segunda-feira, dezembro 22, 2025

#TOLERÂNCIA358 - TOLERÂNCIA E NATAL

 #TOLERÂNCIA358 - TOLERÂNCIA E NATAL

Hoje aproveitei — inesperadamente, tive uma folga de tempo — para, digamos, brincar um pouco: cheguei-me aos 'chatbots' e perguntei-lhes o que encontravam eles por aí que relacionasse Tolerância com Natal.

Perguntei ao Gemini, ao AskGPT, ao ChatGPT, ao Perplexity.AI e ao DeepSeek. Por esta ordem. Os que, aparentemente, menos se esforçaram foram o AskGPT e o ChatGPT, pelo menos tendo em conta o tamanho do texto e também, é verdade, o conteúdo. O DeepSeek foi o que mais escreveu, a seguir foi o Perplexity.Ai. A melhor resposta, a que mais me agradou, a que mais nos faz pensar, foi a do Gemini. Vou escrevê-la a seguir, integralmente. O pedido era este: "Quero saber se agora na época de Natal, no mundo inteiro, há mais notícias a falarem da tolerância do que no resto do ano. Responde em português de Portugal."

«A resposta curta é: provavelmente não. Na verdade, se analisarmos as notícias em Portugal, a palavra "tolerância" aparece muito mais nesta época, mas não com o sentido moral que estás à espera.

»Aqui está o que realmente acontece nas notícias durante o Natal, distinguindo a realidade dos factos da nossa percepção emocional:

  1. O "Falso Positivo" Português: "Tolerância de Ponto"
    Em Portugal, há um pico enorme de notícias com a palavra "tolerância" em Dezembro, mas refere-se quase exclusivamente à "tolerância de ponto" (a dispensa de trabalho para a função pública).

»Se pesquisares agora por "tolerância" nos jornais portugueses, a vasta maioria dos resultados será sobre os despachos do Governo para os dias 24, 26 ou 31 de dezembro, e não sobre aceitação ou respeito pelo próximo.

  1. A Palavra Real [no sentido de acção concreta], do Natal é "Solidariedade" (não Tolerância)
    Os 'media' e os discursos oficiais (do Papa, do Presidente da República, etc.) mudam de facto o tom, mas a palavra-chave não costuma ser "tolerância". As palavras que estatisticamente
    dominam a época são:

»Solidariedade: Campanhas de recolha de alimentos, apoio aos sem-abrigo e donativos.
Paz/Reconciliação: Especialmente em mensagens religiosas (como a 'Urbi et Orbi' do Papa) ou sobre conflitos internacionais (Gaza, Ucrânia).
Consumo/Preços: Este ano, em particular, muitas notícias focam-se na inflação, no preço do bacalhau e nas compras.

  1. Quando é que se fala mais de Tolerância?
    Curiosamente, é provável que haja mais notícias sobre "tolerância" (no sentido moral) em novembro do que no Natal.

»Isto acontece porque o Dia Internacional da Tolerância celebra-se a 16 de Novembro. Nessa data, há uma concentração real de artigos, 'workshops' e discursos focados especificamente nesse tema, algo que no Natal se dilui em mensagens mais genéricas de "amor ao próximo".

»Resumo da Análise
Embora tenhamos a sensação de que o mundo fica mais "tolerante" no Natal, as notícias não reflectem necessariamente isso. O jornalismo tende a focar-se no caos das viagens, no consumo e, no caso português, na burocracia das folgas. A "tolerância" é um tema de fundo, mas raramente é a manchete principal.»

Gostei do que li. Alarga-nos o pensamento sobre as coisas, não é?

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domingo, dezembro 21, 2025

#357 - DEIXEM O NATAL SOSSEGADO. NÃO, NÃO DEIXEM!

 #357 - DEIXEM O NATAL SOSSEGADO. NÃO, NÃO DEIXEM!

Quem diz para deixarem o Natal sossegado é o jornalista Rodrigues Guedes de Carvalho, no artigo de opinião que publica na edição desta semana. Se não foi ele que escolheu o título "Deixem o Natal sossegado", foi alguém por ele, não sei. O que eu sei é que quem diz para não deixarem o Natal sossegado sou eu, sou eu sim senhor. Eu acho que o que RGC quer dizer é «Deixem o Natal em paz, sosseguem no Natal, celebrem o Natal…», e concordo com ele.

Escreve assim o jornalista, depois dos primeiros parágrafos, em que fala da sua própria experiência pessoal, em criança, com os seus amigos, um deles judeu e outros duma família hindu:

«Depois deste intróito se perceberá melhor a dimensão do meu espanto quando esta semana li a resposta de uma escola a uma mãe que estranhou a ausência de enfeites de Natal na escola da filha. Nem uma árvore, por pequena que fosse, nem uma estrelinha. Nem a versão pagã e comercial do Pai Natal e renas. Explica a escola que “a decisão de não utilizar cenários natalícios procurou respeitar toda a comunidade escolar, reconhecendo tanto as famílias que celebram o Natal como aquelas que, por diferentes motivos culturais, religiosos ou pessoais, não o assinalam. Optou-se por um cenário neutro para que todos os alunos possam participar em igualdade”.

