terça-feira, novembro 04, 2025

#TOLERÂNCIA310 - UM CERTO TIPO DE BONDADE E UM CERTO TIPO DE TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA310 - UM CERTO TIPO DE BONDADE E UM CERTO TIPO DE TOLERÂNCIA

Em 1959, a 2 meses de completar 87 anos, Bertrand Russell (que viveria ainda mais cerca de 11 anos), deu uma entrevista de 20 e poucos minutos à BBC, e o entrevistador, John Freeman, faz-lhe uma última pergunta:

«Suponha, Lord Russell, que este filme fosse visto pelos nossos descendentes como um pergaminho do Mar Morto daqui a mil anos. O que acha que valeria a pena contar-lhes acerca da vida que viveu e as lições que aprendeu com ela?»

Bertrand Russell, dá a seguinte resposta, logo de seguida, parece que quase sem pensar:

«Gostaria de dizer-lhes duas coisas, uma intelectual e uma moral:

»A coisa intelectual que gostaria de lhes dizer é esta: quando estudarem qualquer assunto ou considerarem qualquer filosofia, perguntem-se apenas «quais são os factos e qual é a verdade que os

factos comprovam?» Nunca se deixem desviar nem por aquilo em que desejam acreditar, nem pelo que julgarem poder ter efeitos socialmente benéficos se fosse aceite. Mas olhem apenas e exclusivamente para: «Quais são os factos?» Esta é a lição intelectual que gostaria de transmitir-lhes.

»A coisa moral que gostaria de lhes dizer é muito simples. Diria: o amor é sábio, o ódio é insensato. Neste mundo, que se está a tornar cada vez mais interligado, temos de aprender a tolerar-nos uns aos outros. Temos de aprender a aceitar o facto de que algumas pessoas dizem coisas de que não gostamos. Só assim podemos viver juntos. E se temos viver juntos e não morrer juntos, precisamos de aprender um tipo de bondade e um tipo de tolerância absolutamente vitais para a continuação da vida humana neste planeta.»

Em Setembro de 1961, com quase noventa anos, Bertrand Russell esteve preso durante uma semana por incitar à desobediência civil, por ter participado de uma grande manifestação chamada 'ban-the-bomb" [Não à Bomba (nuclear)], no auge da Guerra Fria e da Corrida ao Armamento Nuclear, no Ministério da Defesa britânico, mas a sentença foi anulada tendo em conta a sua idade.

Não sei se colegas professores levam estas afirmações (só mesmo elas ou a entrevista completa) às aulas de Filosofia ou de Cidadania e Desenvolvimento, mas o que é certo é que temos aqui matéria pedagógica de formação humana, cívica e política de grande valor.

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segunda-feira, novembro 03, 2025

#TOLERÂNCIA309 - A TOLERÂNCIA NUNCA ESTÁ GARANTIDA

 #TOLERÂNCIA309 - A TOLERÂNCIA NUNCA ESTÁ GARANTIDA

Em 1955, Miguel Torga publica "Traço de União", livro que reúne ensaios de temática luso-brasileira, essencialmente composto por conferências feitas no Brasil em 1954. As conferências estão apresentadas por ordem cronológica.

O segundo texto do livro é de homenagem ao escritor brasileiro José Lins do Rego, em Coimbra, em 21 de Junho de 1951. O excerto que vou transcrever para aqui é parte logo do primeiro texto, "Brasil", que não tem data. Parece ser um texto de introdução, escrito no lado europeu do Atlântico; e admito perfeitamente que tenha sido escrito em 1955.

