domingo, dezembro 30, 2012

Mensagem de Ano Novo 2013 (no fundo, dá para qualquer ano...)


Bem, depois desta receita, o que fica, realmente, de importante para dizer?...

RECEITA DE ANO NOVO, de Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.

quarta-feira, dezembro 26, 2012

2013 - Ano Europeu dos Cidadãos

http://ec.europa.eu/portugal/comissao/destaques/20110817_2013_
ano_europeu_cidadaos_pt.htm
Celebrar na Europa ou no Mundo, ano após ano, tem - pode ter - o condão de alertar consciências, promover novas - ou renovadas - atitudes e congregar comportamentos de ajuda, solidariedade, numa palavra: humanidade.
2013, antecipado em 2012, quer trazer importância e valor à cidadania europeia - que bem precisados andamos, não obstante o recente Prémio Nobel da Paz.
Hoje fui adquirir o sempre muito interessante calendário "Celebração do Tempo", das Edições Paulinas, que recomendo vivamente.
Na capa, os editores condensam numa só duas afirmações de São Paulo, extraídas de duas das suas cartas, que agora aqui reproduzo integralmente, de acordo com a Bíblia de Jerusalém (Paulus, 2002):

  • (...) Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher;pois todos vós sois um só em Cristo Jesus. (...) (Epístola aos Gálatas, 3, 28)
  • (...) Vós não vos desvestistes do homem velho com as suas práticas e vos revestistes do novo, que se renova para o conhecimento segundo a imagem do seu Criador. Aí não há mais grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo, livre mas Cristo é tudo em todos. (...) (Epístola aos Colossenses, 3, 10-11)
No espírito ecuménico que tem orientado as sucessivas edições deste calendário, parece-me uma proposta muito interessante. Vamos a isso!

NOTA: Ver aqui (http://www.paulinas.pt/livro_detail.asp?idlvr=1268) a apresentação do "Celebração do Tempo", que - repito - recomendo vivamente!

terça-feira, dezembro 25, 2012

O Pai Natal usa brincos!

Ontem à noite, na Consoada, entre outras histórias, contou-se esta, que se pode, com toda a propriedade, juntar-se aos argumentos que discutem se se deve, ou não, manter as crianças na ilusão da existência do Pai Natal.
Contou a minha comadre que uma das filhas, em pequenina, vivia intensamente a Noite de Natal, os Presentes e, claro, acima de tudo, o Pai Natal.
http://4.bp.blogspot.com/-VswD1QohWCg/UJw9nJbFMoI/
AAAAAAAAHYQ/kq8Z-OaQ9rY/s1600/Slide1.JPG
Num determinado ano, calhou à minha comadre a vez de aconchegar a chegada do Pai Natal, vestindo-se a rigor para esse efeito. Por isso, quando o Pai Natal dessa Noite de Natal chegou lá a casa, a mãe não estava ao pé da filha, que teve de o ficar a ver o hipnotizante senhor de barbas brancas, desamparada da segurança materna, de olhos espantados, fascinados, medrosos!... Assim que a menina, excitadíssima, voltou a ter a mãe por perto, foi contar-lhe tudo o que viu, tudo o que aconteceu, naquele breve momento da presença do Pai Natal.
A menina atropelava, com toda a pressa, pormenores da figura do Pai Natal, do que ele disse, do que ele fez. A determinada altura, na descrição do Velho de Barbas Brancas, a pequenita olhou a mãe, de um e do outro lado da face, e sem interromper o caudal do seu relato,  disse, olhando-a agora nos olhos: "... ele, mãe, tinha uns brincos iguais a esses que tu tens agora..." Depois, continuou a debitar pormenores, enquanto a mãe tentava recuperar, sem se dar por descoberta, do abalo que o delicioso pormenor do discurso da filha lhe causara.
Que coisa bonita!... Esta menina, certamente muito inteligente, arranjou uma maneira de proteger a fantasia excitante, saborosa, que ela gosta de experimentar - e que a mãe também gosta de viver! E, implicitamente, muito diplomaticamente, diz a si própria - e diz à mãe! - que a sua perceção da realidade é correta, se mantém íntegra e que, por sua livre decisão, opta por se deixar levar na "mentira" dos pais e avós porque lhe sabe muito bem a história e a fantasia, sobretudo naquela ambiência familiar em que todos se acarinham e aconchegam uns aos outros.
Por isso, e sem querer esgotar - ou sequer, discutir - o assunto, enquanto psicólogo, aconselharei a que, diga-se o que se diga sobre o Menino Jesus e o Pai Natal, ou diga-se o que se disser para os negar na celebração do Natal, o mais grave ou condenável é ofender a inteligência e o bom juízo percetivo das crianças. Negar rigidamente o que a criança consegue ver ou percecionar é deturpar-lhe a capacidade de observar e entender a realidade que a envolve; e fazer opções, de acordo com as suas motivações e valores. Se a criança quer brincar ao "frisson" da Noite do Pai Natal, porque não deixá-la?... Este tipo de fantasias não afastam as crianças para muitos fantásticos e irreais; pelo contrário, podem ser bons instrumentos para a ajudarem a envolver-se mais ativamente na sua cultura de pertença e a ser mais tolerante com culturas diferentes da sua.

O NATAL NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

O PRIMEIRO NATAL NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL.
Agradeço ao meu amigo Luís Bettencout Moniz
a partilha desta  fotografia espantosa
Agradeço à minha colega Sofia Barros
a partilha desta fotografia
A primeira guerra mundial começou a 28 de julho, com a declaração de guerra do Império Austro-húngaro à Sérvia. Por isso, o Natal de 1914 veio já com a guerra a fazer-se. Contudo, aconteceu esta coisa espantosa: ao longo da frente ocidental, na Véspera de Natal, soldados de ambos os lados trocaram entre si cânticos de Natal. Na manhã do dia 25, contrariando ordens do comando, soldados alemães saíram para fora das trincheiras e aproximaram-se das tropas aliadas adversárias, entoando o "Merry Christmas" em inglês. Soldados ingleses saíram também das suas posições, e trocaram-se saudações, abraços e cigarros. Este extraordinário acontecimento, que mostra a força da celebração natalícia e a força da do jeito humano que nos põe a reconhecer os outros como iguais a nós próprios ficou guardado na história das guerras como "A trégua do Natal". Ao que parece, as versões oficiais das Histórias da Primeira Guerra Mundial tentaram manter escondido, ignorado, este episódio extraordinário de humanidade, mas, felizmente, sem sucesso.


Este acontecimento é recordado numa das mais recentes edições da Times, que junta mais 9 ocorrências invulgares da época natalícia.
http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1868506_1868508_1868515,00.html