quarta-feira, julho 09, 2025

#TOLERÂNCIA192 - OS LÍDERES IDIOTAS. PORQUE OS TOLERAMOS?

#TOLERÂNCIA192 - OS LÍDERES IDIOTAS. PORQUE OS TOLERAMOS?

Encontrei este texto nas "Sciences Humaines". A data da publicação é de hoje mesmo. Uma entrevista ao a-modos-que-guru Steven Pinker. Trazer para aqui uma entrevista dele não quer dizer que subscreva as suas ideias e concepções, aliás como em relação a outros autores que tenho citado e transcrito. Mas vale a pena discutir com Steven Pinker.

A selecção natural dos idiotas. Entrevista com Steven Pinker

São prejudiciais para a sociedade, eficazes para si próprios. Os mecanismos evolucionistas explicam por que razão os piores entre nós, por vezes, se safam tão bem... mas nem sempre por muito tempo.

Do ponto de vista evolucionista, como explicar uma tal proliferação da estupidez ao longo da história da humanidade?

«Acredito, antes de mais, que o gosto desinteressado pela verdade nua e crua, independentemente das suas consequências para os outros ou para nós próprios, é provavelmente um presente do Iluminismo. Se defendemos a racionalidade, isso significa que aceitamos que outros possam usar a razão contra nós, e que aquilo que mais beneficia a comunidade possa prejudicar-nos pessoalmente.»

«Ora, a maioria das pessoas, num contexto de competição social, preocupa-se sobretudo com o seu estatuto, poder e reputação: se os factos põem em causa as suas pretensões ao conhecimento, à sabedoria, à competência ou à virtude, então mais vale negar os factos, negar a lógica que vai contra a sua pessoa ou o grupo a que pertencem. Além disso, o conhecimento é algo que se conquista com esforço. A ciência, o jornalismo, a universidade, as enciclopédias, os processos de verificação de factos são invenções muito recentes na história da evolução e até da cultura humana. A nossa intuição, o nosso senso comum, não nos leva naturalmente a verificar a veracidade dos factos com fontes fiáveis, simplesmente porque isso nunca foi um hábito ao longo da história da nossa espécie. Ainda hoje, ninguém detém o monopólio da verdade: sabemos que os cientistas se podem enganar, tal como os jornalistas e os especialistas de todo o tipo.»

«Com tudo isto, não é de admirar que nem sempre confiemos nas fontes que, racionalmente, temos todas as razões para considerar fiáveis. Não é intuitivo, nem natural, referirmo-nos a elas.»

Os idiotas são muitas vezes populares, arranjam parceiros sexuais com facilidade. Será que os idiotas representam uma vantagem evolutiva para um grupo social?

«A evolução não acontece em benefício de um grupo, mas sim em benefício dos genes. A verdadeira questão não é se isso é bom para o grupo, mas se é bom para o idiota ser idiota! E a resposta, claramente, é: "É bem possível…" Até certo ponto, pelo menos, pois há tantas vantagens como desvantagens em sê-lo. A vantagem é que se sentem confiantes, procuram o poder, reivindicam os recursos dos outros. Os idiotas são muitas vezes populares, arranjam parceiros sexuais com facilidade… A desvantagem é que magoam muitas pessoas que podem então unir esforços para os destituir ou descredibilizar. Não está provado, mas é possível que certos idiotas se propaguem

naturalmente… até certo ponto apenas.»

«Se começarem a alienar demasiadas pessoas, estas acabam por se revoltar. E se houver mesmo demasiados idiotas, acabam por prejudicar-se mutuamente e perder as vantagens que advêm da cooperação e das relações sociais harmoniosas. É uma dinâmica: a sociedade tolera um certo número deles, porque os próprios idiotas beneficiam disso, mas há limites!»

Como explicar que certas pessoas votem num idiota?

«Lembremo-nos da citação atribuída a Franklin Roosevelt sobre Anastasio Somoza Garcia, ditador da Nicarágua: “Pode ser um filho da mãe, mas é o nosso filho da mãe!” As pessoas que votam num idiota votam no seu idiota. Que pode ser perfeitamente carismático e transmitir uma imagem de segurança, de domínio. Se for teu aliado, pode combater os teus inimigos e defender os teus interesses.»

Então pode ser muito vantajoso ser governado por um idiota?

«Certamente. Pelo menos para o próprio idiota! E para os seus aliados. Mas não necessariamente para um país no seu todo. Na realidade, raramente...»

A estupidez é globalmente idêntica entre homens e mulheres?

«Existem diferenças. Não sou especialista, mas talvez os mesmos genes se expressem de forma diferente em homens e mulheres. Os homens tendem mais para a psicopatia e o narcisismo, enquanto as mulheres mostram mais traços de personalidade borderline ou histriónicos, como certas divas. Dito isto, a estupidez mais nociva existe nos dois sexos. Em inglês, é raro uma mulher ser chamada de 'asshole' (idiota, canalha), não sei porquê. Para elas, o termo mais próximo é provavelmente 'bitch' (vaca, cabra). Mas é um tema politicamente sensível, porque pode parecer misógino.»

Segundo as ideias que desenvolve nos seus livros mais recentes, nunca fomos tão educados, nem tão inteligentes. No entanto, os idiotas da pior espécie nunca foram tão visíveis, graças à Internet. Não será a nossa época, ainda assim, a mais propícia à expansão da estupidez?

«Sempre houve estupidez e idiotas, líderes fascistas, ditadores, reis incompetentes, mas é indiscutível que hoje os idiotas têm muito mais visibilidade. Porque, embora nunca tenhamos sido tão inteligentes, tão racionais, existem hoje muito mais oportunidades para os ignorantes se reunirem. Dois fenómenos entram em jogo: por um lado, a ascensão dos psicopatas narcisistas e, por outro, a desinformação e o 'bullshit'. Por vezes, estas duas tendências andam de mãos dadas!»

Será que a humanidade tem o monopólio da estupidez? Existem idiotas entre os animais?

