O meu conselho é aprenderes todos os truques que conseguires quanto mais cedo melhor. |
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Não, nem todos te seguem no Twitter, Kayla. Por isso, se não te importas, limita-te a dizeres à turma o que fizeste durante o Verão. |
De vez em quando, há coisas que parecem ter-se tornado muito claras para nós na nossa cabeça. E parece-nos também que terão algum interesse para as outras pessoas.
OPINIÃO
“É proibido… mas pode-se fazer”
CARLOS FIOLHAIS 13/04/2016 - 00:05
O "eduquês", que sempre foi inimigo da avaliação, está de volta, mais forte do que antes
O humorista brasileiro Millôr Fernandes respondeu assim à pergunta sobre se um químico pode tomar decisões "precipitadas”: pode, mas não é uma "boa solução". Começou mal o novo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, bioquímico de formação, ao tomar a decisão de acabar com os exames no ensino básico antes do 9.º ano, introduzindo “provas de aferição” a meio dos ciclos desse nível de escolaridade. A sua mudança foi apressada. Não houve nenhum estudo fundamentado nem nenhum debate público. Foi uma medida tomada apenas com base em preconceitos, de natureza ideológica, que vingam em certos sectores do PS e dos seus parceiros. Confrontado com opiniões contrárias, o ministro ainda se desdobrou em reuniões com directores de escola, mas não escapou à censura presidencial: a sua tão urgente e radical reforma acabou por ser matizada pelo Presidente da República. As escolas, querendo, podem afinal realizar exames. Com Marcelo Rebelo de Sousa ficou uma coisa do tipo “é proibido, mas pode-se fazer”.
Critico o ministro a contragosto. Quando tomou posse, escrevi, com não disfarçada alegria, que “o novo ministro da Educação é novo”. Era alguém que vinha de fora, de uma geração que não tinha encontrado futuro no país mas que queria contribuir para o futuro do país. Os professores tinham sofrido desilusões com os ministros anteriores: Maria de Lurdes Rodrigues originou uma impressionante manifestação de professores e Nuno Crato, que tinha ido a ministro nos braços dos professores, acabou no chão sem um braço que lhe acudisse. Acreditei que o novo titular da pasta ia procurar redignificar os professores, uma profissão que conheceu nas últimas décadas um processo de proletarização. Teria feito bem se tivesse mobilizado os professores, que são o esteio da escola, pedindo-lhes ajuda no caminho a tomar. Em vez disso, seguiu as vozes mais extremistas dos partidos no poder, que reclamavam, com justificações delirantes, o fim imediato dos exames, vistos como um mal absoluto. Uma das razões era que os exames prejudicavam os infantes que, coitadinhos, não podiam ser expostos a esforços intelectuais mais intensos (como se a escola não fosse o meio que a sociedade criou para preparar para a vida e como se a vida fosse fácil). Outra era que tinha voltado a quarta classe de antigamente, existindo uma malvada intenção governamental de exclusão precoce (nada mais errado já que os exames só contavam com 30 por cento para a nota do aluno). Outra ainda dizia que os exames eram antipedagógicos, pois a boa pedagogia dispensaria a avaliação (os emissores dessa opinião são, como é óbvio, contra qualquer forma de avaliação).
O timing escolhido para a alteração não podia ser pior. Não faz qualquer sentido mudar as regras a meio do jogo, isto é, do ano lectivo. O ministro prosseguiu a nossa má tradição, que consiste em cada novo governante querer recomeçar tudo. Além disso, não explicou suficientemente: Por que razão não deu uma entrevista em que explanasse a sua visão em vez de se refugiar atrás de um comunicado? E por que não nomeou um grupo de trabalho que apurasse as vantagens de substituir umas provas nuns anos por outras noutros anos? As “provas de aferição” vão ser inúteis, pois as crianças não se vão preocupar com provas que não contam para nada (não havendo provas, ninguém estuda!) e também porque não existe qualquer registo histórico para comparar os resultados. De resto, a prova no 2.º ano parece-me particularmente absurda, pois as crianças nessa fase ainda não lêem nem escrevem com fluência. Já uma prova no 4.º ano, ainda que não contasse para os alunos, poderia indicar sobre se as escolas estavam a cumprir a sua missão, designadamente formando leitores capazes.
