quarta-feira, julho 27, 2011

A estética do falhanço, ainda a lamentável morte do rapaz que "toureava" carros

Ontem já, dia 26 de Julho, o padre José Luís Borga deixou, na sua página do Facebook, um comentário interessante sobre este assunto, centrando-se no caso do jovem que morreu quando, com outros, se entretinha a "tourear" os carros.
Hoje, a edição em linha do Diário de Notícias, traz um texto também muito interessante, do comentador cinéfilo João Lopes, sobre, não o caso de que fala o padre José Borga, mas sobre o fenómeno social em que o caso se insere.
No meu entender, sem conjunto, os dois textos são excelentes pontos de partida para "partir pedra" (há muita pedra para partir!) nas escolas, nas famílias, nas comunidades locais, na comunicação social; e, claro, entre os decisores políticos.
Tudo isto tem a ver com opções, com valores, com prioridades sociais. Com educação; com muita educação! Com a maneira como decidimos tecer as relações sociais (que começam em casa e na escola; com os governos a garantirem condições para que possa haver tempo - e valorização, repito! - para que tais relações aconteçam e deem frutos).

O texto do Diário de Notícias:
A estética do falhanço - Opinião - DN
Há uma narrativa mediática, de raiz televisiva, que nos leva a identificar uma "juventude-YouTube" que, enredada nas ambiguidades do mundo virtual, se compraz em encenar-se através dos dispositivos mais extremados: agredindo, desafiando a morte, morrendo...
É um facto que a imagem não é estranha a tais vertigens, envolvendo mesmo o poder radical de integrar a morte, superando os seus limites (será que já nos esquecemos que nascemos em berço católico?). Em todo o caso, vale a pena questionar a transparência daquela narrativa: será que podemos compreender esta paixão menor pelas imagens "perturbantes" como um mero reflexo das novas tecnologias e suas derivações? Ou ainda: que dizer de um mundo em que, todos os dias, se oferece à juventude o espelho de coisas tão medíocres como Morangos com Açúcar ou de inenarráveis anúncios em que a posse de um telemóvel se confunde com abrasivos êxtases sexuais?
Na verdade, quase ninguém (a começar pela esmagadora maioria da classe política) se mostra disponível para lidar com os valores da nossa cultura dominante. Que cultura é essa? A da celebração da festa obrigatória e da gratificação instantânea, logo de indiferença pela certeza indizível da morte. Não adianta, por isso, demonizarmos as imagens. Elas não são "boas" nem "más". Num mundo dominado pela fealdade das telenovelas e seus derivados, são apenas irrelevantes e intermutáveis. Os jovens limitam-se a prolongar o falhanço estético dos adultos que os criaram. A minha geração, por sinal.

Agora só falta o texto do padre José Luís Borga. Ele aqui está:
"O gosto de ser admirado é, quando não enquadrado numa acção meritória, um enorme risco de morte. Este jovem acabou "toureado" pela estupidez que, pelos vistos, um grupo de "amigos" estava disposto a registar. Deve ter registado mas... fugiu perante a tragédia e no contexto da desgraça. Mais uma prova de que são precisos amigos melhores e... aprendizagem do gosto pela vida! Que a dor destes pais seja remédio para muit (...)!


P.S. - Achega do Francisco Raposo (Obrigado, Francisco!), via Facebook:
A corrida para o vídeo famoso - Opinião - DN
Há limites para anedotas? Alguém, lúcido, disse: "Eu conto anedotas sobre tudo mas não conto é certas anedotas a toda a gente." Não nos rimos de anedotas racistas (e há-as, boas) com racistas. E vídeos? Aí, o critério é mais relaxado. Há dias que Portugal se ri com o Hélio, titubeante ao skate ("sai da frente Guedes!"), descendo uma estrada, lançando uma frase épica ("o medo é uma cena que a mim não me assiste"), cruzando um automóvel e espalhando-se na berma. O vídeo foi visto no YouTube em quantidades maiores que as enchentes do Estádio da Luz num ano, as televisões entrevistaram os pais do Hélio, rimo-nos todos. E, no entanto, o vídeo do Hélio é uma estupidez criminosa que acabou bem. Exemplo de uma estupidez criminosa que acabou mal: António, de 17 anos, foi de madrugada para uma auto-estrada tourear carros. Deveria haver também um Guedes com um vídeo a filmar, mas fugiu, sem coragem de mostrar o atropelamento e a morte do António. Sem coragem, e daí não sei... Talvez ainda apareça no YouTube - e nos online dos jornais - a morte do António. A estupidez das pessoas (e não estou a falar só do grupo do António) é infinita. Aqueles que têm a arma de propagação da estupidez nas mãos - dos grupos de popularização dos Hélios até ao YouTube, passando pelos jornais e televisões - deveriam pensar nos limites. O próximo passo é pôr o vídeo de um garoto a atirar um pedregulho, de uma ponte, para a auto-estrada?

