sexta-feira, junho 27, 2014

POR FAVOR! Não se peça mais escola para as crianças!

The Decline of Play and Rise of Mental Disorders: Peter Gray at TEDxNave... 
  • Menos brincadeiras, mais perturbações mentais.
  • Menos brincadeiras, menos crianças autónomas.
  • Menos brincadeiras, crianças menos auto-controladas e menos resistentes às frustrações.
POR FAVOR!  Não se peça mais escola para as crianças! Reinventem-se as relações de vizinhança e o espaço da rua para brincar.

quarta-feira, junho 25, 2014

Castigat Ridendo Mores

Hoje fui à Livraria Sá da Costa, no Chiado.
Livros e livros velhos; mapas, postais e aguarelas.
Tive tempo, olhei as estantes, de maneira muito disciplinada, uma a uma - tantas!... cheias de tantos livros velhos!... - e fui guardando na memória a posição de alguns que me interessavam. Quando achei que tinha visto o que vi fui às memórias guardadas e peguei nos livros.
Entre eles, um livrinho muito pequeno, pequeno livro de bolso; muito sofrido, muito frágil. Uma edição da Federação Brasileira dos Escoteiros do Mar, publicado em 1928; isso, a caminhar para os 100 anos de vida. A fazer fé na dedicatória, o livro foi oferecido em 1992 a um grupo de escoteiros português por um chefe escoteiro.
O livro é uma obra notável! Tem como título "Jogos Escoteiros". Dos livros que conheço do género é, sem dúvida, um dos melhores de todos, muito poucos dos sofisticados actuais faz meças com ele. Nem sei se diga que é mesmo o melhor de todos... Como aparece aqui um livro destes, como foi ele largado por um grupo escoteiro?...
Na carta de apresentação que segue imediatamente o prefácio, escrita no Rio de Janeiro em outubro de 1928, e dirigida ao "Snr. Dr. Presidente da UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL", Gabriel Skinner, escreve o seguinte:
"(...) O jogo, segundo Claparède, é um exercício de preparação para a vida séria. (...) e o ideal do jogo consiste n'um divertimento que associe ao mesmo tempo a actividade physica, intellectual e moral da criança. É o - "Castigat ridendo mores" (1). Pelo jogo se expande a alma do menino; e é ahi então que o educador põe em prática os seus conhecimentos psycho-pedagogicos, actuando seguramente em sua alma ductil e plasmavel, elevando-a e educando-a, dentro dos sãos princípios da integridade physica, moral e intellectual. (...)"
Sim, concordo inteiramente!
São 200 jogos, arrumados por categorias claras, lógicas, cheias de bom-senso. Em outro dos livros que trouxe comigo (- Que compra!... Pela obra em si e pelo preço, de uva mijona.), William James, a veneranda referência da Psicologia Americana (que o próprio António Damásio continua a referir-se, mesmo nos seus mais actuais trabalhos) aflige-se com o risco de invasão sobranceira da Psicologia na Pedagogia, numa obra traduzida para francês em 1906, Causeries Pédagogiques. O que aconteceu sobretudo a partir da segunda metade do século XX veio mostrar que William James tinha razão para estar preocupado. Mas o livrinho de jogos dos Escoteiros do Brasil escapou a tempo da Psicologia! São jogos de 100 anos de vida - é tradição, é cultura, é sabedoria; é um conjunto de oportunidades riquíssimas de desenvolvimento físico, moral, intelectual; e social.
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(1) A expressão latina «ridendo castigat mores» — que também ocorre como «castigat ridendo mores» — não foi empregada por Gil Vicente, mas costuma ser citada em estudos sobre este autor, porque define a sua intenção de crítica moral de tipos e grupos sociais quando recorre ao cómico. Segundo o Dicionário de Português Michaelis, a frase significa «corrige os costumes sorrindo» e corresponde ao «[p]rincípio em que se fundamenta a comédia, criado por Jean de Santeuil» (1630-1697), poeta francês que escreveu em latim. (in Ciberdúvidas)

