O dia a dia do trabalho na escola desperta, aqui e acolá, a todos que nela passam, sejam os professores, os alunos,os encarregados de educação, sejam os professores no papel de encarregados de educação, ou os encarregados de educação no papel de professores, desperta - dizia eu - momentos de reflexão sobre isto ou aquilo, a propósito da própria escola, ou mesmo sobre coisas que parecem muito afastadas dela, mas que foi nela que, por qualquer razão, foram despertadas.
O que pretendo deixar neste blogue é o registo, quase na água, de tais impressões e reflexões. E porquê quase na água?
Bem, quem me inspira para assim dizer é Augusto Abelaira, a quem não pedi licença para "plagiar". Muitos da minha idade se recordarão das crónicas que ele escreveu, durante muitos anos, no semanário "O Jornal". As crónicas dele eram muitas das vezes inspiradas - Lembram-se? - pelo visitante de Sirius na Terra, e eram tituladas "Escrever na Água". Dizia ele que era para dar mais forte ênfase ao seu caracter volátil, momentâneo e circunstancial, de qualquer coisa que se esvai ainda mais depressa do que se tivesse sido escrita na areia.
As impressões que aqui registarei são escritas "quase na água", se calhar, porque acabei por constatar que, mesmo que escritas do jeito e com a intenção com que Augusto Abelaira o fazia, afinal, o suporte da palavra não permite que elas se apaguem completamente.
Hoje em dia, muitas das vezes em que um profissional da educação, ou de outro ramo do conhecimento diz qualquer coisa, é imediatamente confrontado com a necessidade de fazer prova do que diz, de citar as fontes bibliográficas. É logo confrontado com a irritante e estafada pergunta "Quem é que disse isso?..."
Precisamos todos de espaço e tempo para dizer o que brota naturalmente do nosso labor ruminativo mental que acontece, o mais das vezes, em níveis de pensamento e actividade cognitiva de que não temos de todo consciência.
Uma condição apenas: sejamos, de facto, honestos com essas ruminações que brotam espontaneamente, incessantemente. E nem todas elas nos apetecerá escrever sequer na água!...
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