sexta-feira, outubro 31, 2025

#TOLERÂNCIA306 - O LUGAR DA TOLERÂNCIA NO PALCO DAS ATITUDES E COMPORTAMENTOS

 #TOLERÂNCIA306 - O LUGAR DA TOLERÂNCIA NO PALCO DAS ATITUDES E COMPORTAMENTOS

Na transcrição que a seguir trago, Miguel Torga, no fundo, advoga em causa própria. Um autor alentejano advogaria as virtudes e as fraquezas dos alentejanos doutra maneira; outro, ribatejano, doutra ainda a propósito dos ribatejanos; e o mesmo fariam outros portugueses do continente ou das ilhas. E não precisamos de sair do pequeno Portugal, nele incluindo os madeirenses, os micaelenses, ou faialenses e os restantes naturais de outras ilhas.

A minha intenção com esta transcrição é chamar a atenção para que a Tolerância e a a atitude tolerante tem também condicionalismos e sustentação que vêm da experiência cultural, a qual, por sua vez, é marcada pela geografia particular e pelo desenvolvimento histórico, político e económico do grupo humano em causa. Neste texto, parece que Miguel Torga diz que os transmontanos são pouco dados à Tolerância, são pouco tolerantes com a Tolerância. Será que é mesmo assim?

Mais do que dizer já "Sim" ou "Não", o que importará à Reflexão e à Educação é a leitura colectiva e a discussão, a tentar-se que nasça a luz. E nasça a luz não tanto da opção pelo "Sim" ou pelo "Não", mas a luz que leva ao aprofundamento das características humanas e dos matizes das diferenças entre grupos culturais, em que se deseja que cada um se sinta bem na sua pele histórica e cultural, senhores de uma identidade gregária que congrega e promove o bem-estar pessoal e comunitário.

«Cruelmente, sem dó nem piedade, levamos dia a dia ao pelourinho os aleijões físicos e morais de cada um. E é um rol infindável de alcunhas por toda a província, sentenças sem qualquer apelo. As deformidades de dentro e de fora recebem o mesmo castigo do cautério inexorável. 'Pé-Tolo', é o sujeito que teve uma paralisia infantil; 'Sobe-e-Desce', o desgraçado manco que anda no chão como um barco nas ondas; 'Pernas de Centeio', o escanifrado com tíbias de gafanhoto. Mas há também o 'Mija-Lérias', o 'Florista' e o 'Padre-Nossos', que são estigmas de misérias mais profundas e doutra natureza: paleio vão, trato social postiço, falsa religiosidade. A espontânea e piedosa compaixão que tais infelicidades despertam não evita o ferrete judicativo. Olhamos os abismos de frente. Magro, o seio que nos

alimentou é uma branca lição de realismo. Por isso, mesmo com lágrimas nos olhos, superem-se as limitações, ultrapasse-se a pró-pria dor. A criatura é uma fome que nem todo o pão do mundo satisfaria. Busque-se, pois, outro alimento. Faça-se na deseroização do transitório a exaltação do definitivo.

»A mãe não manda ser um Narciso de virtudes secretas ou de falências toleradas. Ordena vitórias na colaboração, façanhas no meio da praça, no coração das feiras, na sala das assembleias, no cerne dos continentes, nas profundas dos infernos. E cheguem onde chegarem, os filhos cumprem religiosamente este mandato solene que exige o todo pelo todo, a abnegação mais desmedida e a mais teimosa irredutibilidade. Por toda a parte, nas grandes empresas do ideal, está o transmontano, ou à cabeça do rol ou no cortejo discreto mas actuante dos comparsas. É um quixotismo social irreprimível, um zelo pátrio vigilante, um impulso perpétuo para as obras de humanitarismo. Um apostolado que irrompe dum ímpeto pessoal que se expande, misto de fatalidade, orgulho e dever.

»Fiel às suas remotas regalias municipais, conquistadas a ferro e fogo, o transmontano mantém erguida não só a Domus de Bragança, símbolo palpável dessa liberdade de que não abdica, mas também o sentimento agudo duma colaboração fraterna com o semelhante, que aprendeu no comunitarismo do pastoreio, das fainas agrícolas, da transumância das rogas, no desenrolar de toda a vida quotidiana da sua aldeia. Que significa esta casa, e que significamos todos nós aqui, senão a irresistível entrega ao imperativo sagrado de preservação da personalidade, na dádiva constante do melhor que ela tem?»