»Muito bem. E que possam participar em quê, já agora? Que possam festejar em “igualdade” olhando todos juntos para as paredes nuas de todos os dias? Festejar o quê, se não há cantigas ou histórias? Pergunto mais: houve assim tantos pedidos de diferentes religiões para que a escola matasse o Natal? Ou
foi sobretudo esta autocensura politicamente correcta que se propaga pelo ar em labaredas? Que necessidade é esta de se adiantarem, sem ninguém lhes pedir ou exigir, com esta decisão? Isto é simpatia e respeito pela “diferença” ou é subserviência oca? Porque se confundem as coisas? Porque se considera que esconder a festa do Natal debaixo do tapete faz parte de um pacote de boas-vindas?»

No geral concordo com RGC. Uma coisa que eu faria de maneira diferente era, em vez de perguntar «Isto é simpatia e respeito pela “diferença” ou é subserviência oca?», perguntar «Isto é simpatia e respeito pela “diferença” ou é intolerância pela diferença?»

A escola é um lugar de encontro e de partilha, é esse uma das essências do acto educativo. Os alunos só se podem encontrar no que partilham. Se não acontecem coisas para partilhar, os alunos não aprendem a partilhar, não aprendem as diferenças, não aprendem a respeitar as diferenças.

O cenário neutro nega o encontro, a escola — ignorante, medrosa ou de sensibilidade distorcida e pervertida — não cumpre o seu papel educativo, de experiência concreta da diversidade, da diferença, da inclusão e da integração.

Há vários anos que a Paulinas Editora publica, ano após ano, um "Calendário Inter-religioso", cada novo ano tem uma nova temática. A temática de 2025 foi "Maternidade nas Religiões". O calendário custa 6 euros (https://www.paulinas.pt/produto/celebracao-do-tempo-2025calendario-inter-religioso/). Eu tenho aprendido muito com este calendário e todos os anos algumas coisas nas aulas faço inspirado nele. Não sei qual é o tema de 2026. O calendário "conta, na edição de 2025, com 11 calendários

religiosos (entre os quais ligados ao Hinduísmo, às Tradições chinesas, ao Judaísmo, ao Budismo, ao Cristianismo (Gregoriano e Juliano), ao Islão e à Fé Bahá’í), além das grelhas com as efemérides religiosas e correspondentes explicações sobre a diversidade calendarística, assim como conteúdos sumariados sobre a história, doutrina, símbolos, textos sagrados de cada religião. O calendário contém ainda: elementares informações cosmológicas dos ciclos solar (equinócios e solstícios) e lunar (fases), mas também os dias nacionais dos países da Comunidade Europeia e as datas celebrativas especialmente indicadas pelas instâncias internacionais (ONU e UNESCO) e nacionais (AIMA e feriados civis e religiosos guardados em Portugal)."

Em vez do deseducativo "neutro", opte-se pelo educativo "todos": celebre-se, em Dezembro, o Natal; celebre-se, quando o momento do ano chegar, o Ano Novo Chinês; celebrem-se, quando os momentos do ano chegarem, as efemérides dos outros credos religiosos e culturais. Isso vai dar muito trabalho? Vai, é claro que vai, mas é esse trabalho que vale a pena! É esse trabalho que promove a tolerância, a aceitação, a partilha, a integração a experiência positiva e reciprocamente enriquecedora da diversidade.

Vamos lá, caros colegas, vamos lá, senhores professores, agarrem a educação a sério! Abram-se ao Mundo, tal como ele é e não o meçam pela visão pequena do mundo que têm dentro das vossas cabeças. Mundividências assim, pequeninas, fechadas, neutras, são especialmente preconceituosas e perigosas. Acabemos com elas.

Acredito que os meus colegas da escola de que fala RGC vão dar a volta por cima. E também os colegas de outras escolas que tenham tido comportamentos "celebrativos" e "neutros" idênticos.

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sábado, dezembro 20, 2025

#TOLERÂNCIA356 - QUE VENÇA A TOLERÂNCIA, A JUSTIÇA, E A SOLIDARIEDADE

#TOLERÂNCIA356 - QUE VENÇA A TOLERÂNCIA, A JUSTIÇA, E A SOLIDARIEDADE

Não gosto de Alexandra Leitão. Simplesmente, detestei a arrogância, prepotência, sobranceria e, sobretudo, as injustiças que cometeu com os professores enquanto foi Secretária de Estado Adjunta e da Educação no XXI Governo Constitucional entre 2015 e 2019, governo liderado por António Costa que também não gostava dos professores e também os tratou mal. Lembram-se de que ele ameaçou demitir-se se os outros partidos, nomeadamente os outros da Geringonça, aprovassem normas favoráveis à recuperação do tempo de serviço dos professores?

Foi tolerantemente que li o texto de despedida que a senhora escreveu na edição desta semana do

Expresso. Curiosamente, nele fala de tolerância — valor de que a senhora secretária de estado não deu mostras de possuir e usar.

Reconheço entre ela e mim um ideário político de Esquerda (já o disse várias vezes, o PS foi o meu limite, pela Direita, em qualquer votação nacional e europeia) — e tomo consciência de que isso me dá satisfação, se calhar, porque os ideários da Direita Liberal, Neo-liberal e de Extrema-Direita dominam e arrasam na avidez de apropriação de recursos e rendimentos tudo o poderia e deveria ser de jeito mais solidário, com repartição mais justa de tais recursos e rendimentos.

