terça-feira, dezembro 09, 2025

#TOLERÂNCIA345 - GOVERNAR EM PAZ OU EM GUERRA

 #TOLERÂNCIA345 - GOVERNAR EM PAZ OU EM GUERRA

No livro "História do Mundo", que comprei recentemente a aproveitar mais alguma percentagem de desconto por ser Natal, leio assim na página 103:

«Heródoto [485 a.C. - 425 a.C.] diz também que Sólon, que elaborou o primeiro sistema jurídico unificado para a Atenas clássica, visitou Lidia e advertiu Creso [último rei da Lídia, da dinastia Mermnada, (560 a.C. - 546 a.C.)] de que não poderia considerar-se feliz antes de morrer, pois nunca se sabia o que poderia acontecer de seguida. Quando Creso aguardava para ser executado numa pira de madeira, contou ao rei persa as palavras de Sólon. Ciro [Ciro II, mais conhecido como Ciro, o Grande, foi rei e fundador do Império Aquemênida, que reinou entre 559 e 530 a.C.] ponderou a sua própria situação e compadeceu-se, conservando Creso como prisioneiro e conselheiro. Quando perguntou ao

lidio derrotado se desejara realmente a guerra, Creso respondeu com a frase que é talvez a mais famosa alguma vez escrita por Heródoto: «Ninguém é suficientemente louco para optar pela guerra em lugar da paz — na paz, os filhos sepultam os pais, mas na guerra são os pais que sepultam os filhos».

»O interesse de Heródoto pela cultura persa, partilhado por outros escritores gregos, era prático e urgente. Teria Ciro, e os grandes reis que lhe sucederam, resolvido o problema de como governar bem? Tinham criado um império ligado por estradas rápidas e rectilíneas, e governado através de administradores locais, os sátrapas. A tolerância que cultivavam pelos costumes religiosos locais possibilitava-lhes governar sem uma força opressivamente desmedida e pareciam deveras abertos às ideias de outros povos. Os seus exércitos eram maciços e constituídos por muitos povos diferentes. As suas principais cidades eram admiráveis.

»Heródoto chama a atenção para o facto de as pessoas se beijarem quando se encontram na rua, ao invés de falarem, e admira o costume de até o rei se abster de matar alguém por uma simples transgressão. Abominam mentiras e dívidas. Nunca poluem os rios «com urina ou cuspo», nem sequer lavam as mãos na água que usam para beber. Têm uma maneira interessante de tomar decisões:

»Se é necessário tomar uma decisão importante, discutem a questão quando estão embriagados e, no dia seguinte, quando já estão sóbrios, o dono da casa […] propõe que reconsiderem a decisão tomada. Se continuam a aprová-la, é adoptada; caso contrário, abandonam-na. Inversamente, qualquer decisão que tomem em estado de sobriedade é reconsiderada quando estão embriagados.»

Mais uma vez, cauteloso com a tradução, fui procurar a forma original à Internet. Encontrei-a no 'site' do Internet Archive e é mesmo a palavra tolerância que aparece. O que acho curioso, e é essa a minha impressão, é que a tolerância não me parece estar apenas na atitude dos reis persas perante os costumes religiosos locais, onde aparece explicitada, mas parece-me estar também subjacente ao sentimento de compadecimento pessoal do primeiro parágrafo, e também no último, o das decisões dos embriagados.

Portanto, tolerância do rei vencedor ao rei vencido; tolerância dos governantes vencedores aos povos subjugados; tolerância à expressão pública de afectos; finalmente, tolerância entre pares, aos seus comportamentos desbragados. Será a tolerância enquanto forma de cultura, será?

Parece-me que temos aqui mais uma dinâmica histórica e cultural-gatilho muito interessante para o projecto de formação de longa duração à volta da Tolerância.

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segunda-feira, dezembro 08, 2025

#TOLERÂNCIA344 - TOLERÂNCIA E NATAL

 #TOLERÂNCIA344 - TOLERÂNCIA E NATAL

Não sei quando, decidi para mim mesmo que a época natalícia começa no dia 8 de Dezembro. A influência para assim autodeterminar vem certamente do lado materno da família, num já distante 8 de Dezembro nasceram a minha irmã e o primo Pedro Jorge, filhos das irmãs Maria de Lourdes e Beatriz.

Pus-me à procura na Internet de textos natalícios que referissem explicitamente a palavra Tolerância. Encontrei este, pequenino: «Sugestões de presentes para o Natal: Para o seu inimigo, perdão. Para um oponente, tolerância. Para um amigo, o seu coração. Para um cliente, serviço. Para tudo, caridade. Para toda a criança, um bom exemplo. Para si próprio, respeito.» O autor é Oren Arnold (1900-1980), jornalista e escritor norte-americano.