«E é justamente desse nivelamento de valores, dessa aceitação por dentro daquilo que se aceitou por fora, que é necessário partir ao desembarcar no Brasil. Estamos a pisar, cheios de responsabilidades, uma terra de policromias humanas onde os próprios já não dão por isso. Terra de encontro de raças, que permitiu a mística e maravilhosa comunhão de sangues que o mundo conhece e admira. Milagre moderno que ninguém pode contemplar sem um assomo de orgulho. E não só porque ele exalta e dignifica a espécie, mas também porque resultou daí toda uma maneira original de olhar e sentir as coisas, amável e tolerante, confiada e solidária, que resolve numa síntese de esperança as mais

desanimadoras contradições. Há um calor inédito nos actos e nas relações, uma cordialidade profunda, que vem dessa combustão íntima de lenhas variadas, desde a cepa lusa ao imbondeiro negro, do pau de cânfora asiático ao ipé indígena. E temos o colorido, a multiplicidade, a graça e a originalidade dum povo inteiro que inventa diariamente novos ritmos na alegria de viver. Alegria que é o sinal mais visível da expressão moça e promissora do Brasil. Uma alegria sã, inocente, criadora, que dura de manhã à noite, adormece, e se levanta sem remorsos no dia seguinte.»

Não sei se Torga estava ainda no Brasil quando o Presidente Getúlio Vargas se suicidou (a última conferência foi a 19 de Agosto e o Presidente Getúlio Vargas suicidou-se em 24), e não tenho agora aceso ao volume do Diário que cobre os anos de, pelo menos, 1954 e 1955; e a Ditadura Militar de 1964 ainda está longe.

Não estou, portanto, capaz de equacionar o que Torga terá mudado na ideia d'«a maneira original de olhar e sentir as coisas, amável e tolerante, confiada e solidária, que resolve numa síntese de esperança as mais desanimadoras contradições.» que ele atribuía ao Brasil e ao Povo Brasileiro. Desconfio que, se fosse agora, Torga ficaria decepcionado com o rumo que as coisas tomaram no Brasil.

Da Ditadura Militar (1964-1985) ao radicalismo político de extrema-direita de Bolsonaro (aliado ao fanatismo religioso de seitas que abundam no Brasil dos dias de hoje), tudo nos deixa, e deixaria a Torga, a ideia de que a Tolerância foi chão que deu uvas e que é cepa que precisa de ser de novo cuidada e fortalecida, até porque chega a parecer estar mesmo em coma.

No fundo, vale também para a Tolerância o que se costuma dizer da Democracia: é que nunca está definitivamente adquirida e necessita de dedicação e trabalho constantes. Estás a ver, Educação, não durmas à sombra da bananeira! Não te deixes enganar pelos sucessos anteriores alcançados!

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domingo, novembro 02, 2025

#TOLERÂNCIA308 - O MEU CONGÉNITO FRAQUINHO POR MACAU

 #TOLERÂNCIA308 - O MEU CONGÉNITO FRAQUINHO POR MACAU

Pois, é a minha terra.

Ler notícias deste género deixa-me sempre satisfeito: «O percurso do transporte da tocha em Macau passou por diversos marcos históricos e culturais representativos, mostrando vividamente o charme único de Macau como ponto de confluência das culturas oriental e ocidental. A arquitectura, as ruas e o ambiente humano ao longo do percurso reflectem a diversidade e a tolerância da história urbana de Macau, demonstrando plenamente uma profunda integração e coexistência harmoniosa entre as culturas
chinesa e ocidental.»
(1)

Sou embaixador da Ética no Desporto. Então a minha satisfação dobra.

A notícia é de hoje mesmo, acerca da 15.ª edição dos Jogos Nacionais (Zona de Competição de Macau), e foi publicada no Portal do Governo da RAE de Macau.

(1) https://www.gov.mo/pt/noticias/794114/

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sábado, novembro 01, 2025

#TOLERÂNCIA307 - A TOLERÂNCIA SABOROSA DO ENVELHECIMENTO

 #TOLERÂNCIA307 - A TOLERÂNCIA SABOROSA DO ENVELHECIMENTO

"Tropecei" hoje outra vez num vídeo que mostra um pequenino momento de entrevista, há alguns anos, do actor inglês Michael Caine. Considero-o o mais terno e precioso convite à aceitação tolerante do envelhecimento humano. Assim todos os seres humanos tenham condições materiais, económicas e financeiras para desfrutar o progressivo processo de ir ficando mais velho.