Por outro lado, os textos de despedida são geralmente tocados por uma emotividade especial e as pessoas confessam valores que, contudo, enquanto estiveram activas, não pugnaram como agora, no escrito derradeiro, dizem sempre terem defendido.

Vamos, então, à transcrição da minha leitura tolerante de um texto algo confessional em que a autora fala de tolerância. Tem por título "Até sempre".

«Na última crónica do ano de 2025 e também a última que escrevo nestas páginas, não poderia deixar de fazer um curtíssimo balanço do ano que agora acaba e deixar também votos para o ano de 2026.

»2025 foi um ano intenso, com duas eleições em Portugal (duas e meia, se contarmos com as presidenciais que já vão adiantadas), e no mundo sentem-se as consequências dos resultados das várias eleições que ocorreram em 2024, sendo claro que a vitória de Trump nos Estados Unidos da América (EUA) tem um impacto muito negativo a vários níveis.

»Vivemos hoje num mundo menos tolerante, menos humanista, menos solidário, menos pluralista e menos democrático.

»A guerra que começou com a invasão da Ucrânia pela Rússia não parece próxima do fim e, muito por causa da intervenção dos EUA no processo, o infractor pode sair beneficiado. Em Gaza o genocídio continua. Os EUA parecem ter voltado à doutrina Monroe e considerar a Europa qualquer coisa entre um parceiro menor e um inimigo declarado.

»Em Portugal, a extrema-direita continuou a crescer e as suas ideias parecem contaminar a direita tradicional.

»Neste panorama, tivemos uma boa notícia esta semana com a decisão do Tribunal Constitucional que considerou inconstitucional, quase sempre por unanimidade, várias normas da Lei da Nacionalidade e a alteração ao Código Penal, que previa a possibilidade de perda da nacionalidade pela prática de certos crimes.

»A verdade é que o actual Governo parece apostado em governar contra a Constituição: foi assim na primeira versão da lei dos estrangeiros, em Agosto deste ano, e se o Governo porfiar na reforma laboral que anunciou também aí haverá seguramente inconstitucionalidades.

»Neste contexto, as futuras eleições dos juízes do Tribunal Constitucional e do provedor de Justiça no próximo ano afiguram-se decisivas para proteger o Estado de direito e o regime democrático consagrado na Constituição de 1976.

»O ciclo que vivemos é hostil para as ideias progressistas e pluralistas, descartadas sempre como "radicais”. Nesse contexto, o que modestamente desejo para 2026 é que não haja mais retrocessos nos direitos dos cidadãos, independentemente da sua origem, e que vença a tolerância, a justiça e a
solidariedade.

»Despeço-me agradecendo a todos os que durante três anos dedicaram algum tempo a ler o que fui escrevendo nesta coluna, concordando ou discordando. [Nestes 2 anos, eu nunca li qualquer texto de Alexandra Leitão, só mesmo este.] Agradeço também à Direcção do Expresso pelo convite para esta colaboração que agora termina.

»A todos muito obrigada e até sempre.»

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sexta-feira, dezembro 19, 2025

#TOLERÂNCIA355 - FICA A APETECER-ME VOLTAR JÁ À RUA DO BENFORMOSO

 #TOLERÂNCIA355 - FICA A APETECER-ME VOLTAR JÁ À RUA DO BENFORMOSO

O Público tem hoje, na página 12, uma notícia com este título: "O Benformoso esconde cicatrizes. “As pessoas fecharam-se por receio”; e sendo o subtítulo assim: "Há um ano, dezenas de pessoas de muitos países foram imobilizadas, encostadas à parede e revistadas numa operação policial que deixou marcas. Desde então, a sua situação piorou" O texto é da jornalista Ana Dias Cordeiro.

Pois, as acções públicas dos órgãos de poder não são inócuas.

A certa altura a gente lê assim: «“As regras mudaram” - “Muitas pessoas deixaram de vir. E as que vêm, não é com a mesma abertura”, diz Sohel Mia, recordando as noites, no seu restaurante, em volta de uma chávena de chá. “Primeiro porque desde Junho de 2024, há menos pessoas a entrar neste país.

»Mudaram-se as políticas [da imigração]. E depois porque, a partir de Dezembro, as pessoas começaram a sentir-se hostilizadas.” A hostilidade que se revelou perante elas nesse dia, 19 de Dezembro de 2024, há precisamente um ano, na Rua do Benformoso, ficou para sempre associada a este local. A acção policial obrigou a fechar a rua. A operação denominada Portugal Sempre Seguro, e coordenada pelo Sistema de Segurança Interna, tinha sido lançada a partir de Novembro desse ano. O que as pessoas imobilizadas e revistadas não sabiam — e, segundo Cláudia Pinto, da Associação Renovar a Mouraria, “ainda hoje não percebem por que aconteceu” — é que elas eram o alvo da suspeita que rapidamente viram extravasar para a esfera colectiva. Aos olhos de todos, eram suspeitos.

»“Desde essa altura, não há mês que as pessoas não sejam fiscalizadas”, diz Sohel Mia. “A polícia quer verificar se têm os documentos em dia. Eu nunca tinha visto uma coisa assim.”