Calejado com as vicissitudes e as idiossincrasias das traduções, fui à procura do texto na língua original, a ver se continha mesmo a palavra Tolerância. Confirmei que sim, ela lá estava: «Christmas gift suggestions: To your enemy, forgiveness. To an opponent, tolerance. To a friend, your heart. To a

customer, service. To all, charity. To every child, a good example. To yourself, respect.»

Sim senhor, gostei do que encontrei. E já estou a imaginar uma sessão de trabalho sobre a Tolerância em que entrego aos participantes 7 cartões de presentes e 7 cartões de presenteados. Cada participante distribui os presentes pelos presenteados; depois cada um apresenta ao grupo os emparelhamentos que fez; depois faz-se a discussão dos argumentos e esclarecimentos entre todos; e finalmente o grupo tenta descobrir qual foi a escolha que o autor Oren Arnold fez.

É verdade, se tivesse oportunidade de dar uma última aula às minhas turmas de Setembro, do 7.º e do 9.º ano, faria com eles esta natalícia actividade. Quem sabe, ainda...

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domingo, dezembro 07, 2025

#TOLERÂNCIA343 - OU A OCIOSIDADE OU O INTOLERÁVEL

 #TOLERÂNCIA343 - OU A OCIOSIDADE OU O INTOLERÁVEL

Quem nos confronta com esta opção, ou a ociosidade ou o intolerável, é Miguel de Cervantes no D. Quixote de La Mancha:

Ó tu que és honra e glória dos que vestem
túnicas de aço e rútilo diamante,
luz e fanal e mestre e norte e guia
daqueles que, deixando o torpe sono
e os ociosos leitos, só se empregam
no rude, intolerável exercício
das sangrentas, fatais, pesadas armas!

O Cavaleiro da Triste Figura escuta esta fala no castelo dos Duques que acolheram D. Quixote e Sancho

Pança com a intenção de se divertirem à custa da loucura do famoso cavaleiro, e quem profere estas palavras é uma personagem (o mordomo dos Duques) mascarada de Merlin, o famoso mago das lendas do Rei Artur. O objectivo é levar o escudeiro Sancho Pança a ser açoitado 3300 vezes — determinará Merlin a seguir — porque só assim se conseguirá "desencantar" Dulcineia del Toboso.

É com as artes e artimanhas dum assim tão pomposo e exagerado elogio a D. Quixote que o "mago" pretende levar por diante o maroteiro divertimento à custa do cavaleiro e do escudeiro.

Forçado pelo próprio cavaleiro a suportar o fardo do desencantamento da amada Dulcineia, Sancho Pança, ardiloso, consegue convencer o amo que se autoflagelou mesmo com as 3300 açoitadelas. O ardil foi de tal forma que ainda ganhou algum dinheiro com ele.

No elogio ficcional do mago Merlin, intolerante tem o sentido de insuportável, do sacrifício pessoal valoroso do sofrimento por uma boa causa.

Entretanto, é na figura de Sancho Pança que fico a pensar, a tolerância que ao longo da narrativa ele vai mostrando em relação ao seu amo. Não é uma tolerância passiva, o escudeiro acaba por se deixar fascinar pelos ideais loucos do seu amo, e é com muita astúcia que ele vai desembrulhando comportamentos que a ambos são úteis, que a ambos ajudam a desenvencilharem-se. Ele aprende a "gerir" a loucura do amo para sobreviver. Sancho Pança, no princípio de tudo, começará por se sentir seduzido; aos poucos vai vendo crescer nele o sentimento da compaixão; a compaixão alimenta a tolerância; a tolerância faz crescer a cumplicidade; a cumplicidade aprofunda a amizade.

Conclusão quase em jeito de ocioso pensamento domingueiro: a Educação tem mesmo de se ocupar com a pedagogia — a boa pedagogia! — dos afectos positivos, não é?

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sábado, dezembro 06, 2025

#TOLERÂNCIA342 - FILOSOFIA POLÍTICA E TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA342 - FILOSOFIA POLÍTICA E TOLERÂNCIA

Folheei um dos vários livros e que hoje de manhã me chegaram às mãos. Este é "O Descontentamento da Democracia, por que razão vivemos tempos perigosos e o que temos de fazer para mudar" (a 2.ª edição, de 2022), de Michael J. Sandel. Dele conheço "A Tirania do Mérito", que li em inglês.

No prefácio à segunda edição, Sandel escreve «Ver como estes debates [sobre a economia] evoluíram na era da globalização pode ajudar-nos a compreender como chegámos a este perigoso momento político.» Diz que «Nesta nova edição, que trata da história durante os anos de Clinton, Bush e Obama até à presidência [a primeira] de Donald Trump e à pandemia da COVID-19, tento explicar porquê» «o descontentamento face à democracia aprofundou-se, tornando-se tão agudo que levantou dúvidas sobre o próprio futuro da democracia norte-americana.»