segunda-feira, julho 25, 2011

O krill, fonte de vida nos Açores

O Peter Café Sport teve a gentileza de me deixar fotografar uma amostra de krill, base fundamental da cadeia alimentar da vida animal que tão profusamente percorre as águas oceâncias à volta dos Açores.
Na fotografia, a chave não é indispensável para abrir o frasco, nem é adereço por conta da estética da fotografia.  É uma chave normal, a ideia é que se tenha noção do tamanho dos pequenos camarões.
A importância desta realidade biológica foi recentemente noticiada no Ciência de Hoje. Veja-se aqui.

domingo, julho 17, 2011

TEDxBaltimore 2011 KREBS The Future We Make - Outra vez a Matemática, o Português e a Área de Projeto

Sem qualquer ponta de ironia ou insolência, o assunto deste vídeo tem mais a ver com Área de Projeto, com Matemática ou com Português?...
O que, se calhar, todos concordamos é que tem a ver com educação. Ou não?...
Mas logo a seguir, outra divergência pode surgir: tem a ver com educação feita dentro da escola, ou fora da escola?...

TEDxJamesRiverRoad - Nathan Saxman - Leadership Alumnus 2011

Este rapazinho está claramente ainda nos seus verdes anos de conferencista.
Os meus alunos podem testemunhar que tantas vezes tenho insistido em que sejam capazes de fazerem apresentações aos colegas.
Isso mesmo, apresentações de cinco minutos, e que não tenham vergonha de ter um papel nas mãos para irem lendo, sempre que necessário.
O Nathan Saxman vai certamente longe na vida, nota-se nele, na maneira como olha, como fala e como se mexe, o entusiasmo e a energia de fazer coisas.
Ele, num programa de liderança juvenil, está a falar de quê?...
O que é que ele está a dizer que tem sido importante no seu desenvolvimento pessoal?
PERSPETIVA, COMUNICAÇÃO, OBSERVAÇÃO, EMPATIA
(o vídeo não tem legendas, mas o inglês dele é simples)

sexta-feira, julho 15, 2011

Mais Português, mais Matemática, menos Área de Projeto e menos Estudo Acompanhado. Acho que o caminho não é por aí...