O nosso sistema educativo precisa de estabilidade. Os professores e os alunos precisam de fazer o seu trabalho em paz, sabendo atempadamente o que os espera. Agora, com a legislação promulgada, está instalada a entropia nas escolas. Umas vão fazer o que já faziam, outras vão fazer outra coisa, adoptando novas provas preparadas à pressa. O argumento de que a escolha do modelo de avaliação, o antigo ou o novo, assenta na autonomia das escolas não passa de uma desculpa esfarrapada. Em primeiro lugar, porque essa autonomia tem sido uma palavra vã e, em segundo, porque fivou um regime transitório de provas e, para o ano, a proclamada autonomia já não vai existir. Receio que as escolas vão, moldadas como estão ao centralismo, alinhar com o Ministério.
“Provas de aferição” é um termo de eduquês. O "eduquês", que sempre foi inimigo da avaliação, está de volta, mais forte do que antes. Nuno Crato, revelando inabilidade política, tornou os exames no ícone da sua política, esquecendo que eles são um meio e não um fim. Agora não me admira nada – nem deve admirar a ele – que seja a vez dos iconoclastas.
Professor universitário (tcarlos@uc.pt)
O problema dos trabalhos de casa é um beco sem saída; e será sempre enquanto o paradigma (Ui! Já estou a ver o "notável" Nuno Crato a dizer que lá vem este gajo com o eduquês das Ciências da Educação - e já digo por que chamo "notável" a Nuno Crato), dizia eu, enquanto o paradigma do modelo de Educação-Escolarização dos ministérios das Educações estiver dominado pela ditadura do chamado Conhecimento Declarativo(2). Já não se decoram os rios e linhas férreas de Angola e Moçambique (e, ao retirar isso dos programas, deitou-se fora a água do banho e a criança ...)(1), mas o espaço que se dá aos outros tipos de conhecimento (procedimental, heurístico, estrutural, etc.) é de paupérrimos arremedos; ou estão transformados em verdadeiros conhecimentos declarativos! Foi isso, no fundo, o bem incompetente magistério dos nossos mais recentes ministros da Educação, que teve em Nuno Crato o seu expoente máximo! E é disto que professores, pais, políticos e especialistas têm de ter consciência, sob pena de a gente dar voltas e voltas, e continuar tudo na mesma! Criam-se, entretanto, exigências cada vez mais absurdas aos professores, quando, paradoxalmente, a sua formação inicial é descurada, bem assim como o acompanhamento pedagógico ao longo - pelo menos! - dos primeiros anos dos seus magistérios. As ofertas de formação aos professores, proporcionadas pelos oficiais centros de formação - e privados, também - são carradas e carradas de conhecimentos declarativos, inúteis e não assimilados - até quando se fala de 'bullying', gestão da sala de aula, hiperactividade, défice de atenção, etc.________________________
Os professores sabem que, no modelo de ensino vigente, e tendo em conta os objectivos e as exigências que os ministros, os inspectores escolares, os directores das escolas e dos agrupamentos, e os pais põem sobre eles, é difícil chegar onde se lhes exige sem que a consolidação das oficiais e hiper-normativas aprendizagens possa prescindir dos trabalhos de casa.
Enquanto o modelo for o que actualmente vigora, eu estarei do lado dos professores que passam trabalhos de casa aos seus alunos, mesmo em tempo de férias! Claro, recomendando que o façam com proverbial e sábio bom-senso.
"Não posso sair. Tenho de ajudar o meu pai a fazer os meus trabalhos de casa." |
Qual é o pai ou mãe que não gosta de ver o seu filho, a sua filha, em casa, dedicando-se autonomamente, voluntariosamente, gostosamente, concentradamente, a estudar? Estudar autonomanente não pode ser interpretado (perversamente, ou psicanaliticamente, ou sanchopançamente) como uma maneira de auto-imposição de trabalhos de casa? Sejam os pais professores ou não; psicólogos ou não; outras coisas ou não...Dito isto, parece-me que a discussão entre os adeptos dos trabalhos de casa e os adeptos dos não-trabalhos de casa é uma discussão ente adeptos da mesma visão dos assuntos da escola e da educação. Quer parecer-me que enformam os opostos adeptos da mesma visão do mundo, da escola e do lar.
