domingo, junho 29, 2008

Um pouco mais sobre Al Gore e Marlo Lewis

No sítio da Ver, está publicada uma entrevista co Marlo Lewis, Jr, (http://www.ver.pt/conteudos/ver_mais_Geral.aspx?docID=529), da qual transcrevo uma pergunta e a respectiva resposta:

Contudo e por outro lado, a evidência do aquecimento global é avassaladora e inegável para a esmagadora maioria dos cientistas. O que tem a dizer sobre este facto?
A evidência do aquecimento global é inegável. Não há qualquer tipo de discussão quanto a isso. O mundo está muito mais quente do em 1975 e o século XX, no geral, foi mais quente do que o século XIX. E também não existem dúvidas de que a emissão de gases com efeito de estufa constitui um dos factores para o recente aquecimento global (embora alguns cientistas defendam que a variabilidade natural possa ser responsável até metade do aquecimento observado durante o século XX e que os registos da temperatura da superfície terrestre podem estar “contaminados” pelos efeitos do aquecimento em locais próximos das estações de monitorização. Mas o truque retórico de Gore é declarar que estes limitados pontos de concordância constituem prova de que o mundo está em perigo iminente e que os benefícios das soluções por ele propostas ultrapassam os custos. E é neste ponto que eu e muitos outros discordamos.

Lá deixei o seguinte comentário, automatica e imediatamente publicado, o que revela a boa fé dos responsáveis do sítio. A entrevistadora foi Helena Oliveira:

29-06-2008 14:34 - Fernando Pinto, Lisboa
Para além dos ódios que Marlo Lewis parece destilar (em todo o lado onde o tenho lido) em relação a Al Gore... Para além do drama que é para nós, professores com a responsabilidade de formar e informar adequadamente os nossos alunos, eu perguntaria:

Para Marlo Lewis, Jr.,
01- O aquecimento global, mesmo que absolutamente natural, é ou não é negativo (no sentido de que reduz espécies; reduz habitats; reduz recursos; etc.) para a vida, em geral; e para os biliões de seres humanos, em particular, que hoje povoam os países e o Planeta?
02- Há ou não há um consumo excessivo de recursos naturais, manufacturados e fabricados, sobretudo nos países desenvolvidos da Europa, da América, da Ásia, e dos países "emergentes" (a China e a Índia)?
03- Há ou não há que moderar consumos e modificar estilos de vida (pensando sobretudo nos países desenvolvidos)?
04- Há ou não há que estabelecer relações de maior ajuda e de menor exploração dos países pobres pelos países ricos?
05- Há ou não há uma crise cada vez maior de água potável, que tem tendência a acentuar-se nos próximos anos, a nível mundial?
06- São ou não os países pobres os que mais irão sofrer com a previsível falta de água?
Não sei se alguma vez Marlo Lewis, Jr. falou ou foi interrogado sobre isto... Alguém me pode ajudar a sabê-lo?... Obrigado!

Al Gore, anti-Algores. Mitos e contra-mitos.

O tema das alterações climáticas e o tema do aquecimento global são temas que não consigo (ainda) observar e pensar com aquela distância pessoal (cognitiva e afectiva) que me dê a segurança conveniente para os abordar da maneira que convém aos professores em face dos seus alunos.
Assim, tudo o que for dizendo, nestes tempos em todo o lado sobre-agitados, é provisório, insuficiente e "verdadeiro-até-ver".
Assumo claramente que poderei estar a ser "redutor", "sectário", "enviesador", sei lá que mais... mas não posso deixar de dizer o seguinte:
Pretenciosamente, na mais pura tradição do "eu"-habitante da estrela Sirius, de Augusto Abelaira, desco à Terra e o que vejo?...
Vejo que os políticos e governantes do mundo discutem o assunto do Aquecimento Global; vejo que os cinetistas especialistas e os jornalistas especializados discutem o assunto do Aquecimento Global; vejo que os interesses económicos e os lobbies discutem o tema do Aquecimento Global; vejo o cidadão comum virando a cabeça, ora olhando um deles, ora escutando outro, ora lendo um terceiro; vejo um professor - ao mesmo tempo, cidadão comum - a seguir para as suas aulas, apressadamente, tentando ler as últimas coisas que por aí se dizem sobre estes assuntos...
Vejo Al Gore de livro na mão, An Inconvenient Truth [Uma verdade inconveniente]; vejo Marlo Lewis, Jr, também de livro na mão, Al Gore's Science Fiction: A Skeptic's Guide to An Inconvenient Truth [A ficção científica de Al Gore]. Al Gore grita que a floresta atrás de Marlo Lewis está a arder e aponta um suspeito que corre ali à vista dos dois. Várias pessoas e os bombeiros correm para apagar o fogo, mas Marlo Lewis grita que parem, que se deixem estar onde estão, não há perigo, o criminoso não é de certeza aquele... que só a má intenção de Al Gore o elevou a bode expiatório...
Ora, há um absurdo nesta situação, não há?... A floresta está mesmo a arder, não está?...

