domingo, fevereiro 22, 2009

dap - uma forma ritualizada de saudação

Dap é uma forma de cumprimento (aperto de mão), de diferentes graus de complexidade ritual, que apareceu nas comunidades afro-americanas dos Estados Unidos, e que se tornou popular na sociedade, em geral, brancos e negros, na década de 1960.


sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Aniversários: de Darwin, do meu pai e da Mariana

Ontem cantei os parabéns a Charles Darwin, na Gulbenkian, e comi uma pequena fatia do seu bolo de aniversário.
Hoje evocarei o aniversário do meu pai e, na casa que foi a dele, cantarei os parabéns à sua neta açoriana, a minha sobrinha Mariana. Depois de ela apagar as velas, vou comer mais bolo de anos, que virá da deliciosa padaria Barroso, do Redondo. 
A autobiografia de Darwin tem muitas referências ao seu pai, que atestam os laços que os ligavam e os sentimentos profundos que o naturalista nutria pelo seu progenitor.
Para além de todas as opiniões pessoais que pudesse ter manifestado em relação ao seu filho, parece-me que nos momentos críticos das opções de Darwin, Robert Darwin respeitou as opções do filho, e deu espaço para que ele levasse por diante as suas motivações e as suas decisões.
O "salvar a face" da sua autoridade perante a vontade de não deixar o filho embarcar no Beagle e a atitude de não o impedir de realizar este seu grande desejo está na formulação lapidar com que lhe comunica a sua decisão: "Se encontrares alguém de bom senso que te aconselhe a ir, eu dou-te a minha permissão".
É... o meu pai também teria dito qualquer coisa assim deste género. Para ele, mais importante do que obrigar-me a cumprir as suas determinações, ou condicionar-me logo para tomar (para ele, claro, do seu ponto de vista) as boas decisões, o meu pai confiava sempre, deu-me sempre a possibilidade de escolher, queria era que eu assumisse as minhas decisões mesmo nas suas piores consequências. Quando as havia - raramente isso aconteceu - apoiava-me benevolentemente na resolução de quaisquer problemas surgidos.
É... o meu pai ajudou-me, mais do que qualquer outra pessoa, a seguir (responsavelmente) as minhas motivações e a, como diz Darwin, a ter um enorme prazer no esforço físico e mental. Na exploração do mundo e na comunicação com as pessoas à minha volta.
Parabéns, Velho!... Parabéns, Mariana!...

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Charles Darwin e Guerra Junqueiro... pela mão de Rafael Luís Silva

Estava-se em cima das sete da tarde, a exposição sobre Darwin na Gulbenkian estava prestes a abrir. Eu já estava no interior do edifício principal da Fundação e folheava o catálogo, que acabara de comprar. Pela minha esquerda aproxima-se um senhor que pára mesmo junto a mim, me faz uma pergunta sobre o que eu tenho nas mãos. Educadamente, dou-lhe algumas informações. O senhor fica ali a falar comigo. É um "junqueiriano" convicto e confesso. Puxa de um pequeno papel, um quarto de folha A4, de dentro do saco de plástico que trazia.
O papel dizia assim:
"Os Simples não se criticam, lêem-se e admiram-se. Quem não tem sensibilidade para sentir aqueles versos, escusa de perder tempo a arquitectar argumentos para os discutir. Junqueiro trouxe para este precioso volume, breviário das almas de eleição, o espírito de Darwin, o grande génio da transformação das espécies, o vigoroso cabouqueiro do progresso que deu novo rumo à Biologia moderna." EGAS MONIZ (Guerra Junqueiro, 1949, p. 33)
Gostaria de um dia, em breve, falar sobre o resto deste encontro curioso.

domingo, fevereiro 08, 2009

Sobre a escola de 12 horas - capítulo II

A minha querida colega e amiga Ana Almeida, da Universidade do Minho, teve a gentileza (que muita alegria me deu; e que muito sinceramente agradeço) de me mandar o seguinte texto, em que exprime a sua opinião sobre o assunto das 12 horas na escola:

Concordo inteiramente. Se a minha opinião douta, na qualidade de professora de Psicologia de Desenvolvimento nas licenciaturas de formação de professores, também tem algum crédito, acrescentaria que não há estudos científicos que possam predizer que o aumento de horas na escola se traduza linearmente em ganhos desenvolvimentais em qualquer plano: cognitivo, afectivo ou social. Se esse tempo for ganho à família tanto pior, pelo que isso significa em termos de perdas de cuidados, acompanhamento e supervisão às crianças, mas pior ainda pelo que isso representa para o exercício da parentalidade positiva e da defesa das políticas de conciliação do trabalho e do apoio aos filhos. Moral da história para abreviar: não se podem considerar todos os desabafos como dignos de serem comentados, sob o risco de alimentar uma polémica sem fundamento.

O T. tem razão. A quinta-feira é mesmo o melhor dia da semana!

