encantatória melodia do piano - e veio-me à cabeça o título, alinhado com cada mais coisas também assim, "História do Mundo sem as Partes Chatas"; isto é, cada vez mais se produzem coisas "sem as partes chatas" - e assim se cria a ilusão:cada vez mais o Mundo existe com tudo pronto, simples, directo, imediato, sem as partes chatas, ali bem à nossa espera. É tudo fácil, basta um toque num botão (virtual, evidentemente; o toque é no écrã), numa imagem - a viagem, real ou virtual, está marcada.
Repito: este vídeo é muito bonito. Agora, de quantos retalhos é feito? Com adequada atenção à sequência de imagens, podemos constatar que o vídeo que o sofisticado e moderníssimo drone produz é uma composição de muitos retalhos - quer dizer, para embelezar virtualmente a natural e concreta beleza, eliminaram-se as partes chatas.
É essa a decepção que tantas vejo nas minhas saídas para o mar: onde estão os grandes animais que quase vêm ali à proa do barco a jeito de a gente lhes fazer festas junto aos olhos e no lombo? Onde estão aqueles pinchos, tipo, "Vá, prepara a máquina fotográfica, aqui vou eu! Um... dois... três! Dispara!"? «Eh, pá, eu não sabia que tinha de andar mais de uma hora no barco, a grande velocidade, praticamente sem ver nada...» «Olá... isto, afinal, balança, já estou a sentir-me enjoado, isto é mesmo desagradável, pronto, vou vomitar, só espero que depois fique bem.» E quantas vezes se volta para terra, 3 ou 4 horas depois e parece que aquele imenso mar mingua de animais como nunca se imaginaria.
Sim, cada vez mais penso que estes cada vez mais presentes vídeos de divulgação (onde nos levarão ainda os drones e outros que tais?... que até já dispensam os grandes canais televisivos especializados? Qualquer um de nós pode ser autor de belezas assim...) são uma faca de dois gumes, e cada vez mais os vejo pelo gume em que me corto, não pelo gume que corto o que quero.
#Açores, #cachalote, #realidade, #realidade virtual
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