«Oh sim, é provável que, segundo os nossos padrões, a maioria dos animais seja idiota! Não demonstram a mesma generosidade, o mesmo cuidado pelo bem comum que nós. Os machos competem entre si para seduzir as fêmeas, que por vezes chegam a matar as crias dos outros, como acontece com os chimpanzés, os nossos parentes mais próximos. Muitos especialistas são sensíveis a este tema porque querem melhorar a nossa perceção dos animais, especialmente os explorados ou em vias de extinção. Por isso é difícil obter uma resposta categórica, mas, segundo os nossos padrões, sim, mais uma vez, muitos animais seriam grandes idiotas!»

Steven Pinker
Linguista e professor de Psicologia na Universidade de Harvard.(1)

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(1) https://www.scienceshumaines.com/la-selection-naturelle-des-connards-rencontre-avec-steven-pinker

terça-feira, julho 08, 2025

#TOLERÂNCIA191 - A QUESTÃO DA TOLERÂNCIA NO ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

#TOLERÂNCIA191 - A QUESTÃO DA TOLERÂNCIA NO ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Não, não me estou a preparar para a celebração dos 100 anos do "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, que foi publicado em 1932. Bem, não estou... ainda! Já não é a primeira vez que o procuro nesta viagem. Com uma pitadinha de bom-humor, direi que é um "regresso ao Admirável Mundo Novo".

Procurei aqui, procurei ali, tardei-me... Fiquei apertado de tempo.

Por isso, agora, à pressa, guardo apenas umas notas do que encontrei, ficam numa espécie de ficha de leitura, a marca de um lugar onde lá para a frente vou voltar.

"É uma obra distópica seminal que continua a intrigar e a provocar reflexões profundas sobre a sociedade, a liberdade individual, a tecnologia e o futuro da humanidade. Situada num mundo futurista, a narrativa apresenta uma sociedade onde o controlo totalitário, a manipulação genética e a busca pela felicidade superficial moldam a vida dos personagens." [no bloco-notas escrevo felicidade superficial

em maiúsculas]

"A tese central desta análise é que a sociedade do "Admirável Mundo Novo" não apenas carece de tolerância, mas é fundamentalmente construída sobre a sua eliminação sistemática. Erigem-se os valores da estabilidade e da ordem à mais alta importância, enquanto a liberdade individual é suprimida em nome do bem-estar coletivo."

"O sistema distópico de Huxley atinge a sua "perfeição" ao erradicar a diversidade e a individualidade, tornando a tolerância um conceito obsoleto e, de facto, perigoso para a manutenção da ordem estabelecida. A ausência de tolerância em "Admirável Mundo Novo" não é um defeito acidental do sistema, mas sim uma característica intrínseca e desejada. Se a sociedade é "altamente controlada" e a "liberdade individual é suprimida em nome do bem-estar colectivo", e se o controlo totalitário e a manipulação genética visam uma "felicidade superficial", então a diversidade de pensamento, emoções e experiências é activamente erradicada através do condicionamento e do 'Soma'. O 'Soma', que droga!"

"A tolerância, pela sua própria natureza, pressupõe a existência de algo "diferente" ou "desagradável" que precisa ser suportado. Ao eliminar a fonte de discórdia e diferença, a sociedade de Huxley remove a própria necessidade de tolerância, transformando-a numa virtude inútil, ou mesmo num vício, que poderia desestabilizar a "perfeição" artificialmente construída. O sistema é, portanto, uma manifestação extrema de intolerância à complexidade e à variação humanas."

No bloco-notas sublinho: "O sistema é, portanto, uma manifestação extrema de intolerância à complexidade e à variação humanas."

"Há uma aparente tolerância para com as "liberdades", mas estas são, na verdade, ferramentas de controlo. [sublinho 'liberdades' e 'ferramentas de controlo'] Permite-se que as pessoas se entreguem a prazeres superficiais precisamente para que não questionem a estrutura social ou busquem a liberdade individual.

Tenho mesmo de aqui voltar! Deixa-me tomar bem nota das coordenadas deste lugar.

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segunda-feira, julho 07, 2025

#TOLERÂNCIA190 - PALESTINIANOS E JUDEUS

#TOLERÂNCIA190 - PALESTINIANOS E JUDEUS

Por vezes, quando caminhamos por lugares desconhecidos e inóspitos, e não planeados, corremos riscos como o jovem Christopher McCandless, que se aventurou pela Natureza Selvagem e nela morreu. Ele deparou-se com uma travessia turbulenta, difícil, tentou evitá-la ou contorná-la, mas sempre sem sucesso. Parou, bloqueou, morreu. Tratou-se duma vivência verdadeira, trágica, que foi ficcionada no belíssimo filme "Into the Wild".

É, há coisas, há lugares, que são especialmente difíceis, traiçoeiros, podemos tentar evitá-los ou contorná-los, mas não podemos bloquear, não podemos parar, um dia temos de os enfrentar.

Aqui e ali, nas redes sociais (essencialmente o Facebook), tenho visto que pessoas por quem tenho consideração positiva (e que, de maneira nenhuma, podem ser qualificadas de pouco cultas e sem acesso

a boa informação) a aproveitarem as mais pequeninas oportunidades para justificarem os ataques ordenados por Netanyahu à Faixa de Gaza e ao Povo Palestiniano, ataques que prolongam o que a Comunidade Internacional (incluindo as maiores instituições internacionais formais, tanto na Política - as Nações Unidas, como no Direito - o Tribunal Penal Internacional, que emitiu, em Novembro de 2024, mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Bejamin Netanyahu, e o ex-ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, além do comandante militar do Hamas, Mohammed Deif) há muito vem condenando.

Chego a ver tais pessoas a espalharem desinformação, sim, espalharem "informação" que depois é verificada oficialmente como sendo falsa. Alguns, eventualmente, encontrarão saída airosa na bíblica afirmação de que "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra". Regozijar-me-ei se assim o fizerem.

Judeus, palestinianos, anti-semitismo, são lugares de entendimentos e diálogos especialmente difíceis. Sinto a pressão para voltar aos escritos de Hannah Arendt; e a percorrer outros autores para além dela.