Esta é a transcrição livre que fiz:

«Tenho 82 anos, sou o protagonista de um filme chamado Juventude. As pessoas vão ficar desiludidas. Bem, na verdade não ficam. O que acontece é que, na história, eu faço um exame médico, e fico mais velho, e vou ao médico saber os resultados e ele diz: «Não há absolutamente nada de errado consigo…» a este velhote. A seguir diz-lhe: «Sabe como é que chamamos a isso?» Eu (personagem) respondo: «Não.», Ele disse: «Juventude». E foi assim que arranjaram o título.

»Mas havia outra frase ali, quando eu tinha aquela cena com o médico: «Ah…», e ele diz-me: «Como é que se sente a ser velho?» E a minha fala no guião era: «Não percebo como cheguei aqui…» E pensei para mim: «Eu também não…».

»Vocês aqui são todos muito jovens, e eu vou-vos dizer o que vai acontecer quando chegarem à minha idade. Vocês vão dizer: «O que é que aconteceu há uns oito anos, tinha eu 36…» [a audiência ri-se] E tudo passou tão depressa, sabem?

»Mas depois, uma vez, um repórter disse-me: «O que é que sente em relação a envelhecer?» E eu disse-lhe: «Bem, considerando a alternativa, fantástico!»»

Que bom poder chegar a velho com esta paz de espírito, com esta mundividência!...

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sexta-feira, outubro 31, 2025

#TOLERÂNCIA306 - O LUGAR DA TOLERÂNCIA NO PALCO DAS ATITUDES E COMPORTAMENTOS

 #TOLERÂNCIA306 - O LUGAR DA TOLERÂNCIA NO PALCO DAS ATITUDES E COMPORTAMENTOS

Na transcrição que a seguir trago, Miguel Torga, no fundo, advoga em causa própria. Um autor alentejano advogaria as virtudes e as fraquezas dos alentejanos doutra maneira; outro, ribatejano, doutra ainda a propósito dos ribatejanos; e o mesmo fariam outros portugueses do continente ou das ilhas. E não precisamos de sair do pequeno Portugal, nele incluindo os madeirenses, os micaelenses, ou faialenses e os restantes naturais de outras ilhas.

A minha intenção com esta transcrição é chamar a atenção para que a Tolerância e a a atitude tolerante tem também condicionalismos e sustentação que vêm da experiência cultural, a qual, por sua vez, é marcada pela geografia particular e pelo desenvolvimento histórico, político e económico do grupo humano em causa. Neste texto, parece que Miguel Torga diz que os transmontanos são pouco dados à Tolerância, são pouco tolerantes com a Tolerância. Será que é mesmo assim?

Mais do que dizer já "Sim" ou "Não", o que importará à Reflexão e à Educação é a leitura colectiva e a discussão, a tentar-se que nasça a luz. E nasça a luz não tanto da opção pelo "Sim" ou pelo "Não", mas a luz que leva ao aprofundamento das características humanas e dos matizes das diferenças entre grupos culturais, em que se deseja que cada um se sinta bem na sua pele histórica e cultural, senhores de uma identidade gregária que congrega e promove o bem-estar pessoal e comunitário.

«Cruelmente, sem dó nem piedade, levamos dia a dia ao pelourinho os aleijões físicos e morais de cada um. E é um rol infindável de alcunhas por toda a província, sentenças sem qualquer apelo. As deformidades de dentro e de fora recebem o mesmo castigo do cautério inexorável. 'Pé-Tolo', é o sujeito que teve uma paralisia infantil; 'Sobe-e-Desce', o desgraçado manco que anda no chão como um barco nas ondas; 'Pernas de Centeio', o escanifrado com tíbias de gafanhoto. Mas há também o 'Mija-Lérias', o 'Florista' e o 'Padre-Nossos', que são estigmas de misérias mais profundas e doutra natureza: paleio vão, trato social postiço, falsa religiosidade. A espontânea e piedosa compaixão que tais infelicidades despertam não evita o ferrete judicativo. Olhamos os abismos de frente. Magro, o seio que nos

alimentou é uma branca lição de realismo. Por isso, mesmo com lágrimas nos olhos, superem-se as limitações, ultrapasse-se a pró-pria dor. A criatura é uma fome que nem todo o pão do mundo satisfaria. Busque-se, pois, outro alimento. Faça-se na deseroização do transitório a exaltação do definitivo.