No prefácio à primeira edição tinha dito que «A filosofia política parece frequentemente estar longe do mundo... Contudo, se, por um lado, a filosofia política é, por outro, é inevitável. A filosofia habita o mundo desde o início; as nossas práticas e instituições são encarnações da teoria... vivemos alguma 'teoria' a toda a hora.»

No início do capítulo "Introdução à nova edição, Democracia em Perigo", ele escreve «A nossa vida cívica não está a correr nada bem. Um presidente derrotado incita uma multidão furiosa a invadir o Capitólio norte-americano, numa tentativa violenta de impedir o Congresso de certificar os resultados eleitorais.»

A seguir, no capítulo 1, "A economia política da cidadania", no subcapítulo "A liberdade liberal e a republicana", Sandel escreve: «Ao afirmar a filosofia política dominante como uma versão da teoria política liberal, importa distinguir dois significados diferentes de liberalismo. Na linguagem comum da

política norte-americana, o liberalismo é o oposto do conservadorismo; é a perspectiva daqueles que favorecem um Estado social mais generoso e uma maior medida de igualdade social e económica. Na história da teoria política, porém, o liberalismo tem um significado diferente e mais vasto. Neste sentido histórico, o liberalismo refere-se a uma tradição de pensamento que enfatiza a tolerância e o respeito pelos direitos individuais e que vai desde John Locke, Emmanuel Kant e John Stuart Mill a John Rawls. A filosofia pública da política norte-americana contemporânea é uma versão desta tradição de pensamento liberal, e a maioria dos nossos debates prossegue dentro dos seus termos.»

Se uma das características desta viagem é partilhar imediatamente os textos diários que vou escrevendo, a delimitação do conceito "liberal" obrigou-me a parar o folheio do livro (leitura que prosseguirei lá mais para a frente, as prioridades são outras) e tentar esclarecer as diferenças entre, digamos, o liberal em Portugal e o liberal nos EUA. Considero isso importante porque, segundo o que Sandel escreve, o liberalismo norte-americano é m ais tolerante do que o conservadorismo.

Numa síntese rápida, não estarei errado ao dizer que os EUA operam num sistema bipartidário rígido. Embora existam outros partidos pequenos, o poder oscila quase exclusivamente entre os gigantes Partido Republicano e Partido Democrata. O Partido Republicano (The Republican Party / GOP) é o partido do "Elefante", e é associado à cor vermelha. É também conhecido como GOP (Grand Old Party). É a casa das correntes conservadoras. Por seu lado, o Partido Democrata (The Democratic Party) é o partido do "Burro" (símbolo não oficial) e é associado à cor azul. Historicamente, é o partido que abriga as correntes liberais e progressistas.

Em Portugal, um partido como a Iniciativa Liberal (IL) defende o mercado livre. Nos EUA, defender o mercado livre irrestrito é uma característica dos Conservadores (Republicanos). Portanto, um "Liberal" americano em Portugal estaria mais próximo do Partido Socialista ou do Bloco de Esquerda em termos sociais e de despesa pública, enquanto um "Conservador" americano estaria próximo do CDS ou da IL (na economia).

Apetece-me lançar aqui um tema para um dos grupos de discussão da formação extensiva, de longo prazo, da Tolerância: "A Tolerância tem uma cor política? A Intolerância é condição estruturante de determinadas filosofias políticas? Se sim, quais? Como se combate esta Intolerância?" (Atenção, estou a referir-me à tolerância ao respeito pelos direitos individuais de que Michael Sandel fala no excerto que apresentei em cima.)

P.S. - O apontamento da estação #TOLERÂNCIA189 - TOLERÂNCIA E (NEO)LIBERALISMO mostra-nos uma geografia semelhante à da estação de hoje.

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sexta-feira, dezembro 05, 2025

#TOLERÂNCIA341 - A TOLERÂNCIA E A FADIGA DA COMPAIXÃO

 #TOLERÂNCIA341 - A TOLERÂNCIA E A FADIGA DA COMPAIXÃO

Peguei numa notícia de jornal, já não sei o quê pôs-me a pesquisar na Net; cheguei ao conceito de "fadiga da compaixão", já não sei onde; pus-me a fazer perguntas no Gemini, no ChatGPT e no DeepSeek, perdi o controlo do que perguntei a um, a outro e outro; voltei aos 'sites' da Net, perdi-me... Mas guardei algum esclarecimento. Deixo aqui registo em jeito de ficha de exploração em que vou pegar lá mais para diante — nem tem de ser durante esta viagem, já começo a sentir o fim.