Este excerto faz parte da conferência "Trás-os-Montes no Brasil", realizada no Centro Transmontano de São Paulo, em 14 de Agosto de 1954, e repetida no Centro Transmontano do Rio de Janeiro, a 16 do mesmo mês. É um dos textos do livro "Traço de União" (2.ª edição revista, de 1969, edição do autor). A releitura vem na sequência de alguns dias da semana passada, em que estive no Douro Vinhateiro, e foi pelo anfitrião, o amigo Barros de Carvalho, aos outros elementos do grupo desses dias.

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quinta-feira, outubro 30, 2025

#TOLERÂNCIA305 - DIA DE ANIVERSÁRIO: CELEBRAÇÃO E BALANÇO

 #TOLERÂNCIA305 - DIA DE ANIVERSÁRIO: CELEBRAÇÃO E BALANÇO

Celebração do primeiro aniversário como aposentado; balanço em dia do único aniversário pessoal que atravessa a aventura no Mundo da Tolerância.

A celebração foi como gosto: discreta, ora com amigos e colegas, ora com a família; com interacções

pessoais directas e com muita comunicação à distância (telefonemas, sms's e redes sociais). O vídeo das velas do bolo tem o mais novo membro da família com ar de espanto perante os pais, o tio e os outros que cantavam o Parabéns a Você.

O balanço foi duma consciência cada vez mais aprofundada de que a viagem pela geografia da Tolerância tem valido muito a pena. Mesmo que os 2 meses que faltam não me trouxessem mais nada, tudo o que calcorreei até agora já me trouxe muito mais do que eu alguma vez imaginei. Um desafio que ficará para depois é transformar o mapa e os lugares da viagem em algo que tenha interesse e utilidade para quem tem a responsabilidade ou a tarefa de educar, seja na escola, na família, nos clubes, numa palavra, em todo o lado.

Tenho aprendido muito sobre a Tolerância... E estou muito satisfeito com ecos, quais postais ilustrados dos lugares, que me têm chegado.

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quarta-feira, outubro 29, 2025

#TOLERÂNCIA304 - TOLERÂNCIA E ACOLHIMENTO NA ESCOLA

 #TOLERÂNCIA304 - TOLERÂNCIA E ACOLHIMENTO NA ESCOLA

Tenho a certeza, não apenas a convicção, de que vou voltar à estação a que cheguei ontem, nos 60 dias que faltam para esta viagem acabar. O dia de hoje, em que voltei à escola para continuar a passagem de testemunho dos projectos em que estive envolvido e para arrumar os pertences, foi especialmente significativo no que diz respeito à atitude de acolhimento, de bom acolhimento nas escolas. Assim, por causa desta certeza, não vou expandir o texto de hoje, o tema vai a aparecer aqui. Acredito firmemente em que a Tolerância é a base do bom acolhimento.

Apetece-me dizer também, como Martin Luther King, «I have a dream...»

«Na nossa escola, o acolhimento é coisa séria — mas também tem piada! Às vezes tem mesmo muita piada... Logo à entrada, ali ao portão, alguém da Direcção recebe-nos sempre com um sorriso (e, quando há sorte, com bolachinhas; o café, sim, subamos ao bar, ele está lá quentinho à nossa espera). Da Direcção são tão bons a acolher que até os papéis burocráticos que o Ministério da Educação impõe aos professores parecem menos assustadores.

»Entre professores, o espírito é de camaradagem: há sempre quem empreste uma caneta — há sempre um que, entre o rigor de linguagem e o divertimento, diga "Caneta mesmo? É que só tenho esferográfica, serve?" —, quem ofereça um quadradinho de chocolate na hora da correcção dos testes, e quem partilhe as melhores estratégias para "domar" uma turma mais barulhenta. A sala de professores é quase um consultório de terapia colectiva — com gargalhadas incluídas, é que a forma essencial de terapia é a que os indianos usam muito: o riso.

»E com os alunos? Bem, o acolhimento vai do “Bom dia, queridos alunos!” caloroso ao “Fizeram os

trabalhos de casa? Quem não fez, tenho a certeza de que tentou, mas valores mais altos se levantaram! Não há problema, podem trazer na próxima aula.” Tudo isto é dito com ar de quem acredita que, desta vez, a resposta será “Sim!...”, embora sabendo que um ou outro não aparecerá. Os professores conhecem cada olhar, cada desculpa criativa e, ainda assim, continuam a acreditar nos seus alunos, a chegarem-se-lhes com boa-fé e bom acolhimento.