»A mãe não manda ser um Narciso de virtudes secretas ou de falências toleradas. Ordena vitórias na colaboração, façanhas no meio da praça, no coração das feiras, na sala das assembleias, no cerne dos continentes, nas profundas dos infernos. E cheguem onde chegarem, os filhos cumprem religiosamente este mandato solene que exige o todo pelo todo, a abnegação mais desmedida e a mais teimosa irredutibilidade. Por toda a parte, nas grandes empresas do ideal, está o transmontano, ou à cabeça do rol ou no cortejo discreto mas actuante dos comparsas. É um quixotismo social irreprimível, um zelo pátrio vigilante, um impulso perpétuo para as obras de humanitarismo. Um apostolado que irrompe dum ímpeto pessoal que se expande, misto de fatalidade, orgulho e dever.

»Fiel às suas remotas regalias municipais, conquistadas a ferro e fogo, o transmontano mantém erguida não só a Domus de Bragança, símbolo palpável dessa liberdade de que não abdica, mas também o sentimento agudo duma colaboração fraterna com o semelhante, que aprendeu no comunitarismo do pastoreio, das fainas agrícolas, da transumância das rogas, no desenrolar de toda a vida quotidiana da sua aldeia. Que significa esta casa, e que significamos todos nós aqui, senão a irresistível entrega ao imperativo sagrado de preservação da personalidade, na dádiva constante do melhor que ela tem?»

Este excerto faz parte da conferência "Trás-os-Montes no Brasil", realizada no Centro Transmontano de São Paulo, em 14 de Agosto de 1954, e repetida no Centro Transmontano do Rio de Janeiro, a 16 do mesmo mês. É um dos textos do livro "Traço de União" (2.ª edição revista, de 1969, edição do autor). A releitura vem na sequência de alguns dias da semana passada, em que estive no Douro Vinhateiro, e foi pelo anfitrião, o amigo Barros de Carvalho, aos outros elementos do grupo desses dias.

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quinta-feira, outubro 30, 2025

#TOLERÂNCIA305 - DIA DE ANIVERSÁRIO: CELEBRAÇÃO E BALANÇO

 #TOLERÂNCIA305 - DIA DE ANIVERSÁRIO: CELEBRAÇÃO E BALANÇO

Celebração do primeiro aniversário como aposentado; balanço em dia do único aniversário pessoal que atravessa a aventura no Mundo da Tolerância.

A celebração foi como gosto: discreta, ora com amigos e colegas, ora com a família; com interacções

pessoais directas e com muita comunicação à distância (telefonemas, sms's e redes sociais). O vídeo das velas do bolo tem o mais novo membro da família com ar de espanto perante os pais, o tio e os outros que cantavam o Parabéns a Você.

O balanço foi duma consciência cada vez mais aprofundada de que a viagem pela geografia da Tolerância tem valido muito a pena. Mesmo que os 2 meses que faltam não me trouxessem mais nada, tudo o que calcorreei até agora já me trouxe muito mais do que eu alguma vez imaginei. Um desafio que ficará para depois é transformar o mapa e os lugares da viagem em algo que tenha interesse e utilidade para quem tem a responsabilidade ou a tarefa de educar, seja na escola, na família, nos clubes, numa palavra, em todo o lado.

Tenho aprendido muito sobre a Tolerância... E estou muito satisfeito com ecos, quais postais ilustrados dos lugares, que me têm chegado.