1 - Parece que o autor do conceito "fadiga da compaixão" é o psicólogo norte-americano Charles Figley, que a define pragmaticamente como "the cost of caring" (o custo de se importar, ou de cuidar). A sua obra mais conhecida é "Compassion Fatigue: Coping with Secondary Traumatic Stress Disorder in Those Who Treat the Traumatized", de 1995.

2 - Em várias das fontes, uma das primeiras preocupações é distinguir entre "fadiga da compaixão" e

"burnout": Diz assim o Gemini: «Burnout: "Estou farto deste sistema, da papelada e da chefia." (Causa: Ambiente/Estrutura). Fadiga da Compaixão: "Não consigo ouvir mais uma história triste; não sinto nada quando o paciente chora." (Causa: Exposição ao Trauma/Sofrimento).»

3 - O DeepSeek escreve o seguinte, não é um exemplo abstracto, refere-se a uma situação concreta investigada por especialistas: «Exemplo Prático (Caso Polónia, 2022-2024): A extraordinária tolerância e compaixão inicial dos cidadãos polacos para com os refugiados ucranianos foi sendo minada pela fadiga da compaixão gerada pela pressão prolongada nos serviços. Esta fadiga transferiu-se depois para um debate sobre outros migrantes, resultando num clima de menor tolerância e num maior apoio a partidos com retórica nacionalista e restritiva.»

4 - Perspectiva interessante, a aprofundar: (no DeepSeek) "Sociedades com altos níveis de tolerância social são mais resilientes à fadiga da compaixão. Isto acontece porque a tolerância é muitas vezes sustentada por valores enraizados (ex.: direitos humanos, tradição de asilo) que são menos voláteis do que emoções pontuais."

5 - O DeepSeek propõe também um esquema sequencial interessante, estimulante para o pensamento e o entendimento: 1) A exposição prolongada ao sofrimento leva à fadiga da compaixão, à exaustão emocional e ao 'numbimg' (entorpecimento físico e psicológico). 2) A consequência deste estado psicológico é a redução da empatia e o aumento da percepção de ameaça. 3) A percepção da ameaça faz crescer a intolerância social, a qual, por sua vez, 4) Incentiva a escolha de políticas restritivas e o acentuamento de discursos de separação e divisão. 5) Aumenta a polarização social e fortalecem-se os estereótipos sociais. 6) O ciclo recomeça.

6 - A mitigação da "fadiga da compaixão" exigirá estratégias distintas para profissionais no terreno (em situações de guerra, catástrofes, doenças prolongadas com grande sofrimento e limitações pessoais, etc.) e para a sociedade em geral. Ambas visam gerir a exposição às situações traumatizantes e opressoras e reconstruir um sentido de eficácia colectiva.

7 - Desafio para a Educação e a Pedagogia: prevenir a fadiga da compaixão, treinar as competências de gestão da fadiga de compaixão, ajudar a saber reconhecer, em si mesmo e nos outros, os sinais da fadiga de compaixão.

8 - Muito bem. Agora, guardar num dossier digital toda a informação recolhida sobre este assunto.

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quinta-feira, dezembro 04, 2025

#TOLERÂNCIA340 - TOLERAR OU NÃO TOLERAR, EIS A QUESTÃO

 #TOLERÂNCIA340 - TOLERAR OU NÃO TOLERAR, EIS A QUESTÃO

As tradicionais revistas semanais das quintas-feiras, a Sábado e a Visão, falam ambas, na edição desta semana de Tolerância e Educação.

Na Sábado, num artigo de opinião, o escritor Gonçalo M. Tavares termina o texto que tem como título "A produção em massa de cabeças poderes" com o seguinte parágrafo: «Mas parece-me que, mais do que pensar num qualquer ataque cognitivo da China, devia pensar-se, sim, nos pais destas crianças, nos pais pouco atentos — porque felizmente há muitos que não entram nesta categoria. E talvez sejam, sim, os pais involuntariamente, e muitas vezes porque trabalham como doidos, demasiadas horas, que estão a fazer uma guerra cognitiva, e paradoxalmente, aqueles que mais amam, os filhos. Tolerando que eles passem horas diante de ecrãs apodrecendo o cérebro desde pequenino. Tudo é guerra, dizem alguns e talvez a guerra mais importante esteja a desenrolar-se nas cabeças das crianças.»

Gonçalo M. Tavares está a dizer que a educação dos pais está a falhar porque está a alimentar a tolerância negativa.

Na Visão, também num artigo de opinião, o advogado Ricardo Sardo expõe o seu pensamento acerca do que leu no dossier que a Visão apresentou na edição de 13 de novembro, "um dossier com algumas estatísticas dos crimes praticados em Portugal, as quais traduzem um fiel retrato do contexto criminológico e de violência do País. Em resumo, podemos concluir que, no total, os números
se têm mantido mais ou menos inalterados (apesar do aumento da população), não obstante certos tipos específicos de crime terem aumentado."

