Conversas reais ou
imaginárias com alunos, 1
O PROFESSOR DE PSICOLOGIA ENQUANTO SUJEITO DOS TRABALHOS MONOGRÁFICOS
— Mas, ó “stôr”,
porque é que não o podemos escolher a si como sujeito do trabalho monográfico,
será que é diferente das outras pessoas?...
"O pensador" original, na Porta do Inferno. |
A provocação é grande, mas a resposta não é difícil.
— Caro aluno, o caso
que eu vos contei acerca da forma como cheguei ao contacto com o Professor
António Damásio, o que nos diz ele? É que o desafio que vos proponho, o desafio
vencedor, é aquele em que nós vamos um pouco mais além do que óbvio, do que é
lógico: se eu quero falar com o Professor António Damásio, escrevo ao Professor
António Damásio. Foi o que fez o vosso colega, insistindo ao longo de mais de 2
meses. Resultado: nada, o que o fez querer desistir do Professor António
Damásio enquanto sujeito monográfico. E que fiz eu para chegar ao Professor
António Damásio em menos de 24 horas? Não escrevi ao Professor António Damásio,
não foi o que vos disse?
Porta do Inferno (Musée Rodin). |
No fundo, o que fiz eu? Pensei
um pouco para além do óbvio, do imediato; do lógico. Quer dizer,
essencialmente, em vez de pensar de forma convergente, pensei de forma divergente, criativa. Imaginei o Professor no seu dia-a-dia de
trabalho, na maneira como se move entre as aulas que dá, as investigações em
que participa, as teses que orienta, as leituras que faz, a correspondência que
manda e recebe, etc.
Então, agora, pensem cá uma
coisa: nunca algum de vocês teria hipótese de fazer o trabalho monográfico
comigo! Vejam lá se é obvio, ou não: os meus alunos fazem trabalhos
monográficos há vários anos — vocês acham mesmo que são os primeiros a quererem
fazer o trabalho monográfico comigo? Se eu já tivesse dito sim a um dos vossos
colegas, em resultado das regras (não se podem repetir sujeitos monográficos),
o que eu agora vos diria era “Não posso, já alguém fez o trabalho comigo.”
Por outro lado, para ser justo
com todos, da mesma maneira que vos estou a dizer não, disse não a todos os
outros. O que eu tenho dito aos vossos colegas dos outros anos é o seguinte: “Aceitarei
ser sujeito de trabalho monográfico quando tiver a certeza de estar a leccionar
o meu último ano de aulas. E mesmo nessa altura, só serei se algum dos alunos
quiser; se não quiserem, nem nesse ano serei. Portanto, aquele ‘nunca’ lá de trás
vale para todos os anos em que ainda venha a dar aulas, excepto para o último ano.”
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