Oficialmente, deliberadamente, por imperativos políticos, económicos e financeiros, a condição do professor apouca-se, degrada-se; em proporcionalidade inversa às exigências que o Ministério da tutela impõe e que largos grupos da Sociedade, carentes cada vez mais de cada vez mais coisas, aceitam - umas vezes passivamente, mas acomodadamente; e outras vezes, mesmo agressivamente.
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Nova Iorque é a cidade que não dorme, acaba de mo confirmar, por testemunho pessoal, o meu amigo Luís Moniz. O Mundo transformou-se, ele, também, numa gigantesca Nova Iorque, e hoje em dia podemos estar em nossas casas a assistir o que acontece, seja onde seja, seja a que horas seja. O Mundo é uma Nova Iorque também cheio de bairro periféricos, pobres, degradados, anónimos, impessoais; o Mundo é a cidade de Nova Iorque que tanto desconforto deu a Eça de Queiroz, e que, provavelmente, ele nunca compreendeu, nem assimilou totalmente, fosse nas marcas da Civilização que lá encontrou, fosse nas marcas da negação da Civilização que também lá encontrou abundantemente, e que tão longe estava da Civilização que ele tinha como ideal; muito lucidamente, Eça percebeu que Nova Iorque não era modelo para ninguém, que o Progresso e o Bem-Estar teriam - se algum modelo de Progresso e Bem-Estar fosse desejável - de ser procurados noutro lado.
Num interessante e curto artigo publicado hoje no jornal Público, Francisco Louça fala de "este progresso são drones a bombardear aldeias, são consolas a comandar guerras, são algoritmos financeiros a arrasar o mundo."
Precisamente, é Nova Iorque uma das grandes capitais mundiais destes drones, destas consolas e destes algoritmos financeiros. Nunca fui a Nova Iorque, nem tenho vontade de lá ir. De Nova Iorque, a única coisa que verdadeiramente gosto é a interpretação deste miúdo, que nem o próprio autor da canção conseguiu alguma vez interpretar com tanta alma, com tanto dar de si mesmo, simbolicamente visível nas traições que a mudança de voz exibe em desafinações aqui e ali, e, sobretudo, naquele vaso sanguíneo do pescoço que a todo o instante parece que vai rebentar; e que no final, perante os aplausos, diz "Obrigada!"
A generalidade das crianças e dos jovens que os professores apanham nas escolas são assim, ou estão dispostos a sê-lo: entusiastas, ávidos por desenvolverem as capacidades pessoais; prontos para nisso serem ajudados por quem tem competência para os educar e confiando, de boa fé; e nenhum professor se pode negar a corresponder a estas expectativas! Sejam quais sejam os obstáculos e as dificuldades que governantes, inspecções, encarregados de educação e outros lhes plantem no caminho.
Na nossa sociedade, não é mais possível viver sem drones, consolas e algoritmos financeiros. Quem sabe falar deles?... Quem os entende?... Quem os domina?... Quem não se sente incomodado por eles?... Quem não foi já, de alguma forma, atingido e prejudicado por estas coisas que os poderosos políticos e financeiros do Mundo, da capital Nova Iorque, a verdadeira e as simbólicas, sem dormirem, criam e infiltram perversamente nas nossas vidas?...
Mas é aos professores que cabe sempre a tarefa de enfrentar, com lucidez, e mesmo que com medo, estas interrogações, estas realidades, ao pé dos seus alunos. Se ninguém entende, a nós, professores, cabe o desafio de ir um pouco mais além; além do que os pais também, cheios de angústia, não sabem explicar aos filhos. Não recusemos nunca este combate!
Os professores é que estão sempre na linha da frente, num frente a frente institucional e formal, que parece cada vez mais uma trincheira de guerra. Aos professores cabe a desafiante e irrecusável tarefa de fazer da trincheira, em que a sala de aula e a escola quase se tornaram, o espaço de encontro que notavelmente, há 100 anos, os soldados alemães e russos tomaram a iniciativa de fazer no Natal de 1914, aproximando-os dos franceses e seus aliados, num exemplo real, vivo, que deve ser para nós, em todos os encontros das nossas vidas , modelo de diálogo, tolerância e convívio humano; sobretudo por nos terem mostrado, em bem concreto risco de vida ou morte, a profunda humanidade que está antes e depois dos mais vis absurdos da guerra dos poderosos do Mundo.