas,
E brincar depois com elas.

Então, agora, depois deste "título", o poema de Fernando Pessoa:

Se eu pudesse em madeira meus versos fazer,
Os meninos os podiam então entender,

Tão rente ao sentido que tudo em Deus tem
Estão meus poemas e as crianças também.

Que um menino sabe que senso e razão
Só encobrem nada e o nada são,

E a criança possui, divina, a clareza
De que tudo é brinquedo e tudo é beleza.

Que um dedal, uma pedra, carrinho de linhas,
São coisas que podem sentir-se divinas,

E que, se destas coisas os homens moldados,
Homens são de certo, não imaginados.

Por isso eu queria meus versos tirar
De simples ideias e as representar

Em gravuras, formas, desenhos p'ra ver,
Coisas que meus versos pudessem parecer.

Poeta das crianças então viria a ser.
Embora talvez não o chegasse a saber

Com o senso exterior que faz triste a vida,
Em rostos inocentes alegre sentida

Deus daria à alma o senso perdido
Do saber de outrora, de prémio merecido -

O sentir das crianças, mais ainda, ao ver
Representar meus versos de livre querer,

De pernas cruzadas, brinquedos brincando,
No mundo visível levemente errando.

terça-feira, abril 21, 2009

José Geadas, de Rio de Moinhos, concelho de Borba

Escrevi assim, hoje, no blogue do Grupo Desportivo e Cultural de Rio de Moinhos, no concelho de Borba, na forma de comentário ao apontamento em que o José Geadas, que foi recentemente apurado para a final do concurso da TVI, "Uma canção para ti", agradece, perantes as câmaras da TV, o apoio que lhe foram manifestando, por todo o País:

Há uma coisa que tu fizeste quando agradeceste aos teus conterrâneos, mesmo antes da votação que te pôs na final - quando tu não acreditavas que lá chegarias!... -, que os rapazinhos da tua idade, que vivem em Lisboa, e nas outras grandes cidades, não percebem, porque não sentem da maneira como tu sentes. E como sentem todos em Rio de Moinhos e em Borba (e nos outros Rios de Moinhos e Borbas por esse País fora): a força gregária do "concelho". Nenhum rapazinho da minha escola, nenhum dos meus alunos, se reconhece como pertencendo ao concelho de Lisboa, nem se apresenta assim a ninguém. Como terão gostado de te ouvir as pessoas da tua terra!... Como diz a poetisa portuguesa que foi tua vizinha, ali de Vila Viçosa, a Florbela Espanca (que fala muito de tristeza e pouco de alegria. Ela teria tido mais alegrias se te tivesse conhecido e te tivesse ouvido cantar, ou visto a brincar com os teus amigos), "O ver o teu olhar faz bem à gente..."
Força, Zé! Canta, brinca... e não te esqueças dos trabalhos da escola!...

Se se clicar na hiperligação que está no título deste apontamento, ter-se-á acesso ao blogue do Grupo Desportivo e Cultural de Rio de Moinhos, que tanta satisfação e orgulho mostra pelo seu moço Zé.

domingo, abril 19, 2009

Mas as crianças, Senhor, porque sofrem assim?!

