domingo, setembro 18, 2011

Ano novo, vida nova. Outra vez, na escola.

"Ano novo, vida nova"
Se eu disser aos meus citadinos alunos que nos pomos a jeito de caminhos difíceis se quisermos sol na eira e chuva no nabal, estou em crer que muitos deles não entenderão imediatamente a expressão popular.
Mas a expressão sobre o ano novo e a vida nova certamente todos os alunos de todos os professores, citadinos ou não, entenderão. Por exemplo, se olharmos uma das mais recentes formas de comunicação inventada algures no mundo, o Facebook, na Internet, os murais dos utilizadores jovens estão, precisamente hoje e nos últimos dias, cheios de mensagens de entusiasmo pela chegada do novo ano escolar, do regresso à escola, do regresso às aulas, da confirmação da entrada no curso superior almejado, etc. Mesmo que se tenha imediatamente consciência de que nem tudo será fácil, pelo contrário: as dificuldades dos alunos, as dificuldades nas escolas não param de crescer!
Os alunos a quem já apresentei, na primeira aula do curso de Psicologia deste novo ano letivo, a Psicologia, tal como ela acontece na nossa vida do dia a dia, entenderão a razão porque escolhi o poema de Eugénio de Andrade sobre as amoras para corporizar uma pequena mensagem de saudação para eles, desejando-lhes um bom ano de trabalho escolar e que, no final, lá para junho de 2012, lhe traga os sucessos que eles agora sonham vir a ter.

As amoras
O meu país sabe a amoras bravas no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez nem goste dele,
mas quando um amigo me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade, O outro nome da Terra


Os meus alunos deste ano já sabem que as minhas amoras não são bravias, das silvas dos muros, as minhas, por uma bênção maravilhosa que me calhou, um dia, em sorte, são de uma amoreira que foi mágica e que, mesmo que já desaparecida, vai, muito em breve, poder renovar-se na oportunidade de trazer mais bênçãos e magia. Os protagonistas da história de há 30 anos assim se comprometeram e contam já com o companheirismo e a solidariedade de quem os conhece e lhes tem amizade.
O poema de Eugénio de Andrade denuncia sentimentos e ideias de descrença e de apoucamento, mas não deixa de alertar para que todos nós percebamos que, mesmo sem querer, as coisas que nos acontecem na vida têm o condão de poderem transformar-se no sentido do que dá alegria, dá prazer, e nos realiza a todos como pessoas.
É esse testemunho pessoal  que agora quero deixar aqui, quase em jeito de carta aberta, aos novos alunos da minha nova vida, que acaba de começar.
Queridos alunos, força no vosso entusiasmo! Força, agora que estamos a lançar a semente à terra! Que o tempo das colheitas, lá para quando o calor do próximo verão voltar, confirme a sabedoria que fomos capazes de manter durante o tempo do amadurecimento do que agora estamos a plantar. É preciso saber esperar, não é?... Também já falámos que o tempo de amadurecimento do fruto não é um tempo de descanso para o plantador, é precisamente na entrega pessoal ao tempo de amadurecimento do fruto que se joga a essência da sabedoria do plantador, quer dizer, do aluno.
Contem comigo ao vosso lado, sobretudo nos tempos em que os muros não forem brancos e o céu não vos mostre a cor azul. Vá, arrisquem a acreditar!...


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