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quarta-feira, outubro 29, 2025

#TOLERÂNCIA304 - TOLERÂNCIA E ACOLHIMENTO NA ESCOLA

 #TOLERÂNCIA304 - TOLERÂNCIA E ACOLHIMENTO NA ESCOLA

Tenho a certeza, não apenas a convicção, de que vou voltar à estação a que cheguei ontem, nos 60 dias que faltam para esta viagem acabar. O dia de hoje, em que voltei à escola para continuar a passagem de testemunho dos projectos em que estive envolvido e para arrumar os pertences, foi especialmente significativo no que diz respeito à atitude de acolhimento, de bom acolhimento nas escolas. Assim, por causa desta certeza, não vou expandir o texto de hoje, o tema vai a aparecer aqui. Acredito firmemente em que a Tolerância é a base do bom acolhimento.

Apetece-me dizer também, como Martin Luther King, «I have a dream...»

«Na nossa escola, o acolhimento é coisa séria — mas também tem piada! Às vezes tem mesmo muita piada... Logo à entrada, ali ao portão, alguém da Direcção recebe-nos sempre com um sorriso (e, quando há sorte, com bolachinhas; o café, sim, subamos ao bar, ele está lá quentinho à nossa espera). Da Direcção são tão bons a acolher que até os papéis burocráticos que o Ministério da Educação impõe aos professores parecem menos assustadores.

»Entre professores, o espírito é de camaradagem: há sempre quem empreste uma caneta — há sempre um que, entre o rigor de linguagem e o divertimento, diga "Caneta mesmo? É que só tenho esferográfica, serve?" —, quem ofereça um quadradinho de chocolate na hora da correcção dos testes, e quem partilhe as melhores estratégias para "domar" uma turma mais barulhenta. A sala de professores é quase um consultório de terapia colectiva — com gargalhadas incluídas, é que a forma essencial de terapia é a que os indianos usam muito: o riso.

»E com os alunos? Bem, o acolhimento vai do “Bom dia, queridos alunos!” caloroso ao “Fizeram os

trabalhos de casa? Quem não fez, tenho a certeza de que tentou, mas valores mais altos se levantaram! Não há problema, podem trazer na próxima aula.” Tudo isto é dito com ar de quem acredita que, desta vez, a resposta será “Sim!...”, embora sabendo que um ou outro não aparecerá. Os professores conhecem cada olhar, cada desculpa criativa e, ainda assim, continuam a acreditar nos seus alunos, a chegarem-se-lhes com boa-fé e bom acolhimento.

»No fundo, o segredo está em criar um ambiente onde todos se sintam bem-vindos — mesmo nas segundas-feiras, sobretudo as de frio e chuva. Porque quando há bom humor, respeito e um café quente, até a escola parece um bocadinho mais leve.»

O sonho vale para todas as escolas do Mundo!

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terça-feira, outubro 28, 2025

#TOLERÂNCIA303 - OS AMBIENTES DA TOLERÂNCIA E DA INTOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA303 - OS AMBIENTES DA TOLERÂNCIA E DA INTOLERÂNCIA

Em 30 dias passei por ambientes de vida bem diversos: o desconhecido Japão (onde passei 21 dias), o redescoberto Douro Vinhateiro (onde passei 5 dias), a revisitada Olhão (onde passei 1 dia); e, finalmente, a Lisboa que tem sido o palco principal da minha vida desde o Dia de São João de 1974.

Em todos os 30 dias procurei estar totalmente focado neles, sem cedências de atenção e cuidados aos tinham passado e aos que viriam a seguir. Alguma coisa deles fui escrevendo e aos poucos trarei para o lugar próprio, público, que para eles guardei, nesta peregrinação, que, afinal, nunca se interrompeu: todos os dias pensei na Tolerância, todos os dias guardei um pequeno apontamento para mais tarde desenvolver.

Hoje, retomada a rotina — não obstante, uma rotina que inicio, a de reformado — no metropolitano, nas lojas, no supermercado, e na escola (sim, voltei à escola para, por um lado, recolher os meus pertences; e, por outro lado, para passar o testemunho de projectos extracurriculares que liderava ou em que participava activamente), ttomo consciência, mais uma vez, de que a realidade do dia-a-dia é exigente, parece que por toda à parte a ambiência é de escalada simétrica de falta de paciência, de provocação, de exigência desmedida; de confronto pessoal pronto a saltar.