Nas sociedades urbanas, as novas gerações certamente não concebem já que exista vida social sem écrãs de televisão, computador ou playstation.
Nas televisões, no chamado horário nobre, à noite, quando é de esperar que a família esteja toda reunida em casa, TAMBÉM passam programas interessantes, ao lado de outros que claramente o não são.
O concurso "Uma canção para ti" é um programa que me parece estar no fio da navalha, ali mesmo na fronteira muito estreita entre um bom programa de entretenimento familiar e um programa (mais um!) de exploração comercial desonesta da alegria das crianças e da ingenuidade das famílias.
Ontem calhou, em Coimbra, entrar numa grande superfície comercial para uma compra de conveniência. Quando cheguei à caixa de pagamento, enquanto esperava a minha vez, olhei a prateleira das revistas que ali estava mesmo à minha frente e em duas delas vi fotografias do pequeno David Gomes a ocupar quase toda a capa, e noutra a fotografia dele também lá estava, só que bem mais discreta.
O David é um rapazinho que me tem encantado -  e tem, pelos vistos, encantado muita gente por esse País fora - com a sua voz, as suas interpretações musicais, a alegria contagiante do seu sorriso aberto e a expressividade artística do seu corpo, no concurso dominical da TVI, "Uma canção para ti".
Foram certamente um sonho e um prazer de criança que o levaram ao casting, primeiro e ao palco, depois. Na sociedade que inventámos, ele tem direito a esse sonho e a esse prazer. E a todos nós que pululamos à sua volta cabe a responsabilidade de o educar convenientemente; ou de o respeitar na verdura dos seus anos.
É isso mesmo: à comunicação social cabe TAMBÉM o dever de o educar ou de o respeitar.
Imagine-se, pois, o rapazinho, ali, no meu lugar, a ver as suas fotografias, legendadas por estes títulos, respectivamente nas revistas "Ana", "TV guia" e "Maria":
  • Menino de ouro não consegue ser feliz, vencedor antecipado provoca revolta
  • Racismo na família, "O Sr. José Luís (avô de David Gomes) é um racista!"!
  • David Gomes, Mãe proibida de falar
Lá dentro, em todas estas revistas, nenhum título ou subtítulo fala da voz  e das interpretações magníficas desta criança!...
O mais pequenino lamento - um eufemístico lamento - que aqui posso deixar vem-me da memória dos versos de Augusto Gil: "Mas as crianças, Senhor, / Porque lhes dais tanta dor?! / Porque padecem assim?!"
Ou o versículo bíblico, que cito de cor, também na fronteira entre o literal e o metafórico: "Fala, ancião, porque isso te compete. Mas com discrição, não perturbes a música."

sábado, abril 11, 2009

A Páscoa, com ou sem coelhinhos

Foi esta a mensagem que, a celebrar a época festiva que atravessamos, tão característica da nossa tradição cultural, espiritual ou religiosa, enviei à quase totalidade das minhas listas de endereços electrónicos (Quer dizer, modernices... cómodas, rápidas e eficazes modernices). Foi escrita ontem, à tarde:

Ai!... Ai!...

Agora, às três e meia da tarde, cá por casa, cada um descansa para seu lado...

De manhã fui p'ró mar, ver baleias e golfinhos, depois de dar à pressa o pequeno-almoço à minha "Velhitas".
Cheguei a casa quase às duas da tarde, ela esperava por mim para almoçar. Creme de ervilhas e um belo bacalhau no forno!...
Depois consolámo-nos - quem ainda estava em casa - com amêndoas, que eu trouxe de Lisboa, escolhidas quase uma a uma! Falámos de folares (que os temos cá em casa; os do Redondo já acabaram, mas temos ainda um grande do Pico, que uma doente da minha irmã fez questão de lhe oferecer), até dos lagartos com olhinhos de feijão frade que há mais de 30 anos a tia Rosinda oferecia aos sobrinhos!... Eram deliciosos!... O Pedro Henrique, o meu sobrinho açoriano mais velho, foi surfar para São Jorge, come menos amêndoas, só as que tiverem sobrado no domingo de Páscoa; é bem feito!... (Talvez lhe guarde algumas, às escondidas)
Daqui a pouco, vou levar a minha mãe - como agora se tornou hábito - a acender o farol, o que, além de útil para quem cruza o mar no canal entre as ilhas, é um excelente passeio higiénico para ela.
Amanhã vamos todos almoçar fora, ao Chinês (!) que é a grande novidade aqui na cidade da Horta.
No domingo de Páscoa vamos chamar os amigos (aqueles muito especiais) e os outros familiares da Ilha e vamos todos almoçar tradicionalmente cá em casa.
De manhã iremos todos ao cemitério levar as amêndoas aos gulosos do senhor José (o Peter) e ao nosso "Velho". À tarde, será tempo de telefonar para a família de (Grande) Lisboa, Coimbra, Cernache, Abrantes e Matosinhos. E amigos, também do continente.
A missa pascal é seguida em casa, pela televisão, pelas duas anciãs da família, Lourdes e Luísa.

Desejo a todos vós uma Páscoa igual à minha! Ou melhor!...
Beijinhos e abraços!