Numa primeira pesquisa, exploratória, na Internet, procurei textos e fiz duas perguntas a 5 'chatbots' diferentes, as mesmas duas perguntas, a ver o que os modernos oráculos me diziam de igual e de diferente. As respostas foram todas muito parecidas, numa delas, o 'chatbot' (neste caso, o Gemini) escreveu: «Para Arendt, o problema não era a existência de uma identidade judaica forte, mas sim quando essa identidade se traduzia em uma forma de nacionalismo tribal ou exclusivista que impedia a coexistência e o reconhecimento de outros povos. Ela via com preocupação a ideia de um estado-nação puramente judaico em detrimento de uma solução binacional na Palestina, onde árabes e judeus pudessem coexistir em igualdade. Arendt temia que a busca por um Estado judeu "a qualquer custo" levasse à desconsideração dos direitos e da existência dos palestinianos.» Hannah Arendt morreu há 50 anos. Que estamos nós agora a ver acontecer?

Fui depois folhear "As Origens do Totalitarismo". No prefácio à primeira parte, com o título "O Anti-semitismo", Hannah Arendt escreve:

«Os historiadores judeus afirmavam ter sido o o judaísmo sempre superior às outras religiões pelo simples facto de crer na igualdade e tolerância humanas. Essa teoria perniciosa, aliada à convicção de que os judeus constituíram sempre objecto passivo e sofredor das perseguições cristãs, na verdade prolongava e modernizava o velho mito do povo eleito; assim, só podia levar a novas e frequentemente complicadas práticas de segregação destinadas a manter a antiga dicotomia — numa daquelas ironias que parecem reservadas aos que, por quaisquer motivos, buscam enfeitar e manipular os factos políticos e os anais históricos.»

Enumerando uma série de eventos históricos, em que, «as catástrofes eram entendidas, dentro da tradição judaica, em termos de martirologia», a filósofa vem concluir que «Esta sequência de eventos conduzir à ilusão que desde então afecta tanto os historiadores judeus como os não judeus, já que ambas as partes dão mais ênfase ao facto de "os cristãos se dissociarem dos judeus do que do inverso"(1) [...] a própria sobrevivência do povo judeu como entidade identificável dependia dessa separação que era voluntária, e não, como se costumava supor, resultante da hostilidade dos cristãos e não judeus em geral.»

Se estivéssemos a falar de tricas entre vizinhas, coisas de lana-caprina, diríamos, a propósito do sentimento de superioridade do judaísmo que presunção e água benta cada um toma a que quer, mas, infelizmente, o que está em causa são questões comprovadamente de muitas vidas perdidas, que, historicamente, por duas vezes se associou ao genocídio: durante a 2.ª Guerra Mundial, na Europa (essencialmente na Alemanha); e agora, na Faixa de Gaza. Na 2.º Grande Guerra, as vítimas foram os judeus; agora as vítimas são os palestinianos.

Que pode a Pedagogia da Tolerância neste caso, em que históricos vieses, mal-entendidos, estereótipos e preconceitos, e muita distorção da informação minam a compreensão clara e lúcida dos acontecimentos e das relações entre as pessoas e os grupos humanos?

Depende. Depende da idade. Sendo o grupo-alvo formado por crianças, basicamente actividades ligadas ao entretenimento e à cooperação, em que se solicite muita conversa, muito olhar directo, em que o único resultado possível é o sucesso na tarefa. Sendo jovens já a pensarem que são grandes ou sendo adultos, o método Jean Monnet tem grande potencial de sucesso.

Certo, um dia trarei para aqui uma ficha sobre o método Jean Monnet.

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(1) Aqui Hannah Arend cita Jacob Katz, a obra é "Exclusiveness and Tolerance, Jewish-Gentile Relations in Medieval and Modern Times", de 1962.

domingo, julho 06, 2025

#TOLERÂNCIA189 - TOLERÂNCIA E (NEO)LIBERALISMO

#TOLERÂNCIA189 - TOLERÂNCIA E (NEO)LIBERALISMO

Na edição do jornal Público (P2) de hoje, sopra o vento do Liberalismo.

No seu espaço, Graça Castanheira, protopítica, assina o texto "Cobras e Crocodilos" e escreve assim no primeiro parágrafo:

«Andamos desaguisados, sem paciência uns para os outros, intolerantes, competitivos, aborrecidos e hipercríticos ou é impressão minha? Será uma experiência partilhada por muitos, ou será um modo de ser que apenas se manifesta em meu redor? Ou será que o neoliberalismo é contaminador e epidémico e que nos tornámos pessoas intratáveis? Apesar de tudo, acredito que a larga maioria dos conflitos que vivo e observo precisavam apenas de tempo para serem evitados; quase se poderia dizer que "em casa onde não há tempo, todos ralham e ninguém tem razão". Tempo sonegado, precisamente, por uma
economia de alta intensidade produtiva e de tendência escravizante como é aquela em que hoje, a Ocidente, nos movimentamos. O resultado, ou um dos resultados, pode ser o de ficarmos sem espaço para nos entendermos, e isso, no fundo, só pode querer dizer que andamos sem jeito para viver. Há também a hipótese de andarmos mal-dispostos em geral, simplesmente porque sabemos que há cobras e crocodilos à espreita.»

Na entrevista que Teresa de Sousa faz a Alexandre Lefebvre ("filósofo político canadiano [que] escreveu um livro onde ensaia uma aproximação mais cultural do que política ao liberalismo, uma dimensão onde, na sua opinião, se pode encontrar uma "estrutura de personalidade", um quadro moral de valores para além da religião"), podemos ler assim, no que à Tolerância diz respeito:

«[Lefebvre:] Precisamos de algum tipo de enquadramento para que não só não nos possamos matar uns aos outros, mas também para que possamos todos comprometermo-nos com as mesmas ideias
morais. É disso que trata o liberalismo político. E isso é fantástico, um belo ideal a que se deve aspirar. É algo que traduz o pluralismo do nosso mundo moderno.

»Mas o que estou a tentar dizer no livro é que há muita gente que leva o seu liberalismo mais longe do que isso. Para algumas pessoas, o seu liberalismo vai até ao fundo de quem são. O seu sistema de crenças não se fundamenta no cristianismo ou noutra religião, mas sim nas ideias do liberalismo, ou seja, em valores como justiça, liberdade e tolerância, que formam a sua identidade a um nível mais profundo. É a isso que chamo "liberalismo abrangente", quando o liberalismo funciona como uma

estrutura de personalidade. E creio que isso se aplica a muitas pessoas actualmente. E para estas pessoas que estou a tentar falar, pessoas que não são religiosas, mas que ainda assim têm um enquadramento moral. E o que proponho, como já disse, é que esse enquadramento é o liberalismo na sua concepção mais abrangente.»