Ontem, em Olhão, o mais jovem embaixador da Ética no Desporto, o Afonso Calé Marques dizia que a culpa das coisas não estarem bem, ou não estarem melhores, no que à Ética e aos Valores diz respeito, é dos adultos e dos exemplos que os adultos dão. É, temos de dar razão ao Afonso.

Todos os dias, cada um de nós, cada cidadão do mundo, pode fazer um pouco mais de esforço para que o relacionamento pessoal duns com os outros seja um pouco melhor. Bem, não ponho no mesmo pé de exigência o que se pede a um português, a um japonês e a um palestiniano, ou a um ucraniano, ou qualquer outra vítima da guerra injusta, da fome injusta e da pobreza injusta.

Do Japão ficou-me a certeza de que a Educação e a Cultura podem promover os comportamentos respeitosos, tolerantes e assertivos (que marcam os limites do que é tolerado e não é). Do Douro Vinhateiro fica-me a certeza de quanto a proximidade pessoal e a familiaridade podem trazer de aceitação, tolerância e ajustamento pessoal recíproco.

De Olhão trouxe a confirmação de quanto um ambiente escolar acolhedor e uma liderança institucional atenciosa e cordial dão aos jovens os exemplos de civilidade e de relacionamento pessoal que ajudam todos a sentirem-se bem, a terem as condições contextuais necessárias à plena expansão do potencial de desenvolvimento de cada aluno, e também de cada professor. Um bom clima afectivo na escola é um recurso de desenvolvimento pessoal tremendo! Promove a empatia, o respeito, a aceitação, a tolerância; o diálogo, o desenho de objectivos e projectos em comum.

Sim, hoje, à entrada para a escola (de que me afastarei cada vez mais) e nas horas que por ali andei a arrumar os pertences, tomei crua consciência de quanto a liderança institucional pode promover um clima de confiança, boa fé e afectividade positiva; ou o seu contrário. A todos o desafio de colaborar, mas a liderança de quem tem o poder de mandar é decisiva.

Quando me sentei para escrever este apontamento, um imenso arco-íris enchia o céu. Um invulgar matiz de pôr-do-sol contra as nuvens carregadas de chuva envolvia céu e terra. Tomei toda a grande tela, romanticamente, como o sinal do Grande Entendimento, a Grande Esperança, a Grande Aceitação. A verdadeira Paz entre os Homens de Boa Vontade. É preciso continuar a acreditar, a ter esperança.

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sábado, setembro 27, 2025

#TOLERÂNCIA272 - DE ONDE VEM O POPULISMO? DO POVO!

 

Vou reproduzir integralmente o texto de Henrique Monteiro, publicado na edição do Expresso, não porque o subscreva integralmente (penso que ele e eu somos de quadrantes ideológicos bem distintos), mas porque dá relevo à questão da tolerância na dinâmica entre as maiorias e as minorias, entre as democracias e as autocracias, entre o liberal e o iliberal. Sim, por mim, proponho a discussão do artigo.

«Todos conhecem a frase “a democracia é o pior dos regimes, excetuando todos os outros”. Um regime
político decente tem de assegurar liberdade, mas também leis gerais e abstractas, igualdade de oportunidades e justiça nas decisões. Por isso, uma democracia séria e robusta tem, obrigatoriamente,
de restringir a liberdade de cada indivíduo, de forma a que não coloque em causa a liberdade de outros. Isto é, tem de ter regras claras, ou ‘linhas vermelhas’.

»Entramos, assim, na questão de saber quem define essas regras. A maioria, como é óbvio, dirão alguns. De facto, parece evidente, porém esbarra com a diferença entre maioria e razão, ou ser razoável. Nem sempre ter a maioria equivale a ser justo, decente ou assegurar a liberdade. Pelo contrário, a organização da liberdade impõe restrições, o que implica a inteira tolerância para com as minorias e a compreensão das suas legitimidades, desde que não queiram impor os seus pontos de vista. Como perceberão, isto aproxima-se muito do conceito de imperativo categórico do filósofo Immanuel Kant — “age como se a tua acção pudesse ser erigida em lei universal da natureza”.