»No fundo, o segredo está em criar um ambiente onde todos se sintam bem-vindos — mesmo nas segundas-feiras, sobretudo as de frio e chuva. Porque quando há bom humor, respeito e um café quente, até a escola parece um bocadinho mais leve.»

O sonho vale para todas as escolas do Mundo!

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terça-feira, outubro 28, 2025

#TOLERÂNCIA303 - OS AMBIENTES DA TOLERÂNCIA E DA INTOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA303 - OS AMBIENTES DA TOLERÂNCIA E DA INTOLERÂNCIA

Em 30 dias passei por ambientes de vida bem diversos: o desconhecido Japão (onde passei 21 dias), o redescoberto Douro Vinhateiro (onde passei 5 dias), a revisitada Olhão (onde passei 1 dia); e, finalmente, a Lisboa que tem sido o palco principal da minha vida desde o Dia de São João de 1974.

Em todos os 30 dias procurei estar totalmente focado neles, sem cedências de atenção e cuidados aos tinham passado e aos que viriam a seguir. Alguma coisa deles fui escrevendo e aos poucos trarei para o lugar próprio, público, que para eles guardei, nesta peregrinação, que, afinal, nunca se interrompeu: todos os dias pensei na Tolerância, todos os dias guardei um pequeno apontamento para mais tarde desenvolver.

Hoje, retomada a rotina — não obstante, uma rotina que inicio, a de reformado — no metropolitano, nas lojas, no supermercado, e na escola (sim, voltei à escola para, por um lado, recolher os meus pertences; e, por outro lado, para passar o testemunho de projectos extracurriculares que liderava ou em que participava activamente), ttomo consciência, mais uma vez, de que a realidade do dia-a-dia é exigente, parece que por toda à parte a ambiência é de escalada simétrica de falta de paciência, de provocação, de exigência desmedida; de confronto pessoal pronto a saltar.

Ontem, em Olhão, o mais jovem embaixador da Ética no Desporto, o Afonso Calé Marques dizia que a culpa das coisas não estarem bem, ou não estarem melhores, no que à Ética e aos Valores diz respeito, é dos adultos e dos exemplos que os adultos dão. É, temos de dar razão ao Afonso.

Todos os dias, cada um de nós, cada cidadão do mundo, pode fazer um pouco mais de esforço para que o relacionamento pessoal duns com os outros seja um pouco melhor. Bem, não ponho no mesmo pé de exigência o que se pede a um português, a um japonês e a um palestiniano, ou a um ucraniano, ou qualquer outra vítima da guerra injusta, da fome injusta e da pobreza injusta.

Do Japão ficou-me a certeza de que a Educação e a Cultura podem promover os comportamentos respeitosos, tolerantes e assertivos (que marcam os limites do que é tolerado e não é). Do Douro Vinhateiro fica-me a certeza de quanto a proximidade pessoal e a familiaridade podem trazer de aceitação, tolerância e ajustamento pessoal recíproco.

De Olhão trouxe a confirmação de quanto um ambiente escolar acolhedor e uma liderança institucional atenciosa e cordial dão aos jovens os exemplos de civilidade e de relacionamento pessoal que ajudam todos a sentirem-se bem, a terem as condições contextuais necessárias à plena expansão do potencial de desenvolvimento de cada aluno, e também de cada professor. Um bom clima afectivo na escola é um recurso de desenvolvimento pessoal tremendo! Promove a empatia, o respeito, a aceitação, a tolerância; o diálogo, o desenho de objectivos e projectos em comum.

Sim, hoje, à entrada para a escola (de que me afastarei cada vez mais) e nas horas que por ali andei a arrumar os pertences, tomei crua consciência de quanto a liderança institucional pode promover um clima de confiança, boa fé e afectividade positiva; ou o seu contrário. A todos o desafio de colaborar, mas a liderança de quem tem o poder de mandar é decisiva.

Quando me sentei para escrever este apontamento, um imenso arco-íris enchia o céu. Um invulgar matiz de pôr-do-sol contra as nuvens carregadas de chuva envolvia céu e terra. Tomei toda a grande tela, romanticamente, como o sinal do Grande Entendimento, a Grande Esperança, a Grande Aceitação. A verdadeira Paz entre os Homens de Boa Vontade. É preciso continuar a acreditar, a ter esperança.

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