GOSTAR. ACREDITAR. APRENDER. ENSINAR.
- «A verdade é que nunca gostei da escola. Nunca aceitei que tudo possa, deva ou tenha de ser explicado. Explicado e transmitido.”,conta Dulce Maria Cardoso, numa antologia de contos sobre crianças e adolescentes.
E Vergílio Ferreira escreve, em Um Escritor Apresenta-se,
«Não se acredita por deliberação, como ninguém ama porque assim o decidiu.»O gostar e o acreditar são, respectivamente, os polos da afectividade e da inteligência dos processos mentais. Ambos procuram a verdade. A verdade do que é saboroso e do que é verdadeiro.
Na sexta-feira, saía eu da escola, uma jovem estudante chegou-se a mim, ela vinha acompanhada com quem eu deduzi ser seu namorado.
- «P’ró ano vou ser sua aluna, o que é que o professor dá, Sociologia ou Psicologia?»
- «Eu dou a melhor disciplina do ensino secundário em todo o mundo!...»
- «Que é?...»
- “«Que é?...» desafiei-a eu em eco.
- «Sociologia?... Não sei…»
- «Pois, vê-se mesmo que não sabes…»
- «Também não interessa, eu quero é ter aulas consigo, e pronto.»
A jovem, simpática, conhecer-me-á dos corredores da escola, das sessões no grande auditório da escola, dos ecos dos projectos extra-curriculares que lidero ou em que participo…
Que pensa ela que poderá gostar nas minhas aulas?... Que verdades imagina ela que poderá encontrar nas minhas lições?...
Que mais pode um professor desejar de um aluno ao arrancar num novo ciclo de ser o que deve ser sempre: um professor no autêntico sentido do termo? Sem explicar, sem transmitir, sem deliberar, sem impor amar.
«Tudo o que se ensina à criança é um obstáculo à sua capacidade de descobrir e inventar.»é o aviso de Jean Piaget que nunca me sai da cabeça.
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