Há 30 anos que caminho para a escola, a dar aulas de Psicologia. Sim, começou em 1989.
Em Novembro de 1981 acabei o curso de Psicologia.
Em 1979 ouvi ao meu mestre João dos Santos, em muitas ocasiões - era uma frase de que ele gostava muito -, a frase que, afinal, eu já conhecia das minhas leituras livres dos filósofos pré-socráticos: «Nada está na inteligência que não tenha estado antes nos sentidos».
Em 1979 ouvi ao meu mestre João dos Santos, em muitas ocasiões - era uma frase de que ele gostava muito -, a frase que, afinal, eu já conhecia das minhas leituras livres dos filósofos pré-socráticos: «Nada está na inteligência que não tenha estado antes nos sentidos».
Há 30 anos que, todos os anos, os alunos me vêem a citar a frase.
Ontem reencontrei-a nos escritos de Comenius:
Olho à minha volta, observo os decisores políticos, os formadores dos professores, os professores dos alunos, os psicólogos conselheiros dos professores e os especialistas das ciências da educação. Olho e fico afligido com o que vejo: sabemos todos tão pouco! Sabemos todos cada vez menos! E, à medida que cresce a nossa ignorância, cresce a nossa arrogância no pouco que sabemos.
As salas de aulas no nosso País são, paradoxalmente - nós que temos uma luz natural que mais de meio mundo inveja! -, locais de (não)vida cada vez mais escuros: fecham-se as janelas, correm-se as cortinas, ligam-se os projectores, apagam-se as luzes - e lá fora os dias estão tão lindos! Até os dias cinzentos, até os dias de chuva são lindos!
Há poucos dias ouvi uma conferência com três sumidades científicas no campo da maneira como aprendemos: um velho (e português), um assim-assim (estrangeiro) e uma jovem investigadora - o velho foi sábio, foi prudente; os outros dois deixaram-me a pensar como é fácil fazer duma árvore uma floresta, e duma andorinha a Primavera.
Dizia ontem o Pe. Vítor Gonçalves, na sua homilia do Dia de Todos os Santos, na Igreja de São Domingos, na Baixa de Lisboa, que não nos devemos resignar a passar como os outros passam, olhar e não ver, passarmos e sermos indiferentes - logo desde as coisas mais insignificantes do dia-a-dia..
Eu pensava que eu era assim só por causa do mau feito da minha avó Amélia, que nunca passava indiferente, e não importava o estatuto, a condição, os punhos rendilhados ou as convenções sociais delicadamente (ia a escrever doentiamente) sensíveis.
Afinal, parece que há valores que reclamam que a gente diga e aponte: são os valores que tentam que sejamos todos melhores uns com os outros - e a Educação é a mais nobre acção social e geracional de todo o Mundo.
Pronto, esqueçam o meu mau feitio, mas não se esqueçam da afirmação que também Comenius nos traz em eco.
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(1) Coménio, "Didáctica Magna", FCG, 2015, 6.ª edição, p. 198.
Ontem reencontrei-a nos escritos de Comenius:
Efectivamente, porque nada pode ser objecto da inteligência que primeiro não tenha sido objecto dos sentidos, a mente recebe dos sentidos a matéria de todos os seus pensamentos e não pode desempenhar a função de pensar senão por meio da sensação interna, ou seja, contemplando as imagens abstraídas das coisas. Daqui resulta que, danificando o cérebro, danifica-se a faculdade imaginativa, e se os membros do corpo estão doentes, é afectada também a mente. Por isso, o poeta teve razão em dizer: "Deve pedir-se a mente num corpo são"».(1)Os sentidos pedem o olhar - olhar e ver com olhos de ver; o ouvir - e para ouvir é preciso, tantas vezes!, que os professores se calem e se desliguem os aparelhos; pedem o cheirar - cheirar muito mais que os perfumes e os desodorizantes, e os ambientadores; pedem o saborear - e o desafio do saborear, e saborear não é apenas juntar açúcar ou muito sal; e, finalmente, pedem que se sinta com os dedos, as mãos, a pele, todo o corpo - se sintam os outros corpos e toda a Natureza. E quanto é bom irmos falando de tudo isso uns com os outros!
Olho à minha volta, observo os decisores políticos, os formadores dos professores, os professores dos alunos, os psicólogos conselheiros dos professores e os especialistas das ciências da educação. Olho e fico afligido com o que vejo: sabemos todos tão pouco! Sabemos todos cada vez menos! E, à medida que cresce a nossa ignorância, cresce a nossa arrogância no pouco que sabemos.
As salas de aulas no nosso País são, paradoxalmente - nós que temos uma luz natural que mais de meio mundo inveja! -, locais de (não)vida cada vez mais escuros: fecham-se as janelas, correm-se as cortinas, ligam-se os projectores, apagam-se as luzes - e lá fora os dias estão tão lindos! Até os dias cinzentos, até os dias de chuva são lindos!
Há poucos dias ouvi uma conferência com três sumidades científicas no campo da maneira como aprendemos: um velho (e português), um assim-assim (estrangeiro) e uma jovem investigadora - o velho foi sábio, foi prudente; os outros dois deixaram-me a pensar como é fácil fazer duma árvore uma floresta, e duma andorinha a Primavera.
Dizia ontem o Pe. Vítor Gonçalves, na sua homilia do Dia de Todos os Santos, na Igreja de São Domingos, na Baixa de Lisboa, que não nos devemos resignar a passar como os outros passam, olhar e não ver, passarmos e sermos indiferentes - logo desde as coisas mais insignificantes do dia-a-dia..
Eu pensava que eu era assim só por causa do mau feito da minha avó Amélia, que nunca passava indiferente, e não importava o estatuto, a condição, os punhos rendilhados ou as convenções sociais delicadamente (ia a escrever doentiamente) sensíveis.
Afinal, parece que há valores que reclamam que a gente diga e aponte: são os valores que tentam que sejamos todos melhores uns com os outros - e a Educação é a mais nobre acção social e geracional de todo o Mundo.
Pronto, esqueçam o meu mau feitio, mas não se esqueçam da afirmação que também Comenius nos traz em eco.
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(1) Coménio, "Didáctica Magna", FCG, 2015, 6.ª edição, p. 198.
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