segunda-feira, junho 23, 2014

Cristiano Ronaldo, el-rei D. Sebastião e a espada de D. Afonso Henriques

Cristiano Ronaldo, o “CR7” da“Estou com esperança que este ano vai ser o ano da selecção de Portugal”[1]. Em frente aos ávidos jornalistas da protocolar conferência de imprensa da véspera do jogo oficial, o Cristiano Ronaldo respirava serenidade, lucidez e confiança que apaziguava quem pressurosamente escrevia ou gravava, por todos os meios possíveis, o que ele dizia. Na verdade, os jornalistas desportivos e os repórteres das imensas cadeias de televisão vinham gemendo, já nas semanas anteriores, com intensidade quase catártica, ansiedades e angústias acerca do joelho do “melhor jogador do Mundo”; e contagiavam leitores e espectadores com ansiedades e angústias iguais. A preocupação dos profissionais da Comunicação Social adquiriu níveis de legitimidade jornalística quando, no dia 24 de Maio, CR7 reconheceu, finalmente, após ganhar a Liga dos Campeões Europeus, que alguma coisa não ia bem com o seu joelho e que, sim senhor, no jogo que acabara de disputar minutos antes, tinha forçado o joelho.
            O jeito seguro, convicto, de CR7, na esperançosa conferência de imprensa, já tinha sido especialmente marcante no jogo do “play off” de Portugal com a Suécia, que lhe deu a oportunidade tripla – tantas quantos os golos que ele marcou nesse jogo -, de trazer os dedos indicadores à frente do peito, apontá-los com determinação poderosa e absoluta ao chão que os seus pés pisavam e até o mais surdo dos adeptos ouviu e o mais cego dos fanáticos pode ver o que imperialmente ele dizia: “Eu estou aqui!...”. E se ele estava ali, como poderia alguém duvidar da vitória da equipa portuguesa? Se foi assim coma Suécia, por maioria de razão seria agora no Mundial.
            Quantas vezes os portugueses – não apenas o Cristiano Ronaldo – se viram já nesta vertigem que nos leva do sonho à decepção, do céu ao inferno, da glória à derrota, da euforia à depressão?...
            Até os grandes filósofos portugueses (quero puxar da ironia insinuante, mas não sei se ponha as aspas nos “grandes” ou nos “filósofos”) pensam e ensaiam sobre esta proverbial característica do homem português: é fado?... é destino?... é temperamento genético?... é do mar?... é do sol?... é do jardim à beira mar plantado?...
Não me quero meter por aqui… Eu não sou grande, nem filósofo. O que sei é que depois da prova real dos factos e dos acontecimentos, quer queiramos ou não, ficamos – que remédio! - de pés no chão e reconhecemos que tudo não passou de uma ilusão; que sim, que estávamos a sonhar demasiadamente alto. Não digo que estávamos a construir castelos na areia porque eles desfazem-se habitualmente com muita suavidade; usar a imagem do sonho é pôr-nos a cair que nem Ícaros, brutalmente, a levarmos um grande safanão! E é isso que nos acontece sempre.
            Casualmente, calhou que – como tantas vezes a gente diz, “nem de propósito!” - cruzasse hoje o CR7 com o nosso rei D. Sebastião e a espada do mais mítico de todos os nossos reis, o primeiro, D. Afonso Henriques.
            Estou a ler o volumoso trabalho de José Mattoso sobre D. Afonso Henriques. Hoje cheguei à página 169. É dessa página que retiro o seguinte excerto:
“(…) O marquês de Abrantes referia-se ainda ao facto de o pavês de Afonso Henriques ter sido guardado sobre o seu túmulo em Santa Cruz de Coimbra, juntamente com a sua espada, pelo menos até ao século XVI. Quando D. Sebastião partiu para Alcácer-Quibir, pediu aos cónegos regrantes para levar consigo a espada como penhor da vitória que esperava alcançar. (…)”[2]
Ora cá está ela! A tal proverbial ilusão: aquilo lá contra os Mouros eram favas contadas! Alguém duvidava que a os portugueses lá chegariam e venceriam os infiéis? Dizem os miúdos de hoje “depois viraste-te para o lado, caíste da cama e acordaste, nessa altura é que percebeste que estavas a sonhar, não foi?...” Pois, D. Sebastião não caiu da cama, caiu do cavalo; e a malta que estava à volta dele caiu toda também. E lá ficámos nós sem a espada do D. Afonso Henriques![3] O “Agora é que é!...” dos portugueses tem remédio?... Não sei… Tanto quanto a gente sabe – e por mais embrulhados que andem factos, mitos , mentiras e fantasias -, sem essa ilusão a designada “empresa” dos Descobrimentos também não teria acontecido…
            Ora bem, cá p’ra mim, o que faltou neste Mundial à equipa portuguesa foi trabalho, concentração e foco; e há sempre interesses parasitas. Mas é melhor calar-me, disto não sei nada…




[1] Ver, por exemplo: http://vmais.rr.sapo.pt/default.aspx?fil=701518
[2] Mattoso, J. (2007). D. Afonso Henriques. Temas e Debates, p. 169.
[3] Lá teve João Pedro Rodrigues – que certamente bem gostava de ter podido contar com a original espada – que se desenrascar com uma réplica para a vencedora, em terras brasileiras, curta-metragem “O Corpo de Afonso”. “O Corpo de Afonso é uma muito interessante ficção que o jovem cineasta português realizou precisamente sobre a pessoa de carne e osso que teria sido o primeiro rei de Portugal, com a personalidade e das façanhas que [julgamos que] conhecemos… São mesmo conhecimentos cheios de dúvidas, mitos, polémicas; na linguagem que conhecemos a propósito de D. Sebastião, são nevoeiros… muitos e intensos.

terça-feira, junho 17, 2014

Papa Francisco: - Sabe a diferença que existe entre Terrorismo e Protocolo?

Quando (entrevista em 11 de junho) o jornalista Henrique Cymerman questionou o Papa Francisco sobre a sua relação difícil com o "protocolo", o Papa deu-lhe uma resposta magistral! Assim:
Papa Francisco: - Sabe a diferença que existe entre Terrorismo e Protocolo?
Cymerman: - Não...
Papa Francisco: - É que com o Terrorismo pode-se negociar...
Ui!... Que aviso!... Como costumamos dizer, que chapada de luva branca!... As escolas estão cheias de protocolos; a política está cheia de protocolos; as relações institucionais, em geral, estão cheias de protocolos... É evidente que alguns são necessários. Em certa medida, os rituais sociais e culturais são protocolos. Como dizia Konrad Lorenz, servem o objectivo de controlar a agressividade. Mas há rituais, há protocolos; e há muitos exageros de protocolos.
Veja-se hoje como um homem que, como ele próprio um dia disse, "não foi tocado pelo dom da fé - estou a falar de Mário Soares - fala hoje do Papa Francisco num artigo que faz publicar no Diário de Notícias.

quinta-feira, junho 05, 2014

Lhéngua Mirandesa - MANIFESTO an modo de hino

LHÉNGUA MIRANDESA - MANIFESTO AN MODO DE HINO
Momento de especial intensidade emocional, ontem, dia 4 de junho,
na Escola Secundária Eça de Queirós, em Lisboa.