- Isto é mesmo complicado! Posso fazer um intervalo e ver um bocadinho de televisão? - Vá lá, pai!... Ou queres ser o culpado das minhas más notas... como de costume... |
Em uma noite, um velho índio falava ao seu neto sobre a luta que acontece dentro das pessoas. Disse ele: – Há uma luta entre dois lobos que vivem dentro de todos nós - um deles é bom; o outro é bom. O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô: – Qual é o lobo que vence a luta, avô? O velho índio respondeu ao neto: – Vence o que lobo que tu alimentares...Curiosamente, no livro de Schnabel, acabei de ler o seguinte, que considero notável, e que nos chama a atenção para a universalidade de qualquer coisa muito profunda, muito humana, e que, na verdade, está no âmago das preocupações e da luta de Nanette Konig: a educação dos sentimentos bons que povoam a condição humana, e o domínio dos sentimentos maus que também são parte da nossa natureza mais genuína.
«E aqui começa uma outra história bem singular:
Kati contou-me, e Gertrud depois confirmou, que a família Frank não se compunha só de quatro pessoas. Havia ainda dois companheiros de casa, companheiros invisíveis, mas familiares a toda a gente. Ninguém já se lembra de quem os descobriu primeiro no quarto das crianças. O sr. Frank não está bem certo de não ter sido ele próprio. Mas seja como for, não há dúvida de que existiam e mesmo as avós e os amigos da casa eram capazes de o jurar.
Essas estranhas criaturas já lá estavam quando nasceu Anne, de modo que ela conheceu-as desde cedo e aprendeu a contar com a sua presença, aliás impossível de ignorar. Tratava-se de dois duendes femininos de idade variável, mas de qualidades invariáveis. Ambos se chamavam Paula. As pessoas da casa distinguiam as duas Paulas porque chamavam a uma Boa e a outra Má. que eram criaturas invisíveis, eu já disse, mas apesar disso criaram-se juntas com a Margot, e quando apareceu a Anne, recomeçaram e criaram-se com a Anne. A sua maneira de agir era inteiramente diferente. Paula, a Boa, nunca deixava ficar nada no prato, enquanto Paula, a Má, passava o tempo a brincar com a colher e a amuar se a comida não era aseu gosto. Só Paula, a Má, podia ter a ideia de arrancar as pernas às moscas. Era mesmo o que ela mais gostava. A Boa, em contrapartida, era meiga e bem comportada e nem sequer era capaz de puxar pelos cabelos da irmã, como por vezes, faziam as outras raparigas.
Em resumo: os Frank tinham o seu "Struwwelpeter" particular, e as duas Paulas eram companheiras úteis. Da relação que há entre a acção e a recompensa não se aprendia, no entanto, nada com elas. Eram como eram, a Boa boa, a Má má, e representavam o Bem e o Mal, tais como existem na vida. Não havia quem as louvasse ou repreendesse pelos seus feitos. Neste particular procedia-se de modo diferente do livro de Struwwelpeter. As duas Paulas não queriam ser exemplos, mas apenas possibilidades entre as quais se podia escolher.
Comiam à mesa com a família e eram aceites com serenidade. Margot sabia, desde sempre, qual das duas lhe convinha, mas a Anne custava-lhe escolher. Sentia a mesma simpatia pelas duas amigas singulares. Não que lhe fosse difícil decidir-se, mas o que lhe era difícil era manter a decisão e, assim, guardava durante muito tempo fidelidade às duas. Caminhava entre elas, por caminhos um tanto aos ziguezagues. Já se vê, por vezes agarrada a uma, por vezes a outra, e pouco a pouco, sem que ela o percebesse, as duas Paulas transformaram-se nas duas Annes, nesta Anne e naquela, e é "Kitty" quem, mais tarde, saberá, através das muitas cartas do diário, quanto custa mostrar um só coração quando se possuem dois.
