#TOLERÂNCIA345 - GOVERNAR EM PAZ OU EM GUERRA
No livro "História do Mundo", que comprei recentemente a aproveitar mais alguma percentagem de desconto por ser Natal, leio assim na página 103:
«Heródoto [485 a.C. - 425 a.C.] diz também que Sólon, que elaborou o primeiro sistema jurídico unificado para a Atenas clássica, visitou Lidia e advertiu Creso [último rei da Lídia, da dinastia Mermnada, (560 a.C. - 546 a.C.)] de que não poderia considerar-se feliz antes de morrer, pois nunca se sabia o que poderia acontecer de seguida. Quando Creso aguardava para ser executado numa pira de madeira, contou ao rei persa as palavras de Sólon. Ciro [Ciro II, mais conhecido como Ciro, o Grande, foi rei e fundador do Império Aquemênida, que reinou entre 559 e 530 a.C.] ponderou a sua própria situação e compadeceu-se, conservando Creso como prisioneiro e conselheiro. Quando perguntou ao
lidio derrotado se desejara realmente a guerra, Creso respondeu com a frase que é talvez a mais famosa alguma vez escrita por Heródoto: «Ninguém é suficientemente louco para optar pela guerra em lugar da paz — na paz, os filhos sepultam os pais, mas na guerra são os pais que sepultam os filhos».»O interesse de Heródoto pela cultura persa, partilhado por outros escritores gregos, era prático e urgente. Teria Ciro, e os grandes reis que lhe sucederam, resolvido o problema de como governar bem? Tinham criado um império ligado por estradas rápidas e rectilíneas, e governado através de administradores locais, os sátrapas. A tolerância que cultivavam pelos costumes religiosos locais possibilitava-lhes governar sem uma força opressivamente desmedida e pareciam deveras abertos às ideias de outros povos. Os seus exércitos eram maciços e constituídos por muitos povos diferentes. As suas principais cidades eram admiráveis.
»Heródoto chama a atenção para o facto de as pessoas se beijarem quando se encontram na rua, ao invés de falarem, e admira o costume de até o rei se abster de matar alguém por uma simples transgressão. Abominam mentiras e dívidas. Nunca poluem os rios «com urina ou cuspo», nem sequer lavam as mãos na água que usam para beber. Têm uma maneira interessante de tomar decisões:
»Se é necessário tomar uma decisão importante, discutem a questão quando estão embriagados e, no dia seguinte, quando já estão sóbrios, o dono da casa […] propõe que reconsiderem a decisão tomada. Se continuam a aprová-la, é adoptada; caso contrário, abandonam-na. Inversamente, qualquer decisão que tomem em estado de sobriedade é reconsiderada quando estão embriagados.»
Mais uma vez, cauteloso com a tradução, fui procurar a forma original à Internet. Encontrei-a no 'site' do Internet Archive e é mesmo a palavra tolerância que aparece. O que acho curioso, e é essa a minha impressão, é que a tolerância não me parece estar apenas na atitude dos reis persas perante os costumes religiosos locais, onde aparece explicitada, mas parece-me estar também subjacente ao sentimento de compadecimento pessoal do primeiro parágrafo, e também no último, o das decisões dos embriagados.
Portanto, tolerância do rei vencedor ao rei vencido; tolerância dos governantes vencedores aos povos subjugados; tolerância à expressão pública de afectos; finalmente, tolerância entre pares, aos seus comportamentos desbragados. Será a tolerância enquanto forma de cultura, será?
Parece-me que temos aqui mais uma dinâmica histórica e cultural-gatilho muito interessante para o projecto de formação de longa duração à volta da Tolerância.
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