Quando cheguei a casa e fui deixar um apontamento no Facebook, curiosamente, encontrei, no meu mural, uma mensagem do senhor padre Bruno Machado. A mensagem, pública, anunciava que tinham acabado de chegar da Terra Santa.
Deixei o seguinte comentário à mensagem do senhor padre, no espaço próprio para o fazer:
Saí há pouco da igreja paroquial dos Olivais. Na Horta, no Faial, um grande amigo meu recebia o adeus cristão na sua igreja de sempre. Impossibilitado de estar junto dos seus familiares e amigos, procurei a igreja que tanto tem, aqui, em Lisboa, a ver comigo e com esse amigo. A igreja estava fechada, mas um mistério daqueles que nos recolhem fraternalmente nos braços abriu-me as portas da igreja e pude juntar-me, no coração e no pensamento, àqueles de quem eu queria muito hoje estar junto. Perguntei por ti, meu querido aluno, perguntei por si, sr. Pe Bruno Miguel Machado. Disseram-me que estavam de volta da Terra Santa. Deixei-(te)lhe um abraço muito grato e fraterno. Peço-lhe agora, senhor padre, que repita os meus mais sinceros agradecimentos à senhora paroquiana que, plena de boa fé, me deu a bênção do bocadinho precioso de recolhimento de que tanto necessitei esta manhã!
Entretanto, aproveitei para trazer comigo um exemplar da edição do jornal Voz da Verdade (n.º 4019, de 19 de fevereiro de 2012). Gostei muito de ler o editorial! O seu autor é D. Nuno Brás.
O conteúdo do texto tem a ver com o que tantas vezes falo nas aulas de Psicologia (Espero que o senhor padre Bruno Miguel Machado seja ainda capaz de o testemunhar...); e tem a ver com o modo de ser do meu grande e, a partir de agora, saudoso amigo Jaime Alexandre - o Chefe Jaime -, afinal, a razão de coração que me levou hoje à igreja paroquial dos Olivais.
Com a licença de quem o possa permitir, reproduzo aqui, na íntegra, esse texto, tão claro, tão cordialmente cristão, sobre o tempo da Quaresma:
Confesso que a Quaresma nem sempre foi para mim um tempo litúrgico simpático. Pelo contrário: foi muitas vezes suportado como o tempo de tomar consciência do pecado, da fraqueza de não o conseguir ultrapassar, de fazer parte de uma humanidade bem longe das glórias que se atribui a si mesma.
Hoje, acredito que o problema não se encontra, obviamente, na Quaresma, mas no modo de a viver. Para um egoísta empedernido, a Quaresma é, de facto, difícil de viver. Para aquele que olha para si, é difícil compreender o convite a dar mais tempo à oração (a dar mais tempo ao Outro que é Deus), à caridade que nos ensina a amar o outro nosso irmão não com o nosso amor mas com o amor de Deus, e ao jejum que nos obriga a privarmo-nos de tantos pequenos prazeres e nos convida a perceber que não somos o nosso fim último.
Mais que qualquer outro tempo litúrgico, a Quaresma convida-nos a dar atenção ao outro que se encontra ao nosso lado: precisamente, aquele outro de que nada sabemos de seguro, de quem, eventualmente e sem qualquer razão, imaginamos que sofra ou que se alegre, que tenha uma boa vida descansada e egoísta ou que, vergado pelo peso de uma história de dor, nem sequer consiga esboçar um sorriso.
A Quaresma convida-nos a ir para além daquilo que imaginamos, das segundas ou terceiras intenções que atribuímos a gestos, atitudes e palavras dos outros – tantas vezes criadoras de mal-estar – para ir ao encontro do outro real. A Quaresma convida-nos a conhecer a realidade do outro, como ele efectivamente é; o que ele na realidade pensa; aquilo de que, verdadeiramente, necessita. Convida-nos, afinal, a sairmos de nós, da nossa concha, do nosso mundo cheio de muros, de classificações, de preconceitos, de sonhos e imaginações, para termos a ousadia de nos expormos, como somos e com as nossas dificuldades, mas igualmente com tudo aquilo que Deus faz (ou pode fazer) em nós e através de nós.
Pouco importa a “simpatia” da Quaresma. O facto é que ela nos ajuda, em cada ano que passa, a crescer na fé, na esperança e na caridade. Sem os “exercícios quaresmais”, como o nosso coração seria bem mais duro e empedernido!
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