Ora então, até ver, quanto à Tolerância temos: Neoliberalismo, 0 - Liberalismo, 1. Mas, com o que o sociólogo diz a seguir, parece que ainda há hipótese do golo a favor da Tolerância ser anulado... Veja-se:

«Os liberais são excelentes em coisas como a justiça, a tolerância, um certo tipo de humor e ironia. Mas também acho que o liberalismo é mau numa série de outros valores, que tende a colocar em segundo, terceiro ou quarto lugar, ou mesmo a ignorar, rindo-se das pessoas que acreditam neles. Estou a pensar
em coisas como o auto-sacrifício, confiança, a fé, a piedade, a harmonia. Estes valores não são muito bem trabalhados pelo liberalismo.»

Pergunta Teresa de Sousa: É essa a razão do retrocesso democrático?

«Voltando à questão do retrocesso, o que quero dizer é que o ressurgimento do conservadorismo e do populismo se deve a uma reacção contra o voto liberal. E isso é óptimo. Porque o liberalismo nega algumas qualidades importantes do que significa ser humano, que essas outras ideologias e movimentos estão a tentar recuperar.

»Talvez de formas que deixam os liberais nervosos. Mas, apesar disso, penso que não têm apenas uma visão negativa. Para que os liberais percebam porque estão a perder tanto apoio e porque é que alguém como Trump pode ser tão popular, creio que é preciso perceber que as pessoas são movidas não só pelo medo e pelo ressentimento, mas também por ideais positivos que o liberalismo não tem.»

Conclusão: não podemos ficar à espera de que a Tolerância caia do céu ou irrompa da terra. Quanto à Pedagogia da Tolerância, tem de ser, isso mesmo, abrangente; e educada no contexto de outros valores, de valores e ideais. Se não for assim, a voragem predadora do Neoliberalismo ficará sem controlo, em rédea solta para se alimentar... de todos nós.

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sábado, julho 05, 2025

#TOLERÂNCIA188 - A INVULGAR DENSIDADE DA MORTE DE FIGURAS PÚBLICAS

 #TOLERÂNCIA188 - A INVULGAR DENSIDADE DA MORTE DE FIGURAS PÚBLICAS

Morreu o Diogo Jota e o seu irmão (que, em rigor, não era figura pública). O muito respeitado pela generalidade dos portugueses Júlio Isidro, há menos de 24 horas, lamenta também a morte (para além da dos irmãos jogadores de futebol), a da fadista Maria da Nazaré e do músico Luís Jardim. Morreu também ontem o general Garcia dos Santos. Para cerca de 48 horas seguidas, é uma densidade inusitada, elevada.

As redes sociais, que vieram para ficar e são, para o bem e para o mal, espaços de publicação livre (não obstante os critérios editoriais e de ética — muitas vezes discutível e parcial — dos seus proprietários), em que cada um escreve o que quer, tantas vezes, eu direi mesmo, cada vez mais vezes, por impulso, logo a seguir à irrupção interior, pessoal, de emoções e sentimentos.

Cada um, no meu entender, é livre de lamentar a morte de quem quiser, como é livre de saudar o nascimento de quem também bem se quiser. Ninguém terá o direito de dizer, mesmo que legitimamente o possa pensar, «Se lamentas a morte deste, por que razão não lamentas a morte daquele, que até era mais importante do que o que lamentaste?» Bem, o critério de importância e e de eco emocional é pessoal e de absoluta legitimidade individual, não é? Sim, podemos evocar os valores, é verdade, mas... mas quais valores? E na resposta a esta pergunta, as coisas complicam-se.

Pessoalmente, desaconselho que, para homenagear quem se quer, se desqualifique as homenagens que outros fizeram. Se se pretende agregar outros à volta da sentida homenagem, corre-se o risco de, ao contrário, criar repulsa.

Homenageamos por aproximação afectiva ou por respeito (pessoal ou institucional). Se me sinto criticado porque evoquei este, mas (ainda?) não aquele; e se a pessoa que eu sinto que me critica por eu não mostrar pesar pela morte que essa pessoa homenageia, não serei tentado a dizer-lhe, em espelho, «E por que razão não mostraste tu pesar por quem a mim tanto pesar me causou?»

Portanto, na minha opinião, não é boa estratégia comunicacional começar a expressão de homenagem a alguém lançando farpas a outros que mostraram pesar por outros. Como mostrou Júlio Isidro, são todos figuras públicas (e ele não falou de todas elas!), cada uma merece por si pesar, seja por afecto, seja por respeito.

Penso que muito mais facilmente do que julgamos, somos intolerantes sem o querer ser. Mas acabamos por sê-lo. Devemos a nós próprios a humildade de reconhecer que somos fracos, de que erramos. Erramos porque somos humanos. E somos de gerações diferentes, cada vez mais diferentes umas das outras; e com diferentes mundividências.

Não devemos deixar que marcas de insídia e de intolerância motivem e determinem os nossos comportamentos. Todos devemos fazer o esforço de, repito, evitar a insídia, o ressabiamento, a intolerância. É que quando dizemos que o sujeito do meu pesar tem mais valor que o sujeito do teu pesar estamos a ser sobranceiros e a pôr-nos a jeito de nos acusarem da tal tolerância negativa: é a que acontece por nos sentirmos superiores, em que os nossos critérios de valor são de nível mais valioso que os dos outros. Cultivemos mais humildade. Cultivemos ainda mais humildade. Cultivemos ainda mais e mais humildade. Três vezes.

Sim, sintamos o que nos motiva, com toda a legitimidade, mas não nos comportemos por impulso. Entre a motivação e o comportamento (neste caso, o que escrevemos nas redes sociais), façamos como há muito os psicólogos passaram a aconselhar: contemos lentamente até 10.

Já agora: será que a pessoa por quem expressamos pesar se sentiria respeitada se as palavras de homenagem que lhe dedicamos vêm antecipadas dum veneno, duma censura intolerante, não agregadora? A "nossa" pessoa merece isso, esse desconforto?

