O meu menino jesus deste ano. |
Vou fazer-vos uma confissão: a minha alquimia, o meu grande desejo, é juntar o Menino Jesus e o Pai Natal num só. Pronto, já disse!... Está dito!
De há 2 ou 3 anos a esta parte, o Pai Natal não tem parado de escrever aos meus alunos, até já das Maldivas, nas férias de Verão deste ano, ele escreveu! Sim senhor, o Pai Natal escreveu aos meus alunos, ali está bem marcado nos postais, o carimbo de correio das Maldivas, carimbo verdadeira, sem enganar ninguém! E assinadinho à mão: P-a-i-N-a-t-a-l! Há dias, recebemos mais um postal, este agora – só podia ser! - da Finlândia! Escrevi-lhe, logo de seguida, para Rovaniemi, um email a agradecer e ele já me respondeu a dizer que esperasse, que não era tudo! Que a caminho vinha outro postal dele, escrito em finlandês, imagine-se. Postal escrito sem medo que a gente não o percebesse! O Pai Natal sabe que a gente usa a Internet e sabe que conhecemos e usamos o tradutor do Google. Esta ferramenta da Net dá mesmo jeito!
Todos os anos – e este ano não foi exceção, até para os meus alunos do 12.º ano -, o Pai Natal, de cada vez que eu leio, ou faço ler, as suas cartas nas aulas, fica sujeito ao desdém de quem, de cara desconfiada e boca torcida para o lado, os dentes exibidos em insolência quase agressiva, arranha as venenosas palavras: “Isso é tudo treta!... Foi o “stôr” que escrever a carta, o Pai Natal não existe!...” O Pai Natal está habituado a estas saídas da malta jovem. Ouve e sorri, cheio de carinho e tolerância.
Seguem-se sempre, depois, confrontos de argumentos, em que o desafio a que me proponho é convencer sem nunca fugir à verdadeira verdade. São bem mais as vezes que consigo que as que não consigo.
Senhores, já viram bem o rosto da mais cética das criança ou do mais cético dos jovens quando sinceramente põem na sua consciência, levada por emoções que irrompem a partir do espanto genuíno, a ideia de que o Pai Natal possa existir? Que lindos ficam! Vale ou não vale a pena despertar emoções, ou dúvidas, assim?
Há muitos anos, numa história que já contei, o Nelson, num Natal que tudo lhe dizia que iria ser triste como tinham sido todos os outros Natais da sua vida, acreditou que o Pai Natal existia. E isso mudou o Natal daquele ano! Porque teve mais prendas?... Porque viu o Pai Natal?... Não, simplesmente porque acreditou. Talvez ainda hoje ele diga que foi o melhor Natal da sua vida.
Senhores, já se deram bem conta da experiência emocional que é acreditar que pode existir uma pessoa bondosa, amiga, gordinho, anafadinho de coisas lindas e encantadoras para toda a gente, como é a pessoa do Pai Natal? Como passamos nós a olhar as pessoas à nossa volta quando começamos a acreditar como o Nelson acreditou?... Todos nos parecem bons e com todos nos apetece estar. E queremos que se sintam tão alegres quanto nós próprios. O Pai Natal só desperta sentimentos bons e positivos!
Sim, que bom é sentir que o Pai Natal existe, que ele vai vir a nossa casa; que bom é pensar que, quem sabe?, um dia vamos vê-lo!... Não veio este ano?, não faz mal, se calhar não pode, ele tem de andar por tantos lados… se calhar, até veio, eu é que não consegui vê-lo… E, com o tempo, descobre-se outra coisa: que cada um de nós pode brincar ao Pai Natal, descobre-se que cada um de nós pode fingir que é o Pai Natal. Descobre-se que cada um de nós pode chegar-se a uma criança e fazer acontecer nela aquele momento – tão saboroso! - em que as crianças tomam contacto com aquele senhor tão bondoso, tão amigo das crianças e de todas as pessoas. Que bom é sentirmos estar em contacto com pessoas boas! Que bom é fazermos uma criança sentir-se interiormente tão bem! Não é bom termos todos uma experiência emocional assim?