»E aceitamos que há leis universais da natureza, que nada nem ninguém pode pôr em causa? Ou
achamos que elas dependem de idiossincrasias, latitudes e crenças? Se há valores universais (creio que sim) temos de considerar um ‘chão comum’ desses valores ou dessa lei universal, para todos poderem conviver e dialogar, mesmo que com ideias opostas entre si, religiões diferentes, hábitos diversos, Mas qual lei? Quem a dita — e voltamos ao início.

»Para um crente é Deus ou o Ser (ou pensamento, 'corpus' moral ou filosófico) em que acredita. Não por acaso, no essencial, eles são todos semelhantes — salvo alguns casos de extremismo que existem em todas as variantes, dos judeus ultraortodoxos aos jiadistas, dos budistas aos hindus e cristãos radicais. Para quem em nada acredita, é-me mais difícil ensaiar uma explicação, embora, naturalmente, a maioria dos ateus e dos niilistas respeitem essa lei não escrita, a que Kant chamou lei universal da natureza. Se seguirmos o raciocínio, a liberdade e a democracia colhem-se neste campo, e não na fria lei dos números de maiorias ou minorias. Há países com uma maioria de votos expressiva em programas, pessoas ou partidos que não honram nem uma nem outra. Não são democracias, ou são, como agora se diz, ‘democracias iliberais’. E, de facto, são cada vez mais, o que prova que a democracia, em si mesmo, não assegura a existência de liberdade. A democracia, sem liberdade, pode não passar de um sistema da lei do mais forte, traduzido em votos. Mas qual a legitimidade de uma maioria condenar ao ostracismo a minoria? Que direito tem de a calar? Que direito tem de proibir movimentos antidemocráticos? Por que se proíbe o nazismo e o fascismo ou, noutros casos, o comunismo? Mais ainda: o racismo, o discurso de ódio e outras excrescências democráticas? Será possível a uma maioria proibir tudo o que não gosta? E será, ainda assim, uma democracia?

»Voltemos atrás. Não necessita a democracia de um absoluto e indispensável comprometimento com a liberdade individual, desde que esta não coloque em causa ou prejudique a liberdade dos outros? Ou seja, não necessita de restringir a vontade da maioria, quando esta se torna intolerante? Ter ‘linhas vermelhas’ não é uma mera questão política, mas de civilização. Sem compreender que há quem não jogue o nosso jogo, perdemo-nos.

»O populismo diz agir em nome do que o povo quer. Os democratas têm de conjugar a vontade do povo com o dever que, como seres humanos, têm uns para com os outros. Com respeito, tolerância e fraternidade, como aliás postulam Kant e a Declaração universal dos Direitos Humanos, da ONU.»

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sexta-feira, setembro 26, 2025

#TOLERÂNCIA271 - TOLERÂNCIA E LAICIDADE

 #TOLERÂNCIA271 - TOLERÂNCIA E LAICIDADE

Acaba de sair em França um livro que fico curioso de ler: "1882‑1905, ou la Laïcité Victorieuse", de Jean Baubérot-Vincent. A edição do "Le Monde" de hoje apresenta-o assim:

«Invocada a torto e a direito no debate público, a palavra 'laicidade' é ao mesmo tempo familiar e misteriosa. Alguns brandem-na para excluir, outros invocam-na em nome da tolerância – mas a maioria ignora o que contêm verdadeiramente os textos fundadores da laicidade «à francesa». Porque a missão do historiador é «dar a cada acontecimento o seu verdadeiro rosto», segundo Walter Benjamin (1892-1940), Jean Baubérot-Vincent empreende, em "1882-1905 ou a Laicidade Vitoriosa" (PUF, 360 páginas, 23 euros), refazer a história das leis que laicizaram a escola pública (1882) e separaram as Igrejas do Estado (1905).