André Silva, Diogo Jota, Garcia dos Santos, Luís Jardim, Maria da Nazaré (escrevi por ordem alfabética do primeiro nome — nome de figura pública, entenda-se, o Diogo Jota, por exemplo, não se chamava "Jota", mas sim Silva), todos eles, têm, nas redes sociais, quem os acarinhava, quem lhes era indiferente, quem os desconhecia, quem por eles sentiria alguma repulsa. É o mundo das redes sociais. O que talvez deva ser objecto de reflexão é se as redes sociais valem tanto, em certos assuntos, quanto a importância que, afinal, impulsivamente lhes damos porque, sem termos consciência disso, nos deixamos ir na onda e acabamos por medir o mundo à medida dos Facebook's, os Instagram's, os Tiktok's, os X's, sei lá que mais...

Júlio Isidro termina o seu escrito assim: «Onde é que está o destino para eu me zangar com ele?
"A finitude é o destino de tudo" escreveu um dia José Saramago.»

Tão bonito!... Embora na aparência ele fale de zanga, é de resignação, conforto e apaziguamento de que ele fala. Com Tolerância. Com muito Tolerância. Com muuuuuiiiiiiittaa Tolerância.

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sexta-feira, julho 04, 2025

#TOLERÂNCIA187 - A TOLERÂNCIA E O SONO

 #TOLERÂNCIA187 - A TOLERÂNCIA E O SONO

Este escrito devia fazer parte dum conjunto de escritos acerca da Tolerância da pessoa consigo própria, com as suas características, as suas idiossincrasias, as suas fraquezas, forças, defeitos e virtudes.

Continuo a ler o muito interessante e animado livro "Dormir Bem, para viver melhor - tudo o que precisa de saber para ter noites tranquilas e dias felizes", de W. Chris Winter (que é apresentado na capa como neurologista e especialista mundial do sono).

Um dos capítulos onde se joga provavelmente um dos maiores desafios à tolerância duma pessoa

consigo própria é o sono, os seus problemas, as suas perturbações. A principal perturbação é a insónia, e é cada vez maior o número de pessoas que diz que sofre de insónias, tem dificuldade em dormir ou em adormecer, dizem mesmo que não dormem absolutamente nada.

Na primeira metade do livro, o autor esforça-se por mostrar que toda a gente dorme. Sim, compreende e aceita que muitos dos que se queixam não dormem como gostariam, que dormem pouco, ou que o sono não é retemperador. Mas toda a gente dorme!

Se quase podemos dizer "A cada um a sua insónia", o que ressalta da leitura da primeira metade do livro é a ideia de que cada pessoa deve fazer um esforço activo para se conhecer melhor nas suas características pessoais e não procurar visar modelos ideais disto ou daquilo (um corpo esbelto ou forte; alegrias e prazeres constantes; saúde e harmonia interior sem abalos; etc.).

Diz o autor, definindo limites muito amplos (que podem ser, por exemplo, a pessoa sentir-se insatisfeita com a qualidade do seu sono duas ou três vezes por semana durante um período superior a três meses; ou dificuldades a dormir uma vez por mês) que a insatisfação ou a dificuldade acontecerem mais do que aquilo que gostamos ou conseguimos tolerar, estamos, nesse caso, a meio caminho de ter insónias. Daí que, precisamente, o melhor conhecimento das características pessoais de cada um e a capacidade para aceitar as perturbações do sono e para tolerar que elas aconteçam podem ser o primeiro passo para a solução da insónia. A tolerância reduz a ansiedade, que, com o tempo, aumenta porque se começa a sofrer por antecipação. E maior ansiedade, maior risco de insónia, é o círculo vicioso.

Não ter informação adequada — São muitas, mesmo muitas, as percepções inadequadas, as ideias feitas e preconcebidas acerca do sono e das insónias! —, e marcadas pelo chamado viés da confirmação (a gente procura, só dá atenção ao que possa confirmar o que convictamente pensa, não interessa se bem ou mal informadamente) é meio caminho andado para sofrer de insónias... sem necessidade! Escreve o autor:

«Para alguns doentes que sofrem de insónia, é quase como se as boas noites de sono nunca acontecessem. Com pessoas que têm um sono saudável acontece o contrário. Prestam pouca ou nenhuma atenção às ocasionais noites mal dormidas.»

Escreve Chris Winter a seguir: «Creio que algumas pessoas podem sofrer desta percepção inadequada porque consideram intoleravelmente frustrante a dificuldade que sentem em adormecer.»

É, pois, o sono um campo do comportamento e da vivência individual de cada um aberto ao treino da Tolerância da pessoa consigo própria, em que se aprende, aos poucos, a olhar, enfrentar e aceitar as indesejadas imperfeições, as que se recusam ver ao espelho da casa-de-banho; e mais, ao espelho mental, interior e privado, da auto-imagem e da auto-estima que cada um cultiva de si para si próprio.

Não será que, aceitando-nos mais apaziguadamente no que somos na realidade, consequentemente toleraremos também mais os outros na realidade que eles são?

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quinta-feira, julho 03, 2025

#TOLERÂNCIA186 - A TOLERÂNCIA E A MORTE

#TOLERÂNCIA186 - A TOLERÂNCIA E A MORTE

Até que um dia a Ciência descubra o segredo da vida eterna, de nada valem os esforços para dela escaparmos. Sendo certa, se calhar a sabedoria estará em cada um viver o melhor possível antes que ela chegue, no incessante voto "Carpe diem!"

Aceitamos a morte dos mais velhos — o tempo a passar, devagarinho, vai-nos preparando para ela. Ficamos estupefactos, incrédulos, revoltados, destroçados com a morte dos mais novos — não era ainda o tempo, como foi tal possível?

Fará sentido falar em tolerar ou não tolerar a morte? Penso que não.

A tolerância tem a ver com as outras pessoas, os seus comportamentos, as suas acções — que agem contra nós ou são sentidas por nós como agindo contra nós, no mínimo, são sentidas como ameaças à nossa segurança e ao nosso bem-estar.

Duma forma rude direi que a morte é bastante democrática: mata toda a gente.

Em Gaza não é a morte que é intolerável, o que é intolerável é as acções deliberadamente praticadas por líderes políticos e militares que querem isso mesmo: matar. Intolerável é matar da maneira como está a acontecer em Gaza, desgraçado e infeliz Povo Palestiniano que tão inumanamente tem sido tratado. Se o Diogo Jota e o irmão, o André Silva, tivessem nascido na faixa de Gaza, se fossem palestinianos, correriam o risco elevado de não conseguirem morrer sequer aos 28 e aos 25 anos.

