sexta-feira, março 26, 2010

Sei lá... depende da vida.

O telejornal da SIC, à hora de almoço, terminou com uma reportagem sobre uma iniciativa de relevo, na Escola Luís António de Verney, dedicada à música clássica, e à participação dos alunos na Orquestra da Escola.
A jornalista procurou aqui e ali testemunhos de miúdos.
A SIC guardou para a o fecho da reportagem o seguinte diálogo da repórter com uma menina entusiasmada:
- E tu gostavas de fazer da música a tua vida?...
- Não sei, depende...
- Depende do quê?...
Resposta pronta, espontânea a e viva:
- Da vida!...
Há coisas que não dependem de nós, não é?... E esta criança sabe!... Intui isso com facilidade e naturalidade. E enquanto a vida não comanda ou determina a seu bel-prazer, é assim, faça-se ou viva-se com alegria e confiança.

quinta-feira, março 25, 2010

Earth Day 2010 - Apaga as luzes!

É já depois de amanhã, durante uma hora.
Vamos participar!
Dia 27 de Março, às 8 e meia da noite.
(hora local)


domingo, março 21, 2010

Dia Mundial da Água, 22 de Março de 2010

Eugénio de Andrade
Sempre a água
Sempre a água me cantou nas telhas.
Habito onde as suas bicas,
as suas bocas jorram.
As palavras que no cântaro
a noite recolhe e bebe
com agrado
sabem a terra por serem minhas.
Não sou daqui e não vos devo
nada, ninguém
poderá negar a evidência
de ser chama ou água,
fluir em lugar de ser pedra.
Perdoai-me a transparência.
(em O Sal da Língua)


A Unicef, a Poesia e a Pobreza

Este é um tema da agenda política mundial, se calhar o primeiro grande problema do Mundo.
O problema: a POBREZA.
A solução: a ERRADICAÇÃO da POBREZA.
Talvez por aqui haja uma grande oportunidade de produzir e partilhar energia pessoal, e tempo, como hoje em dia tantos dedicam à FARMVILLE do Facebook e a outras coisas semelhantes.
A gente ouve por todo o lado conversas do tipo: "Manda-me galinhas, não tenho galinhas...", "Tenho uma casa fechada porque não tenho janelas, não me arranjas janelas?...", "Tenho morangos a mais, alguém precisa de morangos?...".
Já viram esta concentração toda, este esforço do mundo virtual passado para o mundo real?... O que isto, na verdade, não permitiria!...
A farmeville do Facebook já deu prova sobejas de que há, em todos os lares, meios para dinamizar e partilhar esforços individuais, separados; e as farmevilles de todos já mostraram que se concertam entre todos acções em que todos ganham, ganham as pessoas e as acções. Quem alinha?...
Em Portugal, os compromissos oficiais passam por aqui: Objectivos 2015 - Campanha do Milénio.
Hoje comemora-se o DIA MUNDIAL DA POESIA.
Aprendi a dizer, com o 25 de Abril, que "A poesia está na rua".
E depois ouvi Natália Correia dizer que "A poesia é para comer".
E Thomas Mann, que "Não se pode ocupar com coisas do espírito quem tem a barriga vazia".
E... e... e...
Isto tudo é poesia, não é?...
Olha que grande oportunidade esta!... Já pensaram mesmo nas energias pessoais que hoje em dia estão dedicadas às farmevilles do Facebook?

quinta-feira, março 11, 2010

Sobre a (des)igualdade de oportunidades

As aulas mais recentes de Psicologia têm sido dedicadas ao modelo bioecológico do desenvolvimento de Urie Bronfenbrenner.
Ontem acompanhei o 12.º H à edição deste ano da Futurália, e as primeiras conferências da Feira estiveram centradas sobre as e-skills, do presente e do futuro. Segundo os dados do comissário André Richier, é de alarme a situação actual na União Europeia, tal como, por exemplo, no Canadá: as graduações em Tecnologias da Informação e Comunicação estão a perder alunos. E a desproporção entre ambos os sexos é enorme, mais de 5 estudantes rapazes para cada estudante rapariga.
Por este género de coisas e situações a União Europeia promove a divulgação de vídeos deste tipo:

segunda-feira, março 08, 2010

O bullying e o controlo das emoções

O que se chama bullying é, ao mesmo tempo, um problema pessoal e um problema de interacção social, que necessita de uma intervenção concertada em ambos os níveis, pessoal e social.
Este trabalho apresenta uma perspectiva muito próxima da perspectiva da nossa acção nas escolas e em consultoria privada.

domingo, março 07, 2010

A humanidade instintiva nos animais

Este vídeo podia ter a ver com racismo, com instintos, com compaixão, com espanto.
No fundo, é um vídeo que mostra que temos na nossa condição animal as bases para tratar bem os outros. Por exemplo, quando o outro é um imigrante. [Esta é para os meus alunos que estão a fazer trabalhos sobre a denúncia dos maus tratos a imigrantes]
Veja-se bem a que ponto vai a "humanidade instintiva" do leopardo. Para se manter junto do macaquinho, deixa a hiena levar a comida que caçara... e que, na verdade, bem necessita.