Se o Pai Natal nos traz a experiência emocional da bondade abastada, o Menino Jesus traz-nos o outro lado do tempo do Natal. O lado do amor da família, o lado do aconchego do lar, mesmo no casebre mais pobre de todos. A paternidade biológica do Menino Jesus põe-nos perante problemas de compreensão que pedem asas ou rasgos de pensamento que vão – também, como no caso do Pai Natal – bem para além do que a nossa condição racional nos deixa chegar. Deparamo-nos outra vez com a capacidade de acreditar. De acreditar e de sentir. E, outra vez, não é bom sentir? Não é bom acreditar? Qual de nós não sente o coração cheio de ternura e compaixão quando pensa no e sente o Menino Jesus?
Os tempos que vivemos estão a tirar-nos o saco das prendas do Pai Natal. Balançamos entre as duas alternativas: olhar tragicamente para a vida à nossa volta e para o que nos dizem dos anos que aí vêm; ou fazer, outra vez, a experiência renovadamente reconfortante das Boas Festas e do aconchego natalício.
No seu tempo, em 1883, e ao seu jeito, Eça de Queiroz, na véspera de Natal, escrevia a Jaime Batalha Reis e dava conta ao seu amigo da ambivalência que lhe ia na alma entre trabalhar e a si próprio se “dar feriado de Natal”. Logo a seguir afirmava o desapontamento da resolução. E prometia ao seu amigo que, assim que pudesse, se chegaria a ele para lhe dar um abraço.
Noutras culturas, as que não contêm a matriz da mensagem cristã, o Natal não existe, a ambivalência não acontece. Certamente nessas culturas, as pessoas, geração após geração, encontraram outras formas de sentir a existência de gente genuinamente boa e também de sentir a possibilidade da abastança partilhada; de sentir o prazer da teia de laços afetivos entre gente que se conhece e ama, mesmo quando tudo à nossa volta nega a experiência da abastança. Estas crenças têm diretamente a ver com necessidades humanas básicas, por isso aparecem em todas as culturas, mesmo que com formas diferentes.
Que é, na verdade, o Natal sem a crença sincera no Menino Jesus e no Pai Natal? Que experiência de laços afetivos, que sabor é que o Natal do 25 de Dezembro tem, na nossa cultura de origem, se pusermos o Menino Jesus e o Pai Natal fora das nossas casas, dos nossos lares, do borralho que sempre fez parte das nossas tradições familiares?
Pensando bem, depois disto tudo, interrogo-me se devo mesmo continuara a tentar o dois em um, quer dizer, juntar o Pai Natal e o Menino Jesus, ou se será melhor que a gente continue a tê-los separados. Às tantas…
Muito bem, enquanto o pau vai e vem folgam as costas, não é verdade? É sim senhor. Se as coisas correrem bem, vai acontecer-me o mesmo que aos alquimistas do ouro. A crença que atingirei, mesmo que apenas no fim dos tempos, o meu desiderato (juntar, num só, o Pai Natal e o Menino Jesus), alimenta em mim, tal como em todos os alquimistas, a experiência afetiva do entusiasmo e o sabor gostoso que essa experiência nos deixa e que, depois, espalhamos na nossa relação com os outros. E, mesmo que a alquimia me traga só isso, sem nunca vir a trazer o tal “dois em um”, vale bem a pena!
Vá, não posso deixar os reagentes ali entregues, inertes, a eles próprios. Perderiam a competência para reagir. Deixem-me voltar para o laboratório secreto da minha alquimia. Um dia vou conseguir! Tenho a certeza! Se alguém quiser ajudar, força! Apareça!
Se acreditarem, como eu acredito, que pode haver algures, no mundo, um homem muito bondoso (ele às vezes disfarça as barbas brancas, ou a roupa vermelha), que deseja convictamente levar à satisfação dos sonhos de criança; se acreditarem, como eu acredito, que há um menino de família humilde (fale ou não a nossa língua) que quer ver todas as famílias aconchegadas na alegria de partilharem a carinhosa mesa da Consoada…
pois então, apareçam, que eu vou mostrar-vos todas as fórmulas que já tentei; talvez assim juntos consigamos chegar à fórmula definitivamente boa.
Votos de um Santo Natal, cheio de Sonhos que renovem em todos nós o prazer de estarmos juntos e caminharmos confiantes e entusiasmados ao encontro do Futuro!
este ano conheci o Pai Natal em pessoa, graças as suas informações. Agradeço-lhe. Feliz Natal perto da sua familia. Um grande abraço
ResponderEliminarHá que anos que os amigos me dizem 'isso achas tu, que acreditas no Pai Natal'. Que bom saber que estou em boa companhia! Votos de um Feliz Natal!
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