Como não nasceram na Palestina, foram "bafejados pela sorte" e conseguiram morrer "só", repito, aos 28 e aos 25 anos... Então, por que razão ficámos hoje, em Portugal e em muitos lugares do Mundo, tão consternados com a morte dos dois irmãos?

Essencialmente porque nesses lugares muitas pessoas gostavam muito deles, sobretudo o Diogo, o mais velho, mais conhecido e com sucesso de relevo nos clubes de futebol por onde passou e na selecção

portuguesa de futebol. E se gostavam deles foi porque eles souberam granjear o respeito e o carinho de quem gosta do futebol. Quando o Diogo Jota entrava em campo e suava a camisola da selecção nacional de futebol, e dava alegrias aos adeptos nacionais, cresciam os afectos positivos que os portugueses lhe dirigiam. E ele, com a sua maneira de ser, o seu jeito de levar a bola, ajudar a equipa e marcar golos, foi-se tornando cada vez mais merecedor de afecto e carinhos. Portanto, a morte do Diogo Jota foi a morte de alguém que muitos de nós conhecíamos e de quem gostávamos.

A morte dos dois irmãos foi brutal, aparatosa, as impressionantes chamas do carro a arder que já correram o mundo inteiro dizem que o sofrimento dos dois deve ter sido imenso.

As duas mortes foram fora de tempo, muito fora do tempo, quando ambos começavam a consolidar as suas vidas de adultos, e penso que instintivamente o ser humano tende a negar essas mortes fora do tempo, a não aceitá-las, a ser intolerante com elas: por isso o Cristiano Ronaldo disse que «não faziam sentido», que o treinador José Mourinho diz que é «uma injustiça imensa», e o treinador Jürgen Klopp diz «Revolto-me contra este momento. Deve haver um desígnio maior, mas eu não consigo ver qual seja.»

O Diogo Jota, precisamente nesta altura, personificava a fantasia da família feliz que deixava toda a gente contente. Contente e com esperança, a esperança de que pode mesmo haver famílias felizes. Ele estava casado com a a mulher com quem, pelos vistos, se manteve ligado desde pequenos; tinham-se tornado pais de 3 filhos pequenos; e tinham acabado de contrair matrimónio.

Os testemunhos de colegas, treinadores e dirigentes (mais recentes e mais antigos) são unânimes: o Diogo Jota personificava os valores do Desporto que todos nós gostamos de ver nos atletas: alegres, bem-dispostos, entusiasmados, leais, solidários, de forte espírito de equipa, disciplinados, cumpridores; e que suam bem a camisola.

Na vida pessoal, o Diogo Jota era também, vencendo a timidez, ser humano que personificava a amizade, a cordialidade social, a bonomia e a bondade no trato humano. Como muitos desabafam na tal ingenuidade mágica do ser humano, se havia quem não merecia morrer era ele.

Aconteceu. Uns dirão que há horas do diabo, outros dirão que era o destino; outros dirão que juntou-se tudo para ser a tempestade perfeita.

A tragédia que tirou a vida ao Diogo Jota (e ao irmão), no fundo dá-nos, cruelmente, uma lição: nada é mais precioso do que o tempo que partilhamos com os outros — mesmo que estejam do “lado de lá” (estou a pensar nas rivalidades clubísticas, que tantas vezes levam os adeptos a serem intolerantes uns com os outros). A tolerância não é apenas aceitar o outro; é valorizá-lo enquanto cá está. É perceber que, no fim, todos partilhamos o mesmo destino. Que as nossas diferenças são pequenas diante do que nos une: o afecto humano, a dor, a amizade, o prazer de viver, a finitude das nossas vidas.

Eu gostava do Diogo Jota, gostava de vê-lo a entrar no campo de sorriso discreto, de quem está danadinho para entrar e dar um bom contributo à equipa; e gostava dele como jogador de futebol. Sinto uma profunda pena por eles e pela família. Tenho a certeza de que no próximo jogo da selecção portuguesa de futebol vou ser tomado pelo desejo (como são os desejos mágicos das crianças) de o ver entrar em campo ou sentar-se no banco de suplentes... Não vou reprimir tal desejo, nem me vou censurar de o alimentar. Há sempre algum conforto que se ganha para si mesmo no pensamento de pessoas boas.

Uma última nota: a fotografia de homenagem — tantas que têm sido publicadas! — de que mais gostei foi a do Manchester City, em que vemos o Diogo Jota (Liverpool) e o Bernardo Silva (Manchester City) num momento de camaradagem no final ou durante uma pausa de um jogo. A imagem é tirada por trás, vêem-se os jogadores de costas, estão abraçados, um com o braço sobre os ombros do outro, e o outro rodando com o seu braço a cintura do outro, assim ambos demonstrando amizade, respeito, companheirismo, independentemente de estarem em equipas adversárias. Ambos são o n.º 20 das respectivas equipas. Tanto quanto sei das vidas de ambos, sim, são ambos pessoas de 20 valores.

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quarta-feira, julho 02, 2025

#TOLERÂNCIA185 - TOLERÂNCIA, MAIS NECESSÁRIA QUE NUNCA

 #TOLERÂNCIA185 - TOLERÂNCIA, MAIS NECESSÁRIA QUE NUNCA

Encontrei há pouco na Net um texto com o título "Why tolerance is needed today like never before." Antes de o ler, não fosse o texto ser uma espécie de expressão catártica dum estado de alma (para que não tenho, nesta altura da peregrinação, motivação nem pachorra), fui indagar acerca do autor, um tal Roger Selway, que não conheço de lado nenhum.

O espaço de publicação (https://medium.com/) parece ser um espaço de publicação aberto a quem nele queira escrever, como há vários em português (do tipo dos "A Estátua de Sal" e "Escrever é Triste). Rendi-me imediatamente à apresentação que o senhor faz dele mesmo: «Olá, recentemente reformado do ensino na área dos 16+ anos de idade. Ensinei uma vasta gama de disciplinas de ciências sociais. Agora quero aventurar-me em novas aventuras.» Diz que tem 69 anos. Eh, eh, eh, á ocupação profissional é a que tenho também; na idade e na reforma só está um bocadinho à minha frente.