»As ofensas no espaço público passaram a ser toleradas desde que os alvos sejam imigrantes e abriu-se
um espaço a insultos visando directamente comunidades estrangeiras, sustenta o homem de negócios de 45 anos, com um curso superior tirado na Dinamarca.

»“As regras mudaram. Como é possível um partido, o Chega, colocar aqueles cartazes a mandar-nos para a nossa terra? Portugal continua a ser um lugar bom, mas o sistema mudou muito para mim. As pessoas que vieram do Bangladesh estão a contribuir com o seu trabalho, os seus descontos e os seus

impostos para a economia de Portugal. Sem imigrantes a economia não vai crescer da mesma maneira. Porquê atingir as pessoas do Bangladesh? Porquê atingir o nosso país? Fazer isto é ser racista. Isto repugna-nos, e magoa-nos muito.”»

Dar um testemunho sincero não significa automaticamente ter razão. Por isso o diálogo e a tolerância são tão importantes. Também o acolhimento e a clareza das leis; e a burocracia, q.b. É fácil estigmatizar, desfazê-lo é bem mais complicado. Educar, deseducar, recomeçar de onde for preciso.

Mais uma vez se lembra que tolerar não é aceitar. Por isso é tão importante, como fui dizendo lá para trás, discutir e clarificar os conceitos, os seus limites e as implicações ao nível dos comportamentos.

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quinta-feira, dezembro 18, 2025

TOLERÂNCIA354 - NEM SEMPRE É FÁCIL SER UM PAI PRESENTE!

 TOLERÂNCIA354 - NEM SEMPRE É FÁCIL SER UM PAI PRESENTE!

QUANDO AS INSTITUIÇÕES DA PRIMEIRA INFÂNCIA SÃO UM OBSTÁCULO PARA OS PAIS

O texto tem por autor Kevin Hirdjee (Psicanalista clínico e psicólogo, exerce na maternidade e no Centro de Estudo e Conservação de Óvulos e de Esperma Humano (Cecos), e publicou “O que é um Pai?” (Fayard, 2024)), e foi publicado nas 'Sciences Humaines' no dia 8 de dezembro de 2025. Será mais um texto-gatilho para os grupos de discussão que na geografia da Tolerância encontrem fermento.

Nem sempre é fácil ser um pai presente! Por um lado, espera-se que eles estejam presentes em todas as circunstâncias, por outro, desconfia-se que são menos competentes do que as mães. Uma injunção

paradoxal contra a qual eles têm de lutar... desde a maternidade!

O texto tem por autor Kevin Hirdjee (Psicanalista clínico e psicólogo, exerce na maternidade e no Centro de Estudo e Conservação de Óvulos e de Esperma Humano (Cecos), e publicou “O que é um Pai?” (Fayard, 2024)), e foi publicado nas Sciences Humaines no dia 8 de dezembro de 2025.

Os pais vivem hoje sob o olhar de normas que não existiam antes. Normas que se revelam contraditórias: pede-se aos pais que sejam presentes, ternos, envolvidos, empenhados... mas, ao mesmo tempo, estes deparam-se com uma série de obstáculos insidiosos, pouco visíveis, mas muito poderosos, que tornam a sua tarefa difícil.

PROFISSIONAIS DE SAÚDE QUE EXCLUEM OS PAIS

Um local condensa estes paradoxos: a maternidade. Em “Da Nascença e dos Pais” (Les Éditions du remue-ménage, 2016), a historiadora quebequense Andrée Rivard traça a história longa e caótica da entrada dos pais nas salas de parto. Ela mostra como esta presença foi conquistada a pulso e permanece, ainda hoje, marcada por uma forte ambiguidade institucional.

Por detrás das proclamações igualitárias, as maternidades permanecem bastiões duma concepção tradicional da diferença entre os sexos: os pais são mais tolerados do que acolhidos. Basta interrogá-los: quantos se sentiram a mais, deslocados ou mal julgados por terem querido passar a primeira noite ao lado da sua companheira? Quantos não encontraram nem cama, nem refeição, nem espaço pensado para a sua presença?

Um estudo etnográfico conduzido por Gérôme Truc (“La paternité en Maternité. Une étude par observation”, Ethnologie française, vol. 36, 2006/2) numa maternidade parisiense traça um panorama preocupante. O autor revela a forma como a própria organização dos espaços e dos horários mantém indiretamente os homens à margem da criança, como se fossem considerados menos "competentes" do que as mulheres.

Este estado de coisas é tanto mais perturbador quanto assenta numa crença errónea: a de um instinto materno "inato", em virtude do qual as mães não teriam de "aprender" a cuidar de uma criança, mas apenas de "reactivar" nelas uma competência latente. Inversamente, os pais, logo à partida julgados menos competentes, não mereceriam uma atenção igual por parte dos profissionais de saúde. Gérôme Truc conclui que as maternidades funcionam segundo um regime "matrifocal", em que a mãe ocupa uma posição central em detrimento ou na ausência do pai.

UM DÉFICE DE INFORMAÇÃO

Estes entraves à integração dos pais aparecem também nas instituições da primeira infância. Os estudos sobre as visitas domiciliárias após o nascimento ensinam-nos, por exemplo, que as parteiras (Marleen Baker et al., “Entre la sage-femme et le père, des espaces coconstruits : étude exploratoire”, Enfances, Familles, Générations, n° 11, 2009) podem negligenciar os sinais da depressão pós-natal dos pais.