Escreve Ricardo Sardo que «Os jovens (mas também os adultos) vivem cada vez mais agarrados aos telemóveis e tablets, o que os leva a consumir jogos e vídeos em doses diárias. O problema é que cada vez mais encontramos vídeos onde se promove a intolerância, o ódio e a discriminação.» Mais lá para diante escreve: «Não espanta, pois, que os números não desçam (ao contrário de outros) nestes tipos de crime. Os psicólogos já estabeleceram a ligação entre redes sociais (e telemóveis) e a agressividade e até a violência, mas também a redução das capacidades cognitivas e de raciocínio. A pergunta que todos devemos fazer é se estamos a criar e a educar agressores e jovens sem tolerância, respeito e controlo emocional.»

Deste segundo artigo de opinião podemos concluir que os pais estão a falhar na educação da tolerância positiva.

Parece-me que a causa, a raiz, de ambos os males — aumento da tolerância negativa e diminuição da tolerância positiva — é a mesma: a ausência, a falta de presença dos pais junto dos filhos, os filhos entregues a si próprios, aos ecrãs, aos telemóveis, a tudo o que neles aparece. E, aparentemente, o que neles aparece é sinal de liberdade de expressão pessoal e de cada vez mais democrática disseminação do poder de autoria de conteúdos (conteúdos informativos e "informativos).

São os pais que não querem estar com os filhos, ou são os pais que não podem estar com os filhos por causa da complexidade da organização da vida social, dos empregos, dos horários de trabalho; por causa das exigências laborais que espremem quanto podem, na clássica designação, a força de trabalho?

Está prevista, como há muito tempo não se via, uma greve geral, marcada por ambas as centrais sindicais do País, tal é o conjunto de medidas legislativas que o actual governo pretende acrescentar às relações laborais, precarizando, precarizando, precarizando. Parece que as centrais sindicais estão a dizer que não toleram mais.

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quinta-feira, novembro 27, 2025

#TOLERÂNCIA333 - TOLERÂNCIA COM CR7 OU COM O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

 #TOLERÂNCIA333 - TOLERÂNCIA COM CR7 OU COM O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Logo a seguir ao encontro de Cristiano Ronaldo com Donald Trump eu escrevi no Facebook «Se o Cristiano Ronaldo representa sempre Portugal como diz Roberto Martínez, hoje sinto-me profundamente envergonhado.»

Penso que não foi o próprio Cristiano Ronaldo que reclamou para si a condição de "embaixador de Portugal", essa condição, no fundo, é-lhe atribuída pelo seleccionador da Equipa das Quinas e pelo próprio Presidente da República. Sobretudo pela posição assumida por Marcelo Rebelo de Sousa, eu senti (e sem agora me desdizer) a vergonha.

Parece-me que na edição de hoje da Visão, o subdirector Filipe Luís coloca muito bem a questão:

«A polémica nacional – e, talvez, internacional – relacionada com o convite/visita de Cristiano Ronaldo à Casa Branca, depois de, dias antes, cirurgicamente, ter manifestado a sua admiração por Donald Trump, é como todas as polémicas ligadas ao futebol: um manifesto exagero, exacerbado por factores emocionais que nada têm a ver com a realidade das coisas. A importância dada a este evento teve de tudo: 'haters' de Ronaldo que viram confirmada a sua aversão, fãs de Donald Trump que viram legitimada a sua
admiração, novos 'haters' para o primeiro, saídos das fileiras de anteriores incondicionais, e até novos admiradores do segundo que, se antes o viam com maus olhos, agora apreciaram a sua “humanização”. O nosso CR7 esteve numa plateia de poderosos barra milionários, com nomes como Je Bezos e Elon Musk, juntamente com Donald Trump e Mohammed bin Salman. De referir que a Arábia Saudita anunciou o investimento de mil milhões de dólares em projectos nos EUA, ao mesmo tempo que confirma parcerias em Inteligência Artificial, tecnologia e defesa, com implicações directas na geopolítica do Médio Oriente. Não esquecer, neste contexto, o Projeto Prometheus, de Bezos, que pode transformar a capital saudita, Riade, num centro mundial de IA. No meio disto tudo, o peão Cristiano Ronaldo é um 'influencer' de luxo, uma flor na lapela do príncipe saudita.