Não tenho sobre mim a pressão que o ministro da Educação tem para tomar decisões. Mas precisamente por isso é o dr. Nuno Crato ministro e eu não sou.
Reconheço que se eu pretendo que as minhas opiniões tenham algum valor, elas deverão acompanhar a urgência das medidas, o desenrolar dos acontecimentos, em vez de de aparecer, qual chover no molhado, a lançar doutas - mas ultrapassadas - apreciações críticas.
Como já disse hoje na minha página do Facebook, penso que o nosso ministro da Educação acaba de tomar medidas perigosas a longo prazo. Nas atuais circunstâncias, se calhar, mais grave que aumentar a carga horária de Português e Matemática é, no caso do 3.º ciclo do ensino básico, fazê-lo à custa, não de disciplinas de conhecimentos específicos, mas sim de disciplinas de conhecimento integrado e de consolidação das aprendizagens.
Na esfera das teorias sobre o desenvolvimento cognitivo, mesmo os autores mais críticos das teorias de Jean Piaget, aqueles que discutem sobre o que, afinal, se pode ou não fazer para promover, por treino específico adequado, o "apressamento" do desenvolvimento da sequências dos estados cognitivos de que ele fala; dizia eu, mesmo esses autores mais críticos, sabem que as coisas precisam de um tempo para "assentarem", serem sentidas, serem observadas com algum distanciamento (cognitivo) e testadas, por iniciativa pessoal, com a atenção bem focada no assunto ou tema de aprendizagem.
Não é por acaso - isso sim, é sinal daquela intuição de que só os poetas são capazes - que Natália Correia dizia que a poesia é para comer.. Ora, tudo o que se come precisa de adequado tempo de digestão; precisa depois de esperar que a sensação de fome volte, para que se coma - e assimile - mais alimento. Senão, é um empanturramento bestial que nada serve ao bem-estar e à disponibilidade dos indivíduos (neste caso, do cérebro).
Então, a pergunta: que se vai fazer com o tempo acrescido a Português e a Matemática? Dar mais matéria? Insistir mais na mesma? Que vai mudar na maneira de dar as aulas? Os professores vão ser os mesmos... os programas também...
Sim, senhor ministro, eu sei que tem de começar por algum lado, é verdade.
Mas deixe-me que lhe pergunte: não concorda que as disciplinas de Área de Projeto e de Estudo Acompanhado são precisamente as disciplinas que permitem a integração das diferentes áreas de conhecimento (é o caso da disciplina de Área de Projeto) e, assim, dão sentido a aprendizagens tantas vezes consideradas estéreis e inúteis; e permitem (é o caso do Estudo Acompanhado) o desenvolvimento de técnicas de estudo que entra nos olhos de toda a gente que são, hoje em dia, como pão para a boca para tantos alunos? Porque não, em vez de as abandonar, apostar na otimização destas duas disciplinas?
O que dizem as sabedorias dominantes que são as competências desejadas nos alunos universitários e nos jovens profissionais?... São as competências específicas na língua materna e na Matemática ou é a capacidade de integrar conhecimentos e adaptar-se a situações de estudo, aprendizagem e trabalho que trazem mais e mais novidade?
Não vou esgotar os argumentos, nem para me justificar, nem para estar contra si.
Prometo-lhe que em breve lhe falarei do João de Matos, para ver como defendo o estudo da Matemática até ao final do 12.º ano, mesmo para quem quer seguir um curso de Literatura Portuguesa! Aconteceu há dois anos atrás e até o aluno poderá testemunhar o que lhe direi em breve.
Para acabar por agora: se me perguntasse o que é que eu faria no seu lugar...
Bem, não tenho os elementos de análise e as informações que o senhor ministro tem, mas não é por isso que vou fugir à pergunta.
O que eu faria era o seguinte: reduziria os programas de Português e Matemática, centrando-os nas aprendizagens que já se sabem que são mesmo necessárias, mesmo nas formações académicas e e profissionais, no e para além do ensino superior, que não estão centradas nos conhecimentos matemáticos e da língua materna específicos; e apostaria mais nos professores de Português e Matemática na leccionação das disciplinas de Área de Projeto e Estudo Acompanhado. Além disso, deixaria depois que os alunos pudessem livremente acentuar a sua carga horária em Português e Matemática no ensino secundário. Sobretudo na Matemática.
E calo-me por agora... para não empanturrar ninguém!...

quinta-feira, julho 14, 2011

A sério!, "menos Matemática!", "menos Português!"

O simbolismo desta fotografia é extraordinário!
Apanhei esta fotografia ao lado de uma pequena notícia profusamente espalhada hoje na Internet, sobre os resultados deste ano nos exames de Português e de Matemática do 9.º ano.
Na peugada do que parecem os passos do nosso atual ministro da Educação, grita-se por "mais Matemática!", "mais Português!"
Há quem seja mais sábio e em vez de mais, peça "melhor Matemática!", "melhor Português!"
Pela minha parte, o que me apetece gritar é "menos Matemática!", "menos Português!" E disponho-me a discutir esta minha ideia com quem quiser.
A sério!, "menos Matemática!", "menos Português!"
Repare-se bem na fotografia, e, como é minha opinião, no simbolismo que ela encerra: a tarefa escolar está completamente fora das medidas adequadas para as crianças! Veja-se quanto a criança tem de se pôr nos seus limites para fazer o que lhe pedem!...
O afeto que me liga à minha terra natal, onde esta fotografia, a ser verdadeira, foi tirada, não me permite ficar calado por aquilo que me parece que está aí para vir, que parece soar a "É (vai ser) pior a emenda que o soneto". A apetecer dizer, como um autor humorista já disse, "É pior a ementa que o cimento."
Senhor Ministro da Educação, dr. Nuno Crato, dispus-me, já neste blogue, a alinhar consigo em mudanças gradas e interessantes para a nossa escola atual. Continuo com a mesma disponibilidade.

P.S. - Mais do que discutir este assunto pelo lado da (s) filosofias(s) da Educação, eu quero discuti-lo do lado do que hoje se sabe, de saber seguro, científico, acerca do desenvolvimento cognitivo e da expressão da palavra (falada, escrita e pensada) das crianças e dos jovens.