Outra investigação realizada em creches e escolas (France Frascarolo-Moutino et al., “La fonction de garde-barrière (le ‘gatekeeping’) des professionnels envers les pères : une puissante influence sur le développement de l’enfant et sur la famille”, Devenir, vol. 29, 2017) invoca a noção de ‘gatekeeping’ para descrever a tendência de algumas cuidadoras para restringir o acesso do pai à criança. As informações transmitidas aos pais durante as reuniões de final do dia nas creches são parciais, decisões terapêuticas são tomadas sem eles, e a sua competência é frequentemente presumida inferior à das mães. A hiperfeminização dos estabelecimentos e as crenças pessoais das profissionais sobre a repartição dos papéis de género criam fenómenos de entre-si feminino que dão aos homens a impressão de que não têm lugar nestes dispositivos.

HOMENS FACE A UMA INJUNÇÃO PARADOXAL

Vê-se bem que os obstáculos à implicação dos pais não são apenas fruto da má vontade dos principais interessados. Quando os homens se empenham junto dos seus filhos, deparam-se com contrafogos poderosos. As maternidades e as instituições da primeira infância fazem viver a alguns homens uma injunção paradoxal. Por um lado, espera-se que eles estejam presentes, e a sua ausência ou negligência são severamente criticadas.

Por outro, faz-se-lhes sentir através de sinais indiretos que não estão no seu lugar. Pior, recusa-se-lhes a aprendizagem dos saberes-fazer parentais que se concede às mães, como se só existisse uma única maneira legítima de cuidar de uma criança: a das mulheres.

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quarta-feira, dezembro 17, 2025

#TOLERÂNCIA353 - PODE-SE TOLERAR ISTO? NÃO, NÃO E NÃO!

 #TOLERÂNCIA353 - PODE-SE TOLERAR ISTO? NÃO, NÃO E NÃO!

Fiz questão de ouvir toda a intervenção(1) do sr. Ministro da Educação, Fernando Alexandre, a intervenção que provocou grandes reacções, polémica e oposições. Sim, o sr. Ministro pôs-se a jeito, não foi claro, acho legítimos os protestos de desrespeito e discriminação social e cultural dos estudantes universitários de condição económica mais baixa.

A meio do discurso, o sr. Ministro diz de maneira muito enfática que é defensor da escola pública. Mas o melhor estava mesmo guardado para o fim. E desse fim, tanto quanto me parece, nenhum partido político e nenhum órgão de comunicação social fez eco!

Vou transcrever:

«Vamos implementar e depende do governo aquilo que vai acontecer às residências, depende das universidades e dos politécnicos de todos, não é só de reitores e dos Presidentes. E também muito dos

estudantes, porque aquilo que eu estou a dizer sobre o meu cepticismo em relação à capacidade com este modelo de gestão universitária de transformar verdadeiramente aquelas residências em espaço de bem-estar. Pode ser que eu me engane, porque se há alguma coisa em que eu acredito é de facto nos jovens e nos estudantes e as sessões académicas têm aqui uma oportunidade para mais uma vez mostrarem que têm que ter, têm que ser exigentes. Eu já vos disse, eu gostava de vos ouvir falar mais sobre a ação social, porque é a acção social que faz a diferença, a acção social.»

Aqui vou dobrar o eco: «É a acção social que faz a diferença.»

Continua o sr. Ministro da Educação: «Nós em Portugal discutimos muitas vezes temas que não interessam nada, que são completamente laterais. E aquilo que faz a diferença, aquilo que conta para o acesso ao ensino superior é a acção social. O resto... Vejam aquela discussão que o Professor Nicolas Bar apresentou aqui é uma discussão que nós nem queremos ter em Portugal. Não vale a pena... não vale a pena...»

E com o que o sr. Ministro da Educação vai dizer a seguir, eu pergunto se pode haver alguma tolerância para o estado de coisas que ele diz. Não, não pode haver qualquer tolerância! Nenhuma! Vai alguém pegar nestas palavras, desafiá-las e resolver a profundamente injusta situação? Qual partido? Qual organização de estudantes? Qual movimento cívico? Mas estas palavras, as verdadeiramente importantes, foram abafadas, quem sabe, intencionalmente pelas outras, as da polémica das residências de estudantes.

Oiça-se bem o sr. Ministro da Educação:

«Nós não conseguimos sequer falar de propinas com a desigualdade que temos em Portugal, com a desigualdade que nós temos no nosso sistema de ensino superior, em que as famílias que não colocam os filhos no ensino superior andam a pagar as propinas, andam a pagar os estudos dos das famílias mais ricas. É isto que nós temos em Portugal! Nós somos um país profundamente desigual, porque nós somos extremamente insensíveis à desigualdade! Não tenham dúvidas sobre isso. Obrigado!»

Apetece-me escrever este parágrafo mais 1000 vezes: «As famílias que não colocam os filhos no ensino superior andam a pagar as propinas, andam a pagar os estudos dos das famílias mais ricas. Nós somos extremamente insensíveis à desigualdade!»

