#TOLERÂNCIA192 - OS LÍDERES IDIOTAS. PORQUE OS TOLERAMOS?
Encontrei este texto nas "Sciences Humaines". A data da publicação é de hoje mesmo. Uma entrevista ao a-modos-que-guru Steven Pinker. Trazer para aqui uma entrevista dele não quer dizer que subscreva as suas ideias e concepções, aliás como em relação a outros autores que tenho citado e transcrito. Mas vale a pena discutir com Steven Pinker.
A selecção natural dos idiotas. Entrevista com Steven Pinker
São prejudiciais para a sociedade, eficazes para si próprios. Os mecanismos evolucionistas explicam por que razão os piores entre nós, por vezes, se safam tão bem... mas nem sempre por muito tempo.
Do ponto de vista evolucionista, como explicar uma tal proliferação da estupidez ao longo da história da humanidade?
«Acredito, antes de mais, que o gosto desinteressado pela verdade nua e crua, independentemente das suas consequências para os outros ou para nós próprios, é provavelmente um presente do Iluminismo. Se defendemos a racionalidade, isso significa que aceitamos que outros possam usar a razão contra nós, e que aquilo que mais beneficia a comunidade possa prejudicar-nos pessoalmente.»
«Ora, a maioria das pessoas, num contexto de competição social, preocupa-se sobretudo com o seu estatuto, poder e reputação: se os factos põem em causa as suas pretensões ao conhecimento, à sabedoria, à competência ou à virtude, então mais vale negar os factos, negar a lógica que vai contra a sua pessoa ou o grupo a que pertencem. Além disso, o conhecimento é algo que se conquista com esforço. A ciência, o jornalismo, a universidade, as enciclopédias, os processos de verificação de factos são invenções muito recentes na história da evolução e até da cultura humana. A nossa intuição, o nosso senso comum, não nos leva naturalmente a verificar a veracidade dos factos com fontes fiáveis, simplesmente porque isso nunca foi um hábito ao longo da história da nossa espécie. Ainda hoje, ninguém detém o monopólio da verdade: sabemos que os cientistas se podem enganar, tal como os jornalistas e os especialistas de todo o tipo.»
«Com tudo isto, não é de admirar que nem sempre confiemos nas fontes que, racionalmente, temos todas as razões para considerar fiáveis. Não é intuitivo, nem natural, referirmo-nos a elas.»
Os idiotas são muitas vezes populares, arranjam parceiros sexuais com facilidade. Será que os idiotas representam uma vantagem evolutiva para um grupo social?
«A evolução não acontece em benefício de um grupo, mas sim em benefício dos genes. A verdadeira questão não é se isso é bom para o grupo, mas se é bom para o idiota ser idiota! E a resposta, claramente, é: "É bem possível…" Até certo ponto, pelo menos, pois há tantas vantagens como desvantagens em sê-lo. A vantagem é que se sentem confiantes, procuram o poder, reivindicam os recursos dos outros. Os idiotas são muitas vezes populares, arranjam parceiros sexuais com facilidade… A desvantagem é que magoam muitas pessoas que podem então unir esforços para os destituir ou descredibilizar. Não está provado, mas é possível que certos idiotas se propaguem
naturalmente… até certo ponto apenas.»«Se começarem a alienar demasiadas pessoas, estas acabam por se revoltar. E se houver mesmo demasiados idiotas, acabam por prejudicar-se mutuamente e perder as vantagens que advêm da cooperação e das relações sociais harmoniosas. É uma dinâmica: a sociedade tolera um certo número deles, porque os próprios idiotas beneficiam disso, mas há limites!»
Como explicar que certas pessoas votem num idiota?
«Lembremo-nos da citação atribuída a Franklin Roosevelt sobre Anastasio Somoza Garcia, ditador da Nicarágua: “Pode ser um filho da mãe, mas é o nosso filho da mãe!” As pessoas que votam num idiota votam no seu idiota. Que pode ser perfeitamente carismático e transmitir uma imagem de segurança, de domínio. Se for teu aliado, pode combater os teus inimigos e defender os teus interesses.»
Então pode ser muito vantajoso ser governado por um idiota?
«Certamente. Pelo menos para o próprio idiota! E para os seus aliados. Mas não necessariamente para um país no seu todo. Na realidade, raramente...»
A estupidez é globalmente idêntica entre homens e mulheres?
«Existem diferenças. Não sou especialista, mas talvez os mesmos genes se expressem de forma diferente em homens e mulheres. Os homens tendem mais para a psicopatia e o narcisismo, enquanto as mulheres mostram mais traços de personalidade borderline ou histriónicos, como certas divas. Dito isto, a estupidez mais nociva existe nos dois sexos. Em inglês, é raro uma mulher ser chamada de 'asshole' (idiota, canalha), não sei porquê. Para elas, o termo mais próximo é provavelmente 'bitch' (vaca, cabra). Mas é um tema politicamente sensível, porque pode parecer misógino.»
Segundo as ideias que desenvolve nos seus livros mais recentes, nunca fomos tão educados, nem tão inteligentes. No entanto, os idiotas da pior espécie nunca foram tão visíveis, graças à Internet. Não será a nossa época, ainda assim, a mais propícia à expansão da estupidez?
«Sempre houve estupidez e idiotas, líderes fascistas, ditadores, reis incompetentes, mas é indiscutível que hoje os idiotas têm muito mais visibilidade. Porque, embora nunca tenhamos sido tão inteligentes, tão racionais, existem hoje muito mais oportunidades para os ignorantes se reunirem. Dois fenómenos entram em jogo: por um lado, a ascensão dos psicopatas narcisistas e, por outro, a desinformação e o 'bullshit'. Por vezes, estas duas tendências andam de mãos dadas!»
Será que a humanidade tem o monopólio da estupidez? Existem idiotas entre os animais?
«Oh sim, é provável que, segundo os nossos padrões, a maioria dos animais seja idiota! Não demonstram a mesma generosidade, o mesmo cuidado pelo bem comum que nós. Os machos competem entre si para seduzir as fêmeas, que por vezes chegam a matar as crias dos outros, como acontece com os chimpanzés, os nossos parentes mais próximos. Muitos especialistas são sensíveis a este tema porque querem melhorar a nossa perceção dos animais, especialmente os explorados ou em vias de extinção. Por isso é difícil obter uma resposta categórica, mas, segundo os nossos padrões, sim, mais uma vez, muitos animais seriam grandes idiotas!»
Steven Pinker
Linguista e professor de Psicologia na Universidade de Harvard.(1)
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(1) https://www.scienceshumaines.com/la-selection-naturelle-des-connards-rencontre-avec-steven-pinker