Sim senhor!, fiquei convencido a ler o texto, vou traduzi-lo para aqui (como habitualmente, para ser mais rápido, com a ajuda do Deepl.com):

"Porque é que a tolerância é necessária hoje como nunca antes."

«Esta é a minha primeira tentativa de escrever um artigo para o Medium, por isso, por favor, sejam tolerantes comigo — pois é sobre este assunto que quero escrever. Cheguei à conclusão de que a resposta a muitos dos “desafios” da vida é que todos nós precisamos de praticar um pouco de tolerância: isto é, a: "vontade de aceitar sentimentos, hábitos e crenças que são diferentes dos nossos” (www.britannica.com). Diria também que isto precisa de ser feito desde o nível pessoal até ao nível de toda a sociedade.

»Nível individual.

»Então, porque é que nos é tão difícil aceitar que todos nós podemos agir de forma diferente? Será devido às pressões da vida quotidiana: no trabalho, em casa, questões pessoais, o que os meios de comunicação social nos dizem? Há muitas razões.

»Todos nós já vimos o vermelho e tivemos vontade de explodir de raiva. Normalmente, é por causa de algo muito mundano. Para mim, um exemplo típico é quando estou a conduzir e o meu lado da estrada está livre, mas os condutores que vêm na minha direcção estão bloqueados por causa de carros estacionados. Costumava ter o potencial de se transformar na minha própria versão do tiroteio do

lendário Curral O.K.; não tanto sobre quem ia sacar primeiro, mas sobre quem ia ceder primeiro; se fossem eles, então eu poderia reconhecê-lo com um aceno paternalista; se fosse eu, então eu ficaria a olhar para eles enquanto lançava suspeitas sobre a sua ascendência! Por isso, nos últimos tempos, tenho-me perguntado: "Valeu a pena ficar tão exasperado com isto?" Todos sabemos a resposta: “Não”. Basta praticar um pouco de tolerância, manter a calma, lidar com a situação e simplesmente seguir em frente, afinal de contas o sol não vai cair do céu!

»Posso sugerir que o primeiro passo no caminho para a tolerância é desenvolver um sentido de distanciamento de qualquer que seja o problema — permitindo assim a criação de uma imagem muito mais ampla, que, com um elevado grau de “sanidade”, possamos reflectir e lidar calmamente com ele. Se se trata de lidar com os outros, então que tal cultivar um certo grau de empatia? Podemos não gostar ou concordar com eles, mas se conseguirmos perceber de onde vêm, estaremos numa posição mais forte para compreender porque estão a agir assim. A partir deste sentido de compreensão, deveria ser possível iniciar o processo de evolução da capacidade de os tolerar e não querer rasgá-los emocionalmente, e muito menos fisicamente!

»Dito isto, penso que a tolerância é 100% necessária a nível nacional e internacional. Sei que isto pode soar um pouco a “tarte no céu” [em português, "uma ilusão"], mas vejam o estado actual das coisas a estes níveis macro! Veja-se o nosso sistema de governação, que, no seu cerne, assenta em bases adversárias — ou se é totalmente a meu favor ou contra mim -— e parece não haver meio-termo. Parece que estamos a ir além das tribos da política partidária e a caminhar para a anulação pura e simples de todas as formas de oposição! Isto numa altura em que, a todos os níveis da sociedade, temos de enfrentar questões de tal magnitude que ameaçam a nossa sobrevivência colectiva: o ambiente, o aquecimento global, o terrorismo internacional, e a lista continua! Não consigo pensar num conjunto de razões maior do que estas para reconhecer que a única forma de evitarmos estas catástrofes é desenvolvermos um sentido de tolerância uns com os outros a todos os níveis da sociedade e, assim, fomentarmos um clima de cooperação mútua.

»Escrevendo de um ponto de vista pessoal, gostaria de terminar com uma tentativa de sugestão. Como britânico que adora visitar os Estados Unidos, especialmente conhecer os seus habitantes, mas que vê que cada um deles tem profundas divisões entre si, um incentivo forte e muito parcimonioso para nos tornarmos mais tolerantes com os nossos compatriotas seria começarmos a pôr o “United” de novo no Reino Unido e nos Estados Unidos da América. Agradeço a vossa tolerância e a oportunidade que me dão de desabafar.»(1)

Sim, gostei de ler o texto: simples, despretensioso, claro, de tom bem-humorado; e em boa sintonia com o que tem sido a ambiência dominante desta viagem. Cá está a compreensão... a aceitação... a empatia... as diferenças... o reconhecimento do outro... os limites...

Por um bocadinho lembrei-me do padre Ray Kelly no Britain Got Talent, quando ele acabou de cantar a dizer em jeito de lema de acolhimento: «You're not alone...» [Tu não estás sozinho]

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(1) https://medium.com/@roger.selway/why-tolerance-is-needed-today-like-never-before-a641693cbe8e

terça-feira, julho 01, 2025

#TOLERÂNCIA184 - HUMOR E TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA184 - HUMOR E TOLERÂNCIA

Está, há muitos dias, nos jornais, nas televisões, nas redes sociais, em incontáveis debates, o julgamento em que os Anjos, cantores, acusam Joana Marques, humorista.

Uma paródia da série "Ruídos", da RTP1, da autoria de Bruno Nogueira e a sua equipa, a "Renovação

da Licença de Humoristas", do passado dia 25, está a ter um impacto muito interessante, não apenas entre os humoristas, mas no público, em geral.

Hoje, o noticiário da CNN Portugal mostra-nos que na Turquia mais 3 humoristas foram presos, por causa de desenhos aparentemente ofensivos para Moisés e Maomé.

O jornalista Frederico Duarte Carvalho, hoje também, falou no Facebook, a propósito precisamente do julgamento da humorista Joana Marques, da Tolerância. O texto é um pouco longo, a menção à Tolerância surge apenas numa pequena (mas muito significativa!) frase. Vale a pena trazer para aqui todo o texto.

«Não sou seguidor da música dos Anjos, mas reconheço o seu talento e direito a existirem e a terem um público.

»Não sou seguidor da Joana Marques, porque o seu humor é igual ao que se ouvia no recreio do liceu e tinha piada para adolescentes de 15 anos.