Conselhos para reduzir a pegada ecológica

Daniel Goleman subscreve estes conselhos:

GoodGuide | Slideshow | 10 Ways to Reduce Your Environmental Footprint
(10 maneiras de reduzir a pegada ecológica de cada um)
  1. Coma menos carne de vaca, de porco e de carneiro
  2. Vá menos vezes aos restaurantes
  3. Coma menos produtos do dia
  4. Beba menos refrigerantes
  5. Coma mais fruta da época e, sempre que possível, produzida localmente
  6. Coma menos "comida de plástico"
  7. Mude para um frigorífico com melhor eficiência energética
  8. Coma peixe de mar e de rio, que não esteja em perigo de extinção
  9. Beba menos água engarrafada
  10. Faça compras na praça ao pé de si, prefira os produtos da sua região
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Convido à leitura complementar deste pequeno apontamento, que se refere claramente à contribuição específica que os psicólogos podem ter na reflexão sobre a chamada "Questão Ambiental":http://autoregulacaodocomportamento.blogspot.com/2010/03/daniel-goleman-fala-com-brilhantismo.html

sábado, março 06, 2010

Parabéns, João Henrique!

O João Henrique, meu afilhado, fez anos no dia 1 de Março. 17 anos.
Quando ele tinha 7 anos, eu estava na Horta, de propósito para lhe cantar os parabéns. Calhou, num momento, ele estar comigo no carro da mãe, de pé, no banco de trás, com os braços apoiados no meu banco. Eu conduzia lentamente, descendo do hospital para as Angústias, com uma panorâmica magnífica, muito nítida, sobre o mar. Essa visão impôs-se a ambos e proporcionou um diálogo que reproduzi de memória assim que cheguei a casa.
- Ó ti Jóge, o mar é grande, não é?... perguntou-me, lá do banco de trás do carro, a olhar o mar em frente e com o Pico a aparecer do lado esquerdo, o João Henrique, de 7 anos de idade, neto do Peter.
- É, João, é grande e às vezes é mesmo muito grande...
- O mar nos Açores é grande, ti Jóge?
- OLha para ali, João, a gente olha lá para o fundo, vê sempre o mar e depois lá no fundo a gente não vê mais mas o mar continua ainda mais, parece que nunca mais acaba. Mas, se tu olhares ali para o Pico, o mar fica pequenino e se tu um dia quiseres e o mar estiver mansinho, tu podes ir o mar todo até ao Pico, a nadar.
- Ti Jóge, o mar tem um nome?
- Tem, tem muitos nomes, é que há muitos mares. E quando os mares ficam muito grandes já não se chamam mar, chamam-se oceanos.
O João Henrique olhou lá para o fundo, para onde eu dissera que o mar continuava e perguntou:
- O mar dos Açores é um oceano?
- O mar dos Açores ali para o fundo já se chama oceano Atlântico. Ali em baixo, tu sabes, chama-se Praia de Porto Pim, daquele lado ali, quando vamos para o Pico, chama-se Canal, onde tu estiveste ontem com o teu irmão e os vossos amigos chama-se Praia do Almoxarife...
- Quantos oceanos há no mundo? interrompeu-me o João.
- Um dia, na escola, a tua professora vai mostrar-te num mapa grande o oceano Atlântico, o oceano Pacífico, o oceano Índico, o oceano Glacial Ártico e o oceano Glacial Antártico.
- Este aqui dos Açores é o mais grande ou não, Ti Jóge?
- É quase o mais grande. O mais grande de todos é o oceano Pacífico.
- O oceano dos Açores não é o mais grande, Ti Jóge?... A voz e o rosto do João Henrique traziam, nem era bem um desapontamento, era mesmo uma aflição.
- Não, não é... mas já viste bem as coisas bonitas que o mar dos Açores tem? As baleias, os golfinhos, a doca onde tu, o teu pai e os teus irmãos tomam banho, os peixes que a gente pesca com o Chefe Jaime, não é João?...
- Ó To Jóge, tu sabes tanta coisa!...
A voz e o rosto do meu afilhado recuperavam já o ar ruminativo e espantado que as crianças tomam quando pensam intensamente. E parece que, quanto ao mar, por agora bastava. Agora era eu, o sábio daquele momento, o objecto da sua curiosidade:
- Ó Ti Jóge, quem é que sabe mais, és tu ou é o avô?...