»Vale a pena, neste ponto, portanto, debruçarmo-nos sobre um argumento muito utilizado pelos

defensores de Cristiano Ronaldo, não porque ele tenha fundamento, mas porque foi brandido por figuras com a responsabilidade do seleccionador nacional, Roberto Martínez, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Segundo esta narrativa, a presença de Ronaldo na Casa Branca, naquela intimidade com o homem alegadamente mais poderoso do mundo, deve encher-nos de orgulho, porque o Cristiano “é o melhor dos nossos embaixadores”. Além do provincianismo do argumento, podemos tolerar, compreender (e o autor destas linhas compreende) [Repare-se, peço-vos eu, neste precioso exemplo da proximidade e da distância entre tolerar e compreender] defender ou até admirar a façanha da presença de Ronaldo, como convidado de luxo de Trump. Mas não por estes motivos. Nem o seleccionador nem o PR ignoram, porque o próprio Ronaldo não o escondeu, que a ida do jogador para o campeonato saudita incluiu nas suas atribuições a função de embaixador da candidatura da Arábia Saudita à organização do Campeonato do Mundo de Futebol de 2034. É legítimo: Ronaldo é pago para isso. E não vale a pena vir o choradinho dos direitos humanos espezinhados na Arábia Saudita e a alegada conivência do astro português com um regime supostamente assassino: ele não é a Madre Teresa, nem é um activista, nem é obrigado a sê-lo. Ele é um profissional, bem acompanhado por outros profissionais congéneres que encontraram naquele país um emprego e um futuro – a começar por muitos jogadores e vários treinadores portugueses. Ele, sendo muito mais do que um jogador de futebol, na essência é só um jogador de futebol. Mas dizer que Ronaldo, nesta missão específica em Washington, foi nosso “embaixador”, é fazer de nós estúpidos e pretender que engulamos uma pílula de coliformes fecais com cobertura de açúcar. Em primeiro lugar, se um “embaixador de Portugal” está incluído numa comitiva saudita, é o País, e neste caso, o Presidente da República – que reconhece a Cristiano esse estatuto diplomático… – que está a pactuar com o regime sanguinário da Arábia Saudita. Não é Cristiano que está a fazê-lo. A natureza da “missão diplomática” não compromete o embaixador, pessoalmente: ela compromete o país que representa e que o legitima. Será que os portugueses acham bem ter um embaixador seu ao serviço de interesses sauditas?… E compromete, especificamente, o Presidente da República, na sua associação indesejável com o regime árabe. Que nós consideremos Cristiano um embaixador informal, tudo bem: é uma maneira de dizer. Mas que seja o PR a dar-lhe esse estatuto, nesta história concreta, é uma leviandade.»

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quarta-feira, novembro 26, 2025

#TOLERÂNCIA332 - A EDUCAÇÃO DOS VALORES DO DESPORTO

#TOLERÂNCIA332 - A EDUCAÇÃO DOS VALORES DO DESPORTO

Num certo sentido, revisitei hoje a estação 18, de 16 de Janeiro.

Fui convidado a estar presente na Cerimónia de Assinatura do Memorando de Entendimento “Ética no Desporto” entre a Fundação INATEL e o Instituto Português do Desporto e Juventude, seguida da abertura da Exposição "Move-te por Valores!", no Salão Nobre do Teatro da Trindade INATEL, em Lisboa.

O painel de apresentação da Exposição diz assim:

«A exposição "Move-te por Valores" é uma iniciativa itinerante que visa promover a ética no desporto e a cidadania, levando às diferentes comunidades experiências reais de vida e histórias inspiradoras de atletas e cidadãos, reforçando valores como o fair play, o respeito, a tolerância e a solidariedade.

»Neste sentido e decorrente da parceria estabelecida entre a Fundação Inatel e o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ, IP) é criado um prolongamento da exposição "Move-te por Valores!", no contexto INATEL.

»A Fundação Inatel vai implementar a exposição "Move-te por valores!", na sua rede de influência, envolvendo as suas delegações e estruturas locais, associados coletivos (centros de cultura e desporto) e junto de vários parceiros. Esta itinerância representa uma oportunidade para consolidar e alargar o impacto da mensagem centrada nos valores da ética no desporto, valorizando deste modo o património humano, associativo e de cidadania responsável da INATEL.

»A exposição é composta por painéis expositivos, integrando 34 unidades da exposição original, aos quais se juntam novas histórias, representativas de personalidades e entidades do universo INATEL, que refletem exemplos inspiradores e que priorizam os valores do espírito desportivo, da ética e da integridade no desporto.

»A versão inclusiva da exposição garante a acessibilidade através de QR code, conteúdos áudio para pessoas com deficiência visual.»

A dr.ª Lídia Praça (vogal do conselho directivo do IPDJ), tomando a palavra na sessão, interrogou-se e interrogou-me acerca dos anos que já passaram desde que a Exposição viu a luz do dia na Eça de Queirós, no dia 20 de Abril de 2018, com 21 painéis. No dia 27 de Outubro de 2017, eu tinha escrito assim à dr.ª Lídia Praça: «Mas que livro nos mandou!... Como casa tão perfeitamente com o nosso lema! [Eu estava a falar do ideal do programa Escolas Embaixadoras do Parlamento Europeu] Muito obrigado! Tenho estado a pensar como poderemos espalhar todos os exemplos pela escola... (...) Há mensagens, há exemplos, com tão forte impacto!...»