(1) https://cnnportugal.iol.pt/fernando-alexandre/estratos-sociais/isto-foi-o-que-o-ministro-da-educacao-disse-na-integra-sobre-os-estudantes-dos-meios-socioeconomicos-mais-desfavorecidos-e-as-residencias-degradadas/20251217/694273ecd34e2bd5c6d531b9

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terça-feira, dezembro 16, 2025

#TOLERÂNCIA352 - TOLERÂNCIA E ESTILOS PARENTAIS

 #TOLERÂNCIA352 - TOLERÂNCIA E ESTILOS PARENTAIS

Ontem fui ouvir o Professor Manuel Sobrinho Simões, em Vila Nova de Gaia, no El Corte Inglês, na apresentação que ele fez do livro do Professor Francisco Louçã, o "Imaginação - cores, deuses, viagens e amores". Como sempre, deliciei-me a ouvir o notável patologista, que a certa altura falou de Robert Sapolsky e do seu impressionante livro "Comportamento, a biologia humana no nosso melhor e pior". Deixei Gaia, já de noite, de comboio, meio-enjoado com o balanceamento do alfa pendular, a desejar

matar saudades do livro de Sapolsky e hoje fui procurar o livro. Desta vez, tinha de ser, fui ver o que ele tem escrito acerca da tolerância.

Procurei no índice remissivo, nada. Nem no que eu sempre acrescento aos livros que leio, na altura em que o li a minha atenção específica ao tema da tolerância era nula. Recorri à edição na língua original, digital, em pdf, e encontrei. Achei que o excerto que a seguir vou transcrever faz todo o sentido com as preocupações ligadas à Educação e à Pedagogia em que tenho mantido foco cerrado.

«Estilos Parentais e Origens Culturais

»Começamos pelo estilo parental, o primeiro contacto da criança com os valores culturais. Curiosamente, a tipologia mais influente de estilo parental, numa escala micro, surgiu da reflexão sobre estilos culturais, numa escala macro.

»Por entre as ruínas do pós-Segunda Guerra Mundial, os estudiosos tentaram compreender a proveniência de Hitler, Franco, Mussolini, Tojo e dos seus sequazes. Quais são as raízes do fascismo? Dois académicos particularmente influentes eram refugiados do regime de Hitler, nomeadamente Hannah Arendt (com a sua obra de 1951, As Origens do Totalitarismo) e Theodor Adorno (com a obra de 1950, A Personalidade Autoritária, em co-autoria com Else Frenkel-Brunswik, Daniel Levinson e Nevitt Sanford). Adorno, em particular, explorou os traços de personalidade dos fascistas, incluindo o conformismo extremo, a submissão e crença na autoridade, a agressividade e a hostilidade para com o intelectualismo e a introspecção — traços tipicamente enraizados na infância.

»Isto influenciou a psicóloga de Berkeley, Diana Baumrind, que na década de 1960 identificou três estilos parentais fundamentais (em trabalhos desde então replicados e estendidos a várias culturas).

  • Estilo Parental Autoritativo: As regras e expectativas são claras, consistentes e explicáveis — o "porque eu disse" é anátema — havendo espaço para a flexibilidade; o elogio e o perdão sobrepõem-se ao castigo; os pais acolhem o contributo dos filhos; o desenvolvimento do potencial e da autonomia da criança é primordial. Pelos padrões dos neuróticos instruídos que leriam (quanto mais escreveriam...) este livro, isto produz um bom resultado na idade adulta — indivíduos felizes, emocional e socialmente maduros e realizados, independentes e auto-suficientes.
  • Estilo Parental Autoritário: As regras e exigências são numerosas, arbitrárias e rígidas, não carecendo de justificação; o comportamento é moldado principalmente pelo castigo; as necessidades emocionais das crianças são de baixa prioridade. A motivação parental é, frequentemente, a de que o mundo é duro e implacável, e que é melhor que as crianças estejam preparadas. O estilo autoritário tende a produzir adultos que podem ter um sucesso restrito, obedientes, conformistas (muitas vezes com um ressentimento latente que pode explodir) e não particularmente felizes. Além disso, as competências sociais são frequentemente fracas porque, em vez de aprenderem pela experiência, cresceram a cumprir ordens.
  • Estilo Parental Permissivo: A aberração que supostamente permitiu aos 'Boomers' inventar os anos 60. Existem poucas exigências ou expectativas, as regras raramente são aplicadas e são as crianças que definem a agenda. Resultado na idade adulta: indivíduos auto-indulgentes com fraco controlo de impulsos, baixa tolerância à frustração, somando-se fracas competências sociais graças a terem vivido infâncias isentas de consequências.

»O trio de Baumrind foi expandido pelos psicólogos de Stanford, Eleanor Maccoby e John Martin, para incluir o estilo parental negligente. Esta adição produz uma matriz dois por dois:

»A parentalidade classifica-se assim como:

  1. Autoritativa (alta exigência, alta responsividade);
  2. Autoritária (alta exigência, baixa responsividade);
  3. Permissiva (baixa exigência, alta responsividade);
  4. Negligente (baixa exigência, baixa responsividade).

»É importante notar que cada estilo produz, habitualmente, adultos com essa mesma abordagem, valorizando diferentes culturas diferentes estilos.»

