domingo, junho 20, 2010

Uma palavra de homenagem a José Saramago

Uma palavra de homenagem a José Saramago


Se hoje tivesse sido inverno, se tivesse nevado... se eu hoje fosse a criança, eu teria pintado a neve de preto.

Saramago morreu a dizer-nos que não há céu, que o céu não existe; e que um dia deixamos de estar onde estamos agora, deixamos de ver as árvores que agora vemos. E depois disso não há mais nada.

Não sabemos, nunca, nunca, nunca, o que verdadeiramente cada um sente sobre a morte e sobre a sua própria morte. Podemos ler, reler e voltar a ler tudo o que Saramago disse sobre a vida, sobre a morte, e sobre a morte depois da vida. Sabemos que ele gostava de viver e que tinha pena de deixar de viver. Mas nunca saberemos o sentir que ele levou com ele. Nem quando ele diz que gostava que lhe pusessem, de vez em quando, uma flor junto às suas cinzas, para ele pensar que se lembravam dele.

Tomando o sentido de palavras que tanta vez repetiu, Saramago não morreu aconchegado com a Esperança, nem com a Fé. Desejo, muito sinceramente, que tenha tido o aconchego mais importante de todos, que a todos os seres humanos desejo: esse mesmo, o aconchego humano. Este sentir, eu consigo sentir empaticamente, e isso reconforta-me.

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