»Um estilo de humor que hoje, devido às necessidade dos vários meios de comunicação de fazer concorrência e ocupar espaço entre os intervalos de anúncios, se tornou público e dirigido a todos e não apenas aos miúdos de 15 anos.

»É um humor básico, não é o mais inteligente ou mais divertido para quem já avançou na vida. E é até insultuoso e contraproducente para a evolução da sociedade.

»Toleramos porque o ignoramos e assim até passamos por tolerantes.

»Saudades do George Carlin que gozava com tudo sem precisar de apontar nomes individuais - e bem mais perigoso para a sua reputação.

»Vi citações de Ricky Gervais a defender o direito a ofender quando não me lembro de, nas suas geniais performances, ele apontar o nome de uma pessoa em particular e fazer toda uma rábula insultuosa em torno dessa pessoa, mas sim em torno de um grupo de pessoas.

»(E Deus, pois Ricky acredita que é mesmo único e não uma instituição que se diz representada por ele)

»Gervais faz humor inteligente e difícil, não vai pelo mais vulgar e fácil, que passa por ofender uma pessoa em particular. E que até seria cobarde, pois essa pessoa não poderia defender-se da multidão que se estaria a rir de forma básica.

»Gervais vai à jugular de grupos particulares de pessoas, onde muitas vão sentir-se ofendidas, mas nenhuma o pode reclamar como particular.

»Vi que a defesa dos Anjos apresentou no julgamento um especialista em música, mas devia ter também apresentado um sociólogo a explicar os diferentes tipos de humor.

»A Joana esteve bem, pois trouxe o gangue todo dos miúdos do recreio para a defender dos Anjos.»

Não está em causa eu estar ou não de acordo com o Frederico. Independentemente disso, acho o texto muito bem escrito e que nos ajuda a todos a pensar melhor sobre este caso judicial, sobre o Humor, o Respeito, a Liberdade e a Tolerância. Obrigado, Frederico! Um abraço!

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segunda-feira, junho 30, 2025

#TOLERÂNCIA183 - A MEIO DA VIAGEM, É A VEZ DOS DITADOS POPULARES

 #TOLERÂNCIA183 - A MEIO DA VIAGEM, É A VEZ DOS DITADOS POPULARES

183 + 183 = 366. Estou precisamente a meio da viagem-peregrinação no país da Tolerância. Tenho visto muito, tenho conhecido mais do que alguma vez imaginaria; e estou contente por aquele primeiro passo, que dei de impulso.

A diferença entre a primeira parte, que hoje acaba, e a segunda, que amanhã começa, tenho a certeza de que está nos lugares a que chegarei: na segunda parte, serão bem menos os novos lugares e serão bem mais ou lugares a que voltarei. Fui tomando nota de alguns deles, há coisas que quero conhecer melhor, há outras que pedem que escreva coisas que na altura ficam por escrever. Aliás, aqui e ali, eu disse-o logo na altura.

No próximo dia 10 vou fazer a primeira conferência pública forjada nesta viagem. Tem o discreto nome "A Pedagogia da Tolerância".

A rota de hoje leva-nos a um lugar novo, o dos ditados populares.

O "Grande Dicionário dos Provérbios" do notável José Pedro Machado, encontrei nele, numa busca rápida, 2 ditados a falarem da tolerância: "Não tolerar o homem que prefere o prazer ao dever" e "Tolera-se sem contudo aprovar o que detestamos". Já não é mau! Estes dois já animam uns minutos

valentes de conversa e trabalho.

Procurei em "Homem que...", "Mulher que... (também nos plurais de ambos) e não encontrei nada. Também procurei em "Gente que..." e "Quem...", também nada.

Na Net, numa recolha brasileira de 1848, encontrei o segundo dos provérbios que encontrei no livro do Professor José Pedro Machado.

Que fiz então depois?... Isso mesmo, fui aos modernos oráculos da Inteligência Artificial, os 'chatbots', que me deram materiais muito interessantes. Gostei especialmente deste, do 'ChatGPT', que assim falou depois de humildemente assumir que não conseguia ajudar-me com provérbios portugueses em que aparecesse "tolerância", "tolerar", "tolera" e "tolerante". Fez-me a lista depois de me perguntar se eu aceitava que ele procurasse nas línguas e nas culturas de outros países.

Provérbios de outras culturas sobre tolerância (traduzidos e adaptados):

1) "Onde há paciência, há tolerância." (baseado num provérbio persa. Valoriza a paciência como base para aceitar as diferenças.)

2) "Antes tolerar um erro do que perder uma amizade." (inspirado num provérbio chinês. Enfatiza que a compreensão é mais importante do que estar certo.)

3) "A tolerância é a filha da sabedoria." (derivado de uma máxima budista. Expressa que só os sábios sabem ser verdadeiramente tolerantes.)

4) "Não se pode varrer o mundo com a vassoura da intolerância." (baseado numa expressão africana. Indica que tentar impor a própria visão do mundo não é o caminho.)

5) "Tolerar é permitir que o outro seja ponte e não muro." (inspirado em ditados andinos. Reflecte a ideia de aceitar o outro como forma de construir ligações.)

6) "A árvore tolera o vento porque se curva." (provérbio japonês adaptado. Sugere que a flexibilidade, e não a rigidez, é sinal de força.)

7) "Quem sabe tolerar, aprende a viver entre lobos sem se tornar um." (inspirado em provérbio russo. Mostra que a tolerância é uma forma de sobrevivência com dignidade.)

8) "A tolerância é o sal da liberdade." (inspirado na cultura francesa e no Iluminismo. Aponta que sem tolerância, a liberdade perde o seu sabor.)

9) "Tolerância não é fraqueza, é força que se cala." (baseado em ensinamentos sufis. Reforça a ideia de que suportar com serenidade exige coragem.)

10) "Quando a alma é grande, a tolerância é natural." (adaptado de sabedoria indiana. Indica que o espírito elevado não se incomoda com pequenas diferenças.)

Acho que o 'ChatGPT' não se saiu nada mal!

Uma pequena nota desafiante: há pouco surgiram, quase como cogumelos, 'sites' a darem notícia do conceito "dívida cognitiva", situação a que pode levar o uso prolongado da Inteligência Artificial. Talvez um dia a gente fale aqui deste novo e, repito, desafiante conceito.

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