terça-feira, dezembro 25, 2012

O Pai Natal usa brincos!

Ontem à noite, na Consoada, entre outras histórias, contou-se esta, que se pode, com toda a propriedade, juntar-se aos argumentos que discutem se se deve, ou não, manter as crianças na ilusão da existência do Pai Natal.
Contou a minha comadre que uma das filhas, em pequenina, vivia intensamente a Noite de Natal, os Presentes e, claro, acima de tudo, o Pai Natal.
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Num determinado ano, calhou à minha comadre a vez de aconchegar a chegada do Pai Natal, vestindo-se a rigor para esse efeito. Por isso, quando o Pai Natal dessa Noite de Natal chegou lá a casa, a mãe não estava ao pé da filha, que teve de o ficar a ver o hipnotizante senhor de barbas brancas, desamparada da segurança materna, de olhos espantados, fascinados, medrosos!... Assim que a menina, excitadíssima, voltou a ter a mãe por perto, foi contar-lhe tudo o que viu, tudo o que aconteceu, naquele breve momento da presença do Pai Natal.
A menina atropelava, com toda a pressa, pormenores da figura do Pai Natal, do que ele disse, do que ele fez. A determinada altura, na descrição do Velho de Barbas Brancas, a pequenita olhou a mãe, de um e do outro lado da face, e sem interromper o caudal do seu relato,  disse, olhando-a agora nos olhos: "... ele, mãe, tinha uns brincos iguais a esses que tu tens agora..." Depois, continuou a debitar pormenores, enquanto a mãe tentava recuperar, sem se dar por descoberta, do abalo que o delicioso pormenor do discurso da filha lhe causara.
Que coisa bonita!... Esta menina, certamente muito inteligente, arranjou uma maneira de proteger a fantasia excitante, saborosa, que ela gosta de experimentar - e que a mãe também gosta de viver! E, implicitamente, muito diplomaticamente, diz a si própria - e diz à mãe! - que a sua perceção da realidade é correta, se mantém íntegra e que, por sua livre decisão, opta por se deixar levar na "mentira" dos pais e avós porque lhe sabe muito bem a história e a fantasia, sobretudo naquela ambiência familiar em que todos se acarinham e aconchegam uns aos outros.
Por isso, e sem querer esgotar - ou sequer, discutir - o assunto, enquanto psicólogo, aconselharei a que, diga-se o que se diga sobre o Menino Jesus e o Pai Natal, ou diga-se o que se disser para os negar na celebração do Natal, o mais grave ou condenável é ofender a inteligência e o bom juízo percetivo das crianças. Negar rigidamente o que a criança consegue ver ou percecionar é deturpar-lhe a capacidade de observar e entender a realidade que a envolve; e fazer opções, de acordo com as suas motivações e valores. Se a criança quer brincar ao "frisson" da Noite do Pai Natal, porque não deixá-la?... Este tipo de fantasias não afastam as crianças para muitos fantásticos e irreais; pelo contrário, podem ser bons instrumentos para a ajudarem a envolver-se mais ativamente na sua cultura de pertença e a ser mais tolerante com culturas diferentes da sua.

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