É verdade! A quinta-feira do T. é mesmo o melhor dia da semana.
Se eu tivesse participado na conversa que ouvi ali ao meu lado, enquanto preparava materiais de estudo para alguns dos miúdos que estavam ali a trabalhar comigo, eu teria também dito, lembrando-me do que me acontecia quando tinha a idade deles:
- Para mim, o melhor dia da semana é a quinta-feira.
E depois de dar a volta, quando fosse a minha vez de dizer porquê, seria assim que eu falaria:
- À quinta-feira é quando tenho catequese. Acaba às cinco, cinco e meia. O salão paroquial fica perto da casa dos meus avós, é só descer a rua do teatro São Pedro. Mal acaba a catequese, vou lá, a correr, antes de ir para minha casa. Quando eu lá chego, a minha avó Rosa corta duas fatias de pão, grandes, eu olho a ver se as brasas estão boas, e depois é só esperar que elas fiquem torradinhas. Vou falar com o avô Branco, que está sentado lá na sala, sempre a ranger os dentes devagarinho [Rilhava os dentes e esfregava os dedos da mão direito uns nos outros, os dedos fechados em punho. Só mais tarde claramente percebi que assim, silenciosamente, ele se confrontava com as terríveis dores que acabaram por vencê-lo]. Quando as torradas ficam prontas, a minha avó chama-me e eu gosto de ficar a vê-la a pôr a manteiga, só mesmo com a pontinha da faca. Custa-lhe muito estar de pé. Senta-se sempre primeiro, antes de pôr a manteiga. Ela fica depois ali ao pé de mim a conversar e a ver-me comer as torradas. São tão boas!

sábado, fevereiro 07, 2009

Sobre a hipótese da escola de 12 horas

Encontrei na edição on line de hoje do jornal "Público" uma notícia que começa assim:
Que geração será a das crianças que vão passar doze horas na escola?

07.02.2009, Natália Faria

Adolescentes como os do filme Paranoid Park, quase delinquentes. Ou como os outros, sem mais dramas. Mas o tempo a mais na escola deve ser para brincar

Diz o psiquiatra Daniel Sampaio: "O que é preciso é modificar os horários dos pais e não aumentar o tempo de permanência das crianças na escola. Se persistirmos neste modelo, estaremos a criar uma geração de adolescentes como a do Paranoid Park, do Gus Van Sant", ou seja, jovens a arriscar a fronteira da delinquência. 
Desdramatiza o neuropediatra Nu-
no Lobo Antunes: "Não antecipo na-
da esse cenário. Não creio que a per-
manência das crianças na escola durante mais tempo vá provocar uma hecatombe ou deitar a perder uma geração. Não sendo a situação ideal, não me parece que as crianças fiquem mal empregues". 
A possibilidade de as escolas do 1.º ciclo do ensino básico funcionarem 12 horas por dia, entre as sete da manhã e as sete da tarde, posta esta semana em cima da mesa pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), está longe de gerar consensos. (...)

Hoje também, de manhã, a atravessar a ponte Vasco da Gama, ouvi na rádio do carro a repetição de uma conversa com Daniel Sampaio, em que ele opinava e aconselhava acerca de uma carta mandada por uma mãe que tinha criado com as filhas uma lista de coisas para cumprirem diariamente, as filhas não cumpriam e ela não sabia o que fazer. Pessoalmente discordo claramente da opinião expressa por Daniel Sampaio na rádio. Talvez um dia volte a este assunto e explique aqui porquê.
Mas no que diz respeito ao assunto do jornal, no fundamental estou de acordo com ele e fico espantado com a opinião que diz "não me parece que as crianças fiquem mal empregues".
Somos todos muito doutos, somos todos muito sabedores destas coisas todas... e hoje há também muitas pessoas que pensam que sabem muito mais que os professores e as educadoras sobre estas coisas, e se os professores e as educadoras não querem ficar mais tempo com as crianças é porque não querem trabalhar!
Pela minha parte, quero apenas deixar aqui um brevíssimo pedaço de uma pequena conversa que um dia ouvi numa sala de estudo de apoio a crianças em risco escolar. Uma conversa de crianças. Era sobre o dia da semana que mais gostavam. Este deste, aquele daquele, aquela do outro... O T., o dia que gostava mais era a quinta-feira. A conversa era absolutamente espontânea. À vez, cada um disse o dia que gostava mais. E depois de dar a volta a todos, voltou ao primeiro, e todos tiveram de explicar porque gostavam mais do dia que tinham escolhido. Quando chegou a sua vez, o T. disse: "Eu gosto mais da quinta-feira porque é o dia em que eu chego a casa e a minha mãe já lá está. Ela pergunta-me como é que foi a escola. Eu sento-me na cozinha e enquanto a minha mãe me arranja o lanche eu conto-lhe como foi". No fim da conversa, todos acharam que a razão do T. era uma razão muito boa, a quinta-feira devia ser mesmo o melhor dia da semana.