Anne nunca se esqueceu inteiramente das duas companheiras. Nos papéis que se encontraram junto do diário, apontou em 22 de Dezembro de 1943:
"Antigamente, quando eu era ainda pequena, o Pim falava-me muitas vezes da Paula, a má. Contava-me várias histórias dela e nunca me cansei de as ouvir. Agora quando estou junto dele, de noite..."
... Tratava-se daquelas noites angustiosas do penúltimo Inverno da guerra, quando os aviões sobrevoavam Amsterdão e o velho anexo na Prinsengracht estremecia com o barulho das bombas...
"... agora ele tornara a falar-me, por vezes, da Paula e a última história que me contou, transcrevi-a..."
Segue-se uma história de várias páginas. Mas não se fala nela de uma Paula má, mas apenas de uma má rapariga da idade de Anne. O Bem e o Mal uniram-se numa pessoazinha muito viva e bem visível, agora.
Há guerra nesta história, uma outra guerra, já se vê, mas também Paula vive coisas difíceis e tem de fugir, pois caiu nas mãos dos Russos. Há passagens fantásticas nesta história que parece ser verdadeira, mas outras são, no entanto, tão simplórias que se adivinha a invenção. É uma história da guerra de 1914-18, e Otto Frank contou-a a Anne. Deve conter tanta verdade como qualquer outra história improvisada.
Tudo acaba em bem: Paula consegue fugir e regressar a casa dos pais, em Frankfort. Mas antes disso há um momento em que ela, abandonada na Rússia, suspira:
"Gente estranha, os Russos. Deixam-me entregue ao meu destino, numa terra estranha. Os Alemães, isso sei eu, agiriam de outra maneira, num caso destes..."
E Anne acrescentou, em 1943, entre parentesis, este suspiro:
"Ao ler isto deve considerar-se que Paula era uma rapariga alemã..."»(in No Rasto de Anne Frank, de Ernst Schnabel, Livros do Brasil, 2003, pp. 23-26)
«A todas as meninas que enfrentam injustiças e que foram silenciadas. Juntas seremos ouvidas.»,É assim, com esta dedicatória que Malala, e quem dela recolhe as memórias, abrem o livro.
"Quando nasci, os habitantes da nossa aldeia exprimiram o seu pesar à minha mãe e ninguém deu os parabéns ao meu pai." (p. 23)As meninas são acontecimentos natalícios não desejados na cultura de origem da Malala.
Os nossos antepassados chegaram ao Vale de Swat no século XVI, vindos de Cabul, onde tinham ajudado um imperador da dinastia timúrida a reconquistar o trono após a sua própria tribo o ter deposto. O imperador recompensou-os com posições imdo autor portantes na corte e no exército, mas os seus amigos e familiares avisaram‑no de que os Yousafzai estavam a tornar-se tão poderosos, que o iriam destronar. Por isso, certa noite, convidou todos os chefes para um banquete e lançou os seus homens sobre os Yousafzai, enquanto estes estavam a comer. Foram massacrados cerca de seiscentos chefes. Apenas dois escaparam e fugiram para Peshawar juntamente com os homens da sua tribo. Após algum tempo, foram visitar algumas tribos no Vale de Swat para granjear o seu apoio de modo a conseguirem regressar ao Afeganistão. Porém, ficaram tão cativados pela beleza de Swat, que decidiram, em vez disso, ficar aqui e forçaram as outras tribos a sair. Os Yousafzai dividiram toda a terra entre os membros masculinos da tribo. (p. 32)Em Lampedusa, em Lesbos, em Paris, em Atenas, que estado de consciência povoaria a mente do autor se (re)escrevesse o parágrafo agora, com tantas portas de medo que se têm fechado por tanta e oficial Europa (sim, oficial, que a Europa dos cidadãos não é exactamente a mesma)?
"Mestre-escola diga lá se for capaz / P'ra que lado é que me viro, p'ra que lado?"
WALES "once upon a time in the greenest lands" from Ricardo de Sousa on Vimeo.
ESCOLHER ENTRE DUAS ALTERNATIVAS: alternativa 1: viajar por Gales, à aventura, à descoberta, sem agência de viagens, como fez esta malta; alternativa 2: chamar o Ricardo de Sousa para fazer das nossas aventuras (sejam elas onde sejam) reportagem - extraordinária! - igual à que fez da sua.