segunda-feira, março 25, 2013

NO FUNDO DO POÇO


NO FUNDO DO POÇO

O Luís foi ao fundo. Ao fundo da vida. Assim se sentia, no fundo do poço, por isso estava preso.
Rapaz novo, na idade a dezena redonda mais próxima ainda era a do dois e do zero – 20 anos.
O Luís.
Foi rebelde em puto, foi rebelde mais crescido; continuava a ser rebelde. Só que agora um desconforto o tomava. Tomava-o e vergava-o. Até que se tornou praticamente insuportável. O desagrado, o desconforto, agigantou-se tanto que sentiu que precisava de o extravasar.
Chegou-se um dia à irmã, mais velha, e contou-lhe tudo.
- No fundo do poço?... Sentes que estás no fundo do poço?... quis a irmã que ele claramente lhe confirmasse. Melhor ainda, que ele tomasse para ele consciência de que era ali mesmo que ele estava – no fundo do poço.
- Sim, no fundo… Mesmo no fundo!, confirmou o Luís, de cabeça baixa, incapaz de fugir à atração hipnotizante do breu do poço.
A irmã não lhe respondeu imediatamente, queria que as palavras fossem ouvidas e sentidas até à última reverberação.
- Olha, disse então, a pedir que o irmão pusesse os seus olhos nos dela, se estás no fundo do poço, escava ainda mais fundo, escava até onde puderes!... Quando acabares, e só quando não puderes cavar mais, crava aí as tuas raízes, faz que fiquem aí bem presas e seguras…
O irmão estava agora hipnotizado pelos olhos e pela boca da irmã, por causa da força e da convicção que deles saíam.
- Quando tiveres as tuas raízes bem presas e seguras começa a construir a tua vida assim, a partir de baixo, com toda a firmeza, com toda a força de que fores capaz!
O irmão, o Luís, compreendia que ouvia o que há muito teria sido bom ter sentido ou ter pensado. A irmã tinha razão! Mais!... Ele estava seguro que, com a força da irmã, com a convicção que ele mostrava no que dizia, não havia hipótese de ele falhar. Sim, ele iria ser capaz!
E foi. Até hoje. As palavras da irmã conservam ainda toda a força de então. E ele agora já não está na prisão. Fora dela, casou e tornou-se pai. Adora os filhos e dedica muitas horas da sua vida, com muita alma e muito coração, a tentar que outros, mais novos do que ele é agora, nunca venham a cair na prisão.
Ah! Continua a ser como era - rebelde! Como os jovens que protege e avisa.

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