"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", disse o Poeta. Nasceu e desenvolveu-se com a condução sábia do dr. José Lima, coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto.

Hoje são entre duas a três centenas de painéis, agrupados em 8 a 10 versões da Exposição. É a Pedagogia e a Educação pelo exemplo. Tem valido a pena? Oh, se tem! É uma impressionante construção colectiva liderada pelo PNED, que já se espalhou por todo o País (incluindo as Ilhas), nas escolas, nas associações e clubes desportivos; e agora a Fundação INATEL. Volta-me ao pensamento a desafiante frase do meu mestre João dos Santos: «Educar é oferecer-se como exemplo.»

O exemplo chega onde o discurso mais inflamado, convicto ou assertivo muitas vezes não chega, os mais novos, mesmo que o não digam ou de tal não tenham consciência, preferem, em geral, o «Vá, mostra-me como tu fazes...» mais do que as palavras, palavras, palavras, por muito incentivadoras que sejam. É claro que é a conversar que a gente se entende, mas quantas vezes — no fundo, como mostram os painéis-exemplos da Exposição — as pessoas, os atletas, fazem o que nunca premeditaram fazer! E por que razão o fazem? A resposta é uma, directa e clara: porque se movem por valores. E onde foram buscar esses valores? À educação, à influência social recebida na família, na escola e no clube desportivo; numa palavra, à educação.

Sim, estou muito contente de fazer parte desta tão dinâmica realização colectiva. Sim, a praticamente um mês do final da minha viagem, ponho esta participação pessoal no balanço da viagem que tanto tem valido a pena!

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terça-feira, novembro 25, 2025

#TOLERÂNCIA331 - ARREPENDEU-SE, FOI PEDIR DESCULPA

 #TOLERÂNCIA331 - ARREPENDEU-SE, FOI PEDIR DESCULPA

Assim que li a notícia, escolhi-a para o apontamento diário da viagem. Não contém a palavra Tolerância, mas pensei imediatamente que a notícia, o acontecimento, tinha a ver com Tolerância. Crio, com a minha decisão, a excepção à regra, a de todos os textos da minha Saga conterem a palavra Tolerância — não é o caso da notícia do pedido de desculpas do seleccionador de futebol espanhol. Vamos à notícia:

Título e sub-título: Selecionador espanhol pede desculpa: «O primeiro a sentir vergonha sou eu». Luis de la Fuente retractou-se após não ter cumprimentado o quarto árbitro do encontro frente à Turquia, no qual a Espanha confirmou o apuramento para o Mundial 2026.

Notícia: «O seleccionador espanhol, Luis de la Fuente, pediu desculpa por não ter cumprimentado o quarto árbitro após o empate frente à Turquia, no passado dia 18 de novembro.

»Inicialmente, o técnico de 64 anos tinha dito que não havia visto o árbitro, logo após a partida, no programa 'El Partidazo de COPE'. Agora, deu um passo atrás e retractou-se.

» «Não me sinto nada orgulhoso, muito pelo contrário. Quero pedir desculpa publicamente», começou por dizer, na 'Fibwi Radio'.

» «Tínhamos tido diferentes pontos de vista e alguma tensão durante o jogo. Senti que ele não se tinha portado bem comigo e quis mostrar esse desagrado. Arrependo-me, porque não sou assim nem devia tê-lo feito», acrescentou o seleccionador de Espanha.

»O treinador fez ainda questão de sublinhar a importância do exemplo que alguém na sua posição deve transmitir: «Temos uma responsabilidade. Há muitas pessoas que nos observam e temos de projectar uma imagem que esteja à altura das circunstâncias, não só no futebol, mas também a nível humano.»

» «Naquele instante, estamos com as pulsações muito altas e de cabeça quente. Devia ter falado com ele, não negar o cumprimento. O primeiro a sentir vergonha sou eu», reconheceu ainda.

»Refira-se que a Espanha confirmou o apuramento para o Mundial 2026 nesse empate diante da Turquia, a duas bolas, em Sevilha. No conjunto turco, Deniz Gul, avançado do FC Porto, marcou um dos golos.»

Como a minha opção foi por impulso, tive de me perguntar a razão e tentar perceber o que, que nem relâmpago, me passou pela cabeça para carimbar a nitícia com o selo da Tolerância. Reconheci autocrítica, reflexão, ponderação, compreensão, arrependimento, empatia, sentido de justiça, aceitação; e intolerância; exemplo, educação, tolerância e fair play.

A questão que me pus a seguir foi a seguinte: com tantas coisas, com tantas atitudes e valores, o que faz aqui a Tolerância? Será mesmo preciso incluí-la nesta panóplia de factores que levam ao pedido de desculpa?