»Jean Baubérot-Vincent, que acaba de concluir quatro décadas de investigação sobre a laicidade, é sem dúvida o historiador mais bem colocado para realizar este trabalho. Presidente honorário da École Pratique des Hautes Études (EPHE), antigo titular da cátedra 'História e Sociologia da Laicidade' (1991-2007), fundador, em 1995, do Grupo 'Sociedades, Religiões, Laicidades' (CNRS-

EPHE), escreveu numerosas obras sobre a laicidade, entre as quais uma trilogia monumental que constitui, até hoje, o estudo mais aprofundado sobre a lei «liberal, justa e sábia» de 1905, nas palavras de Jean Jaurès (1859-1914).

A IIIª República, uma nova era

»Nesta obra esclarecedora, Jean Baubérot-Vincent procura, como escreve, combater o «pronto-a-pensar» de uma época em que, por vezes, todas as afirmações se equivalem. Aí resume as 2500 páginas que dedicou ao longo da vida à laicidade, mas consegue, apesar deste esforço de síntese, conservar as 'nuances' das suas análises passadas. A sua narrativa demonstra assim com grande clareza que a lei de 1882 coroou um trabalho de ourives baseado no «apaziguamento e pragmatismo» e que a de 1905 é o fruto de uma hábil estratégia «do junco», que consistiu em curvar sem nunca quebrar.

»Estes textos de «conciliação» assinalam, segundo o historiador, a viragem de França para o segundo «limiar de laicização». O primeiro tinha surgido com a «meia-laicidade» da Revolução – a lei era civil, mas a moral pública enraizava-se na religião. As leis de 1882 e de 1905 abrem, pelo contrário, uma era de «laicidade completa», nas palavras de Aristide Briand (1862-1932): com a escola laica e a separação das Igrejas e do Estado, a IIIª República «distingue, separa e liberta da tutela estreita da Igreja Católica» as funções da vida pública, resumia na época o republicano Ferdinand Buisson.

»Com "1882-1905 ou a Laicidade Vitoriosa", Jean Baubérot-Vincent pretende fazer uma obra útil. Mostrando que a França hexágona chegou ao apaziguamento na viragem do século, apesar da intensidade da guerra das duas Franças – a filha primogénita da Igreja contra o país da Revolução –, espera afastar os seus contemporâneos dos becos sem saída do «presentismo». O passado nunca fornece «receitas para aplicar mecanicamente», reconhece, mas permite «enfrentar lucidamente» os desafios de hoje – e isso já é muito.»

Ainda tenho na cabeça a analogia que fiz com as aulas de Português de Sebastião da Gama: a Tolerância acontece. No entanto, de tempos a tempos, devemos olhar o dia-a-dia com algum distanciamento e ocuparmo-nos com as dimensões psicológicas, filosóficas, históricas, sociais, culturais, antropológicas da Tolerância, e também da intolerância. Daí a minha curiosidade perante este livro.

Se o conceito de Tolerância surgiu e se impôs a propósito da Religião, o autor vem agora ligá-la ao que costuma ser apresentado na Política como o contrário da religião: a laicidade. O primeiro capítulo do livro tem este título: "A escola, uma questão central da laicidade".

Sim, são as escolas que formam e deformas as mentes, as mentes de crianças e jovens que, de boa fé, acreditam no saber, na ciência, na competência, na honestidade e na boa-fé dos professores. Pode tanto a escola!... Olhem se as escolas fossem mesmo aqueles lugares de vida e aprendizagem que os grandes pedagogos mundiais ciclicamente tentam que elas sejam!...

O beco sem saída do 'presentismo'... Deixem os professores libertar-se da pressão do presente, do imediato, deixem-nos seguir pelos caminhos que mais gostam e melhor conhecem, equipados com a bagagem que dominam com à-vontade... Deixem os professores assim que, com o tempo, verão como o bom conhecimento do Passado é duma imensa riqueza para se avançar no Futuro com confiança e entusiasmo.

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