Repare-se como esta última frase desafia a Educação! Perante esta afirmação-suspeição de determinismo da influência parental, que cabe ao educador (pai ou professor) fazer? Aceitar?... Contrariar?... O que é aqui a boa pedagogia? Temos aqui pano para mangas.

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segunda-feira, dezembro 15, 2025

#TOLERÂNCIA351 - AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS ACABARAM COM A TOLERÂNCIA?

 #TOLERÂNCIA351 - AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS ACABARAM COM A TOLERÂNCIA?

Em Lisboa não tive oportunidade de ir ao lançamento do livro "Imaginação - cores, deuses, viagens e amores" de Francisco Louçã. O ensejo de reencontrar o autor do livro e o apresentador, o Professor Manuel Sobrinho Simões, deram força à motivação e decisão de ir à apresentação do livro no Porto. Na verdade, foi na Eça que eles se conheceram, numa celebração que eu e dois colegas organizámos.

Como tive tempo, fui aos alfarrabistas do centro da cidade — coisa que gosto muito de fazer! — e deles vim de volta a casa carregado com 10 livros. 10 preciosos livros!

Na viagem de Lisboa ao Porto fui adiantando a leitura do livro, estou na segunda parte, a dos deuses. No subcapítulo "Um labirinto de linguagens diferentes" tomamos consciência da dificuldade de saber e escolher o nome de Deus, que Francisco Louça escreve "deus" e explica a razão porque assim faz na nota 2 da Parte II - Imaginar o Além.

O autor move-se por caminhos muito complicados, para já retenho duas coisas: o deus monoteísta é um deus muito severo, exigente, ciumento e intolerante. É porque os seus adeptos o fizeram assim em

ambiências de lutas intestinas, rivais e também intolerantes.

Transcrevo uma frase: «O código sacerdotal seria o enunciado da autoridade legislativa sobre os comportamentos sociais, e era imperativo acerca da unicidade divina e do lugar da devoção, ao passo que os anteriores códigos javista [de Javé] e eloísta [de Elohim] ou eram portadores da cultura politeísta ou a toleravam.» (p. 102)

É isso, parece que o deus ou os deuses eram bons e quanto mais sozinho Deus ficou, mais egoísta e intolerante ele ficou. Linda obra os homens fizeram... Bem, na verdade, são esses homens que continuam a determinar a vida e o destino dos Povos, não é?

É triste tomar consciência que é donde deveriam vir as melhores condições para a tolerância, a negociação e o contrato (a espiritualidade e religiosidade) é precisamente donde vêm muitas das mais tremendas dificuldades. Que exigência, que desafio para a Educação!

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domingo, dezembro 14, 2025

#TOLERÂNCIA350 - A PRESSÃO DA TOLERÂNCIA CONSTITUCIONAL

 #TOLERÂNCIA350 - A PRESSÃO DA TOLERÂNCIA CONSTITUCIONAL

Nem de propósito! Há dois dias falámos da tolerância constitucional ('toleration') e da tolerância. O relato de hoje parece-me ser uma boa ilustração da maneira como a tolerância/intolerância constitucional pressiona as pessoas, em jeito de "bem, quer dizer, podes, mas se calhar era bom que que não quisesses".

O texto é extraído da edição de hoje do Público, em que José Cesário, antigo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, responde à jornalista Gina Pereira.

«Como explicação para o aumento dos pedidos de aquisição da nacionalidade estão "o incentivo à naturalização em países onde o estatuto de estrangeiro acarreta exclusões de direitos, mas onde a naturalização é facilitada", aponta ainda o documento [relatório do Observatório da Emigração de 2023], adiantando que "factores como o regime de cidadania, a exclusão ou inclusão de direitos associados ao estatuto de estrangeiro e a antiguidade dos fluxos migratórios influenciam fortemente a decisão de naturalização dos emigrantes portugueses e a situação dos seus descendentes nos países de destino".

»Confrontado com os dados da recusa da nacionalidade, José Cesário, antigo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, admite que "há países em que o facto de os emigrantes terem dupla nacionalidade pode ser penalizador e não lhes permite aceder a determinadas funções".

»Em Andorra, por exemplo, conta que, durante muito tempo, para se abrir um estabelecimento comercial
era exigida a nacionalidade andorrana, e que há também serviços de vários países que obrigam ou recоmendam que as pessoas que a eles se candidatam não tenham uma outra nacionalidade, como, por
exemplo, serviços de segurança, agências de serviços de informações ou serviços da administração pública local.

»"A percepção que tenho é que deve ter que ver com o facto de as pessoas estarem hoje a aceder a funções que as condicionam e acabam por se sentir coagidas, às vezes, até obrigadas, a renunciarem à nacionalidade originária”, disse, questionado pelo PÚBLICO. Além disso, lembra, embora a comunidade portuguesa no estrangeiro hoje ainda esteja maioritariamente em actividades profissionais braçais (construção civil, hotelaria), já há muitos quadros que vão para outro tipo de serviços e que se empregam na administração pública local.