URL da fotografia: http://www.google.com/hostednews/epa/media/ALeqM5h5AjAQqVW1wsPWu9pFUTeJmYbocQ?docId=6407847&size=l

sábado, julho 09, 2011

"Sou porque sonho" um filme de Ricardo de Sousa

Caro Ricardo,
sei muitas das montanhas e escarpas que tiveste de escalar para chegares aqui. Quando eu era criança, há mais de 40 anos, quis fixar esta letra do Música no Coração, uma das razões era esta: queria lembrar-me dos versos quando me mostrasses este filme. "Climb every mountain, / Ford every stream, / Follow every rainbow, / 'Till you find your dream. / A dream that will need / All the love you can give, / Every day of your life / For as long as you live." Um grande abraço, Ricardo de Sousa!

sexta-feira, julho 01, 2011

Pedacinho a ti, pedacinho a mim

"Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças, (...)"
(Fernando Pessoa)
É... é verdade. Não obstante tudo, as crianças continuam a nascer ávidas de sorrir, de tomarem-nos para elas, de nos amarem e de nos acarinharem.
Como hoje, aquela bebé, que não me conhecia de lado nenhum, que, logo que me viu de mão estendida para ela, me deu o seu pão, se sorriu a ver-me comê-lo e que, mal teve mais pão na mão, o continuou a repartir, pedacinho a ti, pedacinho a mim...
Foi mesmo um pedacinho de vida giro, no intervalo de discussões valentes sobre as coisas da escola...
Será isto lamechice de sexta-feira cansada?... Seja. Soube-me bem; à bebé, parece-me que também. Seguramente também a quem estava ali à volta, e não eram tão poucos quanto isso!..
Heal The World
Michael Jackson
Composição: Michael Jackson
There's a place in your heart
And I know that it is love
And this place could be
Much brighter than tomorrow
And if you really try
You'll find there's no need to cry
In this place you'll feel
There's no hurt or sorrow
There are ways to get there
If you care enough for the living
Make a little space
Make a better place
Heal the world
Make it a better place
For you and for me
And the entire human race
There are people dying
If you care enough for the living
Make it a better place
For you and for me
If you want to know why
There's love that cannot lie
Love is strong
It only cares of joyful giving
If we try we shall see
In this bliss we can't feel fear or dread
We stop existing and start living
Then it feels that always loves enough
For us growing
So make a better world
Make a better world
Heal the world
Make it a better place
For you and for me
And the entire human race
There are people dying
If you care enough for the living
Make a better place
For you and for me
And the dream we were conceived in
Will reveal a joyful face
And the world we once believed in
Will shine again in grace
Then why do we keep strangling life
Wound this earth, crucify its soul
Though it's plain to see this world is heavenly
Be god's glow
We could fly so high
Let our spirits never die
In my heart I feel
You are all my brothers
Create a world with no fear
Together we'll cry happy tears
See the nations turn their swords
Into plowshares
We could really get there
If you cared enough for the living
Make a little space
To make a better place
Heal the world
Make it a better place
For you and for me
And the entire human race
There are people dying
If you care enough for the living
Make a better place
For you and for me [3x]
There are people dying
If you care enough for the living
Make a better place
For you and for me [2x]
You and for me (Make a better place) [3x]
You and for me (Heal the world we live in)
You and for me (Save it for our children) [4x]

A ironia e o sarcasmo

Recebi da minha querida amiga R.N. o excerto sobre a ironia. Fartei-me de rir!... Além de muito engraçada, a anedota pode ser explorada muito facilmente nas aulas.
Tive curiosidade, e fui ver a entrevista de Onésimo Teotónio de Almeidana íntegra. Está aqui.
Deixo agora o "meu" excerto, que compara a ironia ao sarcasmo:

(...)
Ainda sobre o Google, o motor de busca insiste em associar palavras como "humor" e "ironia" ao seu nome.

Gosto de humor em qualquer situação. É uma óptima ferramenta para sublinhar uma ideia, torna-a mais interessante. Quanto à ironia, é sempre preferível ao sarcasmo porque pede mais distância. O sarcástico é muito envolvido e emotivo, com fúria e raiva. Como aquele tipo que vai ao parlamento e diz "bandido, gatuno, meu cabrão". Vem o polícia e diz "o que se passa lá dentro"? "Nada, estão a fazer a chamada dos deputados." 

E a ironia?

É mais como o tipo que vai a uma casa de chá, onde estão senhoras educadas, e pergunta "há aqui algum sítio onde se possa mijar?" As senhoras respondem: "Olhe, o senhor naquele corredor vira à direita, na segunda porta está escrito ''cavalheiros''. Não faça caso, entre." A ironia não é aquela coisa portuguesa do escárnio e do maldizer.
(...)
Obrigadinho, R.!...