Horta, Agosto de 2000

quarta-feira, março 03, 2010

O que é a educação - 02

Jamie Barry tinha a Terra do Nunca. Era uma coisa muito dele.
Eu tenho uma coisa muito minha: o meu Olimpo de Gente Grande, que muito me ensinam, que muito me inspiram.
Uma das gentes que mais recentemente lá guardei foi Randy Pausch. Outra que já há muito tempo lá se encontra é a minha irmã, a quem dediquei, na minha tese de mestrado o seguinte texto:

Dedicatória

Um dia, há muitos anos,
uma menina estava na sala de aula a trabalhar e teve sede.
Pediu à professora que a deixasse ir beber água,
mas a professora, que constantemente a censurava
pelo seu fraco trabalho escolar, não deixou.
Outra menina, sua colega, concentrada no seu trabalho, levantou a cabeça
e deu atenção ao que se estava a passar entre a professora e a outra menina.
Ela era uma aluna com muito melhor aproveitamento que a menina que tinha sede.
Pouco depois, disse à professora que estava aflita
e pediu à professora que a deixasse ir lá fora fazer xixi.
Quando a menina voltou,
aflitivamente, tropegamente, coitadita!,
tentava conservar na concha das suas mãozitas,
umas gotas de água
que queria dar a beber à colega que tinha sede.
Essa menina, de mãos de fada,
que, naquele gesto, mostrou saber intuir
o mais profundo valor que a escola deve fazer existir,
é minha irmã.
A ela dedico este trabalho.



O que é a educação - 01


Aprendemos com os poetas que o sonho comanda a vida.
Não sei se Randy Pausch conhecia ou não os poetas da Língua Portuguesa. Seguramente na sua própria língua, outros poetas cantaram também o sonho.
Quando ele deu a sua última aula, verdadeiramente última porque ele sabia que ia morrer dentro de pouco tempo, intitulou-a "Conquistar os nosso sonhos de infância".
Da aula, registada em vídeo (ver aqui) ele depois fez um livro, onde juntou outras coisas.
Por exemplo, um pequeno capítulo que a seguir transcrevo a partir da edição portuguesa. Este capítulo, no meu entender, relata maravilhosamente, com muita clareza e simplicidade, a essência da educação, do que aos agentes educativos (pais, escola e educadores sociais) cabe, com lógica, amor e bom senso.

SONHAR EM GRANDE
Os homens pisaram a Lua no Verão de 1969, tinha eu oito anos. Soube então que quase tudo era possível. Era como se todos nós, em todo o mundo, tivéssemos obtido permissão para ter sonhos em grande.
Nesse verão tinha ido acampar e, quando o módulo lunar poisou, fomos para a casa principal da fazenda, onde tinham ligado uma televisão. Os astronautas estavam a demorar muito tempo a organizar-se antes de poderem descer a escada e andar na superfície da lunar. Eu compreendia. Tinham muito equipamento, muitos pormenores a tratar. Eu era paciente.
Mas as pessoas que dirigiam o acampamento não paravam de ver as horas. Já passava das onze. Eventualmente, enquanto se tomavam decisões inteligentes na Lua, foi tomada uma idiota aqui na Terra. Era muito tarde. As crianças foram todas enviadas de volta às tendas para dormir.
Estava profundamente irritado com os directores do acampamento. O pensamento que me atormentava era o seguinte: «A minha espécie saiu do nosso planeta e aterrou pela primeira vez num mundo novo e vocês estão preocupados com a hora de deitar?»
Mas quando cheguei a casa, algumas semanas depois, descobri que o meu pai tinha tirado uma fotografia à nossa televisão assim que Neil Armstrong pisou a Lua. Tinha preservado o momento para mim, pois sabia que podia ajudar a desencadear sonhos em grande. Ainda temos essa fotografia num álbum.
Compreendo quem argumenta que os milhares de milhões de dólares gastos para colocar homens na Lua poderiam ter sido utilizados para combater a pobreza e a fome na Terra. Mas pronto, sou um cientista que vê a inspiração como derradeira ferramenta para fazer o bem.
Quando utilizamos o dinheiro para combater a pobreza, isso pode ser de grande valor, mas, com demasiada frequência, trabalhamos à margem. Quando se colocam pessoas na Lua, inspiramo-nos todos para desenvolver o nosso máximo potencial humano, que é como eventualmente os nossos problemas serão resolvidos.
Permitam-se sonhar. Alimentem também os sonhos dos vossos filhos. De vez em quando, isso pode significar deixá-los ficar acordados depois da hora de deitar.
(in A ÚLTIMA AULA, Randy Pausch, Editorial Presença, 2008, páginas 153-155)