quinta-feira, junho 12, 2008

Charles Darwin, Sigmund Freud e a origem da felicidade

Comentário a:
Charles Darwin ao Ciência Hoje: «Ao saber livresco sempre preferi os passeios de observação e da natureza»
Fernando Pinto, em 2008-06-05 às 20:25, disse:
Este estilo de relato biográfico tem geralmente boa receptividade junto dos jovens, informa-os de maneira descontraída, pouco exigente, o que facilita a entrega à leitura.
Pela minha parte, gostaria de dizer aos jovens duas coisas, que proponho como ajudas na reflexão sobre a pessoa, a vida e a obra de Charles Darwin:
- A primeira é que ele publicou a sua obra mais célebre (para mim, não é a que mais me marcou, do ponto de vista do rigor sistemático do estudo; prefiro o seu estudo sobre as emoções), aos 50 anos... apenas... Quero eu dizer, "Malta, não tenham pressa, deixem as coisas amadurecer, dêem-lhes o tempo que elas necessitarem".
- A segunda coisa é essa semelhança com outros autores que, depois de se tornarem famosos, foram vasculhados na sua infância por alguém, e isso permitiu que se encontrasse a mesma paixão pela observação e o contacto com a vida animal. Estou a lembrar-me, por exemplo, do pai da Etologia, Konrad Lorenz, que se ligou a patos e gansos ainda menino; e montou em sua casa um autêntico jardim zoológico à medida do seu tamanho de menino. E estou a lembrar-me também de Jane Goodall, que em menina se fechou no galinheiro, horas e horas seguidas, muito pacientemente, porque logo intuiu que seria assim a única possibilidade de ver por onde as galinhas punham os ovos; e isto enquanto a mãe, aflita, a procurava com a ajuda de polícias que entretanto chamara.
Parece que Sigmund Freud, o fundador da Psicanálise, disse um dia que a felicidade é a realização de um desejo de infância.
Pessoalmente penso que não é possível negar a importância da família na ideia ou no sentimento de felicidade.
Mas que a felicidade dos autores de quem agora falei se alimentou, mais do que dos livros que escreveram, da vida e do trabalho que estiveram na origem de tais livros, pois certamente que estaremos perante experiências de vida que conferem razão à ideia de Freud sobre a origem da felicidade.

terça-feira, junho 03, 2008

Nobel da Paz, Muhammad Yunus, DE ESCRAVIDÃO?

Sinto como que a obrigação de ajudar à divulgação destas palavras do Prémio Nobel da Paz de 2006:
Hoje, nos países do Norte, as crianças trabalham duramente na escola para obterem um bom emprego. Em adultos, irão trabalhar por conta de alguém. Ora, o ser humano não nasceu para servir outro ser humano.
Um trabalhador independente, que tem uma banca, por exemplo, trabalha quando tem necessidade. Se há dias em que não quer trabalhar, pode fazê-lo. Acaba o seu dia de trabalho e aproveita um pouco da vida. Não tem ninguém a avisar se se atrasa uma hora. Não fica aflito por ir perder parte do salário.
Quando éramos caçadores-recolectores, não éramos escravos, controlávamos as nossas existências. Há milhões de anos, perdemos esta liberdade. Levamos vidas rígidas, repetindo diariamente os mesmos ritmos de trabalho. Corremos para o trabalho, corremos de volta para casa. Esta vida robótica não me parece um progresso.

Com o regime assalariado, passámos da liberdade de empreender e de uma certa flexibilidade de vida para a maior rigidez. Tenho um salário, um patrão, tenho de fazer o meu trabalho quer me agrade quer não, porque sou uma máquina de fazer dinheiro. É esse o perigo global das estruturas económicas actuais, da teoria dominante. O homem é considerado apenas como um agente económico, um empregado, um assalariado, uma máquina. É uma visão unidimensional do humano. Ser assalariado deveria ser uma opção entre várias. (Frédéric Joignot, Le Monde, 25/04/08, em Courrier Internacional, Junho 2008, n.º 148)

Pelo menos na minha representação mental do mundo, Yunus, o banqueiro dos pobres, vem da mesma cultura, do mesmo outro lado do mundo, do mesmo ponto de vista diferente do dominante na cultura ocidental, que um dia nos trouxe também Mahatma Gandhi. Por isso, mesmo que algumas das suas afirmações nos possam parecer "simplistas", "redutoras", "questionáveis", bem merecem a atenção de todos. Ajudam-nos a apontar para um caminho que nos ajuda a sair do beco sem saída para onde a ideologia e o poder capitalistas dominantes na nossa cultura ocidental actual nos trouxe.