Penso que o treinador espanhol se mostrou intolerante com o árbitro e com o que pensou ter sido um erro que o árbitro cometeu; e depois foi tolerante consigo mesmo ao reconhecer, aceitar e a seguir assumir que, não obstante poder ter razão, há que saber aceitar que os outros podem, de boa fé, errar. Quer dizer, a Tolerância para com o erro humano levou-o da acusação, sobranceria e falta de desportivismo ao retractar-se, depois de sentir vergonha do comportamento que teve.

Aceito que esteja a olhar a situação com olhos de mãe coruja, muito amorosa da obsessão que não lhe sai da cabeça, a Tolerância. Seja. Vou guardar para uma discussão em grupo na nossa formação aprofundada.

P.S. - Escrevi este apontamento (tinha guardado o 'link' da notícia) depois de escrever o apontamento #TOLERÂNCIA332 do dia 26. No apontamento do dia 26 centro-me no tema do exemplo, dos bons exemplos. Registo, com satisfação, a preocupação do treinador espanhol de que os seus comportamentos, bons e maus, são exemplos sociais e desportivos.

(1) https://www.abola.pt/noticias/selecionador-espanhol-pede-desculpa-o-primeiro-a-sentir-vergonha-sou-eu-2025112515101042682

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segunda-feira, novembro 24, 2025

#TOLERÂNCIA330 - O MUNDO OCIDENTAL É TOLERANTE?

 #TOLERÂNCIA330 - O MUNDO OCIDENTAL É TOLERANTE?

Foi a notável psicanalista, minha amiga, Zorka Domić, que partilhou comigo, hoje, este texto no Facebook, com esta simples mensagem: «La tolerancia? pour Fernando Pinto Abrazo»

«Perguntei-me se não estaremos, nós ocidentais, a criar grandes ilusões sobre nós próprios.

Imaginamo-nos hoje como uma civilização muito tolerante. Acolhemos todas as formas do passado, as «outras» formas culturais, estranhas a nós; acolhemos também todos os desvios que são da ordem do comportamento, da linguagem, da sexualidade, etc. Eu pergunto-me se isso não será uma ilusão. Por outras palavras, para se poder conhecer a loucura, foi preciso excluí-la. Para conhecer as outras culturas, não ocidentais, foi sem dúvida preciso não só excluí-las, não só desprezá-las, mas explorá-las, conquistá-las e, de certa forma, através da violência, silenciá-las. Silenciámos a loucura e conhecemo-la. Silenciámos as culturas estrangeiras e conhecemo-las. […] A universalidade do nosso saber ocidental foi adquirida ao preço de exclusões […] ao preço de uma espécie de crueldade para com toda a realidade.»

As palavras são de Michel Foucault, citado por Andrea Teti durante o Colóquio: "A Palestina e a Europa, peso do passado e dinâmicas contemporâneas", que se realizou no dia 14 deste mês, no Collège de France, em Paris. (Fui pesquisar, e o Gemini disse-me que estas palavras específicas não foram retiradas directamente de um livro escrito por Michel Foucault, mas sim de uma entrevista televisionada, num programa literário francês: Lectures pour tous (Leituras para todos), em 27 de Junho de 1961, sendo entrevistador Pierre Dumayet.

Estas palavras de Foucault, na minha opinião, ilustram magnificamente, claramente, a profunda resistência que pessoas de grande saber histórico, cultural e político — tenho o privilégio de conhecer algumas, sobretudo de língua, cultura e cidadania francesas — mantêm em relação ao valor da Tolerância. Foucault defende que aquilo que o Ocidente vê como abertura, tolerância e universalidade é, na verdade, resultado de silenciamentos opressivos, abafantes, dominadores, e a autocompreensão do Ocidente como civilizado e tolerante oculta os mecanismos de poder que sustentam a arrogância da dominação.

Penso que vivemos actualmente, outra vez, em grandes ilusões de grandes liberdades, em que grandes juras de tolerância mascaram grandes atitudes de intolerância. Muitos mais do se poderia pensar têm telhados de vidro, tanto à direita como à esquerda do espectro político e ideológico.

Mais uma vez, é minha convicção que é a Educação que pode, com sábia pedagogia, enfrentar estereótipos e preconceitos que afastam os indivíduos e os grupos do diálogo, do entendimento, da negociação, da cedência, da compreensão e da aceitação. Como? Repito: com acções, com actividades, com realizações concretas, bem mais do que com infindáveis discursos e confrontos verbais, num campo em que as palavras, ao jeito do amoroso Eugénio de Andrade, já estão gastas. Já fomos tomando contacto, nesta viagem, com muitas propostas de actividades. Volte-se a elas as vezes que forem necessárias; e o limite da criatividade e do entusiasmo para inventar outras é o céu.

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