"Normalmente tem de se ter a nacionalidade do país para o qual se trabalha e pode acontecer que não
admitam [a pessoa] ter dupla nacionalidade", salienta José Cesário, admitindo que estes processos,

actualmente, "já sejam mais simples e menos custosos para as pessoas, por serem uma opção de vida".
José Cesário lembra o caso da China, que conhece bem. "A China não permite dupla nacionalidade. Entre
Macau e Hong Kong temos perto de 150 mil pessoas com nacionalidade portuguesa e uma boa parte deles também são chineses. Apesar de haver uma certa tolerância nesse facto, em termos práticos, quando essas pessoas querem aceder a determinado tipo de funções podem sentir-se condicionadas e algumas acabam por renunciar à nacionalidade portuguesa", afirma, admitindo que nos últimos anos o país tem sido mais tolerante [sic, mas aqui pergunto-me se era mesmo "tolerante" que a autora queria escrever, ou se era "intolerante", ou "menos tolerante"] nessa exigência. Questionado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros não se quis pronunciar sobre estes dados.»

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sábado, dezembro 13, 2025

#TOLERÂNCIA349 - APRENDER A TOLERÂNCIA POR ANALOGIA

 #TOLERÂNCIA349 - APRENDER A TOLERÂNCIA POR ANALOGIA

As analogias dão-nos interessantes e úteis formas de aprendizagem, nem que seja pelo que sugerem. No caso da estação de hoje, este excerto deixa-nos no ar a pergunta: «Então, se precocemente também habituarmos o organismo à tolerância, a tolerância mostra-se adquirida na adolescência e na vida adulta?» A analogia é tentadora. Como diz a entrevistada, a "extrapolação" é tentadora.

Vamos ao caso, que aparece numa entrevista da edição desta semana da revista Sábado. A nutricionista Inês Pádua, que trabalha sobretudo com crianças, integra um grupo europeu que estuda a relação entre os ultraprocessados e o aumento de casos de reacções imunitárias graves a alimentos. A entrevista é conduzida por Lucília Galha.

Pergunta: Na introdução alimentar houve mudanças nos alimentos tradicionalmente considerados alergénios. Porquê?

Resposta: Aquilo que se fez durante muitos anos foi atrasar a introdução de alimentos que se

consideravam potencialmente alergénicos. A ideia era: vamos deixar que a criança cresça, fique com o sistema imunitário mais robusto, e depois então apresentamos-lhe estes alimentos para ela estar mais preparada para os tolerar. Acontece que se percebeu que era precisamente o contrário.

Pergunta: Como é que se percebeu isso?

Resposta: Foi há cerca de 10 anos, no Reino Unido, com o amendoim. Foi feito um estudo em que deram amendoim a crianças precocemente e perceberam que elas tiveram uma prevalência menor de alergia àquele alimento. Inclusivamente há dados recentes, de 2024, que mostram que as crianças que entraram
neste estudo, hoje são adolescentes e mantêm a tolerância ao amendoim. Portanto, isto teve efeito a
curto, médio e longo prazo. Depois houve um outro estudo feito com ovo, que teve resultados semelhantes, e daí extrapolou-se para outros alergénios mais comuns.

Pergunta: Quais são, então, atualmente as recomendações?

Resposta: Neste momento, a recomendação que temos é que qualquer alimento, excluindo o sal, o açúcar, o mel, a bebida de arroz, chás e infusões, pode estar na introdução alimentar assim que ela começa - a recomendação geral são os 6 meses, ou nunca antes do quinto mês - e que os alergénios alimentares devem estar todos introduzidos, os principais, até aos 11 meses do bebé.

Pergunta: Há uma janela temporal?

Resposta: Sim, e temos dados dos últimos cinco anos que mostram que, além da introdução precoce, o principal factor protector para evitar uma alergia alimentar é a diversidade. Ou seja, quanto mais alimentos a criança conhecer até fazer 1 ano, melhor.

Eis a tentação da extrapolação: se se consegue educar a tolerância fisiológica muito precocemente, será que se consegue educar também a tolerância psicológica? Depois vem a pergunta, dupla, desafiadora, para a Educação: se a resposta é sim, então, quando é que deve começar? E como é que se faz?

Não é fácil responder às duas perguntas duma maneira que seja útil para para os pais, até porque os pais, especialmente os das crianças mais pequenas, já têm um outro desafio educativo pela frente: tem a ver com o que se costuma dizer "fazer ou não fazer todas as vontadinhas ao bebé ou à criança pequena", disciplinar-lhes hábitos (de sono, amamentação, refeições) ou não, isso sim, deixar que os bebés e as crianças se desenvolvam de acordo com as suas motivações e características de personalidade naturais.

Repare-se como pode estar em causa um, digamos, confronto entre a educação duma tolerância positiva e a lassidão perante uma tolerância negativa: é o espectro dos meninos mimados, que só fazem o que querem e quando querem, só comem o que querem e quando querem... E depois, em que vão eles tornar-se quando forem mais crescidos? Há já um conjunto relativamente vasto de literatura sobre estas questões, e pode-se sempre recorrer aos pedagogos clássicos, da estirpe, por exemplo, de Maria Montessori.

Sou adepto dos grupos de discussão, seja de pais, de educadores, de professores; mistos ou não. E onde falta informação exacta e comprovada, que se chegue à opinião o mais informada e esclarecida possível, para cada um ter ideia do que está em causa e de quais são os graus de liberdade na acção do educador, seja mãe, pai ou educador profissional.

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